domingo, 31 de julho de 2016

3 474 - Viaturas e reforços em Carmona para o último adeus ao Uíje!

A popular e frequentada Rua do Comércio, na cidade de Carmona, 
capital do Uíge, em foto de 2014 (da net)
A Rua do Comércio em 1975, em imagem captada
do lado contrário. O cruzamento é o mesmo e o
edifício do Banco BIC é o do Hotel (na foto de baixo)

O movimento de rotação dos Cavaleiros do Norte, de Carmona para Luanda, «começou a materializar-se a 31 de Julho de 1975, com a chegada de viaturas e de tropas de reforço» - uma Companhia de Comandos. Hoje se fazem 41 anos!
Era quinta-feira, com e«a situação estacionária» em Luanda e no Caxito. 
Todavia, «não havendo notícias
Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423, a de
Aldeia Viçosa: António Rebelo, Amorim
Martins, Abel Mourato e Mário Matos
 de incidentes nem movimento assinaláveis de tropas, quer da FNLA quer do MPLA», sabia-se, porém, que «os conflitos armados, até agora restritos a Luanda, Quanza Norte e Malange, se alargaram a outras zonas do território». por exemplo e depois das «violentas confrontações entre MPLA e FNLA em Porto Amboim», com «emprego de armas pesadas que pôs a população em pânico», a maioria foi evacuada para o navio «Sofala», com destino ao Lobito.
Furriéis milicianos da CCS, ainda no Quitexe,
com a messe e bar de sargentos ao fundo; António
Lopes (enfermeiro) e Norberto Morais (mecânico)
Os combates de Novo Redondo tinham cessado, mas «recomeçado na terça-feira à tarde, com particular violência, tendo também sido usadas armas pesadas». A população preparava-se para abandonar a cidade.
Em Malange os 6000 (ou 8000?) civis refugiados nas instalações militares portuguesas preparavam-se para ser evacuados «em comboios de 50 viaturas, escoltadas por soldados portugueses em 10 quilómetros» para o sul de Angola.
Carmona, a esse mesmo tempo, prepara-se para o adeus ao Batalhão de Cavalaria 8423 CAV. 8423 (a última guarnição militar da cidade e do Uíge) e muitos civis, até aí muito deles hostis às NT, críticos obstinados e injustos, procuravam a todo o custo ajuda para transporte de seus bens. Gente houve que para isso ofereceu, a muitos Cavaleiros do Norte, milhares de angolares (os escudos de Angola, assim, eram conhecidos), cartas de condução e diplomas escolares, até viaturas, diamantes, o que de melhor tinham do seu património para tentarem salvar o que era seu e, seguramente, lhes tinha custado muito trabalho, esforço e suor.
Grupos organizados de civis movimentaram influência e procuraram autorização para serem incorporados na coluna que ia sair na madrugada de 4 de Agosto de 1975.
Um ano antes, o comandante Almeida e Brito deslocou-se a Carmona, onde, a 31 de Julho de 1974 por razões de natureza operacional, participou na reunião de comandos do Comando do Sector do Uíge (CSU).

sábado, 30 de julho de 2016

3 473 - Cavaleiros anunciam saída de Carmona e FNLA «ataca» Luanda

Carmona e a avenida Capitão Pereira, foto repetida de 26 de Julho. Ao fundo, vê-se a Igreja (Catedral) e, 
antes, o edifício azulado, era onde havia uma escola e um campo de futebol. Para a direita, a estrada para 
o BC12 e o Songoe os edifícios do Liceu (os mais altos). À esquerda e de baixo para cima, na foto, a Assembleia 
Provincial (cúpula redonda), Grande Hotel do Uíge (com a piscina) e o Prédio Imbondeiro, o  edifício mais alto

O edifício da Zona Militar Norte (ZMN) e do Comando
do Sector do Uíge (CSU), onde há 41 anos reuniu o Estado
Maior Unificado de Carmona e a FNLA ficou a saber,
oficialmente, da saída dos Cavaleiro do Norte

O Estado Maior Unificado (EMU) do Uíge, em Carmona, reuniu a 30 de Julho de 1975, sendo tempo e oportunidade para comunicar à FNLA a saída do BCAV. 8423 - que estava programada para 3 e 4 de Agosto. O EMU fora criado no mês de Junho e incluía representantes do Comando Territorial de Carmona e do Batalhão de Cavalaria 8423, para além de oficiais da 1ª. Companhia das Forças Militares Mistas.
Furriel Rodrigues, da 1ª. CCAV. 8423, a de
Zalala, nas traseiras da ZMN/CSU, onde a
companhia esteve aquartelada de 12 de
Junho a 4 de Setembro de 1975 
O dia era de quarta-feira e de Luanda chegavam notícias da continuada resistência dos 600 homens da FNLA, acantonados na Fortaleza de S. Pedro Barra e «ao redor da qual colocaram minas para evitar o avanço das FAPLA». No Caxito, «a situação mantém-se(tinha-se) estacionária, embora a coluna da FNLA continue com a intenção anunciada de avançar sobre Luanda». A Luanda para onde dentro de 4 dias iam  partir os Cavaleiros do Norte.
Holden Roberto, a partir do Ambriz, fez anunciar que «o assalto contra a capital angolana deverá começar dentro de dias». A FNLA teria 8000 homens estacionados no Caxito, com muito material pesado de guerra - incluindo blindados. A ideia, segundo o Diário de Lisboa, seria utilizar o método chinês, aplicado no Vietname e Coreia: aplicação prévia de morteiros pesados, para «amolecer» a zona atacada e, depois, destruições ao longo da estrada para Luanda. Quifangondo e Cacuaco seriam importantes posições nessa operação - a que naturalmente se oporiam o MPLA e o seu poder popular armado.
Malange era outro palco da guerra MPLA/FNLA e onde, segundo o Diário de Lisboa, «6000 pessoas refugiaram-se mo quartel da Forças Armadas Portuguesas».
A notícia mais relevante do dia era a da apresentação ao MPLA de dois sargentos e 15 soldados da FNLA, em Novo Redondo e «após graves recontros» entre os dois movimentos. E admitiam-se (sem certezas) mais combates no distrito do Cuanza Sul, por exemplo no Lobito.
Holden Roberto, a partir do Ambriz, fez anunciar que «o assalto contra a capital angolana deverá começar dentro de dias»
Notícia do Diário de Lisboa de 30 de Julho de 1975
A FNLA teria 8000 homens estacionados no Caxito e, há precisamente 41 anos, fazia «o reagrupamento e instalação de dispositivos de ataque que deveriam, segundo o seu Estado Maior, «levá-los a Luanda». Isto numa altura em que (a FNLA) se batia longe das suas bases de apoio e, por isso mesmo, tinha, ainda segundo o Diário de Lisboa, «problemas de abastecimento das suas tropas, em munições e carburante (para os blindados) e alimentos».

sexta-feira, 29 de julho de 2016

3 472 - Cavaleiros do Norte para rodar e fome e mortos (?) em Carmona

Carmona, em 1975: a estrada que ia da cidade para o Songo, passando
pelo BC12, o quartel do BCAV. 8423, os Cavaleiros do Norte

A parada do BC12, vendo-se um autocarro
civil - provavelmente para transportar civis
que ali tinham sido acolhidos na dramática
primeira semana de Junho de 1975
O comando do Batalhão de Cavalaria 8423 - tenente coronel Almeida e Brito e capitães José Digo Themudo (2º. comandante) e José Paulo Falcão (oficial adjunto) - voltou a reunir com os elementos do Quartel de General da Região Militar de Angola, a 29 de Julho de 1975, «de modo a obter os meios necessários» para a operação de rotação dos Cavaleiros do Norte para Luanda.
Alferes João Machado, capitão Castro Dias e
um outro alferes de uma companhia que passou
em Carmona, nos últimos dias da jornada uíjana
Luanda de onde, através da imprensa, chegavam notícias de... Carmona: «Quarenta pessoas morrem diariamente de fome no distrito do Uíge, no norte de Angola», reportava o Diário de Lisboa, citando relatos de «viajantes chegados a Luanda». E acrescentando que «a escassez de alimentação tornou-se desesperada com a chegada de mais de 300 000 angolanos que regressaram do Zaire, onde se tinham refugiado durante a guerra pela independência».
Que os alimentos faltavam, é verdade. Que muitos aviões militares transportaram géneros alimentícios para Carmona, também. Que diariamente 40 pessoas morressem à fome, ousamos duvidar. Disso não temos memória sequer parecida, nem os Cavaleiros do Norte que agora consultámos sobre esta matéria de tal tragédia tem ideia.
José Lino (mecânico, do Fundão) Agostinho
Belo (vagomestre, do Retaxo, em Castelo
Branco) e António Luís Gordo (atirador, de
Alter do Chão), três furriéis milicianos da 3ª.
CCAV. 8423, a de Santa Isabel
Ao Uíge e de Luanda, reportava o Diário de Lisboa de 29 de Julho de 1975, «continuam a afluir os refugiados da região de Luanda, onde mais de 300 pessoas foram mortas nos combates que opuseram este mês dois movimentos de libertação antagónicos» - o MPLA e a FNLA.
A FNLA continuava no Caxito, onde esperaria «carburante do Zaire para avançar sobre Luanda» - embora, antes, tivesse de «obter uma vitória militar 20 kms. a norte da capital, em Quifangondo, zona onde se concentraram importantes forças militares do MPLA». Mas o MPLA dizia, sobre o Caxito, que as suas forças cercavam a cidade.
Em Luanda, ao fim da tarde da véspera, «irrompeu cerrado duelo de armas ligeiras e pesadas nas imediações da fortaleza de S. Pedro da Barra, onde as tropas da FNLA continuavam, a resistir ao assédios das FAPLA, do MPLA».
Em Malanje, os combates «recomeçaram ao fim da tarde de ontem, com particular violência» e, em consequência, «2 aviões militares portugueses que transportavam fornecimentos (para a cidade) foram atingidos pelo fogo cruzado entre MPLA e FNLA, tendo ficado ferido um dos tripulantes».
A FNLA dominava no Uíge, mas sabia-se que as estradas de acesso estavam bloqueadas pelo MPLA. Seria por elas, pela Estrada do Café (de Carmona a Luanda) ou pelo Negage/Salazar/Dondo que os Cavaleiros do Norte iriam passar, a partir de 3 de Agosto. Foi por estas.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

3 471 - Reunião com o Quartel General para operação Carmona-Luanda

Santos e Castro foi o primeiro comandante dos Comandos de Angola e, em 
1975, liderou a FNLA na tomada da vila do Caxito. Na imagem e à esquerda, 
está n Ambriz, de braços cruzados e a falar com Holden Roberto


O tenente João Elóy Borges da Cunha Mora, à
esquerda e no Quitexe, com os furriéis milicianos Neto
e Viegas. Faria 90 anos a 30 de Julho de 2016, mas
faleceu, de doença, 21 de Abril de 203, em Lisboa

A 28 e 29 de Julho de 1975, há 41 anos..., realizaram-se em Carmona (actual cidade do Uíge, no norte de Angola) «reuniões de trabalho com elementos do Quartel General (QG) da Região Militar de Angola (RMA), de modo a obter os meios necessários à operação» de evacuação do Batalhão de Cavalaria 8423 (os Cavaleiros do Norte) para Luanda - que começaria a 3 de Agosto seguinte.
Notícia do Diário de Lisboa de há 41 anos, sobre
o tenente coronel Santos e Castro, ex-oficial português
(comandante da 1ª. Companhia de Comandos em
Angola) a comandar as forças da FNLA no Caxito 
As NT controlavam a situação (aparentemente calma) mas continuavam «perigosamente alvo de queixas e ataques da FNLA», cujos dirigentes e militares, em Carmona e depois de na primeira semana de Junho terem expulso o MPLA, se achavam senhores de tudo e, do Uíge senhores, «ressacavam» dos desaires noutras áreas do território angolano.
Soube-se nesse dia 28 de há 41 anos que o tenente coronel Gilberto Santos e Castro, ex-oficial português que fora o primeiro comandante dos Comandos em Angola, era o comandante das Forças da FNLA que tinham conquistado o Caxito ao MPLA - e dali preparavam o «assalto» a Luanda.
Quartel de Vista Alegre (em foto recente), onde esteve
a CCAÇ. 4145 (que o comandante Almeida e Brito
visitou a 28 de Julho de 1974, há 42 anos)  e a 1ª. CCAV.
8423, a da Fazenda Zalala
Malange continuava a ser palco de combates entre MPLA e FNLA, com «fogo de armas pesadas». Soube-se do número de mortos nos incidentes da Vila Alice, onde uma força portuguesa foi pedir explicações e a entrega dos responsáveis pelo incidente da véspera: 15 mortos e 22 feridos entre os guerrilheiros do MPLA, que dispararam contra a força portuguesa - quando esta lhes deu 2 horas para que entregassem os culpados. E no entregaram, nem explicaram~o cobarde procedimento. Do lado português, registaram-se «dois alferes, dois furriéis e um soldados feridos» 
Na véspera, recordemos, combatentes do MPLA desarmaram alguns militares portugueses na Estrada de Catete e dispararam depois sobre eles, pelas costas. Ver o post de ontem, «Ataque do MPLA, pelas costas, a militares portugueses»AQUI.
No Luso, houve recontros entre o MPLA e a UNITA, com este movimento a sofrer «inúmeras baixas»
Um ano antes, o comandante Almeida e Brito esteve em Vista Alegre, para «contactos operacionais» com a CCAÇ. 4145, que ali estava aquartelada. Foi também o dia em que a 1ª. CART do BCART. 6322 / COTI 2 «foi retirada ao Subsector», para o qual tinha entrado 10 dias antes (a 18 de Julho), então continuando «a trabalhar a área dos quartéis de Camabatela e Quiculungo». Por poucos dias, afinal, como se verificou. Era uma companhia do Batalhão de Artilharia 6322, do Comando Operacional de Tropas de Intervenção 2 (COTI 2).

quarta-feira, 27 de julho de 2016

3 470 - Ataque do MPLA, pelas costas, a militares portugueses

A cidade de Carmona (Uíge) em Julho de 2010. Parece-nos ser a estrada
para o Negage, depois da rotunda (ao alto) que também dá para o Quitexe.
É visível o edifício redondo, ex-libris da cidade

O 1º. cabo Rodolfo Tomás em missão muito
especial: a lavar a sua roupa, no Quitexe
A noite de 26 para 27 de Julho de 1975, em Luanda, foi assinalada pelo ataque do MPLA a militares portugueses que circulava na estrada de Catete. «(...) Um grupo das FAPLA desarmou militares portugueses que se deslocavam numa viatura do Exército. Posteriormente, mandaram seguir a viatura, tendo então aberto fogo pelas costas, contra os seus ocupantes e ferido dois, um dos quais gravemente», referia um comunicado do Alto Comissário, sublinhando que «o COPLAD contactou imediatamente os dirigentes do MPLA, exigindo a entrega dos agressores até às 8 horas».
A parada do BC12 em Carmona (Uíge)
O prazo não foi cumprido e «nem dada qualquer explicação», noticiava o Diário de Lisboa, pelo que as Forças Armadas Portuguesas, depois de mais duas horas de espera, «montaram um dispositivo para a detenção dos elementos das FAPLA estacionados na Vila Alice»
O oficial comandante da força portuguesa falou com o responsável do MPLA mas nada disso evitou que as FAPLA disparassem: «Abriram fogo sobre as tropas portuguesas, que ripostaram, generalizando-se o incidente e provocando mortes e feridos entre as FAPLA e civis», relata(va) o Diário de Lisboa.
O MPLA, em comunicado posterior, deu conta que a não entrega dos responsáveis se deveu «a motivos alheios» à sua vontade e considerou de «estranhas proporções o aparato militar montado pelos portugueses na Vila Alice»
Os combates, noutras áreas do território angolano, continuavam em Malanje, «após ligeira trégua conseguida através da intervenção das autoridades portuguesas» e, neste dia de 1975, não se sabia exactamente o que se passava na zona do Caxito, que havia sido tomada pela FNLA. Especulava-se que o MPLA teria a cidade cercada e que as tropas da FNLA estariam sem possibilidade de avançarem sobre Luanda. Mas a FNLA fazia saber que, citamos o Diário de Lisboa dessa data, as suas tropas «aguardam o reagrupamento de colunas vindas do norte para então avançarem sobre Luanda».
A Luanda para onde os Cavaleiros do Norte, que continuavam aquartelados em Carmona, tinham rotação marcada para daí precisamente uma semana. A cidade uígense aparentava tranquilidade e por lá levedava a ansiedade da população, que foi tendo conhecimento da saída da tropa e a esta de «colava». 
O discurso de António Spínola sobre a
independência das colónias no Diário de
Lisboa de 27 de Julho de 1974. Há 42 anos!

Um ano antes e com a CCS no Quitexe - e as companhias operacionais em Zalala (1ª. CCAV. 8423), Aldeia Viçosa (2ª.) e Santa Isabel (3ª.) - foi conhecida a mensagem do Presidente da República e da Junta Militar de Angola sobre «a missão das Forças Armadas (...) no sentido de garantir a segurança da população e capacidade de construir uma Angola nova em ambiente de paz e de fraternidade».
Assim, referia a mensagem, «pensa-se vir a verificar-se uma mutação na guerra que se enfrenta desde 196, o que impõe, pela futura situação a viver, um grande espírito de corpo e de missão».
O Presidente da República era o general António Spínola que, num discurso considerado histórico, anunciou ao país e ao mundo, reconheceu «o direito dos povos das colónias a assumirem o sei próprio destino, podendo encaminhar-se, sem qualquer ambiguidade paraa independência política».

terça-feira, 26 de julho de 2016

3 469 - Guerra total da FNLA ao MPLA, calma e serenidade em Carmona!

A cidade de Carmona em foto recente (da net). Parece-nos a avenida
Capitão Pereira, que ia da praça do Comando Militar, CTT, Governo 

Civil e Câmara, para a saída para o aeroporto, o BC12 e o Songo. As 
piscinas, à esquerda, devem ser as do Grande Hotel do Uíge. A coluna 
redonda, em baixo, será a do edifício da Assembleia Provincial. 
Quem ajuda a identificar elementos da imagem?
Cavaleiros do Norte de Zalala. furriel
José António Nascimento, Santos (da
messe) e furriel Jorge Barreto

A 26 de Julho de 1975, há precisamente 41 anos, voltou a Carmona a  coluna que tinha saído para Salazar, assim como os Cavaleiros do Norte que ao tempo estavam em Luanda a preparar viaturas para a rotação final. Voltaram sem quaisquer incidentes. 
As diferenças com a FNLA continuavam mas... resolviam-se, com o banho de força e autoridade das NT. Tudo isso era difícil, melindroso e bem complicado, mas houve da parte dos Cavaleiros do Norte a assumpção plena das suas responsabilidades. 
Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV.  8423, a de
Aldeia Viçosa: os furriéis milicianos Jesuíno Pinto,
José Gomes, António Carlos Letras e Amorim Martins
Cavaleiros do Norte que, na seu garbo militar e generosidade física e mental, ali estavam para o que desse e viesse, dispostos e disponíveis para tudo o que honrasse as responsabilidades da farda e do país que representavam - com a calma dos deuses e a serenidade de quem honra os seus deveres pátrios.
Holden Roberto, presidente da FNLA (ao tempo, supostamente em Carmona...), na véspera e aos microfones da Emissora Oficial de Angola,  proclamara «guerra total». exortando os seus militares a «continuarem o fogo sobre o inimigo, em todas as frentes, porque a nossa luta e definitiva e só terminará com a libertação de Luanda e a restauração de todas as nossas posições».
A FNLA, recordemos, tinha tomado o Caxito e queria reconquistar a capital, onde dominava o MPLA - que de lá tinha expulso o movimento de Holden Roberto. Na mesma altura, e citamos o Diário de Lisboa de 26 de Julho de 1975, Holden Roberto «apontou a guerra total ao MPLA».
Notícia do Diário de Lisboa de 26 de Julho
de 1975, sobre a declaração e «guerra
total» da FNLA ao MPLA, em Angola
Luanda continuava, apesar do cessar fogo dias antes anunciado, a registar «confrontações  armadas entre o MPLA e a FNLA, nos últimos redutos deste movimento» - no Forte de S. Pedro da Barra (onde continuavam acantonados 600 militares de Holden Roberto) e nos Bairros Cazenza e Cuca. A FNLA continuava no Caxito e era desmentida a presença de seus blindados a 17 quilómetros de Luanda - o que seria nas imediações do Cacuaco, onde, segundo o Diário de Lisboa desse dia de há 41 anos, «não se verificaram combates».
O MPLA continuava a controlar Henrique de Carvalho e Salazar - embora aqui não tivesse sido retomada a actividade normal, pois «os combates entre MPLA e FNLA deixaram a cidade destruída». Em Malanje, «deflagrou o conflito armado que já há vários dias se verificava em diversos locais do distrito, referindo as notícias chegadas esta manhã a Luanda que os recontros de Malanje são muito violentos, envolvendo armas ligeiras e pesadas».
Um ano antes, exactamente, o comandante Almeida e Brito visitou a 2ª. CCAV. 8423, em Aldeia Viçosa (onde também reuniu com as autoridades tradicionais), e a Fazenda Minervina.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

3 468 - Coluna dos Cavaleiros para Salazar e FNLA no Caxito

A tomada do Caxito, com o português José Victor Nogueira e Carvalho 
(à esquerda), que participou nos combates. Ver AQUI

Três furriéis milicianos da 3ª. CCAV. 8423, a de  Santa
Isabel: Grenha Lopes (de Barcelos e agora em Lisboa),
Agostinho Belo  (do Retaxo, Castelo Branco) e, à frente,
Graciano Silva (Lamego)

Aos 25 dias do mês de Julho de 1975, uma sexta-feira, há precisamente 41 anos e à terceira tentativa, finalmente e depois de «desanuviado ligeiramente o ambiente, conseguiu realizar-se a desejada coluna a Salazar, fazendo-se o seu regresso e do pessoal que tínhamos em Luanda em 26 de Julho», reporta o Livro da Unidade - o do Batalhão de Cavalaria 8423, os Cavaleiros do Norte - sobre esses dias de algumas dúvidas e de muitas expectativas.
Mapa de Angola (parcial), para se avaliar a
distância e o percurso de Carmona (Uige)
ao Caxito e a Luanda
A Carmona chegavam notícias da «ocupação do Caxito por blindados da FNLA», tendo o MPLA abandonado a vila, que ocupava desde Maio anterior. Caxito que era (é) um importante nó rodoviário e uma das principais portas de entrada de Luanda, que fica(va) a uns 50/60 quilómetros. Por onde iriam (mas não foram) passar os Cavaleiros do Norte, na sua retirada de Carmona, se tivessem ido pela Estrada do Café, como era expectável. Foram por Negage, Camabatela, Salazar e Dondo, por Catete e Viana, até ao Grafanil.
Daniel Chipenda, que afinal continuava em Carmona (e não no Caxito, no comando das tropas da FNLA), lá deu nesse dia uma entrevista a um jornalista da AFP, anunciando ao  mundo que «as nossas tropas marcham sobre Luanda e esperamos que a sua entrada na capital aconteça nos próximos dias». 
«Apesar das declarações de várias entidades do Governo de Lisboa, as forças portuguesas não se oporão realmente ao avanço das tropas da FNLA», sublinhou o dirigente e comandante militar da FNLA, acrescentando «não ter medo a eventual intervenção da Força Aérea Portuguesa», até porque, disse, confiante, «durante a guerra, os portugueses usaram a aviação e você conhece s resultados».
A confiança de Chipenda parecia ilimitada, nomeadamente afirmando que o ELNA (Exército de Libertação Nacional de Angola, braço armado da FNLA), era «mais importante, em comparação com os outros ,movimentos de libertação» e que, na mesma entrevista, «vamos a Luanda não para negociar mas para dirigir», até porque, frisou, «todos os anteriores acordos foram violados pelo MPLA».
Daniel Chipenda, que conhecemos em Carmona (durante a campanha da apanha do café e num comício da FNLA, no campo do Clube Recreativo do Uíge) e mais tarde encontrámos em Portugal, afirmou também que as FNLA «não tinha a intenção de se acantonar no norte de Angola, mas, sim, a de se instalar em Luanda e de lá «manter  seu quartel-general». 
Fazenda Chandragoa: a casa da administração e
fortim (em cima) e Zeca, filho do proprietário, aos
18 anos (em baixo). Foi visitada por Almeida e
Brito há precisamente 42 anos, 25 de Julho de 1974!
Chipenda revelou também que o presidente Holden Roberto estava «em território de Angola» - em Carmona, muito se comentou, na altura, que estaria lá, na cidade... - e perguntado sobre a possibilidade de a FNLA proclamar um estado a norte de Angola, foi taxativo: «Não queremos balcanizar o nosso país. A nossa capital não é Carmona nem S. Salvador, mas sim Luanda».
Um ano antes e no Quitexe e outras subunidades (Zalala, Aldeia Viçosa e Santa Isabel, Vista Alegre e Liberato), celebrou-se o Dia do Exército «com cerimónias simples». No mesmo dia 25 de Julho de 1974, o comandante Carlos Almeida e Brito, acompanhado de autoridades locais (administrativas e eclesiásticas), visitou as Fazendas Guerra, Chandragoa, Buzinaria e Isabel Maria.
- NOGUEIRA e CARVALHO. José Victor de Brito 
Nogueira e Carvalho foi capitão miliciano de Infantaria,  
inspector da DGS em Angola, funcionário superior da 
Polícia de Informação Militar (PIM) e do Gabinete Especial 
de Informações do Comando-Chefe das Forças Armadas 
de Angola. Ver AQUI

domingo, 24 de julho de 2016

3 467 - A evacuação de Carmona e a (re)entrada da FNLA em Luanda

Carmona, actual cidade do Uíge, em foto recente, da net: o antigo 
Comando do Sector do Uíge e Zona Militar Norte (à esquerda), o Governo 
Civil, avenida Capitão Pereira, os CTT e a Câmara Municipal. A estrutura 
física é a mesma do tempo dos Cavaleiros do Norte. Há 41 anos!

Três Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423 na
piscina de Carmona: os furriéis milicianos António
Carlos Letras (à esquerda) e José Fernando Melo,
ladeando o alferes miliciano João Francisco Machado

A saída dos Cavaleiros do Norte, de Carmona para Luanda, foi cuidadosamente preparada. A 23 de Julho de 1975, realizou-se uma primeira reunião (seguir-se-iam as de 28/29) com elementos do Quartel General (QG) da Região Militar de Angola (RMA) para, segundo o Livro da Unidade, «obter os meios necessários à execução de tal operação» -  movimento, que «começou a materializar-se a 31 de Julho».
Os furriéis milicianos José Francisco Neto (CCS)
e João Domingos Peixoto (adido) num momento de
lazer, na messe do Bairro Montanha Pinto 
A 24, hoje se passam 41 anos e em Lisboa, o Presidente da República (general Costa Gomes) considerou «inaceitável», e cito o livro «Segredos da Descolonização de Angola», de Alexandra Marques, os termos do «ultimato relativo às condições de saída de Carmona e do Negage», mas aceitava, e continuo a citar este livro, que «uma coluna militar poderosa e um agrupamento de Tropas Especiais, artilharia, blindados e todo o apoio aéreo possível» evacuassem as duas cidades - onde apenas sobravam o BCAV. 8423 (os Cavaleiros do Norte) e a ainda bem mais pequena guarnição negajana.
A FNLA controlava os distritos (províncias) do Uíge e Zaire e, expulsa de Luanda pelo MPLA, aqui queria voltar. Na noite de 24 de Julho de 1975, o Alto Comissário Silva Cardoso convocou vários oficiais para analisar a situação e decidir o que fazer. Na manhã seguinte, segundo Alexandra Marques («Segredos da Descolonização de Angola»), comunicou ao Presidente Costa Gomes que «decidi não me opor a uma eventual entrada da FNLA em Luanda» e que, por preocupação, ordenara «a ocupação imediata e a manutenção a todo o custo da câmara, refinaria, aeroporto, emissora e Grafanil».
A situação de Angola nas páginas do Diário
de Lisboa de 24 de Julho de 1975
«Logo que fosse possível», acrescentou Silva Cardoso na mensagem a Costa Gomes, começaria «a retirada de Carmona, Negage e Santo António do Zaire, sem atender às pressões da FNLA», que, como bem sabiam os Cavaleiros do Norte (e na pele e na alma tal sentiam), a todo o custo queriam impedir a retirada dos militares. Que eram, no fundo, o seu grande tampão de segurança e defesa em qualquer situação de ataque do MPLA - que a todo o custo queria ocupar estes dois bastiões do movimento de Holden Roberto. Não era crível que as FAPLA alguma vez atacassem as NT.
O dia de véspera e em Luanda, foi tempo para novos combates, nos bairros da Cuca e do Cazenga, entre os dois movimentos rivais (MPLA e FNLA). E prosseguiam no Caxito, onde, segundo o Diário de Lisboa, se admitia que «Daniel Chipenda estaria na frente da coluna, a qual englobaria blindados»
Jonas Savimbi, presidente da UNITA e falando em Abidjan, admitia não ver como possível que a independência fosse a 11 de Novembro, devido à situação «muito grave» que se vivia. Acrescentou «haver o risco de surgir um novo Vietname, devido ao desrespeito pelos Acordos do Alvor e de Nakuru». Mas admitia «responder favoravelmente ao convite dirigido soa três movimentos de libertação de Angola para se reunirem em Kampala», na altura da Cimeira da OUA.

sábado, 23 de julho de 2016

3466 - FNLA «impediu» saída de MVL de Carmona e cessar-fogo em Luanda

Um helicóptero na parada da BC12, com o edifício do comando ao fundo. 
Reconhecem-se o furriel Viegas (à esquerda, de costas), o alferes 
Garcia (com um rádio na mão) e o furriel Machado (de mãos nas ancas). 
Alguém identifica os restantes?

A fachada principal do BC12, em Carmona (imagem 
de cima). Vista aérea do quartel (em baixo)

A FNLA «impediu» a saída de um MVL para Luanda, a 21 de Julho de 1975 - o que já acontecia pela segunda vez, repetindo o dia 13 - e a situação motivou instintiva reacção de um grupo de furriéis (alguns dos que habitualmente faziam patrulhamentos na cidade e itinerários), junto do comandante Almeida e Brito, indagando da razões porque as NT não forçavam a passagem.
As razões foram fundamentadas e ficaram semeadas expectativas quando ao futuro próximo: tal não voltaria a acontecer. E não aconteceu. Por exemplo, a 23 de Julho o comandante Almeida e Brito - e restantes comandos militares de Carmona - reuniram com os os responsáveis da FNLA e o comandante dos Cavaleiros do Norte terá sido tudo menos... simpático. Não era homem de vergar, ou de sustentar medos. 
Era quarta-feira e a melhor notícia chegava de Luanda, onde, noticiava o Diário de Lisboa, por despacho do seu correspondente,  «desde as zero horas de hoje está em vigor um cessar fogo entre guerrilheiros do MPLA e os militares da FNLA». O acordo fora acertado na véspera, numa reunião da Comissão Nacional de Defesa, presidido pelo novo Alto Comissário  - o general Silva Cardoso.
Nem tudo eram boas notícias: havia também a da explosão de uma bomba na redacção do Jornal de Angola (o até aí A Província de Angola). Com portas e janelas destruídas e elevados prejuízos, mas com apenas dois feridos: um polícia e um tipógrafo. A rotativa ficou «completamente destruída». O jornal era «afecto» à FNLA, pelo que não seria difícil «desconfia» de quem terá partido a explosão da bomba.
O Diário de Lisboa de 23 de Julho de
1975 noticiava o cessar-fogo em Angola
Não havia notícias de confrontações armadas, mas os 600 homens da FNLA continuavam no Forte de S. Pedro da Barra - que no domingo anterior tinha sido «palco de intensa batalha». A FNLA voltou a acusar as Forças Armadas Portuguesas «ajudaram o MPLA nas confrontações com o MPLA» e, por este registo, se pode imaginar com o movimento de Holden Roberto olhava e desconfiava, e ameaçava, os Cavaleiros do Norte, as únicas NT no território uíjano - onde derrotaram e expulsaram o MPLA.
O Diário de Lisboa desse dia 23 de Julho de 1975 noticiava que «as Forças Armadas Portuguesas estão prontas a intervir para impedir o possível avanço das tropas da FNLA sobre Luanda, dominada pelo MPLA desde os violentos combates do princípio do mês» e um porta-voz militar português, citado pelo mesmo vespertino de Lisboa, dava conta que «se a FNLA marchar sobre Luanda, ol combates poderão alastrar para as zonas centrais da capital, em vez de se confinarem aos seus subúrbios, com até agora».

   

sexta-feira, 22 de julho de 2016

3 465 - Chipenda em Carmona anunciou Holden Roberto em Angola

Cavaleiros do Norte em Carmona, há 41 anos, no jardim da piscina,
todos milicianos: o furriel Nelson Rocha, o alferes Pedrosa de Oliveira
e os furriéis Manuel Machado, José Lino e António José Cruz 
Os capiães milicianos José Manuel Cruz (2ª. CCAV. 8423)
e José Paulo Fernandes (3ª. CCAV. 8423) com o alferes
miliciano João Machado (2ª. CCAV. 8423). Em baixo, uma
espingarda semi-automática SIMONOV, identica à que,
 há 42 anos, foi capturada ao IN pelos Cavaleiros do Norte
A 21 de Julho de 1974, apresentou-se em Aldeia Viçosa, no aquartelamento da 2ª. CCAV. 8423, «um elemento fugido do IN, antigo GE raptado na área do Bolongongo»O acontecimento foi invulgar, na então ainda recente jornada africana dos Cavaleiros do Norte. Na verdade, isto seguia-se a «contactos com elementos do IN, com vista a uma tentativa da sua apresentação no contexto da actual política» e muito embora a apresentação, segundo o Livro da Unidade, não tivesse «ligação com tal actividade» era importante, era «a primeira arma do BCAV.».
A arma era «uma espingarda semi-automática Simonov» e que, precisa o Livro da Unidade, «conseguiu furtar-se a um grupo inimigo em trânsito».
A 22 do mesmo mês de Julho de 1974 (hoje se fazem 42 anos), o Comando Chefe das Forças Armadas apelava a que a população «não dê crédito a quaisquer boatos tendentes a perturbar a ordem e o sossego que se tem vindo a verificar» em Luanda e afirmava que «não deu entrada no Hospital de S. Paulo qualquer ferido com incidentes com armas de fogo», apesar de «algumas acções de furto nos Bairros Popular, Marçal, Marconi e Golfe», onde, aliás, «na maior parte dos casos, os assaltantes foram capturados pelas forças da ordem», como noticiava o Diário de Lisboa.
Um ano depois, Daniel Chipenda continuava em Carmona, onde se dirigiu «a todo o povo angolano» para anunciar  que Holden Roberto se «encontra(va) em território nacional, para conduzir as operações militares do ELNA» - o exército da FNLA.
«Nós, FNLA, somos obrigados a pegar em armas para uma vez mais dizer não aos que desejam oprimir o povo. Voltamos às armas pela mesma razão de 1961. Queremos liberdade. Queremos liberdade e terra para os angolanos», proclamou Daniel Chipenda.
Luciano Borges Gomes, 1º. cabo
mecânico de armamento da CCS
dos Cavaleiros do Norte: fez 22 e 23
anos a 22 de Julho de 1974 e 1975,
no Quitexe e Carmona. É industrial
moldes em Leiria
A memória atrasa-nos no tempo para recordar que, por essa altura e entre a tropa portuguesa havia a convicção de que Holden Roberto estava mesmo em Carmona. E alguns Cavaleiros do Norte garantiam tê-lo visto. 
Ao mesmo tempo, no Caxito, a 50 quilómetros de Luanda, foi impedido o avanço de blindados da FNLA para a capital - faltando saber se pela tropa portuguesa, se por forças do MPLA. A linha de caminho de ferro de Luanda para Malange foi cortada a 40 quilómetros de Salazar (N´Dalatando), cidade «praticamente abandonada». Refugiados daqui, chegaram a Luanda, Nova Lisboa e Sá da Bandeira, enquanto «1000 pessoas refugiaram-se no quartel português». Os acantonados da FNLA no Forte de S. Pedro, em Luanda, continuavam «a resistir ao assédio do MPLA».
Um informador militar português, segundo o Diário de Lisboa, afirmou que «as «forças portuguesas interviriam para interceptar as forças da FNLA e impedi-las de entrar na cidade». Outra novidade e pouco agradável: a cidade de Luanda teria gasolina para apenas 4 dias.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

3 464 - A morte da Irmã Maria Augusta, Dia da Cavalaria e ataque da FNLA às NT

A Irmã Maria Augusta (de lado) com a dra. Margarida Cruz (médica
e esposa do alferes Cruz) e o padre Albino Capela, com Ricardo,
o filho do casal num pic-nic nos arredores do Quitexe, em 1974
A Irmã Maria Augusto com o Ricardo ao colo, filho do alferes
Cruz, ao lado da Igreja do Quitexe. Em baixo, a festa de Natal de
1974, na aldeia do Canzenza: a Irmã Maria Augusta, NN e alferes Hermida,
Pedrosa, Simões, Cruz, Ribeiro e Garcia. À frente, o padre Albino Cruz



A Irmã Maria Augusta Vieira Martins, da Congregação da Obra da Imaculada Conceição e Santo António, missionou no Quitexe, no tempo dos Cavaleiros do Norte e com seu irmão, o padre Albino Capela - da Ordem dos Frades Menores Capuchinos. Faleceu a 21 de Junho de 2006, há 10 anos e um mês, vítima de doença cancerosa, em Lisboa. Aos 73 anos! Era a mais velha de 9 irmãos, da Família Martins Capela, da Carvalheira, em Terras do Bouro, no Gerez.
Iniciou a sua vocação de religiosa na Congregação da Obra de Santa Zita, da qual passou para a da Imaculada Conceição e Santo António. Nossa contemporânea no Quitexe, dela recordamos a bondade e imagem de doçura e carinho que, como que em colo de afectos, partilhava com a comunidade civil, nomeadamente as crianças e as famílias mais carenciadas - a partir da Missão dirigida por seu irmão, o padre António Albino Capela. E não esquecendo a sua partilha com os Cavaleiros do Norte da CCS e 3ª. CCAV. 8423, nomeadamente na consoada de 1974 - que ajudou a confeccionar, com as mulheres dos oficiais. Continuou em Angola (e em Carmona) depois da independência, até 2006. Veio diversas vezes a Portugal e na última sentiu-se mal. Foi hospitalizada em Lisboa e faleceu passadas algumas semanas, de cancro. Hoje a recordamos com saudade! RIP!!!
Há 42 anos, dia 21 de Julho de 1974, um domingo, foi comemorado o Dia da Cavalaria - em todas as subunidades do BCAV. 8423. «Mal ficaria ao comandante do Batalhão que não lembrasse a efeméride aos seus militares. Deveria ser um dia festivo, deveria ser um dia em que todos os Cavaleiros, em confraternização, vivessem essas horas e meditassem no passado, para orientarem o futuro», referiu Almeida e Brito, acrescentando, como se lê no Livro da Unidade, que «no momento actual não seria fácil fazer essa reunião e, como tal, limita-se o Comando do Batalhão a assinalar a data» - sem esquecer Mouzinho de Albuquerque, o «patrono que tantos e tão bons exemplos deu à pátria».
Notícia do Diário de Lisboa sobre o ataque
          da FNLA a forças portuguesas, há 41 anos!
Luanda continuava com tensão nos musseques, todavia a acalmar e «em vias de extinção», como referia o Diário de Lisboa. Por exemplo e nesse dia, «não deu entrada no Hospital de S. Paulo qualquer ferido originado pro incidentes com armas de fogo».
Mais grave estava a situação, um ano depois, quando «tropas da FNLA abriram fogo sobre uma aeronave DO7 da Força Aérea Portuguesa que procedia ao reconhecimento da zona do Caxito», tendo morrido um 1º. cabo mecânico. Na Barra do Dande, uma corveta portuguesa ripostou a uma acção de fogo da mesma FNLA.
Os incidentes justificaram um violento comunicado do movimento de Holden Roberto, apelando a todas as suas organizações no sentido de «congregarem esforços no sentido de uma ofensiva geral contra os neocolonialistas portugueses, os agentes do social-imperialismo e seus aliados, estejam eles onde estiverem».
Era para esta Luanda que os Cavaleiros do Norte iriam rodar, a partir de 3 de Agosto seguinte. A FNLA, deste modo, e citamos o Diário de Lisboa, lançou «um sério aviso às forças portuguesas».

quarta-feira, 20 de julho de 2016

3 463 - Carmona calma, Sanza Pombo e iminência de guerra civil

Cavaleiros do Norte da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel: furriéis
milicianos Agostinho Belo (do Retaxo, em Castelo Branco) Ângelo
Rabiço (Vila Real), Jose Querido (que faz 64 anos a 18 de Julho de
2016), Victor Guedes (falecido a 16/04/1998) e António Fernandes (Braga)


Aos 20 dias de Julho de 1974, jornadeando os Cavaleiros do Norte por terras do Uíge, foi o comandante Almeida e Brito a Sanza Pombo, onde se aquartelava o BCAV . 8324 (era 8423, o nosso!) para mais «contactos operacionais» com os comandantes do Comando de Sector do Uíge.
Os furriéis miliciaos António Costa Fernandes e
José Adelino Borges Querido, em 1995 (foto de cima)
e 2016 (foto de baixo), ambos da 3ª. CCAV. 8423,
a da Fazenda Santa Isabel
A escolta, bem simples, foi feita por duas equipas do PELREC e lá, em Sanza Pombo, procurei uma família da minha terra natal - a de Adolfo Pires dos Reis, que era técnico do Ministério da Agricultura, filho e irmão de gente amiga, cunhado de um primo de meu pai. Imagine-se que, quase 2 anos depois, não sabia ainda da morte de meu pai (em Agosto de 1972). Os tempos eram outros, em matéria de comunicações.
Era sábado e comi funge pela primeira vez, já que com ele me  mimoseou a família Reis, fazendo muita questão que almoçasse em casa deles. O que aceitei com gosto.
A tranquilidade no campo militar era evidente e os Cavaleiros do Norte, sem medos, sem recuos ou quaisquer outros constrangimentos, foram ganhando a sua alforria operacional, controlando a sua zona de acção com todos os cuidados e prevenção, é verdade, mas seguros da sua competência.
Luanda viu ir embora, nesse dia, o Governador Geral  e Comandante-Chefe, general Silvino Silvério Marques, que vinha a ser muito contestado e viajou para Lisboa, abandonando o cargo. Interinamente, foi substituído pelo dr. Pinheiro da Silva, que era Secretário de Estado. «Será a primeira vez, ao menos nos tempos modernos, que Angola é governada por um mestiço», notava o Diário de Lisboa.
Um ano depois e ao meio dia desse domingo (20 de Julho de 1975), MPLA e FNLA continuavam a combater no forte de S. Pedro da Barra. «Rebentaram violentos combates», noticiava o Diário de Lisboa do dia seguinte, acrescentando que «julga-se tratar-se de um ataque maciço do MPLA para tomar o forte, que tem estado sob cerco desde 5ª.-feira» - e onde se encontravam acantonados pelos menos 600 «fnla´s» e que, supostamente, teriam alguns «mpla´s» aprisionados. 
O MPLA exigia a saída da FNLA de Luanda e o mesmo ordenava o Conselho Nacional de Defesa (CND), que determinou «o fim das hostilidades» e «a retirada das forças da FNLA». Mateus Neto, da FNLA e Ministro da Agricultura, que participara na reunião (da véspera) do Conselho Nacional de Defesa, reagiu: «Se os portugueses aceitarem as propostas da FNLA, isso significa que ambos tentarão forçar-nos a capitular. Nós não aceitaremos essa posição e continuaremos a lutar até ao último homem».
Quartel de Sanza Pombo, onde estivemos a
20 de Julho de 1974, há precisamente 42 anos
N´Gola Kabangu, do bureau político da FNLA e que também participou na reunião do o Conselho Nacional de Defesa (CND), depois de referir que o presidente Holden Roberto estava em Angola e «em breve na capital», considerou a reunião (de 5 dias) como «um ataque de surpresa que ocorreu apenas uma semana depois do apelo à unidade nacional». Um ataque à FNLA, bem entendido.
Notícia do Diário de Lisboa de 20 de Julho de
1975, há 41 anos, sobre os combates entre o
MPLA e a FNLA
«Se não chegarmos a um rápido acordo em Angola, em breve estaremos em guerra civil, visto que a situação se deteriora a cada dia que passa», disse N´Gola Kabangu. A «mobilização completa» das forças da FNLA, feita através da rádio, foi o que o Diário de Lisboa considerou «o prelúdio de uma guerra civil».
A emissão radiofónica da FNLA, ainda segundo o Diário de Lisboa, também criticou «as unidades do Exército Português que combateram ao lado das forças rivais do MPLA, com o objectivo de deter o avanço da tropas da FNLA». Foi a primeira vez que de tal se falou: de a tropa portuguesa «influir directamente na paragem de uma coluna fortemente armada da FNLA, que marchava sobre a capital» - o que teria acontecido no Caxito, a 50 kms. de Luanda.
A emissão radiofónica da FNLA acrescentou que «se os portugueses continuassem a obstruir o avanço das tropas da citada coluna, a FNLA teria de responder com a força».
Angola, há 45 anos, a 4 meses da data da independência - 11 de Novembro de 1975!