segunda-feira, 30 de setembro de 2013

1 809 - Ataques a madeireiros e a fazendas de café...

Notícia sobre o ataque a uma fazenda do Songo. Furriéis Viegas 
e Miguel na estrada do café, de Carmona a Luanda, mas no Quitexe


O dia 30 de Setembro de 1974 foi marcado, na zona de acção dos Cavaleiras do Norte, por um ataque a madeireiros, na zona do Liberato, e pelo flagelamento de uma viatura da JAEA, na Quinta das Arcas. Ao tempo, como se lê no Livro da Unidade (LU), «era quase constante a presença de grupos da FNLA nos povos, sob controlo das autoridades civil e militar» na zona de Vista Alegre - e também na região de Aldeia Viçosa e Quitexe.
A ofensiva de 30 de Setembro, tendo sido perpetrada  na área do nosso Subsector, alarmou as hostes. A confiança que medrava, ente as NT e os homens dos movimentos, como que gelou. Até porque, cito o LU, «em áreas vizinhas  tem havido um incremento de actividades que facilmente - e em alguns casos - se provou ter irradiado do IN radicado no Subsector». Por alguma razão se registou o movimento de dois grupos de combate da 3ª. CCAV. 8423, a 27 de Setembro, para a Fazenda de Além Lucunga.
A foto de hoje mostra-me com o Miguel, depois de termos ido ver o cadáver de um madeiro, provavelmente o que foi vítima do ataque da zona do Liberato. Que estava numa pequena capela da vila, a servir da casa mortuária. Não consigo, suficientemente, refrescar a memória.
Outra nota de 30 de Setembro de 1974: 9 das 10 plantações de café da zona do Songo, a uns 70/75 quilómetros do Quitexe,  foram abandonadas pelos proprietários, que assim reagiram, e cito do Diário de Lisboa (que citava o Província de Angola), «às tentativas da FNLA para consolidar o seu controlo sobre a região». A FNLA, ainda segundo o jornal desse dia 30 de Setembro de 1974, «incendiou uma plantação e está a aconselhar os trabalhadores rurais africanos a deixarem a região, até Angola se tornar independente».
O MPLA, por seu lado, tinha militantes «a actuar abertamente na rica Cintura do Café». O mesmo era dizer que na área de intervenção dos Cavaleiros do Norte. E outras NT´s.  
- JAEA. Junta Autónoma de Estradas de Angola.
- NT. Nossas Tropas.
- IN. Inimigo.

domingo, 29 de setembro de 2013

1 808 - O Joaquim Henriques da Zalala em Odivelas


A 21 de Setembro de 1974, faleceu Joaquim Manuel Duarte Henriques, soldado atirador de cavalaria da mítica Zalala, vítima de doença. O seu corpo está sepultado no cemitério de Odivelas, de onde é natural.
A morte foi a segunda do BCAV. 8423, depois da de Bernardo Oliveira, da 3ª. CCAV., a de Santa Isabel, em Julho anterior, vítima de acidente de viação. Era do Grupo de Mesclagem do RI 20, atribuído à companhia comandada pelo capitão miliciano José Paulo Fernandes.
Joaquim Henriques, de que não tenho memória fotográfica, era solteiro e filho de João Pedro Henriques e de Delfina da Conceição Duarte. Natural de Odivelas, agora concelho mas ao tempo pertencente ao de Loures. Doente por Zalala, repetidas vezes e com cuidados que lá não podiam ser prestados, foi evacuado para o Quitexe e logo depois para Luanda, onde faleceu no Hospital Militar - a 21 de Setembro de 1974. Suponho que ainda passou pelo Hospital do Negage, como era usual nestas circunstâncias.
Pouco consegui saber deste nosso companheiro, o primeiro militar europeu do BCAV. 8423 a falecer em Angola, nenhum em combate. Apenas que há um movimento na cidade de Odivelas, dinamizado pelo antigo combatente José Marcelino Martins, que pretende criar um monumento de homenagem e evocação os militares daquele concelho que faleceram na guerra colonial. O nome do nosso companheiro de Zalala está lá inscrito, como se vê na imagem.

sábado, 28 de setembro de 2013

1 807 - Os «zalalas» preparam o encontro de 2014...

Rodrigues, Velez, João Dias, Vitor Costa, Castro Dias e Famalicão (de pé), 
Aldeagas, Queirós e Mota Viana, Cavaleiros do Norte de Zalala, a 14 de Setembro de 2013

Os «zalalas» aprontam o encontro de 2014 e hoje, que é dia de os «aldeias viçosas» se reunirem no Fundão, venho aqui trazer o retrato dos 9 magníficos que se saem das tamanquinhas para preparar o seu funeral de saudades.
A almoçarada, bem comida e bem bebida, e melhor confraternizada, foi no Manjar do Marquês (em Pombal) e juntou caras bem conhecidas dos «ccs´s»: o Rodrigues, o Queirós e o Mota Viana, que se juntaram aos Cavaleiros do Norte do Quitexe nos dois últimos encontros: os de Paredes (2012) e de Santo Tirso (2013). E também Castro Dias, neste último. Faltou o Pinto, com outros afazeres na agenda.
Os «zalalas» já não se encontram faz tempo, mas agora não querem perder mais tempo. O Dias e o Velez, com quem estive em pé de orelha telefónico nesse fim de almoço pombalino, foram porta-vozes do entusiasmo que os está a empolgar. «Temos de reunir, pá...», exclamou o Velez. «É a preparação do reencontro», disse o Dias.
Assim vai ser, seguramente!

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

1 806 - A revolta do Liberato, 27 de Setembro de 1974

ppp
A esposa e o capitão Vitor, comandante do Liberato. O furriel Oliveira e dois militares da CCAÇ. 209 - o da direita (atrás) e o de baixo. Nogueira da Costa, Viegas e Oliveira a 1 de Dezembro de 2012




A 27 de Setembro de 1974, hoje se completam 39 anos, a guarnição do Quitexe viveu um dos seus dias mais difíceis e dramáticos: o da revolta da Companhia do Liberato. Tais momentos já foram aqui suficientemente narrados (ver nos links abaixo), mas faltava a associar o dia exacto. Qual foi ele, qual não foi como foi? Pois, foi 27 e foi um sábado de Setembro muito encalorado e de muitos suores e temores.
O Livro da Unidade faz-lhe breve referência: «Em 27 de Setembro, na sequência de outros incidentes internos, processaram-se na CCAÇ. 209 graves problemas disciplinares, os quais passaram ao controlo do Comando do Sector do Uíge!»A CCAÇ. 209 era a do Liberato e, sobre os incidentes, nada mais diz. 
Ao tempo e passado o susto que nos poderia ter enlutado a alma e o corpo, eu tinha regressado de férias, de laurear o queijo pela imensa Angola e, se me lembro bem, a gravidade do assunto andou em bolandas opinativas durante largos dias. E o aquartelamento em prevenção que não nos descansou o físico.
Na véspera e no dia seguinte, por coincidência, o comandante Almeida e Brito esteve reunido em Carmona, no Comando do do Sector do Uíge. Já estivera a 21 e 23, «sempre acompanhado por oficiais da CCS do BCAV.», precisamente para «contactos necessários aos bom andamento dos trabalhos militares».
A 1 de Dezembro de 2012, entretanto, e inesperadamente, fui visitado em casa por dois militares da Companhia do Liberato: o (furriel vagomestre) José Oliveira (que foi meu companheiro de turma na Escola Industrial e Comercial de Águeda e, para mim, é eternamente o Zé Marques) e o Nogueira da Costa, condutor do Liberato, que agora mora por Tomar e se «converteu» em colaborador/investigador deste blogue. 
Aqui aparecessem agora e teríamos de abrir espumante, enquanto refrescaríamos a memória sobre este dia de 1974.
1 - A revolta da Companhia do Liberato 1 /// Clicar AQUI
2 - A revolta da Companhia do Liberato - 2 \\\ Clicar AQUI
3 - A revolta da Companhia do Liberato - 3 /// Clicar AQUI
4 - O comandante do Liberato \\\ Clicar AQUI
5 - Dois «liberatos» em minha casa /// Ver AQUI

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

1 805 - Cavaleiros de Aldeia Viçosa convivem no Fundão

Aldeia Viçosa. A placa «amparada" pelo Matos. Em baixo, um militar (quem é?), o Matos (de copo  a mão), o Mourato e o 1º. sargento Norte (de óculos). O «bigodaças» aqui à esquerda será  furriel Jesuíno Pinto. Na foto mais abaixo, o comandante Bulunda, da FNLA (à esquerda), os capitães Cruz e Fernandes (de farda nº. 1) e o alferes Machado



Ao ido dia 26 de Setembro de 1975, foi o comandante Almeida e Brito de visita à Fazenda Guerra, em «convívio de amizade». Isto foi há precisamente 39 anos. Agora, a 28 de Setembro de 2013, a 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa, vai conviver no Fundão. 
Os Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa eram comandados pelo capitão Miliciano José Manuel Cruz, ao tempo internacional de andebol, com a camisola do seu Esmoriz. Ainda hoje por lá vive, no «bem-bom» da reforma de professor e com uma loja de artigos desportivos.
Era o capitão Cruz «assessorado» no comando pelo jovem alferes miliciano Machado, que foi meu contemporâneo (e do Letras) no exigente 2º. curso de Operações Especiais, de 1973, em Lamego - os Rangers. Outro oficiais eram os também alferes Periquito, Carvalho e Capela. Pela secretaria, «comandava» o 1º. sargento Norte (já falecido) e furriéis miliciano eram o outro «Ranger» Letras, os atiradores de cavalaria Cruz, Ferreira e Martins, Matos (foto), Brejo e Melo, Ramalho, Costa, Gomes e Guedes e também o Mourato (vago-mestre, na foto), o Rebelo (de transmissões) e o Chitas (de armamento pesado).
A Companhia  tinha mais uma centena de praças, entre 1º.s cabos e soldados, tudo gente de arrojo e sem complexos.
Muitos deles, vão estar sábado no Fundão - que é a terra do Lino (furriel mecânico da 3ª. CCAV.). Boa festa, rapazes! 

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

1 804 - Luanda, 25 de Setembro de 1975!!!

kkk


 Setembro de 1974. Luanda! Dia 25! Estou de mala aviada para regressar ao Quitexe e aproveito as últimas horas de borga para me espraiar pelas praias da  restinga, na ilha!, almoçar marisco com o meu amigo Albano Resende (foto) e esperar pelo meio da tarde, quando o Alberto sairá da Base Aérea e nos encontraremos na baixa.
Está combinada uma boa frangalhada num dos Florestas - restaurantes que ficavam perto do estádio dos Coqueiros, atrás da Sé -, uma frangalhada bem molhada, regada à fartura, com uns fartos canhângulo, para afogar o gindungo e a sede que medrava no calor luandino.
O Alberto trazia notícias de Lisboa, vinda de avião e em forma de jornal: ficou a saber-se que o Presidente Spínola convidou os directores dos jornais A Província de Angola (Ruy Coreia Freitas) e Notícias (António Joaquim Ferronha), para além do secretário geral do Partido Cristão Democrático de Angola, do presidente da Liga Nacional Africana e do escritor Domingos Vandunen, para uma reunião em Lisboa. De fora, e dando título à notícia do jornal, ficava o Movimento Democrático de Angola e a Frente Socialista de Angola - organizações que na noite da véspera se reuniram, manifestando estranheza por não terem sido convidados por Spínola.
Nada que nos preocupasse! Era lá coisa deles, da política, dos políticos!
A mim, que voaria para Carmona dentro de algumas horas, seguindo para o Quitexe, o mais importante era viver a noite que sonhávamos atraente, sensual e de cio, no Diamante Vermelho, que ficava um pouco acima do Largo Serpa Pinto e do Katekero onde me acomodava. Por lá, fazia noites uma amiga comum, que outras nos trouxe, sentando-se e bombaleando-se nos colos dos nossos desejos. Queríamos lá saber dos partidos, dos jornais, das notícias, dos movimentos, da democracia, das negociações!
Foi isto, há 39 anos!!
O tempo voa e a saudade de Angola vejo-a aqui sentada na memória.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

1 803 - Cavaleiros de SantaI Isabel em Além Lucunga

Quitexe (a vermelho), Santa Isabel (a amarelo) e Além Lucunga (mais ou 
menos pelo rectângulo da rôxo), no Uíge angolano. Capitão José Paulo Fernandes (em baixo)


                                                                                                         
A 23 de Setembro de 1974, dois grupos de combate da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel, marcharam para a Fazenda Além Lucunga, para os lados do Songo. Por lá tinham acontecido alguns acidentes com militares portugueses, vítimas de emboscadas e minas. 
«Pediram reforço à companhia e fomos dois grupos de combate», recorda o capitão Fernandes, comandante da 3ª. CCAV. 8423 - que, ao tempo, achou dever ser ele mesmo a liderar a força. E para lá foi, na viatura da frente, seguríssimo, «com o alferes Carlos Silva»
Além Lucunga era fazenda que fazia de destacamento militar e por lá passavam, regularmente, companhias de intervenção. O então capitão Fernandes, desfiando a memória e recuando 39 anos, dá conta que «era um sítio descampado». A companhia alvejada foi mandada recuar e foi a vez de avançarem os Cavaleiros do Norte.
Acharam uma fazenda abandonada à pressa, algo inóspita, despovoada, sem ninguém..., com valas e trincheiras de defesa, que felizmente nunca tiveram de usar. De humano, apenas um homem que lhes pediu boleia na picada. «Esperávamos ataques, mas nada disso aconteceu. Avisaram-nos que iríamos encontrar problemas, mas felizmente não tivemos», lembra-se José Paulo Fernandes.
A fazenda, que até aí muita riqueza produzira, era bastante grande mas estava estranhamente vazia, com muitos porcos à sota, às varas, e galinhas por lá perdidas, que se foram abatendo e comendo. «Grandes banquetes, por lá fizemos...», disse o «nosso» capitão. 
Um dia, elementos da OPVDCA foram-lhe dar conta que iriam abandonar o posto, por lá próximo, mas os Cavaleiros do Norte por lá continuaram. Até 8 de Novembro, quando regressaram a Santa Isabel.
- FERNANDES. José Paulo de Oliveira Fernandes, capitão miliciano  
e comandante da ª. CCAV.9823. Engenheiro reformado, residente em Torres Vedras.
- OPVDCA. Organização Provincial de Voluntários de Defesa Civil de Angola.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

1 802 - Patrulhamentos na estrada do café

A estrada do café. algures entre Carmona e o Quitexe (em cima). O Tomás, na saída de 
Carmona para o Quitexe (1974). Repare-se na placa a indicar a vila dos Cavaleiros do Norte

A actividade operacional das subunidades do BCAV. 8423, em Setembro de 1974, há 39 anos, «manteve o ritmo e a orientação do mês anterior, dentro do contexto das determinantes superiores, sendo permanentes os patrulhamentos na ZA, nomeadamente nos pontos críticos em redor dos centros urbanos e dos aquartelamentos», lê-se no Livro da Unidade.
O apoio dos Cavaleiros do Norte era ampliado «aos povos apresentados e às diversas fazendas». Por outro lado, e de novo cito o LU, «mereceu também a maior atenção a garantia da liberdade de trânsito em todos os itinerários», com maior incidência para a ligação do Quitexe a Carmona.
O facto (garantir a liberdade de tráfego) exigiu o aumento do número de patrulhamentos e, por consequência, o desgaste de pessoal e viaturas. Os patrulhamentos não só aumentaram como «variaram no tempo e no espaço» - com execução, por exemplo, de operações stop, para «efectivar o controlo dos passageiros e mercadorias em trânsito,destas nomeadamente armamento e munições».
Estas operações stop causaram alguns a amargos de boca. Recordo uma, na qual um motorista de longo curso, com um carregamento de sacos (de muitas toneladas), recusou identificar-se e nos ameaçou de arma. Levava uma série de armas e munições, dentro de caixotes escondidos no carregamento. Ele lá sabia porque não queria ser identificado e que a carga não fosse fiscalizada. 

domingo, 22 de setembro de 2013

1 801 - O pai Mosteias...

Há 39 anos, a notícia chegou ao Quitexe: o Mosteias era pai!! Pai de um "puto"!
Imaginem: foi um forrobodó, uma festa, um banho de aleluias de alegria e, e aqui já não sei bem (nem quero dizer), também umas muito boas e excessivas disposições eno-gastronómicas! 
O bar de sargentos e o Pacheco, o Topete e o Rocha, restaurantes da quitexana vila onde cumpríamos a  nossa jornada africana, foram cenário e testemunhas dos banhos de felicidade que por lá espalhou e partilhou o Mosteias.
Não era todos os dias que um dos nossos era pai, era raro, mesmo muito raro, raríssimo!!!, e o facto foi uma boa razão para os Cavaleiros do Norte «endeusarem» o recém-papá e levá-lo em andor pela procissão das nossas vidas africanas. A ele, companheiro feliz e pai babadíssimo, mai-la sua Leonor (de Aragão), a mulher e mãe que não conhecíamos!
Muita brincadeira, da boa, da saudável e íntima, «alvejou» o nosso querido Luís Mosteias, por esses dias angolanos.
A vida mudou, andou, amadurou e galgou décadas e, chegados a 2 de Janeiro deste ano, era dia dos anos dele, o telefone fez-me saber que o Mosteias estava no hospital. Falou-me como sempre, livre, de palavra solta, verbo fácil, sem espartilhos nas emoções: «Estou aqui, estou a ir-me embora!!! Os médicos não decidem nada!..., não estou para os aturar».  
Eu, do lado de cá, imaginei os gestos dele. A reagir contra a doença violenta, mas sempre sem lhe faltar coragem! E fiquei a pensar nas traições da vida. Os filhos explicaram-me melhor a situação e, pelos dias seguintes, os Cavaleiros do Norte trouxeram a estas páginas as emoções e retratos que tinham (tem) do amigo Mosteias.
O Mosteias faleceu a 5 de Fevereiro de 2013, aos 61 anos, e não escondo a minha emoção ao trazer a esta páginas de memórias dos Cavaleiros do Norte, hoje, uma imagem de um momento de sua felicidade máxima: uma das primeiras vezes em que enlaçou o seu primogénito Luís João. O «puto» que nasceu fez ontem 39 anos!!
Caro Mosteias: 
Foste um dos nossos maiores! 
Temos saudades de ti! 
Até ao nosso próximo abraço! 
CV


- MOSTEIAS. Luís João Ramalho Mosteias, furriel miliciano sapador, da CCS do BCAV. 8423. Faleceum vítima de doença, a 5 de Fevereiro de 2013. O velório foi no dia seguinte, em Vila Nova de Santo André, e o corpo foi cremado, segundo para o Montijo, sua terra do coração.
Ver AQUI
E AQUI

sábado, 21 de setembro de 2013

1 800 - Angola nas mãos do general Spínola...

Aquartelamentos de de Santa Isabel, da 3ª. CCAV. 8423 (em
cima), e de Aldeia Viçosa, da 2ª. CCAV. (em baixo). O general Spínola (mais abaixo)


A 21 de Setembro de 1975, o comandante Almeida e Brito esteve na fazenda Santa Isabel, onde se aquartelava a 3ª. CCAV. 8423. O objectivo, como se lê no Livro da Unidade, foi «realizar contactos, necessários ao bom andamento dos trabalhos militares». Pela mesma razão e por esse mesmo mês de Setembro, esteve em Aldeia Viçosa, na 2ª. CCAV. (nos dias 13, 19 e 24), e em Vista Alegre, na CCAÇ. 4145 (a 19). Sempre acompanhado por oficiais da CCS, a companhia estacionada no Quitexe.
Rosa Coutinho, presidente da Junta Governativa de Angola, regressava de Lisboa e, em Luanda, afirmou que o Presidente da República, o general António de Spínola, o tinha «autorizado a tornar pública a declaração de que decidiu tomar directamente em mãos todas as negociações internacionais que haja a efectuar sobre o futuro de Angola». E que a essas conversações «passam a assistir representantes de Angola».
O presidente da FNLA, entretanto, falando em Kinshasa, apelou para «a formação e uma frene comum dos vários movimentos de libertação».
O objectivo de Holden Roberto era «discutir com as autoridades portuguesas o futuro de Angola»

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

1 799 - Setembro de 1974, a descolonização de Angola...


Avenida do Quitexe e edifício do Comando do BCAV. 8423, à 
esquerda. Recorte do Diário de Lisboa de 20 de Setembro de 1974

Aos 20 dias de Setembro de 1974, há precisamente 39 anos, vadiava eu pelo chão de Angola, expirando os meus últimos dias de férias. Passara por Luanda e voltara. Laureara o queijo por Gabela, Nova Lisboa, Silva Porto, Alto Hama, Lobito e Benguela, por lá procurando, achando e abraçando familiares e amigos e conhecendo o enorme e belíssimo chão de Angola.
Vasco Gonçalves, o 1º. Ministro português, em Lisboa, respondia a uma pergunta do Diário de Lisboa: «Depois de resolvidas as divergências internas do MPLA, estará o Governo disposto a reconhecer aquele movimento como o único interlocutor válido de Angola?».
As intenções independentistas de grupos de Cabinda já eram conhecidas e temia-se o aparecimento de um processo separatista que se equivalesse ao do Katanga - província congolesa que se declarou independente, a 11 de Julho de 1960, situação que gerou banhos de sangue e milhares de mortos - logo a seguir à independência do Congo (Belga) e sob liderança de Moisés Tchombé. Já agora, a guerra civil justificou a intervenção da ONU, em 1963, e a região voltou a ser integrada no Congo-Kinshasa, depois Zaire (de Mobutu, do nosso tempo angolano) e agora República Democrática do Congo.
Vasco Gonçalves garantia que, relativamente a Cabinda, «tudo faremos para que se mantenha unida à futura Angola independente». Sobre o processo de descolonização de Angola, garantia ser intenção do Governo Português desenvolver «um processo que conduza à auto-determinação e independência» tendo em conta o facto de «não haver apenas um interlocutor válido». Eram três: MPLA, FNLA e UNITA. 

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

1 798 - O MPLA a 30 quilómetros de Carmona...

Comando da Zona Militar Norte e do Sector do Uíge, em Carmona (1975)

A 19 de Setembro de 1975, por Lisboa, militares do Conselho da Revolução e os civis da nova nomenclatura política acertaram agulhas para a formação do VI Governo, que seria liderado por Pinheiro de Azevedo. O país todos os dias acordava com novas políticas e, por este dia, uma 6ª. feira, murmurava-se que o Pacto MFA/Partidos iria ser anulado. A posse do Governo estava prevista para as 18,30, mas foi adiada para as 21,30 horas. E o que disse Azevedo? Pois que «tal como o sr. Presidente da República, também eu rejeito a social-democracia como objectivo final da revolução», surpreendendo os observadores com este tom progressista. E inesperado. O Presidente da República era Costa Gomes.
Adiante!
Os Cavaleiros do Norte refaziam a vida, nas suas casas, com as famílias, as namoradas, mulheres, amigos e toda gente que por eles esperou que chegassem «sãos e salvos», como se dizia na altura, de quem ia para a guerra colonial.
E por Angola?
O MPLA controlava 12 das 16 províncias. A UNITA resistia pelos lados do sul, na área de Nova Lisboa, Serpa Pinto e Silva Porto. A norte, a FNLA dominava no Zaire e no «nosso» Uíge. Mas o exército do MPLA já estava 30 quilómetros da cidade de Carmona, uma das principais fortalezas do movimnto de Holden Roberto.
O que se temia, ao tempo, era que a FNLA, controlando as províncias do Zaire e do Uíge, as declarasse independentes - ao mesmo tempo que, em Luanda, a 11 de Novembro, o MPLA declarasse a de Angola. Não viria a ser assim, nesse dia: o MPLA declarou a independência da República Popular de Angola, em Luanda; a FNLA e a UNITA declararam a da República Popular e Democrática de Angola, no Ambriz. E mais: em Nova Lisboa, a UNITA também declarou a independência de Angola. Confusão que, como se sabe, viria a resultar num guerra civil que durou até 2002.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

1 797 - Os 72 anos do coronel José Diogo Themudo

Os capitães Themudo (à direita) e José Paulo Falcão, com o alferes 
Machado (à esquerda) na varanda do comando do BC12, em Carmona (1975) 

O capitão (agora coronel) Themudo foi segundo comandante do BCAV. 8423 e faz 72 anos a 19 de Setembro de 2013. Chegou aos Cavaleiros do Norte já em Carmona, em Março de 1975 - quando, em Luanda, foi convidado pelo comandante Almeida e Brito. Até aí, não tínhamos 2º. comandante, pois o major José Luís Ornelas foi desmobilizado antes da nossa partida, indo para à Guiné-Bissau.
O BCAV. 8423 até aí (Março de 1975) esteve sem este quadro, sendo as funções exercidas pelo capitão José Paulo - que era o oficial-adjunto e de operações.
A carreira militar do capitão Themudo tinha passado já por duas outras comissões (Angola e Moçambique), continuou em Portugal e atingiu a patente de coronel, em que se aposentou aos 57 anos, em 1998. Até então, foi comandante de um dos Regimentos de Cavalaria da GNR - «dividido» pelos quartéis da Ajuda e Estefânia, com liderança na CCS, esquadrão motorizado, em dois esquadrões a cavalo e brigadas de trânsito. Também comandou a PSP de Santarém (durante 5 anos) e foi 2º. comandante da Regimento de Cavalaria de Santa Margarida, o antigo RC4 - a unidade mobilizadora do BCAV. 8423.
O coronel Themudo vive em Lisboa, falei contem com ele e está em boa forma física. «Não me tem corrido mal a vida, graças a Deus», contou-nos, bem recordado dos 6 meses que passou com os Cavaleiros do Norte e de um telegrama forjado pelo coronel Ramiro Mourato (Chefe do Estado Maior do Comando de Sector de Carmona) e o general Leão Correia, atribuído ao Ministro do Interior do Governo de Transição (Ngola Kabango) e que serviu de «passaporte» para a passagem da coluna que se dirigia a Luanda e a FNLA não queria deixar passar no Negage.
O telegrama, lembrou o então capitão  Themudo, dava ordens ao FNLA para não criar problemas e lá seguiu a coluna para Luanda, sem mais confusões.
- THEMUDO. José Diogo da Mota e Silva Themudo, capitão 
de cavalaria e 2º. comandante do BCAV. 8423. Coronel 
aposentado, mora em Lisboa 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

1 796 - O furriel Cruz dos Cavaleiros de Aldeia Viçosa...

Matos, Guedes e Melo (atrás), Letras, Gomes e Cruz, furriéis de Aldeia Viçosa

A 2ª. CCAV. 8423 aquartelou-se em Aldeia Viçosa, a uns 40 quilómetros do Quitexe, no sentido de Luanda. Era comandada pelo capitão miliciano Cruz, ao tempo atleta internacional de voleibol.
Alferes eram o Machado, o Periquito, o Carvalho e o Capela. Fernando Norte, era o 1º. sargento e por lá furrielaram o Letras, o Gomes, o Ferreira, Martins, Mourato, Matos, Brejo, Melo, Ramalho, Costa, Guedes, Rebelo, o Chitas e o
Cruz.
É deste atirador de cavalaria que vimos falar, pelo louvor que recebeu do comandante Almeida e Brito, pela «maneira como soube contrariar os erros encontrados no seu grupo de combate, tornando-o num todo coeso e que se enquadrou no espírito da Companhia», o que, refere a Ordem de Serviço nº. 174, «só foi conseguido quando, por falta do comandante efectivo, foi chamado para interinamente exercer esse comando».
O louvor refere ainda que «chamado mais tarde à responsabilidade de todo o material a sua subunidade, nunca se furtou a sacrifícios, para que esta nova missão fosse cumprida com igual acerto». O documento refere ainda que era «militar de trato simples, de grande espírito de disciplina, de correcção e trato saliente», pelo que foi «precioso auxiliar na vida da sua companhia, o que, com agrado, permite distingui-lo, premiando a sua carreira militar».
- CRUZ. António de Oliveira Cruz, furriel miliciano atirador 
de cavalaria. Professor, reside em Figueiró (Vieira do Minho).

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

1 795 - Os lutos dos Cavaleiros do Norte de Santa Isabel

Querido, Guedes, Fernandes, Belo e Rabiço, 
Cavaleiros do Norte de Santa Isabel (em cima) e Luís Capitão (em baixo)




A 3ª. CCAV. 8423 foi a última a regressar a Portugal, foi a última a sair do Quitexe, das últimas a abandonar Carmona. Já fôra a última a partir de Lisboa, rumo a Luanda. Foi a primeira a ter baixas, por morte do soldado Bernardo Oliveira, vítima de acidente de viação, em dia que não consegui determinar, de Julho de 1974, há 39 anos.
Bernardo Oliveira pertencia dos Grupos de Mesclagem do RI20, atribuído à 3ª. CCAV., a de Santa Isabel - comandada pelo capitão José Paulo Fernandes. Por onde jornadeavam os alferes milicianos Barros Simões, Pedrosa de Oliveira e Carlos Silva. O 1º. sargento Marchã e os furriéis milicianos Querido, Guedes, Fernandes, Belo e Rabiço (na foto), Flora, Ricardo, Carvalho, Lino, Graciano, Gordo, Lopes Capitão, Cardoso e Reina.
A morte já nos levou o Guedes, a 16 de Abril de 1998, e o Capitão, mais recentemente, a 5 de Janeiro de 2010 - ambos por doença. Saudades!
Ainda em Angola, faleceram Manuel Barreiros (Agosto de 1975) e Jorge Grácio, o Spínola (vítima de acidente, a 2 de Julho do mesmo ano).
Há 38 anos, entretanto, a pré-independência angola continuava a semear medos e morte, pelo chão regado de sangue. Luanda, sem FNLA e UNITA, aparentava calma e as Forças Armadas Portuguesas procuravam cumprir o papel de isenção acordado no Alvor. No terreno, o movimento de Agostinho Neto «reagrupava forças para uma grande ofensiva militar na frente norte». Além do Ambriz, mais marítimo, o objectivo era Carmona, um dos grandes (e últimos) bastiões da FNLA.
A terra dos Cavaleiros do Norte!

domingo, 15 de setembro de 2013

1 794 - Cavaleiros de Zalala preparam encontro... anual!!!

Quartel de Zalala, onde jorneadou a 1ª. CCAV. 8423 (em cima). 
Notícia do Diário de Lisboa, sobre Angola, a 15 de Setembro de 1975 (em baixo)




Há 38 anos, a 15 de Setembro de 1975, já com os Cavaleiros do Norte nos seus chãos e cheiros natais, chegavam notícias da ofensiva militar do MPLA sobre o Ambriz e Carmona. A «nossa» Carmona!!! 
Perto de Duque de Bragança, as forças do MPLA fizeram retirar a FNLA e avançavam para a vila, vila que fica muito perto das famosas Quedas. 
A ofensiva do MPLA dava seguimento à recente expulsão da FNLA da área da Barra do Dande. No Luso, o mesmo MPLA enfrentava a UNITA e os dois partidos davam como certa a sua vitória. Ambos reclamavam o controlo da cidade - que esteve poder da UNITA e foi conquistada pelo MPLA, o que, segundo o Diário de Lisboa de 15 de Setembro de 1975, «originou uma contra-ofensiva do movimento de Jonas Savimbi, no final da semana passada».
Hoje, 38 anos depois, Cavaleiros do Norte de Zalala foram em «novena» até Pombal, ao Marquês, «fazerem recruta» para o próximo encontro da companhia. O encontro da sua (deles) 1ª. CCAV. 8423 - que foi comandada pelo então capitão miliciano Castro Dias.
A hora do «rancho» juntou Castro Dias, Velez, João Dias, Queirós, Rodrigues, Mota Viana, Vitor Costa, Aldeagas e Famalicão. Olhem que 9!!!! 
Livrem-se de não levar por diante o encontro!

sábado, 14 de setembro de 2013

1 793 - O quarteleiro e sapador Fernando Grácio...

Fernando Grácio e Viegas, em Amor, Leiria, em 2013. 
O Grácio, guarda-redes da equipa da CCS, no Quitexe, em 1974
«Ó sr. Fernando, viu por aí o sr. Grácio?!...».
Vinha eu de Monte Real, da base aérea e de ver Cannadair´s a levantar voo para combater os fogos deste verão trágico, virado a Leiria, quando vi a placa: Amor. 
Achei piada a este nome de freguesia, que já conhecia de outras andanças, mas sem nunca por lá ter passado. Que me lembre.
O fim de tarde corria e as memórias desfiaram-se-me: Amor?! Espera lá, d´Amor é o Grácio!!! Exacto, o Grácio! E mora onde, em que rua? Puxa da memória,  Viegas! 
Mais adiante, estavam quatro pessoas em pé de conversa, parei e perguntei: «Onde é a Rua do Barro?»
Respondeu um cavalheiro, que me deve ter achado com cara de agente judicial, a perguntar-me: «Procura quem?». Lá disse e percebi logo, era o vizinho. 
«Você volta atrás e corta à esquerda, e outra vez à esquerda, a casa dele é antes da casa que está pintada da cor mais feia que você conhece!»
E lá fui eu. Ali mesmo, onde nos vêem na foto, é a casa do Grácio. Entrei na rua e logo o vi, andava ele a horticultar, com a mulher.
«Ó sr. Fernando, viu por aí o sr. Grácio?», perguntei-lhe eu, de dento do carro, daquela porta que ali vêem aberta.
O Grácio, era ele, viu-me e rapidamente  largou a enxada e veio a correr, com a velocidade que lhe deixaram as botas de borracha. Atrás dele, desembaraçada e à gargalhada, a «mais que tudo dele». E ali ficámos, no «pergunta tu, pergunto eu» destas coisas e que nos emocionou e fez mais felizes, recordando dias e momentos da nossa jornada angolana de 15 meses.
O Grácio está fixe, como se vê. Trabalha na área da construção, tem dois filhos (um casal) e faz da horticultura uma forma de ajudar a economia familiar. Diga-se, já agora, e eu pus olho no pormenor, tem uma horta mimosinha e o Grácio vive feliz!
- GRÁCIO. Fernando Martinho Grácio, 1º. cabo sapador de 
infantaria, voluntário, dois anos mais novo (nascido em 1954). 
Foi quarteleiro do depósito de géneros, mesmo encostado à messe 
bar de sargentos do Quitexe. Vive em Amor (Leiria).  

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

1 792 - O Vieira, o Sacristão dos Cavaleiros do Norte...

Breda e Vieira, duo «musical» do Quitexe, no ano da graça de 1974

Andava com esta atravessada na memória: o Sacristão, o Vieira, que será feito dele?! Por assim dizer, valha a verdade, já nem me lembrava bem da cara!! Dele ouvi falar aí por Maio deste ano, à conversa com uma vizinha - dele me dizendo ela que está reformado, com uma filha e trabalhando a mulher numa escola da Vidigueira - vila onde ele explorou um bar. E com ele esteve o alferes Cruz, há 4 anos - quando por aquelas bandas foi à caça. Ver AQUI.
Não me lembrava da cara dele? Pois não! mas aí está ela, achada na casa do Breda - na Barosa de Leiria.
O Sacristão era, afinal, o Vieira, o Vidigueira, alentejano assim se popularizando no Quitexe por exercer essas funções, para além das de «quarteleiro do material de aquartelamento», é mesmo assim que se diz. Quarteleiro, pois, e daqueles companheiros que espalham simpatia, sempre de sorriso aberto, bonomónico - até eleito foi para membro da Comissão do MFA.
O capitão Oliveira, em louvor publicado na Ordem de Serviço nº. 168, assegura que desempenhou este serviço (o de quarteleiro) com «a maior boa vontade, dedicação e honestidade». Chama-lhe «voluntarioso» e dele escreveu que «soube simultâneamente ser um bom camarada, apresentando ao seu comandante de Companhia tudo o que lhe pareceu merecer correcção (...) destacando-se o auxílio prestado ao comando que serviu na sua comissão militar».
Pronto, era esta o nosso Sacristão!!! E ali está ele, é mesmo ele. Ele, na foto do Quitexe, tirada com o nosso grande companheiro Breda. Grande abraço!
- VIEIRA. Victor Manuel da Cunha Vieira, o Sacristão, 1º. cabo 
auxiliar de serviços religiosos. Aposentado, mora na Vidigueira (Alentejo).
- BREDA. Joaquim rama Breda, 1º. cano condutor. 
Aposentado, mora na Barosa (Leira).

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

1 791 - O Cordeiro da Bezerra de Porto de Mós...

O Cordeiro e o Viegas numa tarde de Agosto de 2013. 
O Cordeiro em 1974 (em baixo), como membro do PELREC, no Quitexe



Há 38 anos, neste dia 12 de Setembro de 1975, já os Cavaleiros do Norte já estavam (quase) todos nas suas casas, embalados em abraços familiares e de amigos, chegados da sua nobre missão em terras de Angola. Do que sei (e não sei tudo) apenas um, dos cerca de 600 militares das quatro companhias, não gosta de falar dessa jornada que, por 15 meses, nos teve por terras do Uíge africano.
Há dias, numa tarde quente do verão de 2013, a um domingo (25 de Agosto), passando eu pelos lados de Porto de Mós, ocorreu-me um nome, que é o Cordeiro. E uma terra, que é Bezerra!   
Então, é muito longe, é muito perto?! «Olhe, vá por ali, vá por acolá!!!...», disseram-me. E lá fui eu, serra dos Candeeiros acima, passando por Serro Ventoso e até ao adro de Bezerra, de igreja nova a mostrar-se aos olhos, bonita, em espaço arejado e com um mini-coreto na frente, a servir de miradouro.
«Conhece fulano de tal?...», perguntei eu, a quem primeiro achei. E logo era um sobrinho do Cordeiro: «Olhe está ali, na associação. Está ali a mota dele, está a ver?!...», respondeu-me um jovem trintão, alto e amorenado, que m´apareceu do lado do pequeno coreto, olhando-me grávido de curiosidade, talvez meio desconfiado.
Lá fui eu e lá estava ele, o Cordeiro, a jogar as cartas, a bater o punho na mesa, exibindo ases e trunfos. Até que me viu: «Ó meu amigo Viegas!!!... Ó meu amigo Viegas!!!!...», foi comentando ele, espreitando-me de frente e repetindo-se: «Ó meu amigo Viegas!!!...».
O Cordeiro foi 1º. cabo atirador de cavalaria, do PELREC, da CCS. Algo tímido, pouco palavroso, mas sempre sem uma falha, sempre disponível, sempre presente. Fizemos muitos serviços juntos, em operações, em escoltas, em rondas e sentinelas, em PM na cidade de Carmona. Tudo isso rememorámos, a 25 de Agosto, e pela nossa saudade passaram muitos nomes - principalmente os dos que, de nós, já partiram e vivem na nossa memória: o alferes Garcia, os 1ºs. cabos Almeida e Vicente, o Leal, rapazes do PELREC.
Trabalha, o Cordeiro, numa fábrica de mármores. «Trabalho duro...», disse-me ele. Mas trabalho que não regateia, pois tem sido a vida dele, a arrancá-lo do chão dos Candeeiros, uma vida inteira, a «mandar todos os dias três, quatro camiões para os chineses».
- CORDEIRO. José Manuel de Jesus Cordeiro, 1º. cabo 
atirador de cavalaria. Trabalha numa empresa de mármores e 
reside em Bezerra, Porto de Mós, de onde é natural.
  

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

1 790 - Cavaleiros de Santa Isabel regressaram a Portugal

Cavaleiros do Norte da 3ª. CCAV. 8423, de Santa isabel reunidos em Arganil, 
a 8 de Junho de 2013 (em cima), o capitão Fernandes e o 1º. sargento Marchã (em baixo).

A 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel, regressou a Portugal a 11 de Setembro de 1975 - hoje se fazem 38 anos. Era comandada pelo capitão miliciano Fernandes e chefe de secretaria o 1º. sargento Marchã. Chegou a Angola a 5 de Junho de 1974 e à fazenda uíjana a 11 seguinte. A 10 de Dezembro, abandonou a epopeica Santa Isabel e partiu para o Quitexe, onde se juntou à CCS. Indo esta para Carmona a 2 de Março de 1975, aqui se juntaram em Julho seguinte.
Os últimos partiram para Luanda, os últimos voltaram a Portugal.
O seu último dia na capital angolana foi tempo de notícias da vitória militar do MPLA sobre a FNLA, assumindo o comando do Caxito. Agostinho Neto, falando em Luanda, num encontro regional com a Juventude do MPLA, integrado na Semana da Defesa Popular, referiu-se a esta vitória militar, afirmando que «nenhum angolano poderia deixar de se sentir satisfeito, já que marca mais uma importante etapa da luta que os angolanos travam contra o imperialismo»
O presidente do MPLA lembrou que «foram as agressões estrangeiras que determinaram o início da segunda luta armada de libertação nacional em que o povo está engajado». Referia-se ao Zaire, que alegava apoiar a FNLA, a norte (por onde andaram os Cavaleiros do Norte), e à África do Sul, que, a sul, apoiaria a UNITA.
Os cavaleiros de Santa Isabel chegados a Lisboa, encontraram um Portugal onde o Conselho da Revolução estava preocupado com a censura e um assalto ao BPA, em Lisboa, rendeu 5000 contos. Outro, em Vila do Conde «valeu» 100 e em Nova Oeiras assaltaram uma casa e levaram 900. Os militares manifestavam-se no Porto e Almada e trabalhadores na CUF e em muitos plenários, nas zonas mais industrializadas. Populares preparavam uma manifestação de apoio aos soldados da PM.
Ao Sporting, chegaram os brasileiros Picolé, Gilson Paulino e Robervai. Alguém lembra deles? No hóquei em patins, Portugal ganhou (12-1) à Suíça, para o campeonato da Europa. Jogaram: Ramalhete, Rendeiro (2), Garrancho 81), Livramento (4), Chana (5), Casimiro e Gomes da Costa.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

1 789 - Os Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa

Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423. À esquerda, de pé, o furriel miliciano Matos, com parte do seu pelotão. E os outros? Quem nos ajuda a identificar estes companheiros da jornada africana do Uíge angolano? 

A 10 de Setembro de 1975, a gloriosa 2ª. CCAV. do comando do capitão miliciano José Manuel Cruz, levantou voo de Luanda para Lisboa, no adeus à Angola que foi poiso da nossa jornada africana. Para trás, ficavam 15 meses - desde que a 4 de Junho de 1974 chegara a Luanda e, no dia 10 seguinte, partira e chegara a Aldeia Viçosa - por terras do Uíge.
A véspera fôra dia de partida da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala, em data que registou o apelo de Agostinho Neto, presidente do MPLA, à «resistência popular generalizada». Falando ao país, o futuro presidente angolano «analisou a situação político-militar e insistiu na necessidade de reforço das organizações de base, como via para a implantação do poder popular e para varrer definitivamente do país as forças ao serviço do imperialismo e do neocolonialismo».
A 8 de Setembro, viajava a CCS para Lisboa, o major Fernandes, informador oficial do Exército Português, dava conta que «a FNLA não parece estar à altura de ameaçar Luanda» e que «o MPLA, devido à disciplina que reina nas suas fileiras, revelou uma maior maturidade no terreno» e que, a sul do território angolano, «está quase a completar o cerco às forças da UNITA, essencialmente  concentradas em Nova Lisboa e Silva Porto».
Os Cavaleiros de Aldeia Viçosa chegaram a Lisboa por volta das 18 horas de 10 de Setembro e, cada qual, partiu para o chão das suas terras e o afecto das suas famílias. Foi há 38 anos, hoje se completam.
Dia 28 deste Setembro que corre, entretanto, último sábado do mês e como é seu costume, vão reunir no seu encontro anual. Este ano, no Fundão, com a parte da logística (restaurante) a cargo do Carmo - que pode ser contactado pelos telemóveis 936913600 e 927069292.
O Ramalho (966095508 e 266707300) e o Beato (963573376 e 224221948) ajudam na organização e a concentração será na Zona Industrial da cidade, entre as 10 e 12 horas.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

1 788 - O Portugal que nos recebeu a 8 de Setembro de 1975

Aeroporto de Lisboa, como deveria ser em 1975 (em cima). Recorte do 
Diário de Lisboa, sobre a greve que nos deu jeito para viajarmos de avião e não no Niassa




A Lisboa que nos recebeu a 8 de Setembro de 1975 ardia em intrigas políticas e militares e Portugal era palco de muita ebulição social. Basta ler alguns títulos da imprensa desse dia: «Reunido o Conselho da Revolução: Impasse difícil» era a caixa alta do Diário de Lisboa. A primeira página tinha outros títulos: «Que é isso de guerra civil, sr. capitão?», ou «5ª. Divisão recebida em Belém». Também «11 de Março: o relatório da 5ª. Divisão».
A edição do jornal dava conta, também,  de que o povo não cedia em Proença-a-Nova e que armas de guerra tinham sido roubadas em furgoneta... roubada. E falava de plenários de trabalhadores, de professores e de trabalhadores em greves, de sindicatos, de esquerdas, fascismos e direitas, suicídios, manifestações, roubo de jóias e outros roubos, reforma agrária, esclarecimento de Durant Clemente sobre um comunicado do Estado Maior do Exército, até do assalto de trabalhadores a um empresa (a NOVIL).
O nacional de futebol da 1ª. divisão tinha começado na véspera: Braga-Atlético, 2-2; Beira Mar-CUF, 0-1; FC Porto-U. Tomar, 6-1; Setúbal-Académico de Coimbra, 3-1; Leixões-Sporting, 0-0; Guimarães-Belenenses, 2-2; Estoril-Farense, 2-0. O Benfica-Boavista (0-0) só se realizou no dia 10.
Em Moçambique, Samora Machel casava-se (no dia 7) com Graça Simbine, a ministra da Educação e Cultura. No universo português, a Companhia Nacional de Navegação (CNN) ia no 11º. dia de greve - ver imagem. Sorte a nossa: era num dos seus navios (o Niassa) que os Cavaleiros do Norte deveriam viajar para Lisboa. Não houve barco, houve avião e os dez dias de mar foram substituídos por 8 horas de voo.
Em Luanda, a 9 de Setembro de 1975, era a 1ª. CCAV. a fechar as malas e a dizer adeus a Angola! Os homens de Zalala regressavam a casa!

domingo, 8 de setembro de 2013

1 787 - O dia do adeus a Luanda...

Aeroporto internacional de Luanda (gare), nos anos 70 do século XX.  Daqui saíram os Cavaleiros do Norte, entre os dias 8 e 11 de Setembro de 1975. Viegas, Mosteias e Neto em Carmona, em Julho de 1975 (em baixo)



A última refeição de Angola, foi no Grafanil, de domingo para 2ª.-feira. Refeição aligeirada, à falta de melhor: de pastéis e vinho branco, oferecidos pelo familiar de um dos Cavaleiros do Norte que ia partir. Um dos nossos!!! Era 7 para 8 de Setembro de 1975 e os dias não eram de fartura pela Luanda a que íamos dizer adeus. 
A noite foi passada sem sono e, madrugada aberta, já no dia (hoje se fazem 38 anos), lá fomos para o aeroporto internacional de Luanda, onde centenas (milhares?) de civis aguardavam «boleia» para Lisboa e protestavam pelos atrasos que adiavam o embarque. Eram à volta de 1300 pessoas - dizia-se por lá... - que, por esse tempo, diariamente voavam para a Europa, num corropio enorme, frenético e para muitos angustiante, e nem sempre bem controlado.
A Luanda que deixávamos tinha vivido um fim se semana aparentemente calmo, em termos militares, e a nossa manhã do aeroporto ainda deu para saber que mesmo no Caxito - onde se vinham a multiplicar incidentes entre o MPLA e a FNLA - não se tinham registado combates nos dois últimos dias. 
Tivemos notícias de Carmona, de onde tínhamos saído a 4 de Agosto, pouco mais de um mês antes: instalou-se lá uma equipa da Cruz Vermelha Internacional, formada por dois médicos (um de clínica geral e um anestesista) e duas enfermeiras, obviamente para acudir a feridos. 
O Neto, o Mosteias e eu (foto) - e não me lembro se mais algum furriel - fomos encarregados, no aeroporto de «trazer» presos para Lisboa. Eram militares com problemas disciplinares e entrámos no avião com algemas a "ligar-nos". O que me acompanhou, ele mo contou durante a viagem, tinha mortes no registo criminal e sentenças que o tinham condenado a (bastantes) anos de prisão.
Por volta das 10 horas, levantámos voo e, já no ar, olhámos Luanda pela última vez. Emocionados!
- MOSTEIAS. Luís João Ramalho Mosteias, furriel miliciano 
sapador, da CCS. Faleceu a 5 de Fevereiro de 2013, vítima 
de doença. Ver AQUI.

sábado, 7 de setembro de 2013

1 786 - A véspera de voltar a Portugal! Há 38 anos...

Marginal de Luanda nos tempos dos Cavaleiros do Norte (em cima). Almirante Leonel Cardoso, a esquerda, com o general Altino Magalhães, almirante Rosa Coutinho, coronel Silva Cardoso (piloto aviador) e major Emílio Silva (em baixo)

Domingo, 7 de Setembro de 1975!! Os Cavaleiros do Norte alvoram sonhos e fecham malas, que próxima está a viagem de regresso a Portugal. Há ordens para toda a gente da CCS estar no Grafanil ao fim da tarde. Para o controlo final e a definição de tarefas para a dúzia de quilómetros que nos separam do aeroporto de Luanda, de onde um avião dos TAM, na manhã seguinte, nos trará em voo para Lisboa.
O Neto, eu e o Monteiro, manhãzinha cedo, dizemos adeus à casa que, em Viana, fora nosso poiso desde 4 de Agosto. Estava combinado que deixaríamos as malas no Grafanil e iríamos até Luanda, para os «adeuses» finais.
O novo Alto Comissário de Angola chegara na antevéspera, dia 5 - o almirante Leonel Cardoso. Desconsolado, porque, em Lisboa, não teve o conforto da presença, no aeroporto, de qualquer responsável político, ou militar. Sequer, de seus representantes, a levar-lhe, como se queixou em Luanda, «uma palavra de despedia, de simpatia e de encorajamento».
«Não será esse facto, talvez único ma história dos embarques de dezenas de pessoas a quem alguma vez coube a honra de orientar os destinos de Angola, que fará esmorecer a sede de que venho animado e me levou a aceitar a missão que ninguém queria», disse o almirante.
Angola não paraíso para ninguém.
O MPLA redenunciava a presença de forças estrangeiras no território angolano e aludia à possibilidade de internacionalização do conflito que opunha os 3 movimentos: o próprio MPLA, a FNLA e a UNITA.
A África do Sul admitia que as suas tropas tinham entrado em Angola, explicando que tal se devia à necessidade de protegerem a estação de tratamento de águas de Calueque, junto à fronteira com a Namíbia. Que saíriam «logo que seja possível». No documento enviado ao Governo Português, dava conta da «satisfação» pelo facto de Portugal «chamar a si» a segurança da estação.
A 12ª. Cimeira da OUA, em Kampala, decidira «criar uma comissão de conciliação» que, em Luanda, tentasse «por termo aos confrontos entre UNITA, FNLA e MPLA». O embaixador Djoudi, secretário geral adjunto da OUA, reuniu-se em Lisboa com o Governo português, no dia 5, por essa razão e, à imprensa, deu conta que «uma certa potência ocidental decidiu interferir na questão angolana, fornecendo armas a uma das partes, o que complica o problema». Não disse que país era. Apenas que ficava «situado a norte de Portugal, com interesses directos na África do Sul e que vota sempre por ela nas instâncias internacionais»
Foi neste contexto que, no primeiro domingo de Setembro de 1975, dia 7 - hoje se fazem 38 anos! -, os Cavaleiros do Norte da CCS passaram as últimas horas da sua jornada angolana.
- OUA- Organização de Unidade Africana.