sexta-feira, 30 de setembro de 2016

3 535 - Os Cavaleiros do Norte dos Rangers do 2º. Turno de 1973

Parada do quartel de Penude, em Lamego, com a serra das Meadas ao
fundo. Do lado direito, vê-se a placa identificativa de Operações
Especiais (Rangers), o curso que alguns Cavaleiros do Norte
acabaram há precisamente 43 anos. Como o tempo passou...

A messe de sargentos de Lamego, na Rua de
Almacave, é agora a sede da Associação
de Operações Especiais (a AOE)
Os Cavaleiros do Norte do Batalhão de Cavalaria 8423 (como os outros), logo depois da conclusão do curso de Operações Especiais, no quartel de Penude, foram colocados em várias unidades, um pouco por todo o país. 
Em Lamego e no CIOE, quartel da cidade e integrados na Companhia de Caçadores, ficaram os futuros furriéis milicianos Neto e Viegas, ambos de Águeda. Como instrutores do novo curso, o terceiro de 1973. E também o então aspirante e futuro alferes miliciano António Manuel Garcia, que viria a ser o comandante do PELREC, no Quitexe.
Os três outros aspirantes a oficiais milicianos (futuros alferes) Mário Jorge de Sousa Correia de Sousa (1ª. CCAV. 8423), João Francisco Pereira Machado (2ª. CCAV. 8423) e Augusto Rodrigues (3ª. CCAV. 8433) foram colocados no Centro de Tiro da Serra da Carregueira, de onde saíram a 23 de Dezembro de 1973 para o RC4, onde apresentaram às 10,30 horas, «por terem sido nomeados para servir no ultramar» - no BCAV. 843  e em Angola.
Os futuros furriéis  milicianos Manuel Moreira Pinto (da 1ª. CCAV. 8423) e António Carlos Dias Letras (da 2ª. CCAV. 8423) foram, respectivamente, para o Regimento de Infantaria 8 (em Braga) e Regimento de Cavalaria 4 (em Santa Margarida). O Pinto apresentou-se no RC4 às 9,30 horas de 24 de Dezembro de 1973 - no seu caso, com o atirador de Cavalaria Plácido Jorge de Oliveira Guimarães Queirós (também ido do RI 8).
A documentação do tempo, em Ordem de Serviço do CIOE (de que tenho fotocópia) permite recordar as classificações finais dos (então futuros) Cavaleiros do Norte, recordando-os por Companhia:
As classificações do 2º. Curso de Opera-
ções Especiais de 1973, começado a 16 e
Julho e concluído a 29 de Setembro 

- CCS, a 
do Quitexe
- Alferes miliciano António Manuel Garcia, 26º. classificado do curso de oficiais, 14,70 de média final. O primeiro classificado foi Orlando Frazão, com 16,50. Garcia faleceu a 2 de Novembro de 1979, quando era agente da Polícia Judiciária do Porto, vítima de um acidente de viação.
- Furriel miliciano José Augusto Guedes Monteiro, 5º. classificado do curso de sargentos, com 16,05 de média final. O primeiro classificado foi Cristovão Oliveira Cunha, com 16,58.
Domingos Augusto Teixeira (º. cabo estofador),
 à direita, faz hoje 64 anos. Aqui com o 1º. cabo
João Francisco Lavadinho Estrela (cripto)
e esposa, no encontro da CCS de Custóias. a 4
de Junho de 2016
- Furriel miliciano Celestino José Pinheiro Morais Viegas: 16º. classificado, com 15,33.
- Furriel miliciano José Francisco Rodrigues Neto: 26º. classsificado, com 14,68.

- 1ª. CCAV. 8423, 
a de Zalala
- Alferes miliciano Mário Jorge de Sousa Correia de Sousa: 25º. classificado, com 14,73.
- Furriel miliciano Manuel Moreira Pinto: 40º. classificado, com 14,23.
Albino Ferreira, furriéis Viegas e Neto, Fran-
cisco Fernando Maria António (que hoje faz
64 anos) e Augusto Florêncio, no encontro
de Ferreira do Zêzere, a 29 de Maio de 2010
2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa
- Alferes miliciano João Francisco Pereira Machado: 24º. classificado, 14,75 de média final.
- Furriel miliciano António Carlos Dias Letras: 60º. classificado, com 13,25.

3ª. CCAV. 8423, a 
de Santa Isabel:
- Alferes miliciano Augusto Rodrigues: 23º. classificado, com 14,78 de média final.
O furriel miliciano Armindo Henriques Reino é do curso seguinte (o terceiro), desconhecendo-se a sua classificação.

O dia 30 de Setembro de 1974, pelas terras do Quitexe, foi tempo de dois Cavaleiros do Norte festejarem 22 anos: o 1º. cabo Domingos Augusto Teixeira (estofador) e o atirador de Cavalaria Francisco Fernando Maria António (PELREC). Mora este em Abrançalha de Cima, Abrantes, motorista reformado desde 2011. O Teixeira no Bairro do Cerco, no Porto.
Dia também para um ataque a madeireiros, na zona da Fazenda do Liberato, e de um flagelamento a viatura a JAEA, perto da Quinta das Arcas.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

3 534 - Recado aberto para os «Rangers» dos Cavaleiros do Norte!!!...

Quartel-sede do Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE),
no centro da cidade de Lamego e em Setembro de 2016. Aqui ficaram os
futuros furriéis Neto e Viegas, como instrutores do 3º. curso de Rangers de 1973 


Parada do Quartel de Penude. Ao fundo, era a
porta d´armas. O edifício das casernas, refeitório,
secretaria e salas de aula ainda é o mesmo. Em baixo, 

o tanque de «pré-lavagem» dos militares ainda existe. 
Ninguém podia ir «sujo» para as casernas... UI, ui!!!
Também lá lavávamos a nossa roupa!
Companheiros «Rangers»
dos Cavaleiros do Norte:


Há precisamente 43 anos, a 29 de Setembro de 1973, éramos jovens à procura do futuro mas amadurecidos por uma adolescência e juventude crescidas no estigma da guerra. Nesse dia, concluímos o 2º. Ciclo / 2º. Curso de Operacionais Especiais de 1973. Ficámos «Rangers»!!!

Formámos, garbosos, na parada do quartel de Penude, ali fizemos demonstração das competências adquiridas no duro curso de Rangers.
Maravilharam-se as almas embebecidas de muitos familiares que para lá viajaram do país inteiro, e, no quartel-sede, compartilhámos com eles o almoço de festa final do curso.
Atrás, nesse tempo de irreverência e garbo, ficavam 11 semanas de intensa treino operacional, de preparação que galgou todas as horas dos dias (e das noites): as Operações Dureza 11 e Chula-Picada, o Calvário, as 24 Horas de Lamego, os slides e os rapeis, a instrução nocturna, a prova do cemitério, o cross, e o, digo eu, epopeico «Esforço Final». E não podemos esquecer a trágica morte de um cadete, vítima de um tiro numa prova de instrução nocturna. Se a memória não me falha, tinha o singular nome de Ambrósio Coxo e faria anos nesse dia.
A guia que me «levou» do quartel-sede, na cidade
Lamego, para o aquartelamento de Penude,
a 16 de Julho de 1973, há um pouco mais de 43 anos.

Parece que foi ontem, mas o tempo passa depressa...
Recupero, da documentação desse tempo, que ainda guardo: «Ser Ranger é... Não discutir Esforço!», «Não discutir tarefas». É... «entender a missão, executar a missão... por mais dura que ele seja!». Ser Ranger é ter Abnegação, Disciplina, Realismo, Dinamismo. Sacrifício, Incomodidade, Dureza e Imprevisto, Dedicação e Saber!».
Ordem preparatória da Operação «Dureza 11?, entre
18 e 20 de Setembro de 1973. A minha letra do tempo...
A memória recua 43 anos aos recantos que pisámos em instrução: Melcões, Meijinhos, Ponte de Reconcos, Britiande, Moimenta da Beira, Castro Daire, Pindelo dos Milagres, Calde e Moledo, Colo de Pito, Arco, Várzea da Serra e Serra de Santa Helena, Magueija, Fonte Santa e Trigo, Mões, o rio Paiva, a rede de saneamento da cidade de Lamego, os cemitérios de Penude, a escadaria da Senhora dos Remédios, e outros, por onde fomos ganhando capacidades, conquistadas em exigente preparação psico-física e, cito os manuais de instrução, com «pureza e esforço, sacrifício e dor, renúncia e vontade (...), à alegria do sucesso, ao louro da vitória».
Integrávamos a 1ª. Companhia de Instrução, em Penude, e posso recuperar, dos meus apontamentos, os nomes dos companheiros do meu Grupo de Combate/Instrução. Deles, o Neto, o Pinto e o Letras, como eu (Viegas, mas na instrução conhecido por Pinheiro, o chamado «nome de guerra»), viríamos a integrar o Batalhão de Cavalaria 8423.
Os nomes constam da Ordem Preparatória da Operação «Esforço Final», que começou às 23 horas de 18 de Setembro de 1973 e na qual éramos a 4ª. Patrulha:
- Exploração: José Francisco Rodrigues Neto, Carlos Alberto Marques, Pedro Manuel Rosa Pinto, Manuel Antunes Anunciação e José Maria Rodrigues Lino.
- Comando: António Cruz V. Duarte, Fernando Manuel S. S. Caldeira, Pinheiro (Viegas), Dionísio e Ferreira.
- Apoio 1: Fernando M. S. Ribeiro, António Carlos Dias Letras, José Lino Enjeitado Ramos, António José M. Fresco e Letras (a repetição do nome deve ser lapso).
- Apoio 2: José Augusto M. Serôdio, João Pires G. Silveira, Arcelino H. Lemes Silveira, António Carlos Morais Cunha e Francisco.
- Segurança de Rectaguarda: Manuel Moreira Pinto, Joaquim Ferreira Gonçalves, Hélder Valdemar Ferreira da Cruz, Manuel João Esteves Fidança e Victor Manuel Leitão Pinto.
Rangers, yáááááá!!!...

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

3 533 - Cavaleiros de Aldeia Viçosa evocaram os seus mortos!!!

Amazonas do Norte da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa, no encontro 
de Guimarães. Quantas das suas lágrimas, de saudade e de amor, 
molharam os aerogramas de Portugal, escritos e mandados para Angola?!
Os 1ºs. cabos atiradores de Cavalaria Luís Filipe Ferreira Alves (de Barco, na Covilhã) e João Francisco da 
Silva Inácio (de Cortes do Meio, Castelo Branco)  e o soldado António de Oliveira Venâncio (de Ferro, 
na Covilhã): três Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa no encontro de Guimarães


O capitão José Manuel Cruz e o furriel Freitas Ferreira, organizador logístico do encontro de Guimarães, dois
milicianos de Aldeia Viçosa..  A 2ª. CCAV. 8423, dos Cavaleiros do Norte recordar a jornada africana de há 41/42 anos

Oliveira, Azevedo e Ferreira, o malogrado Rocha (falecido
 a 1 de Março de 2016 e agora recordado em Guimarães) e
 Santos, no encontro de Valongo, a 27 de Setembro de 2014.
 Mais atrás, os furriéis Ferreira e Cruz (?, de verde)
O encontro da 2ª. CCAV. 8423 teve encantadora participação de esposas e familiares: as Amazonas do Norte de Aldeia Viçosa! A maior parte delas já pelo tempo da jornada africana eram confidentes amorosas dos garbosos militares que por Angola cumpriam a sua missão e delas recebiam, embrulhados em aerogramas de corações com setas (de Cupido), recados de saudade e afecto.
Emídio Pinto e João Rito, em 2013 e no Fundão.
O Rito faleceu a 1 de Março de 2016, de doença e
em Castelo Branco, e foi evocado em Guimarães
Uma Amazona muito particular esteve em Guimarães: a viúva de João Jerónimo Rito, que foi atirador de Cavalaria e faleceu a 1 de Março deste ano (2016), vítima de doença e em Castelo Branco. Maria dos Anjos Jerónimo, assim se chama, era habitual conviva destes encontros (com o marido) e foi a Guimarães para agradecer «as manifestações de carinho e apoio» que disse ter recebido na altura do passamento de João Jerónimo Rito - num momento muito emotivo da jornada 
Momento das rábula
vimaranense de sábado passado.
O 1º. cabo José Maria Beato, por essa altura, leu também uma mensagem de uma filha do malogrado 1º. cabo enfermeiro António Gomes da Rocha, falecido a 9 de Maio deste ano, de doença e em Milhundos, Penafiel. Ainda em 2015, bem disposto e bom companheiro, participou no encontro de Salvaterra de Magos.
Os mortos da 2ª. CCAV. 8423, de resto (todos já em Portugal), foram evocados num minuto de silêncio, de homenagem a esses companheiros já falecidos.
O capitão José Manuel Cruz e o 1º. cabo José Maria Beato foram os oradores do encontro que, depois da concentração junto ao Castelo de Guimarães, teve visita apeada pela zona histórica da cidade, com guia próprio, até ao restaurante onde os Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa confraternizaram.
Graciano da Purificação Queijo, soldado clarim e aju-
dante de cozinha da CCS. Faria hoje 64 anos mas faleceu,
de doença, a 30 de Outubro de 2013, no Lar Padre
Tobias, em Samora Correia. Aqui, quando fez 60 anos
O dia 28 de Setembro de 1974 foi tempo, na vila do Quitexe, dos 22 anos do soldado clarim Graciano da Purificação Queijo. Oriundo de Trás-os-Montes - nasceu em Vilarelhos, no concelho de Alfândega da Fé -, fez depois vida de nómada pelo Portugal europeu, sabendo-se que trabalhou na construção civil - entre outras actividades. Já na casa dos 50 anos, em 2002, doente, foi apoiado pelo Lar Padre Tobias, em Samora Correia - que lhe deu assistência alimentar, médica e sanitária.
Tratou-se do alcoolismo, deixou de consumir e, por invalidez, reformou-se em 2009. Neste mesmo ano, foi internado no lar, dada a precariedade da sua saúde e do espaço onde vivia. Já em 2011, foi-lhe diagnosticado um tumor no esófago, foi seguido pelo IPO de Lisboa e operado. Fez quimioterapia e radioterapia mas, mais tarde, um outro tumor (na laringe) levou-o à morte, a 30 de Outubro de 2013. 
Aqui o recordamos!
Ver AQUI

terça-feira, 27 de setembro de 2016

3 532 - Cavaleiros de Aldeia Viçosa confraternizaram em Guimarães

Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa, em Guimarães. 
Este ano, apareceu um novo conviva: o «cripto» Alberto Marques, de Gaia

Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423 que, por uma
razão ou outra, não estiveram no encontro de Guimarães:
os furriéis milicianos António Rebelo (vimaranense),
Amorim Martins. Abel Mourato e Mário Matos

A 2ª. CCAV. 8423, a dos Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa, esteve reunida em Guimarães, a 24 de Setembro de 2016 e pela 16ª. vez, com uma novidade: uma rábula que evocou uma ocorrência em dias próximos do Natal de 1974, lá pelas terras do Uíge, quando houve um «desvio» de produtos recolhidos no aquartelamento, no sequência de  um acidente de uma viatura de uma coluna de MVL. 
 O furriel Rafael Ramalho e o 1º. cabo José Maria
Beato, organizadores permanentes dos encontros da 2ª.
CCAV. 8423. Este ano, com o furriel Freitas Ferreira
A bela surpresa foi proporcionada pelo furriel Freitas Ferreira, vimaranense e responsável pela logística do encontro. A interpretação foi de dois actores locais, durante o repasto e muito aplaudida. O programa começou na concentração no campo de S. Mamede, junto ao Castelo de Guimarães - onde D. Afonso Henriques se pôs em armas contra a mãe, na batalha do mesmo nome. Aqui se fixou da imagem que a posteridade guardará: a foto do grupo.
A imagem mostra, logo na frente e da esquerda para a direita, Oliveira, furriel Freitas Ferreira, capitão José Manuel Cruz, 1º. cabo José Maria Beato (rádiotelegrafista), Manuel Almeida e Manuel Oliveira (cozinheiros, este de bengala). Na segunda fila: Samuel Oliveira (condutor), Joaquim Verde, furriel António Carlos Letras, 1º. cabo Leonel Sebastião (mecânico-auto), 1º. cabo José Joaquim Freire (clarim), alferes Jorge Manuel Capela (de t-shirt branca), António Venâncio, Joaquim Morgucha Grave (mecânico-auto), 1º. cabo João Inácio (apontador de morteiros, de mão na cabeça), João Oliveira (condutor) e Carlos Quaresma (atrás do Oliveira). Mais atrás: 1º. cabo Alberto Marques (cripto, de mão no queixo), alferes João Francisco Machado (camisola preta nos ombros), 1º. cabo João Azevedo (de verde, apontador de morteiros), 1º. cabo Luís Filipe Alves, Adelino Couto (apontador de morteiros), furriel Rafael António Ramalho (de boina), 1º. cabo António Ferreira (enfermeiro) e furriel António Artur Guedes. Na última fila: Adelino Santos, alferes Domingos Carvalho de Sousa (de vermelho em óculos), 1º. cabo Mário Araújo (cripto, tapado pelo Ramalho) e António Soares. 
Os furriéis Jesuíno Pinto, Freitas Ferreira, José
Gomes e António Artur Guedes num recente encontro
dos Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa 
Os furriéis milicianos José Gomes e António Cruz e o condutor José Barbosa «faltaram» à foto, mas juntaram-se ao grupo no restaurante, lá partilhando as saudades comuns da jornada africana da angolana Aldeia Viçosa, de Carmona e de Luanda. Amanhã, voltaremos ao encontro.   
A 27 de Setembro de 1974, uma sexta-feira, realizou-se em Lisboa a anunciada reunião de dirigentes (cerca de 30), representantes das forças vivas da sociedade angolana (menos os três movimentos), com o Presidente António Spínola, dele ouvindo «a confirmação dos princípios do nosso processo de descolonização».
O comandante Almeida e Brito esteve uma vez mais em Carmona, reunindo no Comando do Sector do Uíge (CSU), e, na Fazenda do Liberato - onde se aquartelava a CCÇ. 209/RI 21 -, «na sequência de outros incidentes internos, processaram-se graves problemas disciplinares, os quais passaram ao controlo do Comando do Sector do Uíge».
Notícia de Angola no Diário de Lisboa de 27
de Setembro de 1975. Há 41 anos!
Um ano depois, sabia-se que as forças do MPLA estavam a reagrupar-se na zona do Caxito e Barra do Dande, «procedendo a um recuo estratégico, permitindo à FNLA a ocupação dos Libombos». Os combates «prosseguiam na região» mas deles, segundo o Diário de Lisboa, «não havia notícias precisas».
A sul, no Lobito, houve incidentes entre a tropa portuguesa e os estivadores do porto, «depois de estes terem descoberto viaturas de retornados que estava a ser embarcadas sem prévia autorização». Ouviram-se tiros. 
O Luso continuava a posse do MPLA, apesar dos «violentos combates em curso, a apenas 16 quilómetros da cidade». Ainda a sul, tanto este movimento como a FNLA e a UNITA reorganizavam forças em «pontos nevrálgicos das confrontações».
O MPLA denunciou forças da Organização Popular do Sudoeste Africano (SWAPO) que, na sua versão, estavam a «combater conjuntamente com as forças da UNITA e da FNLA, estas últimas chefiadas pelo traidor Daniel Chipenda».
Ao tempo, recordemos, já os Cavaleiros do Norte tinham regressado a Portugal, entre 8 e 11 desse Setembro de 1975, ao ritmo de uma companhia por dia. Há 41 anos!!!

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

3 531 - FNLA aparecia nas povoações, mas não se apresentava

Parada do BC12 nos trágicos primeiro dias de Junho de 1975. Populares
fugidos à guerra entre os movimentos, aqui em transportes civis,  

eram recolhidos e apoiados pelos Cavaleiros do Norte
Os alferes milicianos Jaime Ribeiro, António Garcia e
 José Alberto Almeida, em imagem tirada do lado da Igreja
do Quitexe. À esquerda, vêem-se as casernas dos atira-
dores e sapadores e o edifício (branco) da secretaria e
do Comando do BCAV. 8423. Ao fundo da rua, lá em
cima, o edifício da administração civil 


Aos 26 dias do mês de Setembro de 1974, o comandante Carlos Almeida e Brito, do BCAV. 8423, deslocou-se à Fazenda Guerra, que ficava muito perto do Quitexe. Saía-se da vila pela estrada/picada para Camabatela, o cemitério ficava ao lado direito e as sanzalas Cazenza e Aldeia do lado esquerdo e, a não muitos quilómetros adiante, logo se avistava a Guerra - fazenda de café já era de dimensão bem significativa. 
Comício da FNLA em Aldeia Viçosa. Por esta altura
de 1974, o movimento de Holden Roberto aproxi-
mava-se dos povos da área do BCAV. 8423 
A deslocação, segundo o Livro da Unidade, era de carácter particular, para «convívio de amizade», e nessa 5ª.-feira de há 42 anos, Almeida e Brito fez-se acompanhar de «oficiais do Comando» - certamente o capitão José Paulo Falcão e muito provavelmente os alferes milicianos António Garcia e Jaime Ribeiro, comandantes, respectivamente, dos pelotões de atiradores (o PELREC) e de sapadores. E José Alberto Almeida, o oficial dos reabastecimentos.
Ao tempo e como vinha acontecendo desde mais ou menos o princípio do mês, «era quase constante  a presença de grupos da FNLA nos povos, sob pleno controlo da autoridade civil e militar», nomeadamente na área de Vista Alegre, mas também Aldeia Viçosa e Quitexe, Sem porém, segundo  o Livro da Unidade, «que se dê mostras de vir a realizar, a curto prazo, a sua apresentação».
Era assim na área dos Cavaleiros do Norte mas não tanto em outras, onde, sublinha o Livro da Unidade, «tem havido um incremento de actividades que facilmente, e em alguns casos, se provou ter irradiado do IN». Por alguma razão, a 23 de Setembro, dois grupos de combate da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel, foram, e citamos, «reforçar a área do BC12», nomeadamente na Fazenda Além Lucunga, «onde futuramente iria actuar, enquanto a sua falta não tiver expressão na área do Subsector». De lá sairiam apenas a 8 de Novembro, dividindo-se nesse período também pelo Quipedro.
O casal Margarida/António Albano Cruz
apadrinhou o casamento do condutor Miguel
Ferreira há precisamente 40 anos: a
26 de Setembro de 1976!
Um ano depois, e segundo a imprensa do tempo, a situação em Angola começava a «ameaçar colocar Portugal numa situação de isolamento face a algumas das nações mais progressistas do chamado terceiro  mundo» - incluindo Moçambique e Guiné-Bissau, duas ex-colónias. estava em causa «a imagem internacional do país», na sequência do processo de descolonização de Angola. O Governo Português estava, segundo o Diário de Lisboa, numa «situação muito delicada». 
O dia 26 de Setembro, em 1974, foi data para os 22 anos de dois Cavaleiros do Norte da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel: os atiradores de Cavalaria Graciano Letra Castelo (que mora em Fanhões, Odivelas) e José Canhoto Pereira (em Colmeal da Torre, Belmonte). Dois anos depois, em 1976, foi a vez do condutor Miguel da Cruz Ferreira estar em festa mas de casamento, na Lomba de Gondomar. O padrinho foi o alferes miliciano António Albano Cruz e o Miguel foi o organizador do Encontro de 2014.




domingo, 25 de setembro de 2016

3 530 - Trabalhadores do café do Uíge aliciados para fugirem aos contratos

Cavaleiros do Norte do Parque-Auto, no Quitexe: 1ºs. cabos Agostinho 
Teixeira e Domingos Teixeira, furriel miliciano Norberto Morais (que 
hoje faz 66 anos!!!...) e 1ºs. cabos Rafael Farinha e Serra Mendes

Os furriéis milicianos Norberto António Morais
(mecânico) e António Maria Lopes (enfermeiro).
Ao fundo, vê-se a messe e bar de sargentos do Quitexe

O dia 25 de Setembro de 1974 foi quarta-feira, andava eu a fazer os cabeceiros de férias pela metrópole luandina, e o comandante Almeida e Brito participou em mais uma reunião no Comando do Sector do Uíge. Os tempos iam aparentemente fáceis mas, lá pelo norte angolano, era visível «a propaganda aliciante dos trabalhadores das fazendas para fugirem aos contrato» com os fazendeiros do café.
Cavaleiros do Norte do Parque-auto do Quitexe: os
condutores Delfim Serra e Joaquim Celestino, furriel
Norberto Morais, condutor José Gomes (de boné) e
mecânico Porfírio Malheiro (atrás), Encontro
de 2015, em Mortágua  
A situação, como facilmente se compreende, tinha «forçosamente reflexos no panorama económico do concelho» do Quitexe. Que era essencialmente cafeeiro.
O Livro da Unidade, sobre este tipo de propaganda, refere que estava a «ser incrementada pelo IN e/ou por agitadores e embora não tivesse o mesmo significado (nem paralelismo) que em concelhos limítrofes, a verdade é que começa a ter volume que se pode considerar elevado» e, por isso mesmo, «trará forçosamente reflexos negativos no bom andamento do processo regressivo da presença das tropas e da descolonização».
Estávamos em finais de Setembro desse ano de 1974 e, naturalmente não o sabendo (ou sequer adivinhando), muitas curvas iria ter esse processo descolonizador que levaria (levou) à independência de Angola.
O programa político continuava e confirmava-se a reunião de forças angolanas com o Presidente António Spínola, a 27 e em Lisboa, mas era conhecida e lamentada a não participação do Movimento Democrático de Angola e da Frente Socialista de Angola, organizações que nesta data de há 42 anos, convocaram reuniões dos respectivos directórios, para, segundo o Diário de Lisboa, «manifestarem a sua estranheza». 
Notícia do Diário de Lisboa de 25 de Setembro de 1974
Convidados, recordemos, tinha sido os directores do jornal «A Província de Angola» (Ruy Correia de Freitas) e da revista «Notícia» (João Fernandes», para além do Partido Cristão Democrata de Angola (António Joaquim Ferronha). E o escritor Domingos Vandunnen.
Outra notícia do dia tinha a ver com a UNITA de Jonas Savimbi, que ainda não era reconhecida pela Organização de Unidade Africana (OUA), embora admitindo que era preciso «ter este movimento em conta».
Um ano depois, nada se alterava: FNLA e MPLA mantinham as suas posições militares, mas cada qual (e a UNITA) alinhavando estratégias para o controlo do território.
Há 42 anos, lá pelo Quitexe, fez 24 anos o furriel miliciano das «mecânicas»: o Norberto Morais. Há momentos, e estando ele pelo Cartaxo (onde se achou com o 1º. cabo Florindo, enfermeiro) estivemos à fala e a conclusão é simples: está em grande forma e a contar ano atrás de ano. «Estamos nos sessentas, pá!!!..», disse ele, feliz da sua saúde e disposição. Parabéns!

sábado, 24 de setembro de 2016

3 529 - Contactos operacionais do BCAV. 8423 e Cavaleiros em festas de anos!

O então alferes miliciano Cruz (à direita) numa praia de Luanda, em
Agosto de 1975 e com o capitão José Manuel Cruz e familiares. Hoje,
engenheiro aposentado, festeja 71 anos em Santo Tirso!
Os alferes milicianos António Manuel Garcia (Ran-
gers, falecido a 01//11/1979, de acidente) e António
Albano Cruz (Mecânica), a 8 de Setembro de 1974,
na Fazenda Vamba

O dia 24 de Setembro de 1974, pelas bandas do Uíge e dos Cavaleiros do Norte, foi tempo de mais uma visita do comandante Almeida e Brito (e oficiais da CCS) à 2ª. CCAV. 8423, aquartelada em Aldeia Viçosa e comandada pelo capitão miliciano José Manuel Cruz.
A razão? «Contactos necessários ao bom andamento dos trabalhos militares», como explica o Livro da Unidade. Já lá tinha estado a 13 e 19. 
O alferes Lains dos Santos. ladeado pelos furriéis  Jorge
Barata (falecido a 11/10/1997, em Alcains) e Américo
Rodrigues,que hoje faz 64 anos em V. N. de Famalicão.

Todos atiradores de Cavalaria 
Parece que foi ontem!!!
Ao tempo, a equipa de Foto-cine do BCAV. 8423 tinha iniciado «as suas actividades, com projecção de um filme em todas as unidades e destacamentos». Era uma iniciativa integrada no campo da acção psicológica, como outras - por exemplo, a realização de jogos de futebol, ou as visitas do oficial capelão, que ao tempo era o alferes (e padre) José Ferreira de Almeida. 
Cavaleiros do Norte das Transmissões da CCS, no
Quitexe: 1º. cabo José Mendes, António Couto Soares
(que hoje faz 64 anos nos Brunhais, Póvoa do Lanhoso),
furriel José Pires, 1º. cabo Luís Oliveira e José António
Costa. Em baixo, NN (quem é?), Humberto Zambujo e
1º.. cabo Jorge Salgueiro (operador de mensagens)


O dia, por Angola, foi para se saber que um grupo de representantes dos movimentos angolanos iria conferenciar com o Presidente António Spínola, nos dias 26 e 27, em Lisboa. O anúncio era oficial,  segundo a Agência France Press, e eram conhecidos alguns nomes: Joaquim António Ferronha (secretário geral do Partido Cristão Democrata de Angola, o PCDA) e os jornalistas Ruy Correia Freitas (director do jornal «A Província de Angola») e João Fernandes (director da revista «Notícia»). 
A informação, citada pelo Diário de Lisboa de há 42 anos, na  última terça-feira desse Setembro, não referia nenhum dos três movimentos de libertação: a FNLA de Holden Roberto, o MPLA de Agostinho Neto ou a UNITA de Jonas Savimbi.
A 24 de Setembro de 1975, um ano depois e com os Cavaleiros do Norte já em Portugal, soube-se que a Organização de Unidade Africana (OUA) preparava para Campala (Uganda) uma cimeira dos três movimentos de libertação, com dirigentes africanos e «provavelmente também do Governo Português».
Notícia do Diário de Lisboa de 24
de Setembro de 1974 sobre o encontro
de António Spínola com angolanos
A situação militar, segundo o DL desse dia, «pouco evoluiu desde o último fim de semana». A FNLA continuava no Caxito e o Estado Maior do MPLA «evitava falar da situação nessa povoação», limitando-se a precisar que «prosseguem os combates, há alguns dias». Mesmo a contra-ofensiva em direcção a Nova Lisboa, parecia ter «feito uma pausa». Um porta-voz do Exército Português dava conta de «nenhuma acção notável» se ter registado nesse sector.
O dia de hoje, pelas bandas do Santo Tirso, é tempo de festa de anos: os 71 do então alferes miliciano António Albano Araújo de Sousa Cruz,  agora engenheiro aposentado. Por lá, já licenciado e responsável pelas oficinas-auto do BCAV. 8423, comemorou 27, com sua «mais-que-tudo» (a dra. Margarida) e o filho Ricardo.
A festa natalícia desse dia de há 42 anos não foi só dele, entre os Cavaleiros do Norte (como aqui demos conta nos dois dias anteriores). Fizeram 22 anos, então, os também agora aposentados furriel miliciano Américo Rodrigues (da 1ª. CCAV. 8433, a de Zalala, agora fixado em Vila Nova de Famalicão) e o «transmissões» Couto Soares (da CCS, que mora na Póvoa do Lanhoso).  Ambos agora comemorando 64! Parabéns para todos!!!

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

3 528 - Cavaleiros de Santa Isabel reforçaram Além Lucunga

Grupo de Cavaleiros do Norte da 3ª. CCAV. 8423. No destaque, o alferes 
miliciano Carlos Silva, que comandou um dos grupos de combate que, 
hoje se fazem 42 anos, foi em apoio à fazenda de Além Lucunga 

O capitão José Paulo Fernandes (o segundo, do lado
direito), com o comandante Bulunda (da FNLA), o
capitão José Manuel Cruz e o alferes João Machado,
ambos da 2ª. CCAV. 8423, em Aldeia Viçosa

A 23 de Setembro de 1974, dois grupos de combate da 3ª. CCAV. 8423 foram em diligência operacional para a Fazenda de Além Lucunga. «Pediram reforço e fomos, eu mesmo fui, com um grupo e o grupo do alferes Carlos Silva», recorda o capitão miliciano José Paulo Fernandes, que comandava a Companhia da Fazenda Santa Isabel.
Mapa do norte (parcial)  de Angola, reconhecendo-se
a localização de Santa Isabel (a amarelo), Quitexe
(vermelho), Fazenda Além Lucunga (roxo) e Carmona 
A razão era simples e grave: os militares portugueses lá estacionados ocasionalmente - eram de uma Companhia de Intervenção, comandada por um outro capitão miliciano, que era arquitecto paisagista e do mesmo curso dos capitães Castro Dias, José Manuel Cruz e José Paulo Fernandes... - e tinham sido emboscados, com «muitos mortos», no rebentamento de uma mina. 
«Eu fui na viatura da frente e o que encontrámos foi um terreno descampado, num fazenda abandonada à pressa, algo inóspita e despovoada, sem ninguém mas com valas e trincheiras abertas, que felizmente nunca precisámos de usar. A Companhia que pedira ajuda recuou para o Songo e esperámos por ataques que felizmente não acontecerem», recorda o capitão José Paulo Fernandes.
Os dois grupos de combate dos Cavaleiros do Norte de Santa Isabel iam avisados de que iriam «encontrar problemas», iam preparados para eles, mas, frisa o capitão Fernandes, «felizmente, nada disso aconteceu».
A fazenda estava estranhamente despovoada, mas com muitos porcos, eram varas deles à solta, e galinhas perdidas, que os homens dos dois grupos de combate de Santa Isabel foram abatendo e comendo. Com elas e os porco, diz o capitão José Paulo Fernandes que «fizemos por lá grandes banquetes», até que «cumprida a missão» voltaram os dois grupos de combate a Fazenda Santa Isabel.
Furriel miliciano Américo Rodrigues.
A 24 de Setembro de 1974, festejou 22
anos na Fazenda de Zalala, onde estava
na 1ª. CCAV. 8423 dos Cavaleiros do Norte 
O dia, pelo Quitexe, foi tempo de o comandante Carlos Almeida e Brito (tenente-coronel) voltar a reunir no Comando do Sector do Uíge (CSU), em Carmona, por razões de natureza operacional. Ao mesmo tempo e em Zalala, onde jornadeava a 1ª. CCAV. 8423, foi dia de véspera de o furriel miliciano Américo Rodrigues (foto) comemorar o seu 22º. aniversário - ido de Vila Nova de Famalicão, onde nasceu, para a africana terra do Uíge. 
Um ano depois, Angola estava cada vez mais próxima da independência (marcada para 11 de Novembro de 1975) e confirmava-se a reconquista do Caxito, pela FNLA, o que, segundo alguns observadores citados pelo Diário de Lisboa, «levanta sérios obstáculos às importantes ofensivas que o MPLA tinha em curso, nomeadamente a sul contra Nova Lisboa, e a Norte, rumo ao Ambriz e a Carmona».
O MPLA, em Luanda e porém, considerava a perda do Caxito como um «mero desaire» e mantinha «a recusa firme de estabelecer qualquer acordo com a FNLA». Todavia, a vitória da FNLA no Caxito, a 53 quilómetros de Luanda - e que teria sido «largamente facilitada pela deslocação de importantes efectivos do MPLA para a região de Nova Lisboa e pela concentração de tropas na frente norte» -, poderia tornar necessário  «operar uma rápida revisão da estratégia militar» do movimento de Agostinho Neto, assim «forçado agora a acorrer à defesa da capital».
Capital, Luanda, que, segundo o Diário de Lisboa de 23 de Setembro de 1975, «segundo rumores não confirmados, poderia sofrer ainda a pressão de forças mercenárias comandadas pelo ex-oficial do Exército Português, o coronel Santos e Castro, através da via Malanje, Salazar, Catete».


quinta-feira, 22 de setembro de 2016

3 527 - Comandante em Santa Isabel e FNLA novamente no Caxito

O comandante Almeida e Brito na Fazenda Santa Isabel. Reconhecem-se
os alferes milicianos Carlos Silva e Jaime Ribeiro, capitão miliciano José
Paulo Fernandes (comandante da 3ª. CCAV. 8423),  tenente-coronel Al-

meida e Brito, dois encarregados e o alferes miliciano  Augusto Rodrigues 

Cavaleiros do Norte da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa
Isabel: os furriéis milicianos António Flora, Agostinho
Belo, António Fernandes e Alcides Ricardo.
O dia 22 de Setembro de 1974, pelas bandas dos Cavaleiros do Norte, foi de continuação da visita do comandante do Batalhão de Cavalaria 8423, o então tenente-coronel Almeida e Brito, à Fazenda Santa Isabel, onde jornadeava a 3ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano José Paulo de Oliveira Fernandes. Era domingo e muito provavelmente lá pernoitou da véspera, o dia da chegada.
João Pereira Albuquerque (e esposa), fundador da Fa-
zenda Santa Isabel, visitada por Almeida e Brito, há 42
 anos. Tinha mais de 3500 hectares de área de cultura
A visita era de carácter particular, «em convívio de amizade», e Almeida e Brito fazia-se acompanhar de alguns oficiais do Batalhão. No mesmo dia, esteve na Fazenda Minervina. Por igual motivo.
A imprensa desse dia dava conta da chegada de Rosa Coutinho a Luanda, regressado de Lisboa - onde, como presidente da Junta Governativa, reuniu com o presidente António de Spínola. Que, afirmou ele (Rosa Coutinho, citando o PR), o «autorizou a tornar pública a declaração de que decidiu tomar em suas mãos todas as negociações sobre o futuro de Angola».
O dia foi também tempo para, em Kinshasa (Zaire), Holden Roberto, presidente da FNLA, apelar para «a formação de uma frente comum dos vários movimentos de libertação, tendo em vista discutir com as autoridades portuguesas o futuro de Angola».
Um ano depois, o 1º. ministro Pinheiro de Azevedo anunciava para o dia seguinte a primeira reunião do seu Conselho de Ministros, mas ainda não eram totalmente conhecidos os Secretários de Estado do seu VI Governo - devido ao atraso das negociações com os partidos.
Notícia do Diário de Lisboa de 22 de Setembro
de 1975, sobre a situação militar em Angola
Angola continuava e guerra e a FNLA reconquistara o Caxito, a escassos 53 quilómetros de Luanda. O anúncio foi feio pelo major Martins da Silva, porta voz do Exército Português - citando o sábado anterior (dia 20) com o dia da tomada da vila, até aí ocupada pelas FAPLA, o braço armado do MPLA.
A vila era, recordemos, um «ponto estratégico das ligações rodoviárias com o porto de Ambriz e, mais a norte, com Carmona» - localidades onde, sublinhava a France Press, citada pelo Diário de Lisboa, «estão localizadas as duas principais bases da FNLA».
Uma vez mais se falava da «nossa» Carmona, de lá do Uíje, numa altura em que os Cavaleiros do Norte já levavam duas semanas depois do seu regresso a Portugal.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

3 526 - O dia de Pai Mosteias, na terra uíjana do Quitexe

Os furriéis milicianos Luís Mosteias, dos Sapadores, e Viegas, dos Rangers,  
frente à secretaria da CCS, no Quitexe. No placard, as Ordens de Serviço


O pai Luís Mosteias, já em Portugal e com o 
filho Luís João, que nasceu há precisamente 
42 anos. Houve festa no Quitexe!

O dia 21 de Setembro de 1974 - há 42 anos!!!, o tempo passa depressa!!!... - foi de farta festa e muitos afectos, no ambiente mais íntimo da messe e bar de sargentos da CCS dos Cavaleiros do Norte, na vila uíjana do Quitexe, por nesse dia o furriel Mosteias ter sido pai pela primeira vez. 
Luís João Ramalho Mosteias, alentejano do Cabeção (Mora), mas a morar na Rua de Olivença, na Amadora, era o único furriel miliciano casado desta Companhia do BCAV. 8423 e bem jus fez à condição: pelo que fez e não fez, nasceu-lhe o seu primeiro filho, também Luís João (como ele) e dado ao mundo por sua esposa Leonor Aragão.
O comandante Almeida e Brito (à direita) na
Fazenda Santa Isabel, com o alferes Jaime Ribeiro
(da CCS), à esquerda, e o capitão miliciano José
Paulo Fernandes, comandante da 3ª. CCAV. 8423
Ao caso e à emoção desse nesse dia estive eu roubado, por andar ainda pela boa-vai-ela das angolanas férias que me levaram por Angola fora. Mas não perdi pela demora, quando cheguei ao Quitexe, que o Mosteias não deixou, nesses entretantos, apagar o fogo de felicidade que o fez pai. De um Luís João, também! O nome dele. Agora, actor profissional.
A data, no âmbito dos Cavaleiros do Norte, foi tempo para mais uma «visita operacional» do comandante Almeida e Brito, desta vez à Fazenda Santa Isabel, onde estava aquartelada a 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel - a do capitão miliciano José Paulo Fernandes. E também ao Comando do Sector do Uíge (CSU), em Carmona.
O dia foi tragicamente assinalado pela morte, por doença, do soldado atirador de Cavalaria Joaquim Manuel Duarte Henriques, da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala. Ainda passou pela enfermaria do Quitexe mas foi evacuado para o Hospital Militar de Luanda - onde faleceu. Eventualmente, terá passado pelo Hospital do Negage, como era usual nesse tempo.
Memorial dos mortos da guerra
colonial de Odivelas, com o nome
 (sublinhado) do Cavaleiro do Norte
Joaquim Manuel Duarte Henriques
O malogrado Cavaleiro do Norte era natural de Odivelas e filho de João Pedro Henriques e Delfina da Conceição Duarte. O seu corpo foi trasladado para Portugal, estando sepultado no cemitério de Odivelas.
O furriel José António Nascimento, vagomestre de Zalala, diz lembrar-se «muito bem» dele. «Era apelidado de Cruijff, jogador de futebol famoso desse tempo», recorda o agora emigrante nos Estados Unidos.
E porquê? Porque lhe chamavam Cruijff - leia-se «Croiif»? Precisamente «pela sua habilidade a jogar futebol», que demonstrou em rijas partidas disputadas no «estádio» da Fazenda de Zalala. E outros. Hoje 42 anos depois, aqui o evocamos com saudade! RIP!!!
* O dia em que o Mosteias
foi Pai! - Ver AQUI

terça-feira, 20 de setembro de 2016

3 525 - Os incidentes de Carmona na memória do civil FA Vieira

Fernando Antunes Vieira no seu automóvel, em Carmona e à porta da 
casa onde residia. O rés do chão estava ocupado com uma delegação
da UNITA. As balas sobrevoaram o telhado, disparadas do povo Tange


João Manuel (Yá), João Sampaio, Fernando
Antunes Vieira e Fernando Martins,
jovens de Carmona, há 41 anos
Os trágicos 6 primeiros dias de Junho de 1975, em Carmona, tem aqui sido historiados pela visão e a emoção dos militares que os viveram, sentindo na pele e na alma as suas dores e os seus medos e os dramas da comunidade que defenderam, sob risco da própria vida.
A história nunca aqui (ou outro lado) será completamente feita. Muita dela já estará, de resto, esquecida na ampulheta do tempo, arrumada nas gavetas da memória, varrida dos tempos de hoje, até por não querer ser lembrada. Querer ser esquecida!
Hoje, com gosto, trazemos aqui a memória desses dias, em versão narrada por um civil - Fernando Antunes Vieira, ao tempo com 21 anos, funcionário da Câmara Municipal de Carmona.


Fernando Antunes
Vieira em foto actual
É este o seu 
depoimento:

31 de Maio, de 1975, sábado. Como sempre e depois de jantar, fui tomar a minha bica ao Café Pinguim e, a seguir, talvez tenha ido ao cinema ou dado umas voltas pela cidade. Nada fazia crer no que iria acontecer no dia seguinte e, pela meia-noite, fui-me deitar e dormir o sono dos justos, na minha casa do bairro Popular.
5 da manhã do dia 1 de Junho! Domingo! Acordei com alguns estrondos que, meio ensonado como estava, me pareceram trovoada. Mas como poderia ser trovoada, se estávamos no cacimbo?! Perscrutei melhor o som que me chegava e dei conta que era um som tipo de explosões. Afinando ainda melhor a audição, reparei que as balas passavam a assobiar por cima da minha casa.
Ora, para ouvir tais explosões perto de casa e as balas assobiarem por cima do telhado, só poderiam vir do povo chamado Tange, nas traseiras do Instituto do Café de Angola (ICA), por sua vez nas traseiras da minha casa. E era mesmo!!!
Levantei-me e chamei meu pai, que já estava a ouvir tudo e todos ficámos em alvoroço. Vivíamos na cave de uma vivenda, com entrada pelas traseiras, e o rés-do-chão estava alugado à UNITA. Penso que lhe servia de dormitório.
O dia 1 de Junho tinha marcado um baptizado no Salão de S. Francisco, os meus pais eram padrinhos e, mesmo com tiros e morteiros, lá fomos ter com o padre para baptizar a criança. Frente ao Salão, existia uma delegação da FNLA, que momentos antes fora atacada por RPG7 do MPLA, disparados do Candombe.
Saímos do baptizado e já não fomos para casa. Como estava lá instalada a UNITA e com medo de que fosse atacada, fomos para casa de amigos, no Edifício Imbondeiro.
A FNLA e a UNITA tomaram conta da cidade e os simpatizantes do MPLA refugiaram-se no BC12. A partir daí e durante pelo menos 5 dias, eram tiros a torto e a direito - atirados para o ar (uns), outros nem sei. Sei é que houve caça ao MPLA.
Nos dias seguintes, relativamente ao início do tiroteio, começaram a aparecer refugiados nativos dentro dos bairros, vindos não se sabe de onde e ocupando os quintais das casas dos brancos. Talvez se achassem mais seguros! Lá permaneceram por algum tempo, no caso do nosso quintal com homens, mulheres e crianças.
A fome começou a apertar, passado algum tempo, e o Governo do Distrito pediu ajuda alimentar a Luanda. Veio de imediato e eu, que trabalhava na Câmara Municipal, e um senhor da Administração do Concelho fomos incumbidos de distribuir os alimentos pelos refugiados. 
O tempo foi passando e os refugiados foram regressando às suas casas. A vida continuou, mas não como outrora...
FERNANDO ANTUNES VIEIRA