segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

3 657 - BCAV. 8423 com poucos meios; distúrbios e motim em Luanda

O furriel miliciano Américo Rodrigues, da 1ª. CCAV. 8423 (a de Zalala) com
vários combatentes da FNLA. Há 42 anos, em Vista Alegre, no norte de Angola

O furriel António Carlos Letras com crianças de
 uma sanzala de Aldeia Viçosa, onde se
 aquartelava a 2ª. CCAV. 8423

As ameaças de tumultos em Luanda, no dia da posse do Governo de Transição mantiveram algo tensa a cidade. Os Cavaleiros do Norte sabiam destes problemas na capital, principalmente pela imprensa e por notícias de militares amigos lá aquartelados, e comentavam-os com algum distanciamento, mais cuidados que estavam em manter a segurança e a estabilidade pública da sua zona de acção. 
Notícia do Diário de Lisboa
«A actividade das NT, muito limitado por falta de meios humanos, foi quase somente conduzida ao longo do alcatrão, em constantes patrulhamentos, apeados e auto, através dos quais se garante a nossa presença e liberdade de itinerário», lê-se no Livro da Unidade, referindo o mês de Janeiro de 1975.
Os distúrbios que se pré-anunciavam para Luanda eram incitados principalmente junto da população negra, nos bairros populares dos subúrbios da capital angolana e por desconhecidos que a Agência Nacional de Informação (ANI), em serviço de Luanda para o Diário de Lisboa, rotulava «a soldo não se sabe de quem».
A soldo de quem quer que fosse, o objectivo pareceria claro: criar instabilidade social, desconfianças entre os movimentos de libertação e estes e o Governo de Portugal. Havia quem sugerisse que era obra de um movimento reaccionário português que pretenderia fazer um contra-golpe em Lisboa. E, por consequência, pôr em causa o processo de descolonização de Angola. 
Daniel Chipenda (Revolta do Leste), o jornalista argelino
 Boubakar Adjali Kapiaça e Agostinho Neto (MPLA)




Neto e Chipenda 
em Lusaka

As divisões internas do MPLA estariam, a esse tempo de há 42 anos, a caminho de um provável encontro entre Agostinho Neto e Daniel Chipenda, em Lusaka. «Fontes bem informadas», citadas pela Reuters, davam conta dessa possibilidade, citando Chipenda como «o chefe da facção dissidente  conhecida como Revolta do Leste, que foi expulso pelo MPLA e não participou na Cimeira do Alvor».
Tentara dias antes, como aqui se historiou, «entrar no Luso, à frente de um grupo armado, mas foi impedido por forças portuguesas e dos movimentos de libertação». No momento, estava na Zâmbia e um dirigente do MPLA comentou «não acreditar que o dr. Agostinho Neto se aviste com Chipenda».


Motim na cadeia
civil de Luanda

A cidade de Luanda, a do asfalto, a predominantemente habitada pela comunidade branca, «esta(va) calma» na véspera da tomada de posse do Governo de Transição de Angola!
A única significativa alteração a este tranquilo estado teve a ver, ao princípio da noite de faz hoje 42 anos, com um motim na cadeia civil - onde os presos reclamavam «uma amnistia, por ocasião da tomada de posse do Governo de Transição de Angola».
As tropas portuguesas «dispararam para o ar, numa tentativa de dominar o motim» e  patrulhas do MPLA e da FNLA «acorreram ao local, para ajudarem a controlar a situação»Os incidentes foram rapidamente controlados, mas, mesmo assim, dois reclusos «ficaram ligeiramente feridos» e alguns deles «evadiram-se durante a insurreição».

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