domingo, 30 de setembro de 2012

1 426 - Novidades do Quitexe setembrino..

A estrada do café, algures entre Carmona e Luanda, na zona do Quitexe

A 30 de Setembro de 1974, aí estava eu a regressar ao Quitexe, depois da boa-vai-ela de um mês de férias pelo chão d´Angola e com o Neto mortinho por eu chegar, para vir ele até Águeda, para os sabores da família e os gostos de paixão de quem, enamorado, de longe namorava.
Voei de Luanda para Carmona e daqui segui para a vila quitexana, em boleia  da viatura do SPM - como era habitual. «Tava a ver que não chegavas», disse-me o Neto, para quem eu trazia, de Luanda uma «encomenda» chegada da casa de Águeda e guardada nos escritórios da FRAL, em Luanda.
O tempo do meu laréu turístico acabara e muita coisa se tinha passado nesse Setembro, na zona de acção dos Cavaleiros do Norte, o que foi motivo de apalavrada conversa no jantar desse dia, no Pacheco - onde abancámos o inevitável camarão d´entrada e bifes com batatas fitas e ovo a cavalo!!! 
A rotação do BCAV., os problemas disciplinares da companhia do Liberato (e nem imaginávamos os sustos que iríamos passar, pro causa de uma insurrecção dos militares naturais do território angolano...), a entrada disfarçada de alguns IN´s no Quitexe, em Aldeia Viçosa e Vista Alegre, o castigo ao Albino (1º. cabo atirador do nosso PELREC, que o levaria para Zalala), os ataques a madeireiros europeus (na zona do Liberato), a viatura da JAEA flagelada na Quinta das Arcas, disto tudo se falou - sem esquecer as operações de stop na estrada do café.


A liberdade de trânsito, realmente,começaa a ter condicionamentos, principalmente na estrada do café - de Carmona a Luanda (foto) -, mas repetindo-se com alguma gravidade em muitos outros itinerários, nomeadamente os que, em terra batida, ligavam aos principais centros urbanos e às maiores fazendas de café da região uígense -, o que implicou «maior atenção».
«Não sei o que esta merda vai dar... mas vê lá se te pões aqui, para ir eu de férias», reclamava o Neto, no aerograma que, por estes dias de Setembro de 1974 recebi em Nova Lisboa.

sábado, 29 de setembro de 2012

1 425 - O último dia do curso de Operações Especiais


Ordem de serviço com as classificações do curso de Operações Especiais (em cima). Eu 
mesmo, em foto de dias depois, no primeiro serviço de sargento de dia no CIOE (em Outubro de 1973)

A 29 de Setembro de 1973, hoje se completam 39 anos, concluiu-se o curso de Operações Especiais, do 2º. turno do ano, com uma cerimónia  e almoço, para a qual foram convidadas as famílias de cadetes e instruendos. E muitas lá estavam. Não a minha, que para tal não tinha meios.
Concluía-se, assim, uma fase de instrução que viria a ser decisiva no nosso futuro militar, em termos físicos e técnicos, também psicológicos. Por mim, fui 16º. classificado, com 15,33 de média final  - numa classificação (publicada na Ordem de Serviço nº. 234, do CIOE, de 4 de Outubro desse ano) que punha o Cristovão como primeiro (média de 16,58). Da futura CCS dos Cavaleiros do Norte foram quinto o Monteiro (16,05) e 26º. o Neto (14,68%) - todos furriéis milicianos. O Garcia ganhava os (futuros)  galões de alferes com 14,70 (26º.). Outros Cavaleiros do Norte foram os alferes Sousa (da 1ª. CCAV., a de Zalala, 25º. lugar de cadetes, com 14,73), Machado (da 2ª. CCAV., a de Aldeia Viçosa, 24º,. com 14,75) e Rodrigues (da 3ª. CCAV., a de Santa Isabel , com 14,78). E os futuros furriéis Pinto (da 1ª. CCAV., 40º. classificado, com 14,23) e Letras (da 2ª. CCAV., que foi 60º., com 13,25). O Reino, da 3ª. CCAV.,  foi instruendo do curso seguinte.
O dia era sábado, como hoje, e da memória puxo a minha chegada a Águeda, na boleia do SIMCA 1100 do Neto, já a meio da tarde, e de termos parado na esplanada do Zip-Zip (junto ao rio) para bebermos uns finos e ter subido, eu, a então EN1 até à estação dos caminhos de ferro, onde apanhei o comboio para a casa. De camuflado vestido (o que na altura era pouquíssimo vulgar fora dos quartéis) e muito ufano, mostrando as divisas novísimas em folha e vendo a  chapa e o crachat dos Rangers a brilhar nos olhos que quem nos via. Naqueles 1000 metros de rua, no comboio e até chegar a casa.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

1 424 - O encontro dos Cavaleiros de Aldeia Viçosa em Vila... Viçosa


O grupo de Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423 que se reuniu em Leiria, 
a 4 de Setembro de 2011 (em cima). A ementa de 2012, em Vila Viçosa (2012)


Amanhã, dia 29 deste Setembro de 2012 que está a acabar, é sábado e dia de os Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa se encontrarem em... Vila Viçosa, no encontro de 2012 e 37 anos depois do regresso de Angola. 
A organização tem carimbo pessoal do Ramalho e do Mourato, dois furriéis que por lá jornadearam com garbo e grande companheirismo. 
O programa, logo a partir das 10 horas da manhã, prevê uma visita ao passo e castelo dos Duques de Bragança (uma oportunidade a não perder, por nada...) e a parte gastronómica e confraternizante decorrerá no restaurante Os Cucos.
Há um ano, por esta altura (a 4 de Setembro), foi a vez de se encontrarem em Leiria - como se vê na imagem. E quantas saudades mataram os garbosos e valorosos antigos combatentes da 2ª. Companhia do BCAV. 8423, que por Angola foram gente do comando do então capitão miliciano Cruz!!!
E o que é o blogue aqui deseja?! Pois que tudo corra na maior, aqui ficando à espera que nos cheguem os registos fotográficos do encontro, para os levarmos ao mundo inteiro. Estão pedidos, com a devida continência, a dois dos Cavaleiros de Aldeia Viçosa. Ai se eles falham!!!

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

1 423 - Os «olímpicos» da mítica Zalala...

«Olímpicos» da mítica de Zalala, em pose de olhar para o amanhã
__________________
AMÉRICO RODRIGUES

A imagem mostra atletas de Zalala em preparação para os «jogos olímpicos» de 1974/75. E que atletas!!!
O Rodrigues (em baixo, do lado esquerdo), está em farda de trabalho, mas já com o braço «esquerdo» sem qualquer hipótese de competir, porque, segundo o regulamento,  «quando a direita cansa, logo a esquerda avança».
O Louro, logo a seguir, com os punhos à espera das luvas de boxe, como quem diz “venham eles, venham eles...».
E o saudoso Barata, que perguntava «contra quem vamos jogar?». Mais à direita, o Dias (o mecânico), com um movimento de mãos que mais parece estar a dar voltas aos pistões, para «afinar» a equipa.  
O Barreto, enfermeiro, está em cima, à esquerda, com as mãos nos ombros dos melhores atletas e a pensar, talvez, no que lhes devia injectar. Doping, do mais reles da enfermaria, ou wiskhye ? Ou a água destilada faria o mesmo efeito?
O Queirós está depois, vestido à moda da máfia dos apostadores. Só queria “massa”!!! Finalmente, o Victor Costa, este sim, como mandam as regras, fardado e com o seu perfil garboso (nesta foto), em pose de «não às baldas para ninguém”. Toca a dormir  cedinho e nas casernas,  ninguém durante a noite nos «tascos» do quartel, ou, fora dele, outros sítios do género, durante o estágio. 
Claro que todas a regras foram quebradas, foram bebedeiras umas em cima das outras, fora ou dentro do quartel.
Os treinos no mato (de 4 ou cinco dias a ração de combate e água do cantil), para defrontar e vencer as picadas de Zalala, entre outros milhares de acontecimentos indetermináveis e indiscritíveis, maturaram estes atletas que, no seu conjunto e cada um na sua “modalidade”, deram o seu melhor e o resultado é que foram todos medalhados, no fim da comissão. Porém, melhor que as medalhas, foi a amizade que se cimentou nesta equipa e com todos os restantes atletas da 1ª.  Companhia e outros camaradas do BCAV. 8423. E que, felizmente, perdura nos dias de hoje
- AMÉRICO RODRIGUES
Zalala - ex-furriel miliciano
- BARATA. Jorge António Eanes Barata, furriel 
miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV. 8423. 
 Natural de Alcains. Falecido a 11 de Outubro de 1997.
Ver AQUI

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

1 422 - O curso de Rangers que nos preparou para a guerra



O tempo passa e já lá vão 39 anos desde que, pelo Setembro de 1973 que então findava, acabava também o curso de Operações Especiais que frequentei no CIOE de Lamego. Era o 2º. turno do ano, dos Rangers, que começou a 16 de Julho e nos levedou instrução e desenvoltura que nos tornou mais fortes e militarmente mais preparados, para o que desse e viesse. Até ao dia 29. O curso envolveu cadetes (futuros oficiais milicianos) e instruendos (que viriam a ser furriéis) e, desde uns dias depois do 16 de Julho, também um pelotão de tenentes e sargentos do quadro permanente. Foi duro, o curso. «Temos exigido de ti! Tens correspondido! Vamos exigir-te mais», pode ler-se no panfleto de acção psicológica que pela altura nos foi distribuído. E se pode ver na imagem.
Dizia mais: «És capaz de forçar os nervos, os músculos, o coração, quando já nada há em ti, a não ser a vontade que diz aguenta?... Se a tua resposta é sim!... Por actos... Não por palavras... Então consideramos-te já um verdadeiro Ranger».
Lido isto, e relido, 39 anos depois (como eu guardo tantos papéis, meu Deus!!!!) não deixa de ser nostálgico imaginar a força que então nos tornava fortes, invulneráveis e invencíveis à dor, ao sofrimento e a tudo o que nos preparava para uma guerra que se fazia a mais de 5000 quilómetros de casa. E não evito mesmo deixar cair breves sorrisos, sentidos e contemplativos da nossa juventude! Não sei se a de hoje se daria em sacrifício e generosidade para assumir qualquer paradigma da pátria. Entendesse-mo-lo, ou não!
Companheiros dessa jornada e depois Cavaleiros do Norte, foram os futuros alferes Garcia (da CCS, falecido a 2 de Novembro de 1979), Sousa (1ª. CCAV.), Machado (2ª.) e Rodrigues (3ª.) e os furriéis Monteiro e Neto (CCS), Pinto (1ª.) e Letras (2ª.). Do curso seguinte, foi o Reina (3ª.)!
- CIOE. Centro de Instrução de Operações Especiais. 
O quartel-sede era em Lamego e em Penude o de instrução.
Ver AQUI

terça-feira, 25 de setembro de 2012

1 421 - As portas de Zalala...

A foto apareceu-me pela frente e eu a puxar pela cabeça: mas onde e isto? Já passei por aqui!!! Enviou-ma o Queirós e, com o indicador direito a rapar a cabeça, lá me veio à ideia: são as Portas de Zalala!!!
Zalala, por onde jornadeou a 1ª. CCAV. 8423, era conhecida como «a mais dura escola de guerra» e assim se mostrava a quem se aproximava da fazenda de Ricardo Guerra - que foi chão mártir logo em 1961, quando rebentou a guerra e por lá passou José Martinho, mau vizinho de aqui a uns 60 metros.
Outros eram esses tempos, de muitos dramas e tragédias que a memória vai encostando no sótão.
«Tivemos de fazer e desfazer 14 pontes, desde o Quitexe. Levamos 9 dias para fazer aqueles 40 quilómetros», recorda José Martinho, também evocando «os nossos soldados que morreram, parece que 9, já não me lembro bem»
As memórias de Zalala são memórias que fazem doer e os Cavaleiros do Norte bem se lembram dos pós de medo que engoliram, quando galgavam a perigosa e lendária picada, que se não nos matou, e não matou!!!, nos armadilhou muitas emoções e castrou entusiasmos. 
Os tempos de 61 foram bem mais trágicos e mortais. «O encarregado da fazenda conseguiu safar-se do ataque e fugiu, já com um braço cortado, decepado. E sabes como se aguentou, como o segurou? Olha, só visto..., embrulhando o côto num pano e folhas de árvores. Fugiu para a mata e por lá andou aqueles dias todos, sabe Deus como, com fome e dores para matar, ate que a tropa apareceu», diz-me José Martinho.
Esqueçamos isso, por momentos. E contemplemos as Portas de Zalala, esta magnífica obra da natureza, que nenhuma guerra destruiu.  

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

1 420 - O Morais das mecânicas já está nos 62 anos

Morais e Lopes, mecânico e enfermeiro do Quitexe. Atrás, 
a casa que era messe e bar de sargentos. Em baixo, o Morais, a 2 de Junho de 2012

O Morais veio de Niza e era furriel mecânico, um bocadinho mais velho que todos os outros sargentos milicianos. A mim, levava-me dois anos e dois meses de dianteira, mas, ao tempo, no tempo da nossa missão em terras uíjanas, não se dava por isso. Amanhã, faz 62 aninhos. Quem diria?!!
O Morais andou pelas engenharias e fez carreira profissional na Estação Nacional de Plantas, em Elvas - mas era nascido das berças da bem alentejana Niza, em família da nobreza tradicional. Tive o gosto de, nos anos 80, visitar e conhecer a mãe, na sua casa de lá.
O Morais quitexano não regateava a sua competência para, no pelotão-auto do alferes Cruz, afinar quaisquer viaturas que «gripassem» nas pesadas e poeirentas picadas da zona de acção dos Cavaleiros do Norte.
Era o companheiro que aligeirava conflitos, com a sua voz professoral, serena e descompressora, sempre muito ouvida - enquanto nos olhava sereno, de sorriso aberto e a fazer bolinhas de fumo do cigarro, debitando  razões sobre o que se conversava ou discutia. Sempre óbvio e esclarecido. 
Era um grade e bom companheiro, daqueles que ficam no rol da vida e guardados no baú da saudade de quem gosta. E aí aparece ele, a todos os encontros dos Cavaleiros do Norte, com a sua «mais que tudo», sempre com o mesmo olhar tranquilo e amigo.
Pois o Morais faz anos amanhã, dia 25 de Setembro de 2012: 62!!!
Grande abraço, amigo alentejano!! E muitos mais anos de vida, por esse mar de tranquilidade que soubeste criar e navegar na tua vida!
- MORAIS. Norberto António Ribeirinho 
Carita de Morais, furriel miliciano mecânico-auto. 
Natural de Niza, aposentado e residente em Elvas, 
onde foi quadro superior da Estação Nacional de Plantas
- O furriel Morais e os primeiros 
isqueiros BIC no Quitexe. Ver AQUI

domingo, 23 de setembro de 2012

1 419 - O dia de Natal de 2 Cavaleiros do Norte

Alferes Cruz (à direita) com o alferes Garcia, na 
Fazenda Vamba (1974), em cima; e furriel Rodrigues (em baixo)


O dia 24 de Setembro foi de natal para dois Cavaleiros do Norte: o alferes Cruz e o furriel Rodrigues, ambos do norte, quase vizinhos, de Santo Tirso aquele e este de Famalicão. Tal como no chão do Uíge angolano: oficial no Quitexe, furriel em Zalala! 
O alferes Cruz comandava o pelotão mecânico-auto rodas, citado, por proposta do comandante da CCS, como «equipa de trabalho com espírito de entre-ajuda e sacrifício, procurando tirar o maior rendimento do seu labor, ao mesmo tempo que torneando as dificuldades inerentes ao muito uso das viaturas e às faltas constantes de sobressalentes», conseguindo, mesmo assim, que «se obtivessem condições de utilização, em tempo oportuno e muito aceitáveis».
A proposta do capitão António Martins Oliveira, «não pretendendo distinguir uns, esquecendo outros», faz notar que «aqui fica o público agradecimento ao seu trabalho»
O furriel Rodrigues foi louvado pela «maneira eficiente e dedicada como desempenhou as funções de vagomestre», que não eram da sua especialidade, mas tarefa em que se impôs «à consideração da subunidade» de Zalala, o que, refere o documento oficial, «leva a afirmar ter sido preciosa a sua colaboração, pelo muito que contribuiu  para facilitar a acção do comando».
Aos dois Cavaleiros do Norte, aqui ficam dois abraços enormes. Do tamanho deste mundo que se fez comum desde Janeiro de 1974, em Santa Margarida, até ao Portugal de hoje.
- CRUZ. António Albano de Araújo Sousa Cruz, alferes 
miliciano mecânico auto. Nascido em 1945 e engenheiro 
de formação, é aposentado e residente em Santo Tirso.
- RODRIGUES. Américo Joaquim da Silva Rodrigues, furriel 
miliciano atirador de cavalaria. Nascido em 1952, aposentado 
e residente em Vila Nova de Famalicão. 

sábado, 22 de setembro de 2012

1 418 - A consciência do dever cumprido...

Parada do Quitexe e secretaria do comando (à esquerda), na esquina 
com a avenida. Ao cima da rua, junto às palmeiras, a administração civil. Almeida e Brito (em baixo)




O Livro da Unidade, referindo-se ao mês de Setembro de 1975, faz um exame de comissão e, frisando «não querer fazer doutrina sobre factos passados, mas ainda bem presentes», dá conta que «bastará sentir-se que se parte com a consciência de haver cumprido o dever que nos solicitaram e que nem sempre foi fácil de cumprir».
«Essa certeza existe?», interrogava-se o comandante Almeida e Brito, ele mesmo respondendo: «Julga-se que sim».
«Se foi bom ou o mau o tempo passado; se valeu ou não vale a pena estar separado da família; se a vinda a Angola deu, ou não, um panorama do que era Portugal; se contraíram, ou não, novos amigos; se os momentos menos agradáveis foram vencidos por momentos de euforia; se encontraram, ou não, no nosso BCAV. 8423, uma nova escola de aprendizagem», tudo isso, para Almeida e Brito, eram questões que ficavam para o nosso exame de consciência.
«Assim se pretendeu e todos nós quisemos que o BCAV. fosse um todo; todos nós desejamos que de nós falassem, sem ser por orgulho ou vaidade, mas pela certeza da compreensão do nosso trabalho; todos nós fizemos por honrar o lema da nossa unidade mobilizadora e todos nós praticámos o nosso querer e saber querer», escreveu o comandante
E o que podemos dizer nós, hoje? Quem lê este blogue sabe bem o que  vale, 37 anos depois, tantos de nós termos os Cavaleiros do Norte dentro da alma.
- ALMEIDA E BRITO. Carlos José Saraiva de Lima 
Almeida e Brito, tenente coronel e comandante do
 BCAV. 8423, Faleceu a 20 de Junho de 2003, 
vítima de doença súbita. Atingiu a patente de general.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

1 417 - O dia em que o Mosteias foi pai!!!

Mosteias e Viegas à porta da secretaria da CCS, no Quitexe (1974)

O 21 de Setembro de 1974 teve registo muito especial no Quitexe militar: o Mosteias foi pai. O comandante Almeida e Brito visitou a 3ª.. CCAV., em Santa Isabel, e ficou por lá, passando pela fazenda Minervina no dia seguinte. Nessa noite, os Cavaleiros do Norte isabelianos tiveram direito a filme. Eu, de férias angolanas, laureava o queijo e chegava a Luanda, onde m´espreitavam os calores e os cios das noite de borga.
Por lá, a essa altura, ouvi falar de um MRA, clandestino, que a surdina popular dava como estando a preparar um corpo de mercenários dispostos a estragar a intenção de independenciar Angola. E ali chegava eu,  galgados milhares de quilómetros do asfalto angolano, de Luanda à Gabela e a Nova Lisboa, pelo Lobito, Benguela e outras praças da terra africana que ia deixar de ser portuguesa.
Sentia-me forte e seguro para as novas (e mais épicas) aventuras!
De Lisboa, chegavam notícias de barricadas, greves e conflitos laborais, de crise política e de um Presidente Spínola cada vez mais isolado. Um jornal deixado por passageiro do dia, trazia notícias de convocação de uma manifestação de apoio ao PR: a da chamada maioria silenciosa, marcada para o dia 28. 
A política estrebuchava em Lisboa, a esquerda revolucionária dividia-se, a direita erguia o pescoço e em  Luanda continuava o período de recolher obrigatório decretado em Agosto. Em Lourenço Marques, na véspera (da 20) tomava posse o Governo de Transição e Moçambique passou a ser governado pela Frelimo, lia-se, mais palavra menos palavra, no Jornal Província de Angola. Luanda fervia e lavravam boatos sobre o alto-comissariado de Rosa Coutinho - de quem se dizia ir dormir a uma corveta da marinha, ao largo de Luanda.
Foi o dia em que Mosteias foi pai!!!
- O Mosteias que era casado e foi pai, AQUI
- O Mosteias não leva desaforo para casa, AQUI
- MRA. Moimento da Resistência de Angola, supostamente ligado à minoria barca.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

1 416 - Os que em Angola tombaram por Portugal !!!


Portugal, tanto quanto sei, sempre honrou aqueles que tombaram para sempre, no teatro de guerra. Seja onde for. Também em Angola. Pessoalmente, sempre me emocionei quando, por onde ia passando, encontrava marcos de homenagem aos que, por uma razão ou outra, ficaram para sempre no chão angolano.
Há poucos anos, profissionalmente viajando pela Guiné (ex-portuguesa), impressionou-me, negativamente, encontrar no cemitério central de Bissau, uma capela com urnas de militares portugueses, identificadas e violadas - a olho nu se vendo ossadas de quem, sem regatear, serviu os desígnios do país, por lá ficando para sempre. 
E sempre em emociona saber que, dos vários teatros de guerra, são trazidos os restos mortais de heróis desconhecidos, que deram a vida em continência à bandeira. É obrigação do país e de quem o governa(ou).
Aqui, deixem-me sublinhar, nada importa saber quais e a justiça dos desígnios patrióticos, de qualquer tempo ou regime. Cobardes, daqueles que fugiram e se (ou os) fizeram heróis, todos nós conhecemos alguns.
O Queirós, um os furriéis da mítica Zalala, mandou-me foto de Vista Alegre (por onde também jornadeou a 1ª. CCAV.), junto do monumento que lá homenageava aqueles que, naquela zona de acção militar dos Cavaleiros do Norte, «tombaram por Portugal».
Aqui fica a nossa continência de respeito e saudade!

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

1 415 - Os 71 anos do Coronel Themudo

O capitão Themudo (à direita), na varanda do edifício 
do comando do BC12, com o alferes João Machado, 
da 2ª. CCAV., a de Aldeia Viçosa (à esquerda) e o capitão José Paulo Falcão

O 2º. comandante dos Cavaleiros do Norte completou 71 anos a 17 de Setembro deste 2012 que corre: o coronel Themudo. De boa saúde e pela Lisboa, a capital do ex-império.
O então capitão de cavalaria José Diogo da Mota e Silva Themudo chegou a Carmona em Março de 1975, substituindo o major José Luís J. Ornelas Monteiro - que se apresentara em Santa Margarida, a 4 de Fevereiro de 1974, mas que, nas vésperas do embarque da CCS para Luanda (a 29 de Maio), foi requisitado pelo MFA, «por motivos imperiosos de serviço» e por cá ficou.
O batalhão esteve «órfão» de 2º. comandante até que, contou-nos ele (o coronel Themudo) em Abril de 2010, por «um feliz ou infeliz acaso», foi num dia de Março de 1975 ao aeroporto de Luanda, despedir-se de um camarada de armas, e encontrou o então tenente-coronel Almeida e Brito, que o convidou para 2º. comandante do Batalhão de Cavalaria 8423.
José Diogo Themudo, que então se sentia já «farto de nada fazer» em Luanda, resolveu aceitar o convite, «apesar das funções serem de major e eu ainda ser capitão».
Sem demora, estava em Carmona e no Batalhão de Cavalaria 8423, e deixavam os Cavaleiros do Norte de estar órfãos do 2º. Comandante. A
 24 de Março de 1975, assumiu o comando interino, dado o tenente-coronel Almeida e Brito ter sido deslocado para o comando da ZMN.
Foi louvado, no final da comissão, pelas «elevadas qualidades militares demonstradas no desempenho das funções de 2º. comandante», dando, neste magistério,  «provas da sua já comprovada competência profissional».
O louvor exalta a sua «completa serenidade» durante «o grave conflito armado entre movimentos de libertação», quando, frisa, «soube obter o melhor rendimento do escasso pessoal de que dispunha e, ao mesmo tempo, assegurar a segurança a elevado número de refugiados que solicitaram a protecção das NT».
Ponderação, coragem espírito de missão e de sacrifício são virtudes sublinhadas no louvor proposto pelo comandante Almeida e Brito e atribuído pelo Comando Territorial de Carmona.
As nossas continências, coronel Themudo, pelos 71 anos que festeja! Hoje falei com ele e está em grande forma!

terça-feira, 18 de setembro de 2012

1 414 - O abraço à madrinha que era retornada de Angola


Nova Lisboa, férias militares em Abril de 1975. 
Um Cavaleiro do Norte (do Quitexe) com a madrinha Isolina

A minha chegada de Angola, muito desejada meses e meses seguidos, a fio..., veio ensombrada pelo não achamento de alguns familiares e amigos - que intensamente procurei no aeroporto e em Luanda, nos meus últimos dias de África. Vinha naquele luto, semeado na alma. Era o constrangimento e a decepção de nada poder dizer a quem por eles me perguntasse. E tanta gente seria. E foi!!!
Familiares e conterrâneos em Angola, eram mais de uma centena - muitos dos quais eu tinha visitado, ora nos desenfianços a Luanda, ora nos dois meses de férias que por lá vivi. Uma pessoa muito especial: minha madrinha Isolina, viúva de Arménio - o meu padrinho de baptismo, que em Angola morrera de acidente e estava enterrado no cemitério da Gabela. Aqui a reencontrei em Setembro de 1974, revendo-a em Abril de 1975, já em Nova Lisboa.
O que seria feito dela? E da filha Cecília e do genro Rafael, com quem vivia. E os 4 netos? E o Mário, o outro filho, e a Clarisse (a nora), que pela Gabela faziam vida em fazenda, com os 4 filhos?!
Ainda em Luanda, por todo o mês de Agosto e até 6 ou 7 de Setembro de 1975, procurei-os a todo o custo, pelo aeroporto e com o Albano Resende, entre os milhares de retornados que esperavam boleia aérea para Lisboa. Cheguei a ir à Emissora Oficial de Angola, que tinha um programa especial para localizar pessoas, cujo paradeiro se desconhecia, nesses amargos tempos de guerra. Mas sem conseguir. Nem as dezenas de telefonemas para o Hotel Bimbe, que a Cecília geria em Nova Lisboa. Tudo esbarrou no silêncio.
Imaginam a alegria quando, já na casa da aldeia e logo após a chegada, soube que chegara uns dias antes e estava com os netos numa casa de família. Lá fui rever e abraçar a minha madrinha, que deu notícias dos filhos, família e outros conterrâneos que faziam vida por Nova Lisboa e Gabela. Chegaram algumas semanas depois, na ponte aérea que os levou pelo Gabão, até Lisboa.
Também eles foram actores desse tempo da história.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

1 413 - Os dias de Angola lembrados no Portugal novo

Viegas, Mosteias e Neto em Julho/Agosto de 1975


A chegada a Portugal, para quem vinha de Angola e da guerra urbana que por lá matava gente todos os dias, era uma espécie de bálsamo. E na minha aldeia, ainda hoje tranquila, era como chegar ao paraíso - onde todos nos perguntavam tudo. 
Para nós, era um descoberta: a do Portugal novo.  
Par nós, era a descoberta de um novo vocabulário: o fascismo e a reacção, o colonialismo, a ditadura, a extrema direita e a estrema esquerda, a exploração dos trabalhadores, as intentonas e as barricadas, as revoluções, as manifestações, as greves, o gonçalvismo e muitos outros ismos que a memória foi deixando perder.
Por mim, aqui chegado a uma terça-feira (9 de Setembro de 1975), apenas no sábado (dia 13) me decidi por ir a Águeda - onde o mercado-feira semanal era (e é) ponto de encontro de muita gente. 
Estava no auge o ELF (Exército de Libertação de Fermentelos - a vila da Estalagem das Pateira, que os Cavaleiros do Norte bem conhecem -, de quem, por ser fartamente reaccionário, se diziam cobras e lagartos. Na verdade, vim a saber, tudo não passava de uma brincadeiras de um grupo de pessoas que, por altura das eleições do 25 de Abril desse ano (as Constituintes), andaram de carrinha e aparelhagem sonora a fazer propaganda dos partidos menos à esquerda (mesmo bem longe) do Portugal político que então levedava.
A brincadeira, porém, deu em coisa séria por muito tempo e não faltou quem, do dito ELF, malhasse com os ossos na prisão, já pelo 1976 dentro. Histórias que não vem muito a este cantinho dos Cavaleiros do Norte.
A 37 anos de distância, seguro da opinião, não tenho dúvidas em dizer que senti encontrar um Portugal inseguro, diria que à deriva, num Setembro quente de preocupações (que daria no 25 de Novembro) e que assemelhei às tragédias de nervos e de medos que deixáramos para trás, em Luanda.
Agora vos digo, e acreditem, emocionei-me ao rever-me no cidadão (ex-militar) que descobriu esse Portugal novo de 1975. O Portugal que nos trouxe aos dramáticos dias de hoje.

domingo, 16 de setembro de 2012

1 412 - Medalha comemorativa da campanha em Angola 74/75



Oficiais, sargentos e praças do Batalhão de Cavalaria 8423, todos eles, foram galardoados com a Medalha Comemorativa das Campanhas do Exército Português, com a legenda «Angola 74-75».
A medalha será idêntica à da imagem, mas receio que algum dos Cavaleiros do Norte a tenha recebido. Eu não recebi, nem nenhum dos companheiros que contactei - a maior parte deles, de resto, ignorando até tal condecoração.
A medalha foi criada em 30 de Novembro de 1916, pelo Decreto nº. 2870, em conjunto com a Cruz de Guerra, a Medalha Comemorativa de Campanhas comemora as campanhas das Forças Armada Portuguesas fora de Portugal metropolitano, principalmente face ao contexto da entrada portuguesa na 1ª. Guerra Mundial. 
A medalha é atribuída “aos militares que tenham servido em situação de campanha” (Art. 46.º do Regulamento de 2002). Funciona como medalha geral, sendo cada campanha específica indicada pela colocação de uma passadeira na fita, com a identificação da comissão militar.
O comandante Almeida e Brito, no Livro da Unidade, não se reportando directamente às medalhas, sugere aos Cavaleiros do Norte que «pela vida fora recordem esta vossa passagem pela vida militar, porquanto ela forçosamente terá deixado marcas positivas na vossa formação de homens de amanhã».
Passados exactamente 37 anos, aqui andamos nós - desde Abril de 2009 - a falar da nossa jornada em chão angolano do Uíge.

sábado, 15 de setembro de 2012

1 411 - Louvor oficial aos Cavaleiros do Norte

gg
O Batalhão de Cavalaria 8423 regressou a Portugal, com a certeza e o orgulho de missão cumprida, trazendo no bornal um louvor oficial da Região Militar de Angola, publicado na Ordem de <serviço nº. 68, de 26 de Agosto de 1975. «Para orgulho de todos nós, pois que tal se deve a oficiais, sargento e praças», como sublinha o Livro da Unidade.
Publicamo-lo na íntegra:

LOUVOR
Louvo o BCav 8423 porque durante o tempo em que prestou serviço no Norte de ANGOLA, nas áreas do QUITEXE e de CARMONÁ, manifestou sempre uma grande determinação, uma constante vontade de bem cumprir, um elevado espírito de disciplina e uma noção perfeita de como uma Unidade se deve adaptar às tarefas que haja que executar de perfeita harmonia com as determinações dos seus superiores hierárquicos.
Da sua acção muito beneficiaram as populações locais de todas as etnias pois pelo justo e equilibrado tratamento das missões que o BCav 8423 cumpriu ressaltaram, além das características já referidas, a aplicação de um espírito humanitário que o guindou a posição de grande admiração e respeito pela forma como conseguiu, em atitude de perfeita isenção, proteger todos os que às suas instalações se acolheram e posteriarmente manter a mesma atitude, para, finalmente, cumprir com brilhantismo uma das que certamente foi a sua mais delicada e difícil tarefa.
Da acção de todas as suas Praças, Sargentos e Oficiais se fica a dever, tanto na área do QUITEXE como na de CARMONA, o estabelecimento de um clima de segurança efectiva pelo que é com a maior justiça que em simples louvor se leva ao conhecimento de todos a forma como o BCav cumpriu a sua missão, dentro do maior espírito de disciplina, evidenciando qualidades hoje já muito raras, constituindo assim uma Unidade que mercê da acção do Comando e seus graduados nunca conheceu a chamada crise de disciplina, cumprindo exemplarmente todas as tarefas de que foi incumbido, grande parte delas em período muito sensível do processo de descolonização de ANGOLA.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

1 410 - Os Cavaleiros de Santa Isabel voltaram para Portugal

 Os Cavaleiros do Norte de Santa Isabel regressaram a Lisboa no dia 11 de Setembro de 1975, com o adeus à Luanda onde tinham chegado a 5 de Junho de 1974. Justamente, 15 meses antes e depois de uma  jornada que passou pelo Quitexe e Carmona.
O comandante era o capitão miliciano Fernandes e o corpo de oficiais milicianos era formado pelos alferes Rodrigues (que comigo concluiu o curso de Operações Especiais (os Rangers de Lamego, de Julho a Setembro de 1973) e os atiradores de cavalaria Barros Simões (agora nas Caldas da rainha), Pedrosa de Oliveira (em Leiria) e Carlos Silva (que goza as delícias da reforma por terras de Ferreira do Zêzere).
É dele a história mais bonita desta gente que, de missão cumprida, regressou a Portugal. É que, perdido de amores, a Portugal veio mas a Luanda voltou, para lá se casar com a mulher dos seus sonhos - com quem ainda hoje se perde e abraços e colo.
«Como sabes, o meu coração ficou em Luanda!  E naquele tempo, com tanta confusão a nível de guerra (guerrilha) por lá, a minha partida não foi fácil e j+a fazia contas ao regresso a Angola, o que aconteceu logo após a minha passagem à disponibilidade, a 26 de Setembro», recorda o próprio Carlos Silva.
O casamento foi em Luanda, a 18 de Outubro desse ano de 1975.
Ver AQUI

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

1 409 - O regresso dos Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa

Letras, Costa, Guedes e Gomes, quatro Cavaleiros 
do Norte de Aldeia Viçosa. Em baixo, o 2º. sargento Eira

A 2ª. Companhia de Cavalaria 8423 voou de Luanda para Lisboa a 10 de Setembro de 1975. Para trás, ficaram 15 meses de comissão e um mar de emoções que ainda hoje não lhes esquecem - desde a chegada ao Grafanil, a 4 de Junho de 1974.
Os Cavaleiros do Norte eram comandados pelo capitão miliciano Cruz e saíram do Grafanil para Aldeia Viçosa (já com 36 militares angolanos, dos chamados  de mesclagem) no feriado nacional de 10 de Junho. Por lá ficaram até 11 de Março de 1975, quando rodaram para Carmona - numa operação que começara no dia 2 anterior. 
A chegada a Lisboa ocorreu por volta das 18 horas de 10 de Setembro de 1975, cada cavaleiro partindo para o seu chão natal, pelo melhor meio que pôde e o mais rápido possível, para matar as saudades que lhes engravidavam a alma.
O Guedes lembra-se que, com o Zé Gomes e o 2º. sargento Eira - e «outro companheiro, que agora não me recordo», diz ele - terem alugado um táxi, até ao Porto (Campanhã), onde apanhou o comboio para a Régua.
«Cheguei lá por volta das 5 da manhã e depois fui de carro de praça para Silvares, onde minha falecida mãe me abriu a porta de casa», conta o Guedes.
A caminho do Porto, pararam na Mealhada, mas, imagine-se, e cito o Guedes, «não comemos leitão, julgo que jantámos frango na caçarola»
Fosse o que fosse, já sabia à comida das mãezinhas de todos nós. E, para trás, ficavam os sons e os cheiros de uma guerra que nos meteu medos, embora nunca nos matasse a coragem. 
- EIRA. Manuel Alcides da Costa Eira, 2º. sargento enfermeiro. 
Chegou à 2ª. CCAV. 8423 em Abril de 1975, já em Carmona. 
Militar aposentado, reside em Vila Real. 
A foto é de 2 de Junho de 2012. 
                                         

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

1 408 - Os Zalala´s voaram de Luanda para Lisboa...

Grupo de combate da Companhia de Zalala, com 
os furriéis Queirós (a vermelho) e Eusébio (a branco) 

Aos nove dias de Setembro de 1975, aprontou-se a 1ª. CCAV. 8423 - a de Zalala!... - para voar de Luanda para Lisboa e, para trás das costas, deixar a terra angolana, por onde jornadeou desde 1 de Junho de 1974. 
O comando era do capitão miliciano Castro Dias e o pouso na mítica Zalala foi de 7 de Junho até 25 de Novembro - quando rodou para Vista Alegre e Ponte do Dange. 
Os Zalala´s por estes dois pontos do Uíge angolano se mantiveram até 24 de Abril de 1975, quando passaram para o Songo (com um destacamento temporário em Cachalonde), antes de rodarem para Carmona - a 6 de Junho do mesmo ano de 1975.
Os seus primeiros dias na capital uíjana foram passados no BC12, a ajudar  a instalar os civis que com eles vieram integrados na coluna militar, sendo mais tarde colocados no edifício já então extinto Comando da Zona Militar Norte (ZMN), mesmo no centro da cidade.
Os momentos bem difíceis que se tinha passado em Carmona, nos primeiros  dias desse dramático mês de Junho de 1975 aprudentaram decisões e comportamentos da guarnição, reforçada com os Cavaleiros do Norte de Zalala para que pudesse «acorrer a situações semelhantes às vividas na primeira semana do mês», assim sublinha o Livro da Unidade.
Por lá estiveram os Zalala´s, até 3 de Agosto de 1975, quando (com a CCS) voaram para o Campo Militar do Grafanil, onde se aquartelaram no espaço que era do Batalhão de Intendência. Até 9 de Setembro, quando os seus militares voltaram às suas origens portuguesas da Europa. A CCS tinha vindo na véspera.
- FOTO. Quem nos pode ajudar a 
identificar os militares da foto? 
Foto cedida pelo Queirós.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

1 407 - E cá cheguei eu...

A última (?) fotografia de Luanda: os amigos Carlos Sucena e Gilberto, os furriéis Viegas e Neto

Águeda ficou para trás e lá veio o motorista Benigno, no SIMCA 1100, trazer-me a casa, já íamos lá (talvez) pelas uma e tal, duas horas da madrugada de 9 de Setembro de 1975. Eu tinha conseguido guardar o segredo de minha chegada, mas estava na hora das emoções desse momento. Como reagiria minha mãe, que eu tinha deixado 15 meses antes, viúva e doente, sozinha na nossa modesta casa de aldeia, partindo para uma terra e uma guerra de onde não sabia se voltaria?
Cuidado disso, achei por bem ir directamente a casa de minha irmã, para que viesse acordar a nossa mãe. Bati-lhe no vidro da janela do quarto e falou-me meu cunhado. 
«Sou eu...», disse-lhe, ouvindo-o de dentro, a acordar a  minha irmã.
«Está ali o teu irmão!!!...».
Levantaram-se ambos e lá viemos, até este sítio onde agora bato as teclas do blogue, para acordar minha mãe - que, ao chamamento da janela, abriu a porta da modesta sala e soltou um sereno «então já vieste, rapaz?!!!!...» que lhe baptizou a alegria de ver chegar o filho, o varão da família e o mais novo. O filho que vinha da guerra! São e salvo!
O Benigno, certamente cansado das duas viagens do dia -  para e de Lisboa -, carreou as duas malas que eu trazia e pôs-se a olhar, de prazer, o reencontro de alegria da família que se refazia. Bebemos um copo, um whiskye cada um, em copos de vinho do Porto (que outros mais próprios não havia cá por casa), e foi-se ele embora e eu à gaveta da cozinha, fatiando a broa que me ia aconchegar o estômago, com os rojões que minha mãe já aquecia na lareira. Depois, cama para que te quero!!! E que saudades tinha eu do velho colchão onde estiquei o corpo da minha adolescência!
Ver AQUI

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

1 406 - A viagem para Águeda e os abraços da família...

Viegas e Neto, no jardim do Quitexe, em 1974, há 38 anos!!!

A 9 de Setembro de 1975, depois da paragem de Alcoentre, viajámos - eu e o Neto, com o Benigno, motorista do pai deste meu furriel-irmão – pela EN1, que não era rápida, nem segura, mas pela qual viemos de sul para norte e a ouvir histórias do Portugal em que medrava a revolução que viria a ser conhecida por Verão Quente de 1975.
O Conselho da Revolução, com nova composição e dominado pelos moderados do Grupo dos Nove, decidira, justamente o dia da nossa chegada (8 de Setembro),  tomar «as necessárias medidas disciplinares» contra os soldados da Polícia Militar por terem recusado embarcar para Angola e analisara «as graves» afirmações de Emídio Guerreiro e Vasco Graça Moura, no comício do PPD (o actual PSD) de 5 de Setembro. Mas não tomou qualquer decisão. 
Aqueles dirigentes defenderam que o MFA, o CR e o Directório «deviam ser dissolvidos» e que o PPD estava disposto a armar 50 mil homens. 
Não sabíamos de nada disto, na nossa viagem para Águeda, e muito menos que Aquilino Ribeiro Machado, deputado do PS, se tinha referido à descolonização de Angola, que citou com «destroçada pela guerra civil, desmoralizada e arquejante».
Chegámos a Águeda e à Bicha-Moura, terra-mãe do Francisco Neto, onde nos esperavam os pais dele, os irmãos e a namorada Ni. Já passava da meia noite e foram momentos de emoção viva, regados de abraços e beijos e consolos de alma. E eu, ali de lado, a olhar, sossegadinho, a sentir e a deixar levedar a emoção e a interrogar-me de como, dentro de meia hora, uma hora!!!, por aí..., reagiria minha mãe - que a 7 quilómetros dormia o sono de mãe viúva, certamente depois de mais uma oração pelo filho ausente na guerra. Sem imaginar que eu estava já ali tão perto.

domingo, 9 de setembro de 2012

1 405 - A chegada da CCS, greves, atentados, os SUV e a queda do Governo

Apresentação dos SUV, na véspera da chegada da CCS do BCAV. 8423

A CCS do BCAV. 8423 desembarcou no aeroporto de Lisboa ao fim da tarde de 8 de Setembro de 1975, depois do voo dos TAM, desde Luanda. Não sem alguma emoção a encher a alma (nomeadamente de minha parte) ao ver familiares a abraçar Cavaleiros do Norte que chegavam. E dessa estava eu livre, pois ninguém sabia de mim.
Eu, o Neto e o Mosteias, lamentavelmente para nós, fomos dos últimos a sair da gare - por termos presos a entregar a uma PM que não chegava mais. E não chegou. Desembaraçado - e seguramente mortinho por se abraçar à sua Leonor e pegar no colo o filho de quase um ano -, o Mosteias indagou o seu «preso» sobre se sabia o destino da guia de marcha. Como sabia, dispensou-o e lá foi ele. Olhámos um para o outro, eu e o Neto, e vá de nos desalgemarmos dos nossos e lá foram eles à vida deles. E  nós à nossa. 
Os largos minutos de espera no aeroporto deram para saber de novidades de Lisboa, que  tanto queríamos saber. E uma delas talvez explicasse a ausência dos PM´s que deveriam levar os «presos»: é que, na véspera, tinha-se realizado uma manifestação de centenas de soldados e milhares de pessoas em apoio à resistência das Companhias 8243 e 8246 do Regimento de Polícia Militar à mobilização para Angola. A palavra de ordem era “nem mais um embarque, regresso dos soldados”.
Outra novidade, chocante (para a formação militar dos Cavaleiros do Norte), foi a apresentação dos SUV, numa conferência de imprensa, também da véspera (7 de Setembro) e dada no Porto por dois soldados e um oficial), «embuçados por razões de segurança». 
Vínhamos nós de uma Angola a ferro e fogo e desembarcávamos num Portugal onde o V Governo pedia a demissão (a 7 de Setembro), se registavam atentados bombistas, o MRPP incentivava os retornados a ocupar as casas desocupadas, se repetiam greves, manifestações, plenários e proibições.
O Conselho da Revolução (dominado por militares do Movimento dos Nove) proibiu a divulgação «de relatos ou notícias de quaisquer acontecimentos ocorridos em unidades» militares, ou de «tomadas de posições, individuais ou colectivas, de militares», ou a divulgação de «quaisquer comunicados, moções ou documentos». Somente o Presidente da República, o CR e os chefes de Estado-Maior poderiam fazer declarações ou tomar posições.
O general António de Spínola em Paris, prosseguia contactos com militares e civis, disposto a pôr-se à cabeça de «um vasto movimento democrático» de oposição à via da Revolução Socialista em Portugal. Olhem só onde se vinham meter os Cavaleiros do Norte!
O bom de Benigno, motorista da FRAL (empresa do pai do Neto) foi paciente na sua espera por nós, lá acomodámos as malas no carro e parámos em Alcoentre, para comer bacalhau (que saudades!) e beber vinho branco! Águeda e as nossas casas estavam a umas três horas e tal de EN1.
- PM. Polícia Militar.
- TAM. Transportes Aéreos Militares.
- SUV. Soldados Unidos Vencerão

sábado, 8 de setembro de 2012

1 404 - Adeus Luanda, adeus Angola!...

Avião Boeing 737, dos TAM. Neste, ou no outro igual, voámos há 37 anos para 
Lisboa, do aeroporto internacional de Luanda, de uma Angola que ia nascer como país

A 8 de Setembro de 1975, por esta hora, voavam os Cavaleiros do Norte da CCS pelos céus de África, a caminho de Lisboa, galgando os mais cerca de 5800 quilómetros de viagem aérea que separa as duas capitais. 
Luanda, que ainda vimos do ar durante alguns minutos - enquanto o Boeing 737 dos TAM apontava rumo à Europa e às nossas berças -, Luanda ficava para trás, com os seus mistérios e as suas dores, em ambiente hostilizado pela guerra que (ainda) levaria anos e anos a matar, até que ela própria morreu.
A viagem, de mais ou menos 8 horas, dava (e deu) para chegar ao fim da tarde a Lisboa, onde nos esperava o Benício, motorista da fábrica do pai do Neto. Ele nos traria para Águeda e lá estava! Foram horas, as de viagem, horas de dar corda à imaginação e à emoção.
Saíra eu de casa, meses depois da morte de meu pai, e a ela regressava sem dizer que chegava. Ia aparecer de surpresa e dela (da surpresa) tinha cuidado bem guardar, por exemplo através do Neto, pedindo à mãe que à minha nada dissesse, se se encontrassem no mercado de Águeda, o de 6 de Setembro (que era sábado). 
Só tinham passado 15 meses desde que saíramos de Lisboa, mas pelas nossas vida tinha passado um mar de coisas, no turbilhão da vida que então mudou Portugal. E a minha mãe? As minhas irmãs e cunhados?! E os meus sobrinhos?! Já tinha três e só conhecia a Susana e o Zé Fernando, ambos meus afilhados. A Marta nascera dias antes, a 10 de Agosto! E os vizinhos? E os amigos? E Portugal?
O céu de Lisboa deixou-se rasgar pelo Boeing 737 dos TAM e os perto de 200 passageiros desceram, todos estranhando a leveza do sol, a diferença de cheiros, a forma como os militares de apresentavam e as pessoas andavam. Também nós chegávamos a um país novo e já lá vão 37 anos!
- TAM. Transportes 
Aéreos Militares.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

1 403 - Angola em Águeda, 37 anos depois!!!...

Neto e Viegas, a 7 de Setembro de 2012, em Águeda

A 7 de Setembro de 1975, no campo militar do Grafanil, os Cavaleiros do Norte da CCS já estavam de malas feitas para a viagem aérea que, do aeroporto internacional de Luanda, os traria (e trouxe) aos cheiros de Lisboa e, destes, para as suas terras de natais e aos abraços e colos da família e dos amigos. 
Riscava-se o último dia do calendário da nossa jornada angolana e comemos pastéis, muitos pastéis (que por lá já não abundava a comida de garfo...) e bebemos vinho branco. Muito, é verdade, mas quanto... baste! Sem excessos que nos fragilizassem. 
A partida para Lisboa estava marcada para as 8 horas da manhã de 8 de Setembro de 1975! E tínhamos de estar duas horas antes no aeroporto.
Agora, 37 anos depois, eu e o Neto fizemos a celebração do costume, comungando na Festa do Leitão à Bairrada, em Águeda, o saboreio da famosa iguaria gastronómica e baptizando-a com fartas recordações dos tempos em que fomos irmãos de armas e de sangue. 
Somos ambos de Águeda, vastas vezes durante o ano nos sentamos a deliciar os apetites e a consolar a alma, e tornou-se um ritual, por estes dias da folia aguedense, descer ao parque do Botaréu da cidade para regalarmos a memória e regarmos o espírito com o desfiar das saudades do tempo em que, aos 23 anos, muito menos importância dávamos ao que agora damos.
Estamos mais emotivos, mais velhos, mas sempre saudosos do terra angolana e dos tempos em que, por lá, nos fizemos mais maduros.
- ADEUS, ANGOLA, QUE
VOU PARA PORTUGAL.
Ver AQUI