sexta-feira, 31 de março de 2017

3 717 - Patrulhamentos mistos no Úcua, latente tensão em Luanda...

Comício em Aldeia Viçosa, vila do Uíge angolano onde esteve aquartelada a
a 2ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano José Manuel Cruz, entre
os dias 10 de Junho de 1974 e 11 de Março de 1975


Grupo de Cavaleiros do ECAV. 401, que há 42 anos e com
 Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423, fizeram patrulha-
mentos mistos a Úcua, Salazar (actual N´Dalatando) e
Quibaxe. À direita, está o furriel Sá


As medidas militares tomadas pelo BCAV. 8423 «foram muito bem aceites» pelos movimentos e eram «analisadas diariamente e concretizadas em reuniões do Estado Maior conjunto».
As reuniões realizavam-se às 4ªs.-feira e o Livro de Unidade, do BCAV. 8423, su-
blinha mesmo que tal «tem sido a ori-
gem do clima da paz que se vive no dis-
trito, constituindo-se esta equipa de tra-
balho um exemplo para terceiros, pelo que está, até mesmo, a ser itinerante»
Dragões do ECAV. 401 do GC1
Assim, e ainda segundo o Livro da Unidade, «dentro deste contexto, houve contactos a vários níveis com os movimentos das áreas de Salazar, Quibaxe e Úcua, com forças do Esquadrão de Cavalaria 401 e da 2ª. CCAV. 8423, o qual se realizou a 31 de Março de 1975»Há precisamente 42 anos.
 Por Salazar, a cidade, entenda-se a actual cidade de N´Dalatando, cidade que, assim como Úcua e Quibaxe são próximas de Carmona. Estas duas localidades fican na Estrada do Café, a de Carmona (a actual cidade do Uíge, capital da província do mesmo nome) para Luanda. 
O Quibaxe pertence ao município dos Dembos, na província do Bengo. Úcua é do município do Dande e também da província do Bengo. Aldeia Viçosa, onde se aquartelou a 2ª. CCAV. 8423 (ao tempo já no BC12, em Carmona), é uma comuna angolana da província do Uíge.
Os furriéis Cruz e Viegas no separador ajardinado da ave-
nida do Quitexe, há 42 anos. Atrás, vê-se o Bar dos Sol-
dados (à direita) e a cobertura onde eram dadas as aulas
regimentais do BCAV. 8433


Protocolo violado e
latente tensão em Luanda

Os graves incidentes de Luanda tinham diminuído de intensidade, já depois da assinatura do protocolo entre o Governo Português e os três movimentos de libertação.
«Nas últimas 48 horas, houve violação do protocolo (...), mas estas ocorrências não prejudicam o regresso à normalidade, ou à quase normalidade, embora se pressinta um estado de latente tensão», noticiava o Diário de Lisboa, na pena do enviado especial José Salvador, precisando que «no momento em que telefono, há tiroteio na Avenida do Brasil, onde está instalada a sede da FNLA, embora desconheça os pormenores relativos ao incidente».
Era para esta cidade que os furriéis milicianos Cruz e Viegas estavam de malas feitas, para férias que os levariam (e levaram) a conhecer parte da mágica e imensa Angola - começando precisamente pela capital angolana.  
Capitão Victor e o furriel
Oliveira, ambos da CCAÇ.
209/RI 21, do Liberato

Oliveira e Jerónimo
em festas de anos!!

O furriel Oliveira e do soldado sapador Jerónimo tiveram as suas festas de anos a 1 de Abril de 1975. Vão repeti-las!
José Marques de Oliveira foi furriel miliciano vagomestre da CCAÇ. 209/RI 21, a da Fazenda Liberato. Natural do Caramu-
lo, estudou e radicou-se em Águeda, onde fez carreira profissional na Caixa Geral de Depósitos. 
Nogueira e furriéis Viegas e Oliveira,
do Liberato, em Dezembro de 2012
Já reformado é lá que amanhã comemorará 66 anos!
Jerónimo Oliveira de Sousa foi Cavaleiro do Norte do Pelotão de Sapadores da CCS, no Quitexe, e é natural e residente no lugar de Chousas, na freguesia de Souselo, concelho de Cinfães. Trabalha na área da construção civil e a 1 de Abril de 2017 festeja 65 anos.
Parabéns para todos! E muitos e bons dias de anos!!

quinta-feira, 30 de março de 2017

3 716 - Os últimos Cavaleiros do Norte de Santa Isabel na Fazenda Maria Amélia!

 Os últimos Cavaleiros do Norte da Fazenda Maria Amélia. De pé, NN, Caro-
ço, NN, Eusébio e Toy. Em em baixo, NN, Ângelo Teixeira, furriel Carvalho,
 Jesus e NN. Quem ajuda a identificar os NN´s?
Cavaleiros do Norte no lago da Fazenda
Maria Amélia: furriel Carvalho (à frente),
 Ângelo Teixeira e Jesus


A última guarnição militar portuguesa aquartelada na Fazenda Maria Amélia era comandada pelo furriel miliciano José Fernando de Carvalho, da 3ª. CCAV. 8423, que de lá saiu em finais de Março de 1975.  
A fazenda ficava a caminho da mítica Árvore Vaidosa e a Secção era formada por 13 homens, os da imagem de cima, mais os dois que estavam de reforço no momento em que foi tirada e o... fotógrafo - que foi o 1º. cabo Floro Teixeira.
«Fomos os últimos e saímos de lá directamente para Carmona, levando todo o equipamento mili-
tar lá existente, onde esperámos pela chegada nosso pelotão», recorda o furriel Carvalho.
O furriel milicianos Graciano (à esquerda) e
 Luís Capitão (falecido de doença a 05/01/2010,
à direita), ladeando o alferes Mário Simões
O pelotão chegou a Carmona, em reforço da guarnição local, a 28 de Março de 1975. Era comandado pelo alferes Mário Simões e também incluía os furriéis milicianos Graciano Silva e Luís Capitão - este, infelizmente falecido a 5 de Janeiro de 2010, vítima de doença e em Caxarias, na Urqueira, Vila Nova de Ourém. 
Na Fazenda Maria Amélia, o furriel José Fernan-
do Carvalho, o 1º. cabo enfermeiro Floro Tei-
xeira e o soldado Ângelo Teixeira (das transmis-
sões) «hospedaram-se» na casa que se vê atrás do grupo (na foto de cima). Os restantes Cavaleiros do Norte (10), numa dependência ao lado. Havia por lá um lago, no interior da fazenda, onde o pessoal passava algum tempo.
Jornal «Liberdade e Terra» da FNLA


Rádios privadas a «falar» e
Emissora Oficial sem notícias


O recolher obrigatório em Luanda foi levantado a 29 de Março de 1975, depois de vários dias de muitos incidentes entre forças armadas do MPLA e da FNLA, com trágico balanço de mais de centena e meio de mortos e muitos mais feridos - entre militares dos movimentos e civis.
A 30 do mesmo mês e ano, hoje se fazem 42 anos, as emissoras privadas de Angola puderam voltar a apre-
sentar a sua programação normal, mas a Emissora Oficial foi excluída deste regime. «Apenas poderá difundir as notícias constantes dos comunicados oficiais», relatava a imprensa do dia - o último domingo desse Março de 1975.
A Emissora Oficial de Angola, ao tempo, era muito questionada pela FNLA - devido ao tipo de informação que prestava - e o jornal (diário) «Liberdade e Terra», órgão central deste movimento e nas suas duas últimas edições, insurgia-se contra a actividade desta estação radiofónica.

Cristiano e Coelho
em festa dos 65 anos

Os Cavaleiros do Norte Cristiano e Coelho, ambos da 3ª. CCAV. 8423, a da Fazenda Santa Isabel e depois do Quitexe, festejam 65 anos a 31 de Março de 2017.
Luís Martins Coelho foi 1º. cabo condutor e era (é) natural do lugar de Outeiro da Castanheira, na freguesia de Mouronho, concelho de Tábua - aonde voltou a 11 de Setembro de 1975, o final da comissão em Angola. 
Cristiano Manuel Jorge Fernandes foi soldado atirador de Cavalaria e, ao tempo como agora, mora(va) na Calçada da Graça, em Lisboa. Lá regressou, também a 11 de Setembro de 1975 e por lá tem feito vida.
Parabéns para ambos!

quarta-feira, 29 de março de 2017

3 715 - Cavaleiros da CCS vão encontrar-se no RC4! A 3 de Junho de 2017!!!

O condutor Vicente (organizador), o atirador Marcos e os furriéis milicia-
 nos (Ranger´s) Viegas e Neto, ontem na entrada do Regimento de Cava-
 laria 4, em Santa Margarida - a Unidade mobilizadora do BCAV. 8423


Os furriéis Neto, Viegas, Matos (da 2ª. CCAV.) e Monteiro
 em pose de 1974, em cima de um carro de combate do
RC4. Este e/ou outros ainda lá estão, 43 anos depois! A
3 de Junho de 2017, todos poderemos ir recordar estes
espaços, que foram nossos sítios em 1974
O encontro anual da CCS do BCAV. 8423 vai ser no RC4, em Santa Margarida. A 3 de Junho de 2017! É o regresso, mais de 43 anos depois, à unidade mobilizadora dos Cavaleiros do Norte.
O organizador (o condutor Vicente Al-
ves) avançou com a ideia e a segura disponibilidade e generosa e acolhedora atenção do actual Comando do (nosso) RC4 vão permitir que todos possamos voltar à origem da jornada africana que, em 1974, nos levou ao Uíge angolano.
Cavaleiros do Norte do PELREC: Francisco
Madaleno e João Marcos, que ontem foi reen-
contrado no RC4, em Santa Margarida. Quase
 42 anos depois do regresso da CCS de Angola
Ontem, o Vicente, que é de Vila de Rei (muito perto de Santa Margarida), «mobilizou» três outros Cavaleiros do Norte: o atirador de Cava-
laria Marcos (ainda de mais perto, do Pego, em Abrantes) e os ex-furriéis Neto e Viegas (que viajaram de Águeda). «Mobilizou» e lá estive-
mos, reunindo primeiramente com o sargento-chefe Américo Pratas, adjunto do comandante da Brigada Mecanizada, depois com os majores Pedro Carvalho (2º. comandante do RC4) e João Tavares. Todos eles, gente do alto!
Oportunamente, os «CCS´s» receberão toda a informação necessária, detalhando a forma de inscrição e o programa. Mas vão-se preparando, todos!!!..., mas mesmo todos!!!, para reconhecer sítios onde, no já distante ano de 1974 - antes e depois do 25 de Abril... -, nos preparámos para a missão que nos levou a Angola. Acreditamos que seja emocionante «regressar» aos tempos da flor maior da nossa juventude, quando, crescidos sob o estigma da guerra, para ela lá nos preparámos sem receios e para ela fomos com coragem que tranquilizou o então nosso futuro próximo. 
A Igreja do Campo Militar de Santa Margarida fica
 mesmo ao lado do RC4, ao fundo da avenida D. Nuno
Álvares Pereira. Igual ao nosso tempo de há 43 anos!
Olhando para a imagem, todos a reconhecemos!
Podemos adiantar que, relativamente a esse tempo, muito pouca coisa mudou - desde a longa avenida, passando pelos quartéis e até à Igreja do Campo Militar.

Recolher obrigatório e
libertação de prisioneiros

A 29 de Março de 1975, os Cavaleiros do Norte jornadeavam por Carmona (actual Uíge), levando por diante e sem medos os patrulhamentos mistos.
Vista aérea do RC4 (em primeiro plano)
Os homens da FNLA e do MPLA, lá pelo Uíge, continuavam a sua inamistosa relação, agravada pelas dramáticas notícias que, nos dias de vésperas, chegavam de Luanda: mais de uma centena de mortos (entre combatentes dos movimentos e civis), centenas de feridos, até fuzilamentos..., recolher obrigatório, tiroteio incontrolado de armas ligeiras e pesadas.
A 29, porém, a situação parecia desanuviar, mas... nunca fiando. «Manteve-se esta manhã o recolher obrigatório e a suspensão dos noticiários sobre os acontecimentos de Luanda, apesar de a situação aparentemente estar a regressar à normalidade», relatava o Diário de Lisboa, acrescentando que «com o protocolo ontem assinado, a situação vai-se atenuando na cidade».
Protocolo entre as autoridades nacionais - lá representadas pelos ministros Almeida Santos e Melo Antunes e o Alto Comissário Silva Cardoso - e os movimentos envolvidos nos confrontos e que «implicou» a libertação dos prisioneiros feitos pelo MPLA (entregues às Forças Armadas Portuguesas) e os populares detidos pela FNLA (neste caso, não se sabendo se todos).
Isto, num tempo em que Jonas Savimbi, falando em Dar-es-Salam, fez questão de reafirmar aos jornalistas «a neutralidade da UNITA, refutando, assim, uma notícia da BBC segundo a qual, em caso de confrontação mais vasta, se pôr ao lado da FNLA, contra o MPLA».
Jonas Savimbi, aliás, anunciou «para breve» um encontro dos três presidentes dos movimentos de libertação de Angola, para «tratar de problemas políticos, nomeadamente das eleições».

terça-feira, 28 de março de 2017

3 714 - Comandantes em Vista Alegre e cessar fogo em Luanda

Os alferes milicianos Jaime Ribeiro e António Garcia  e os tenentes
 Acácio Carreira da Luz (que hoje faz 88 anos, na Marinha Grande) e
 João Elóy Borges da Cunha Mora (falecido, de doença e em Lisboa, a
 21  de Abril de 1993, com 67 anos e em Lisboa)

Cavaleiros do Norte de Santa Isabel: furriel Graciano
Silva e alferes Mário Simões (atrás) e furriéis Luís Capi-
tão (falecido a 05/01/2010, em Vila Nova de Ourém e de
doença) e José Fernando Carvalho. Há precisamente
42 anos e com o seu pelotão (o 3º. da 3ª. CCAV. 8423),
 reforçaram a guarnição de Carmona 


O dia 28 de Março de 1975, pelo Uíge angolano, foi tempo de o comandante Carlos Almeida e Brito visitar a 1ª. CCAV. 8423, a da Fazenda Zalala, mas ao tempo aquartelada em Vista Alegre.
Interino da Zona Militar Norte (ZMN), o comandante do BCAV. 8423 (CAB) fazia-se acompanhar pelo também interino, mas dos Cavaleiros do Norte - o capitão José Diogo Themudo, que desde o dia 24 de Março era 2º. comandante do  BCAV. 8423.
O alferes Carlos Silva, ladeado pelo condutor Manuel
 Mendes (á esquerda) e o atirador Ernesto Simões.  Ca-
valeiros do Norte da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel
A 1ª. CCAV. 8423 também tinha um destacamento em Ponte do Dange e era comandada pelo capitão miliciano Davide de Oliveira Castro Dias - a quem, e à guarnição, foi apresentado o capitão José Diogo da Mota e Silva Themudo.

Reforço dos Cavaleiros
e Licença de Normas

A «impossibilidade de garantir os servi-
ços solicitados ao BCAV., que comportam também os da ZMN, também em extinção» implicou o seu reforço, a 28 de Março de 1975, com «mais um grupo de combate, este da 3ª. CCAV. 8423, por ser a subunidade que, de momento, tem a sua vida menos sobrecarregada».
Grupo de combate (o 3º. pelotão) que tinha estado na Fazenda Maria Amélia e era comandado (ver foto) pelo alferes Mário Simões e incluía os furriéis mili-
cianos Graciano Silva, José Fernando Carvalho e Luís Capitão - este infeliz-
mente já falecido, de doença, a 5 de Janeiro de 2010, em Vila Nova de Ourém.
Um ano antes, terminava a Licença de Normas dos futuros Cavaleiros do Norte, iniciada a 18 de Março de 1974, a qual, todavia, e segundo o Livro da Unidade, «acabou por ser aumentada, de tal modo que só a 22 de Abril se voltou a reencontra todo o pessoal do Batalhão, para dar efectivação à Instrução Operacional».
Nesse período, os quadros milicianos (alferes e furriéis) iam prestar serviços de ordem ao aquartelamento de Santa Margarida - em escala previamente estabelecida. Os praças foram dispensados dessa obrigação.
O Diário de Lisboa e a notícia do
 acordo para cessar os combates 

Acordo em Luanda
para o cessar fogo

A reunião dos ministros Almeida Santos e Melo Antu-
nes com o Colégio Presidencial do Governo Provisório de Angola resultou na assinatura de um protocolo entre os três movimentos de libertação, pelo qual MPLA, FNLA e UNITA «se obrigam a cessar as hosti-
lidades e a libertar até ao meio dia de hoje todas as pessoas que prenderam durante os últimos dias».
A UNITA tinha sido neutral nos trágicos acontecimen-
tos desses dias, mas assinou o acordo, que se nego-
ciava desde a véspera e se concluiu na madrugada de 28 de Março de 1975.
A FNLA era acusada de dispor de soldados zairenses. «Os soldados todos falavam francês e muitos deles nem conhecem qualquer dialecto angolanos. Certos meios progressistas de Luanda dizem que não sabem até que certo ponto muitos deles não terão pertencido a exércitos convencionais», referia José António Salvador, no Diário de Lisboa, acrescentando que «os soldados da FNLA continuaram as suas acções de intimidação, durante o dia de ontem», aparentemente, frisava, «com apoio de alguns pides».
Um grupo de 12 médicos do Exército Português, entretanto, apresentou um abaixo-assinado à Comissão do MFA Angola «protestando energicamente con-
tra a actuação da FNLA», que chegou a qualificar como «bestialidade nazi».
«O que parece definir a FNLA é o seu nacionalismo exacerbado, intolerante, que usa o terror como arma», referia o comunicado dos médicos militares portugueses. A FNLA, de Holden Roberto, a antiga UPA.
O capitão Acácio Carreira da Luz e esposa,
numa imagem de 2013, em Paredes (Porto).
Hoje, festeja 88 felizes e saudáveis anos, na
 Marinha Grande. Parabéns!

Tenente Acácio Luz
festeja 88 anos!

O tenente Luz foi chefe de secretaria do Comando do BCAV. 8423 e neste dia de 1975, em Carmona, festejou os seus já então maduros e experientes 46 anos!
Maduros e experientes 46 anos?! Pois, sem dú-
vida, por esses saudoso tempos de há 42 e lá pelas uíjanas terras do norte de Angola, por on-
de jornadeános em missão de que todos nos orgulhamos! Então e o que dizer de hoje, aos 28 dias de Março de 2017, ir soprar as tantas velas dos, dos..., dos seus sereníssimos e sábios 88?!!
88 anos!!! Oi-ten-taaaaaa e oiiiii-toooooo!.....
Acácio Carreira da Luz continuou a carreira militar depois do regresso de Angola e atingiu a patente de capitão. É participante seguro e activo dos convívios da CCS e neste dia da sua festa maior, na sua terra da Marinha Grande, festejá-los-á em feliz ambiente familiar. É para lá que vai o abraço gigante de todos os Cavaleiros do Norte da CCS! E o desejo certo de muitos mais e bons anos de vida, de saúde e de paraíso!

segunda-feira, 27 de março de 2017

3 713 - Comandantes no Quitexe e mortes e fuzilamentos em Luanda

Cavaleiros do Norte da 3ª. CCAV. 8423, todos furriéis milicianos e à frente
 do bar A Cubata, em Santa Isabel: António Fernandes, Vitor Mateus Ribeiro

Guedes (falecido a 16 de Abril de 1998, em Lisboa e de doença), Ângelo
 Rabiço, José Querido e Agostinho Belo 
Grupo de angolanos das Forças Militares Mistas,
aqui na parada do BC12, em Carmona e há 42 anos 


A 27 de Março de 1975, o comandante Carlos Almeida e Brito (então interino da ZMN, desde 24 de Março e até 3 de Abril) visitou a 3ª. CCAV. 8423, a da Fazenda Santa Isabel mas que, ao tempo, estava aquartelada no Quitexe. 
A razão era apresentar o 2º. comandante (e comandante interino) do BCAV. 8423 - o capitão José Diogo Themudo.
A Rua do Comércio e o Hotel Residencial Apolo, em
1974/75 e na cidade de Carmona, actual Uíge
Carmona ia no segundo dia de patrulhamentos mistos na cidade e principais acessos, sem incidentes especiais, mas com permanente e exigente atenção da parte das forças portuguesas - devido à latente (e evidente) desconfiança entre os elementos da FNLA e do MPLA.
Na verdade, eram evidentes as diferenças e animosidades (até) pessoais entre os homens dos dois movimentos emancipalistas - que, de resto, nem se esforçavam por as «esconder». E que se notavam, por exemplo, nas posições que ocupavam mos Unimog´s que transportavam as Forças Mistas - fossem mais à frente, ou mais atrás. 
Insultos, piadas e acusações eram vulgares entre eles, o que várias vezes obrigou a posições disciplinares dos comandantes (portugueses) das Forças Mistas. Com os riscos daí inerentes, por todos eles, obviamente, estarem armados e poderem reagir com maior ou menor perigo. Uma vez, depois da meia noite e na Rua do Comércio e frente ao Hotel Apolo, dois deles (um de cada movimento) tiveram de ser desarmados, para se evitarem males piores. Cada um deles reagia a provocações entre eleas e outras, vindas dos prédios vizinhos, de anónimos supostamente civis. 
A primeira página do Diário de Lisboa
de 27 de Março de 1975, há 42 anos:
«Angola | Ameaça de guerra civil»

Soldados da FNLA
fuzilaram 50 MPLA´s

O dia, uma 5ª.-feira e em Luanda, ficou dramaticamente marcado pela latente ameaça de guerra civil. «Ontem, Luanda vivei momentos dramáticos. Soldados da FNLA fuzilaram 50 guerrilheiros do MPLA, numa estrada próxima da capital angolana, quando estes regressavam à cidade, desarmados, vindos de um centro de instrução militar. Pioneiros do MPLA também foram massacrados e dois deles enforcados», relatava  do Diário de Lisboa.
«Os homens foram capturados num ataque de surpresa e mandados subir para um camião que os levou  ate um sítio isolado, perto de uma vala. Ali, à medida que iam descendo, eram abatidos com rajadas de metralhadora. A certa altura, os presos, vendo a sorte que os esperava, lançaram-se para debaixo da viatura, numa tentativa desesperada de fuga», relata(va) o DL, acrescentando que «alguns conseguiram escapar, fingindo-se mortos».
Inscrições da FNLA em
Luanda, de apoio à FNLA e
 e ao presidente Holden Ro-
berto, o «papá dos chefes
revolucionários»

Mais 21 mortos
e 81 feridos

O relato foi de alguns dos sobreviventes, precisando que menos sorte tiveram os que estava feridos, mas que não podiam disfarçar o seu estado. «A esses, era-lhe aplicado o tiro de misericórdia», noticiou o DL.
O vespertino de Lisboa, em serviço especial a partir de Luanda, sublinhava que «a casa mortuária de Luanda está pejada de cadáveres, vitimas das acções desencadeadas pela FNLA sobre a população civil» e que «começa(va) a desenhar-se a possibilidade de uma manifestação dos fa-
miliares». Entre as 22,30 horas de 25 de Março e as 17,15 de 26, entraram no Hospital de S. Paulo, segundo o seu di-
rector (Mac Mahan Vitória Pereira), «81 feridos com armas de fogo, alguns em estado muito grave, e 21 cadáveres de indivíduos desconhecidos mas igualmente vítimas do intenso tiroteio de armas ligeiras e pesadas, que afectam algumas zonas suburbanas da cidade».
Alguns simpatizantes do MPLA, ali internados, denunciaram o massacre numa fortaleza perto de Luanda, para onde a FNLA os levou e onde «alguns companheiros teria sido sumariamente executados a tiro ou arma branca». A médica do serviço de urgência disse «haver feridos a tiro e à punhalada».
Os ministros Melo Antunes e Almeida Santos reuniram nessa manhã de há 42 anos com o Alto Comissario e Colégio Presidencial (formado por Lopo do Nascimento (do MPLA), José N´Dele (UNITA) e Jony Eduardo (FNLA), mas do encontro não houve comunicado oficial.

domingo, 26 de março de 2017

3 712 - Patrulhamentos mistos na Carmona capital do Uíge!

Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa: furriéis milicianos António Artur Guedes, José Gomes, António
Carlos Letras e Jesuíno Pinto. Em baixo, os soldados Leonel Sebastião (mecânico) e Manuel Joaquim
Oliveira (cozinheiro), de cigarro na boca e todos em momento de boa disposição, no S. Martinho de 1974


Cavaleiros do Norte da CCS e 3ª. CCAV., todos furriéis
 milicianos: Fernandes, Cardoso, Querido, um combatente
  da FNLA e Rocha. Em baixo, Carvalho, Monteiro e Belo
O 1º. cabo Carlos Ferreira, da 1ª. CCAV. 8423, junto de
uma avioneta, na pista da Fazenda de Zalala e em 1974
A noite de 26 para 27 de Março de 1975 foi a de «estreia» dos patrulhamentos mistos na cidade de Carmona, envol-vendo forças portuguesas, da FNLA (o ELNA), do MPLA (as FAPLA) e da UNITA (o ELNA). «Deste modo, ensaiando-se os primeiros passos de actividade operacional em Exército integrado com os movimentos emancipalistas, a seu pedido e porque se verificou um deteriorar da situação, nomeadamente nos distritos de Salazar e Luanda, iniciaram-se patrulhamentos mistos do Exército Português, ELNA, FAPLA e FALA», relata o Livro da Unidade - o BCAV. 8423. Aqui já se contou que «esta actividade militar já havia sido experimentada em 15 de Março, aquando das comemorações do feriado da FNLA e exclusivamente em serviço de segurança dos locais aonde iriam celebrar-se as comemorações»Experiência uíjana que, de resto e continuando a citar o Livro da Unidade, se «mostrou proveitosa, que teve a maior receptividade por parte das forças militares dos movimentos e que, por parte dos nossos soldados foi bem compreendida e aceite, com certa expectativa inicial mas sem problemas de execução»Repetível, por isso. E assim foi durante várias semanas, por Março fora e Abril de 1975 adentro, até à sangrenta e dramática primeira semana de Junho - a dos incidentes de Carmona. A experiência dos Cavaleiros do Norte, aliás, viria a ser «imitada» noutras cidades do território angolano. 
«Tem-se verificado boa aceitação das medidas militares tomadas, o que tem sido a origem do clima de paz que se vive no distrito», sublinha o Livro de Unidade. Por distrito (ou província como também às vezes era denominado), entenda-se o Uíge, de que Carmona era a capital. 

Granadas no jardim do Palácio do Governador 

As «coisas» iam assim por Carmona e Uíge, mas não tão pacíficas por Luanda, onde os acordos entre o movimentos valiam o que valiam. na mesma noite em que a capita do Uíge «inaugurava» patrulhamentos mistos, «a situação voltou a piorar» na capital do Estado (futuro país).
«Duas granadas explodiram nos jardins do Palácio do Governador, não se tendo registado vítimas», reportava a imprensa, acrescentando que «soldados da FNLA ocuparam posições no como de alguns prédios» e que «ouviram-se também tiros de armas pesadas durante a noite, embora se de desconheçam os autores dos disparos».
A população dos bairros urbanos «continua(va) preocupada» pois, destacava a imprensa, «há elementos da FNLA que procedem a autenticas rusgas contra da vontade dos populares», apesar das directiva dos seus comandos, no sentido de não abandonarem os seus aquartelamentos». 
O ministro Lopo do Nascimento «apresentou já um plano para normalizar totalmente a situação», na altura a ser apreciado pelo Alto Comissário (o general Silva Cardoso) e o Conselho de Defesa Nacional.
Ao mesmo tempo (e dia, o 26), o ELNA (da FNLA) convidava a população «a participar no funeral dos soldados que morreram durante os recontros que recentemente ocorreram nesta capital» - a cidade de Luanda - e o comandante Vassoura Timóteo ordenou «a todos os soldados que se mantenham nos respectivos aquartelamentos», frisando que «o mínimo gesto que se verificar contra os militantes e simpatizantes da FNLA, ou contra o ELNA, será considerado desafio aos inimigos do povo».
«A guerra é uma profissão. A morte é um destino. Liberdade e Terra», proclamou o comandante Vassoura Timóteo.
Os furriéis milicianos Viegas e Cruz na avenida
 do Quitexe e no ano de 1974. Atrás, a messe de
 oficiais (à es
querda) e a casa dos furriéis

Vésperas de férias 
na imensa Angola

O tempo destes dias de Março há 42 anos foi tempo de véspera de férias para vários Cavaleiros do Norte. Particularmente dos furriéis milicianos Cruz e Viegas, que tinham «aprontado» um circuito por várias cidades, de norte a sul de Angola.
Viegas e Cruz em 2014, 39 anos depois,
em Lisboa e nos jardins da Estufa Fria
Iam, não iam? A situação militar permitiria que fossem? Permitiu, mas o descanso emocional só ficou garantido depois de uma conversa formal com o comandante da CCS (o capitão António Oliveira) e, depois desta, com o capitão José Paulo Falcão (o oficial de operações). «Tudo indica que sim, que podem ir...», disse-nos este oficial do BCAV. 8423. «Depois logo se vê...», acrescentou com um «aviso», porém: «Vocês tem de estar sempre localizados. Tratem disso...».
Felizmente, pudemos gozar as férias sem nenhuma «chamada» e começámos-las pela Luanda, que fervilhava e se dramatizava em combates fratricidas e onde, como acima se historia, até granadas eram atiradas para os jardins do Palácio do Governador.

sábado, 25 de março de 2017

3 711 - Uíge muito trabalhoso mas calmo, 20 mortos em Luanda

Cavaleiros do Norte de Zalala exibindo uma peça de caça: os 1º. cabos Carlos Ferreira (à esquerda) e
 Temporão Campos (cozinheiro, à direita). De camuflado e à esquerda, reconhece-se o furriel Américo
 Rodrigues. O 1º. cabo operador-cripto Ângelo Lourenço será quem espreita do lado esquerdo.
E quem são os outros? Diz Carlos Ferreira que serão todos cozinheiros

O quartel do BC 12, à saída de Carmona para o Songo e
visto do lado da cidade. A CCS e a 2ª. CCAV. 8423 esta-
 vam aqui instaladas há 42 anos
A 25 de Março de 1975, uma terça-feira, as autoridades militares portuguesas em Angola faziam o balanço dos incidentes entre o MPLA e a FNLA, de dois dias antes: 18 mortos entre os militantes deste movimento, o de Holden Roberto, «enquanto nenhum há a registar entre as forças do MPLA», reportava o Diário de Lisboa, porém, sublinhando que «no momento, é difícil determinar o número de vítimas». Sem esquecer os 2 civis.
Notícia do Diário de Lisboa de 25 de Março de 1975 sobre
 a situação em Angola: «Mmais de 20 mortos nos combates
 entre as forças o MPLA e da FNLA», em Luanda. «A calma

 regressa a Luanda», antetitulava o jornal vespertino
Os incidentes entre as FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, o braço armado do MPLA) e o ELNA (Exército de Libertação Nacional de Angola), idem, da FNLA) tinham reco-
meçado na madrugada do dia 23, o do-
mingo - depois de escaramuças a 21 (a 6ª.-feira anterior), «nalgumas zonas dos subúrbios e afectaram seriamente a vida da população» da cidade de Luanda.
Havia mesmo, segundo o Diário de Lisboa, «certas áreas interditas à normal circulação de pessoas e viaturas», como era o caso do Bairro Cazenga, «onde durante toda a tarde e noite de ontem se ouviram constantes disparos de armas automáticas e rebentamento de granadas». Ontem, que - recuemos no tempo... - foi o dia 24 de Março de 1975, uma segunda-feira.
O Alto-Comissário Silva Cardoso, à di-
reita, com o almirante Rosa Coutinho

Morte de 2 crianças
no bairro Cazenga

O bairro suburbano do Calemba também não escapou aos combates e, segundo o Diário de Lisboa, «foi palco de novos incidentes», os que, à data, «há 48 horas vem envolvendo forças das FAPLA (do MPLA) e do ELNA (da FNLA».
A chamada «cidade do asfalto», essa parecia longe de tais guerras. «A calma não tem sido perturbada. A vida de decorre serenamente, embora se note apreensão no rosto das pessoas», reportava ao Diário de Lisboa, acrescentando, porém, que, no Cazenga, «algumas pessoas foram atingidas pelas balas e duas crianças morreram devido ao tiroteio».
As Forças Armadas Portuguesas intervieram ao final da tarde do dia 23, após reunião do Conselho Nacional de Defesa (CND), e foi reposta a calma. Patrulhas mistas - formadas por militares portugueses e dos movimentos de libertação - colaboraram na «manutenção da ordem»
O CND, presidido pelo Alto-Comissário Silva Cardoso, general português, e os Estados Maiores do MPLA e da FNLA «ordenaram o regresso aos quartéis das tropas dos dois movimentos de libertação» - os dos presidentes, respectivamente, Agostinho Neto e o de Holden Roberto.
Emblema do BC 12

Calma em Carmona
e pelo Uíge fora

Os Cavaleiros do Norte, pelo Uíge angolano, continuavam a sua jornada em ambiente de relativa calma, embora carrega-
dos de serviços, nomeadamente os  militares operacionais  - que, pela natureza da sua especialização, estavam encarrega-
dos da segurança de pessoas e bens, fossem civis ou fossem militares, - para além da das várias instalações da Forças Armadas na cidade de Carmona.
Era muito curto o número de efectivos disponíveis, apenas os operacionais da CCS e da 2ª. CCAV. 8423 (a de Aldeia Viçosa), para tanta exigência de segurança, só na cidade. A guarnição instalada no quartel do extinto BC12 desmultiplicava-se, por isso, em tarefas para «garantir os serviços solicitados ao BCAV., os quais comporta(va)m também as necessidades da Zona Militar Norte» - a ZMN, ao tempo já em fase «também em extinção».
Foram tempos duros e muito, muito difíceis e delicados para os Cavaleiros do Norte, semanas e meses seguidos praticamente sem folgas (ai folgas!...) e enfrentando, no dia a dia, uma cada vez mais crescente e evidente animosi-
dade da comunidade civil branca - muito hostil, na verdade, à tropa portuguesa.
Fazenda Santa Isabel

Condutor Gonçalves,
65 anos no Barreiro

O condutor auto-rodas Gonçalves festejou 23 anos a 25 de Março de 1975, estava ao tempo na vila do Quitexe, na sua (e nossa) jornada angolana do Uíge.
Francisco Gertrudes Gonçalves, de seu nome completo, era da 3ª. CCAV. 8423, a da Fazenda Santa Isabel mas ao tempo já no Quitexe. Mora em Verderena, na cidade do Barreiro, e é lá que hoje festeja 65 anos de vida. Para lá vão as nossas felicitações, com desejo de muitos mais e bons anos.

sexta-feira, 24 de março de 2017

3 710 - O 2º. comandante José Diogo Themudo nos Cavaleiros do Norte

O agora coronel José Diogo Themudo, que, então como capitão de Cavalaria,
assumiu o comando interino do BCAV. 8423 a 24 de Março de 1975. Os
Cavaleiros do Norte estavam aquartelados no BC12, em Carmona
O capitão de Cavalaria José Diogo Themudo, à di-
 reita e na varanda do BC12, com o alferes João Ma-
chado (à esquerda) e o capitão José Paulo Falcão


O BCAV. 8423 esteve sem 2º. comandante até ao mês de Março de 1975, quando, em dia indeterminado, lá chegou o capitão José Diogo Themudo, conhecido do comandante Carlos Almeida e Brito - quem, ocasional-
mente o encontrando em Luanda, o convidou para assumir as funções.
O 2º. comandante seria o major José Luís Jordão Ornelas Monteiro, que, nas vésperas do embarque para Angola, foi «desviado» pelo MFA e colocado na Guiné «por motivos imperiosos de serviço». Faleceu a 16 de Ju-
lho de 2011, em Lisboa, tenente-coronel, aos 80 anos - nascido a 7 de Outubro de 1931.
O tenente-coronel Carlos Al-
meida e Brito, comandante
do BCAV. 8423 
O capitão José Diogo da Mota e Silva Themudo, 
a 24 de Março de 1975, assumiu as funções de comandante interino do BCAV. 8423, substituindo o tenente-coronel Carlos Almeida e Brito que, nessa data e também interinamente, assumiu funções de comandante da Zona Militar Norte (ZMN).
José Diogo Themudo estava em Luanda, sem coloca-
ção, depois de a unidade de Silva Porto (para a qual ia destinado, a substituir outro capitão) já ter regres-
sado. Pediu, mas foi-lhe negado o regresso a Lisboa. Era o último oficial a ter chegado a Angola.
«Instalei-me na messe oficiais e de quando em vez ia procurar novidades ao Quartel-General», explicou-nos, adiantando que, asssim, «fiz praia durante um mês».
Um dia foi ao aeroporto para se despedir de um camarada de armas e foi lá que o tenente-coronel Almeida e Brito o achou. «Convidou-me para 2º. comandante do Batalhão e apesar de serem funções de major e eu ser apenas capitão, aceitei o convite. Resolvemos o problema no Quartel-General e fui para Carmona», historiou o agora coronel aposentado José Diogo Themudo.
Notícia do Diário de Lisboa sobre o recrutamento, pela
FNLA, de refugiados para as suas Forças Armadas

Incidentes em Luanda e
recrutamento da FNLA

Os tiroteios na área suburbana de Luanda continuaram a 23 de Março de 1975, envolvendo forças do MPLA e da FNLA - mesmo depois do acordo de sábado à noite (dia 21) e ante a propo-
sitada não intervenção das Forças Armadas Portuguesas. Por decisão do Comando de Sector de Luanda.
Ao mesmo tempo, o movimento de Holden Roberto preparava o repatriamento de refugiados no Zaire, numa operação de três etapas, segundo noticiava a revista «Afrique-Asie»: uma primeira, que começara já em Setembro de 1974, agrupando-os em quatro agrupamentos, todos no Zaire (Nandulu, Kassai, Baixo Zaire e Shabi); uma segunda, então em execução, instalando-os em 20 campos de alojamento ao longo da fronteira com Angola; e uma terceira, envolvendo o transporte e instalação dos refugiados em Angola e em diferentes campos permanentes.
A operação envolveria 400 000 refugiados (segundo a ONU), ou dois milhões (segundo a FNLA). E custaria 20 milhões de dólares. O Zaire não financiaria a operação (por falta de tesouraria e depois de o FMI lhe ter recusado um empréstimo) e a revista «Afrique-Asie» noticiava que o ministro da Saúde do Governo Provisório (Samuel Abrigada, da FNLA) pediu, mas não teve, dinheiro de Igrejas Reformistas americanas. Recusaram dar esse apoio.
Assim sendo, e ainda segundo a mesma revista, «certas empresas mineiras e fazendeiros do Norte de Angola estaria dispostos a financiar a operação». A FNLA, com esta medida, dizia a «Afrique-Asie», «mataria dois coelhos de uma só cajadada: poderia recrutar no Zaire um exército para ocupar o Norte de Angola e para apoiar os seus projectos de domínio no Governo de Luanda».
Porfírio Malheiro
no BC12 e em 1975


Malheiro do Quitexe, 65
anos em Santo Tirso

O dia 24 de Março de 2017 é de aniversário do «benjamim» da CCS, já em Carmona: o Porfírio Tomaz Malheiro de Jesus1º. cabo de reparação e manutenção de material que, nesse já bem distante dia de 1975 e em Carmona, festejou os 20 anos! Nascido em 1955!
P. Malheiro em 2015
O Malheiro, zelosamente, cumpriu a sua jornada angolana na oficina-auto comandada pelo alferes miliciano António Albano Cruz. Por coincidência, são ambos naturais do concelho de Santo Tirso - ele, o Malheiro, do lugar de Foral.
Lá regressou a 8 de Setembro de 1975 e por lá fez (e faz) vida, como motorista internacional. Hoje, festeja 62 anos e para ele «viaja» o nosso abraço de parabéns!

quinta-feira, 23 de março de 2017

3 709 - Polícia Militar (PM) em Carmona e 11 mortos em Luanda

Quatro furriéis Cavaleiros do Norte, ainda 1º.s  cabos milicianos e
 em Santa Margarida: António Carlos Letras, José Louro. Victor
 Costa (atrás e de pé) e João António Brejo (sentado)

O alferes miliciano João Machado na entrada de Duque
de Bragança, numa excursão da 2ª. CCAV. 8423 às fa-
mosas quedas de água  desta vila angolana

A mudança dos Cavaleiros do Norte da Companhia de Comando e Serviços (a CCS, do Quitexe) e da 2ª. CCAV. 8423 (a de Aldeia Viçosa) do BCAV. 8423 para Carmona, iniciada a 2 de Março de 1975, «levou à necessidade de promul-
gação de novas NEP, ou alteração das mesmas», como revela o Livro da Unidade, acrescentando que «a situação de Carmona levou à necessidade de execução de um serviço de PM nas ruas da cidade».
O 1º. cabo Augusto Mota, da 3ª. CCAV.
8423, de quem agora tivemos notícias. É
 empresário de panificação em Lousada
O objectivo era, ainda segundo o Livro de Unidade, «garantir a melhor apresentação do pessoal militar, sobretudo com vista a procurar, através deste meio, prever a resolução das muitas quezílias existentes entre a população civil e as NT, devido à animosidade que aquela tem a estas».
Animosidade bem visível e bem sentida pela guarnição, que vulgarmente era ofendida na sua honra nas ruas, bares e restaurantes ou cinemas da cidade - havendo, da parte dos comandos militares, o aconselhamento rigoroso para que não reagíssemos a quaisquer provocações. E foram muitas, exageradamente muitas e muito pouco simpáticas!
A comunidade civil, insatisfeita com a evolução política do processo de independência de Angola, atirava culpas para cima da tropa, que acusava de não defender os seus interesses - fosse eles quais fossem. Era lamentavelmente muito vulgar que nos apontassem os dedos e, por exemplo, nos chamasse, cobardes e traidores. E isso nunca fomos! Como os trágicos primeiros dias de Junho desse ano de 1975 viriam a mostrar! Se tal fosse preciso! Se antes e depois a acção primária da guarnição não fosse operacionalizar a segurança da cidade, de pessoas e de bens! E de todos os equipamentos básicos: hospital, água electricidade, bens alimentares, comunicações e transportes! Tudo!
Notícia do Diário de Lisboa de 23 de Março de 1975,
sobre os incidentes de Luanda, entre MPLA e FNLA

Tiroteio em Luanda
e tropa sem intervir

A madrugada de 23 de Março de 1975, um domingo, foi tempo de «tiroteio em Luanda, entre as forças do MPLA e da FNLA». Os recontros já se tinham iniciado no dia 21 (a sexta-feira anterior) «em bairros suburbanos, provocando já 11 mortos, entre os quais se encontra(va)m dois civis».
Os dois movimentos tinham chegado a acordo, ao fim da tarde de véspera (sábado, dia 22), «no sentido de fazer recolher as suas tropas aos respectivos aquartelamentos», mas, reportava o Diário de Lisboa desse dia 23 de há 42 anos, «recomeçaram esta manhã, particularmente nos Bairros Cazenga, Marçal, Sambizanga e Vila Alice». Além disso, «houve intenso tiroteio em toda a zona suburbana, a partir da avenida do Brasil».
A tropa portuguesa não interveio, explicando o tenente-coronel Heitor Almendra, comandante do Sector de Luanda, que «os incidentes são uma questão entre os movimentos, recusando-se a intervir», o que, na opinião do DL, «poderá fazer perigar o cumprimento do Acordo do Alvor, em que Portugal também é parte interessada».
O Conselho de Defesa, presidido pelo Alto Comissário Silva Cardoso, general português, reuniu na tarde desse domingo, para se «ocupar da crise».
Victor Francisco, do
PELREC, em 1974

Francisco, 65 anos 
na Marinha Grande

O atirador de Cavalaria Francisco comemora 65 anos a 23 de Março de 2017. Precisamente hoje!
Cavaleiro do Norte do PELREC do BCAV. 8423, da CCS e do Quitexe, Victor José Ferreira Francisco - de seu nome completo - foi combatente sem medos e sempre disponível.
Francisco em 2013
Militar disciplinado e rigoroso no cumprimento dos seus deveres, nunca disse não a qualquer missão, fosse qual fosse. E onde fosse: na mata, na cidade, no quartel. Sempre na frente.
Regressou a Portugal no dia 8 de Setembro de 1975 e fixou-se na sua terra natal da Marinha Grande, onde fez vida profissional como operário vidreiro, agora já aposentado. É para lá que vai o nosso abraço de parabéns! E com o desejo de que aos 65 se somem muitos e bons anos de vida!