domingo, 31 de janeiro de 2016

3 292 - Cavaleiros inspeccionados e Governo de Transição de Angola

O Governo de Transição de Angola, que tomou posse a 31 de Janeiro 
de 1975 - hoje se passam precisamente 41 anos!

O furriel Mário Matos, da 2ª. CCAV. 8423, é
o «bigodes» dos três Cavaleiros do Norte da
foto de baixo, a 9 de Setembro de 1995. Quem
são os dois que o ladeiam? Em cima, está o furriel 

mecânico Amorim Martins, da 2ª. CCAV. e que mora 
em Pegões (Vendas Novas), acompanhado 
de mulher e filho?

Há 42 anos, dia 31 de Janeiro de 1974, uma sexta-feira, o coronel Paixão, da Inspecção Geral de Educação Física do Exército (IGEFE), esteve no Batalhão de Cavalaria 8423. Para quê? Em inspecção de rotina à Escola de Recrutas, tal qual acontecera a 23 do mesmo mês e ano, quando lá esteve o coronel Magalhães Corrêa (da DAC).
As inspecções eram normais, ao tempo, e os futuros Cavaleiros do Norte preparavam os seus praças para a jornada africana de Angola, se bem que a generalidade deles da mobilização soubesse apenas por nós, os instrutores - então aspirantes a oficiais milicianos e 1º.s cabos milicianos, futuros alferes milicianos e furriéis milicianos.
Um ano depois, já no Uíge angolano e no oitavo mês de jornada, os Cavaleiros do Norte «assistiram» à tomada de posse do 1º. Governo de Transição de Angola, em Luanda. A cerimónia foi presidida pelo ministro Almeida Santos. O Alto-Comissário era o general Silva Cardoso, com os ministros portugueses Viera de Almeida (Economia), Albino Antunes da Cunha (Transportes e Comunicações) e Manuel Azevedo Ribeiro (Obras Públicas, Habitação e Urbanismo) e os três movimentos de libertação integraram os seguintes elementos:
Notícia do Diário de Lisboa de 31 de
Janeiro de 1975, sobra a tomada de posse
do Governo de Transição de Angola
- MPLA: Lopo do Nascimento (no Colégio Presidencial) e os ministros Manuel Rui (Informação), Saidy Mingas (Planeamento e Finanças) e Diógenes Boavida (Saúde). Secretários de Estado: Augusto Lopes Teixeira (Indústria e Energia), Cornélio Coley (Trabalho) e Henrique Santos (Interior).
- FNLA: Johnny Eduardo (Colégio Presidencial), Kabaeu Sauhde (Interior), Samuel Abrigada (Assuntos Sociais) e Mateus Neto (Agricultura). Secretários de Estado: Graça Tavares (Comércio), Hendrick Val Neto (Informação) e Bapista Nvuvulu (Trabalho).
- UNITA: José N´Dele (Colégio Presidencial) e os ministros Eduardo Wanga (Educação), António Dembo (Trabalho) e Jeremias Kalundula Chitunda (Recursos Naturais). Secretários de Estado: Jaka Jamba (Informação), Manuel Alfredo Teixeira (Pescas) e João Waiken (Interior).
A cerimónia decorreu no salão nobre do Palácio do Governador, em Luanda, e Almeida Santos, na sua intervenção, sublinhou que «é exaltante, senhor Alto-Comissário, senhores membros do Colégio Presidencial e senhores ministros, a tarefa que vos cabe, porque é honrosa, porque é responsabilizante e porque não é fácil».

sábado, 30 de janeiro de 2016

3 291 - Cavaleiros do Norte à espera do Governo de Transição

O Quitexe, sensivelmente como era no tempo dos Cavaleiros do Norte: a zona de aquartelamento (setas 
laranja e vermelha), a Igreja da Mãe de Deus (rectângulo claro), secretaria da CCS e casa 
dos Furriéis (seta 
amarela), bar dos praças (quadrado vermelho), messe de oficiais (seta verde claro), depósito de géneros 
e padaria (triângulo amarelo), mar e messe de sargentos (seta vermelha grande), casa do comandante (seta
 branca) e enfermaria (seta amarela, à direita)

O 1º. cabo rádio-montador António Pais,
da CCS e natural de Viseu, aqui com a
família no encontro de Águeda, a 9 de
Setembro de 1995. Na imagem
de cima,  está outra família. Quem
será o Cavaleiro do Norte
de azul, à esquerda?

Quinta-feira, dia 30 de Janeiro de 1975. Era véspera da tomada de posse do Governo de Transição e, lá pelo Uíge, fervia a curiosidade por saber quem seriam os seus membros. 
A imprensa angolana que lá chegava (geralmente jornal O Província de Angola) pouco adiantava e muito menos a de Lisboa - que chegava muito mais tarde, quando chegava. Era o meu saudoso amigo Alberto Ferreira, aquartelado na Base Aérea de Luanda, quem, por aerograma, me dava algumas dicas: «Consta que no Colégio Presidencial pelo MPLA vai estar Lopo do Nascimento, José N´Dele pela UNITA e Johnny Eduardo da FNLA, mas uma série de ministros, cujos nomes pouco conheço...», escrevia-me ele, a 28 de Janeiro desse ano de 1975, em correio que recebi a 30 - hoje de passam 41 anos.
O ministro da Economia, e isso já era certo, seria o português Vieira de Almeida. Tinha sido ministro da Economia e Finanças do 1º. Governo Provisório que se seguiu ao 25 de Abril, em Lisboa.
O aerograma que recebi de Alberto Ferreira,
há precisamente 41 anos, com notícias sobre o
Governo de Transição de Angola. Eu numerava
 o correio que recebia. Este, é o nº. 31
A noite da véspera, em Luanda, fora tempo para um motim ma Cadeia Civil. Soldados portugueses dispararam para o ar, durante a insurreção, e também acudiram patrulhas da FNLA e do MPLA «para controlar a situação». O incidente provocou ferimentos em em dois reclusos e a evasão de uns quantos (um número desconhecido).
A cidade, ainda assim, estava calma e os presos reclamavam «uma amnistia, por altura da tomada de posse do Governo de Transição» - marcada para o dia seguinte.
Calma ia também a ZA dos Cavaleiros do Norte, remetida a aquartelamentos na zona do asfalto, na Ponte do Dange e Vista Alegre (onde estava a 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala, comandada pelo capitão miliciano Davide Castro Dias), em Aldeia Viçosa (operacionalmente dependente da 2ª. CCAV., do capitão miliciano José Manuel Cruz) e Quitexe - onde estava o Comando do Batalhão (do tenente coronel Almeida e Brito), a Companhia de Comando e Serviços (CCS,do capitão SGE António Oliveira, e a 3ª. CCAV. a de Santa Isabel, do capitão miliciano José Paulo Fernandes.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

3 290 - Agitadores em Luanda e expectativas no Uíge !!!

Cavaleiros do Norte de Zalala: o furriel José António Nascimento 
(vagomestre), o alferes Mário Jorge Sousa (Rangers) e o soldado João 
Gonçalves (conhecido por Bigodes e Cigano)

Cavaleiros do Norte em Águeda, a 9 de
Setembro de 1995, Na foto de baixo e da direita
para a esquerda, os 1º.s cabos José Esteves e
Domingos Teixeira, da CCS. E o outro a seguir? O
«bigodaças» de cima é o Armando Silva, soldado 

clarim da 3ª. CCAV. 8423 , a de Santa Isabel




Quarta-feira, 29 de Janeiro de 1975. A cidade de Luanda estava «invadida» por «agitadores, a soldo não se sabe de quem», que andavam nos subúrbios a «incitar a população para distúrbios no dia 31» - o dia da «tomada de posse do Governo de Transição, que há-de levar Angola à independência completa».
O MPLA, em comunicado, apelou aos seus militantes e simpatizantes para «denunciarem os agitadores que conseguirem identificar», ao mesmo tempo que os aconselha(va) a «não se deixarem arrastar por manobras que só poderão desprestigiar o movimento», como reportava ao Diário de Lisboa.
Jonas Savimbi, o presidente da UNITA e falando em Nova Lisboa (ver ontem), também se referiu à «acção dos agitadores» e falou da «ameaça de um golpe de estado em Portugal». «Há forças que se preparam para um contra-golpe e, quiçá, denunciarem os acordos concluídos com os movimentos de libertação de Angola», afirmou Savimbi, frisando que «há ainda inimigos da nossa independência, que trabalham de dia e de noite».
Notícia do Diário de Lisboa de
29 de Janeiro de 1975, sobre a
actualidade angolana
A Luanda chegaram, entretanto, idos de Kinshasa, os membros da FNLA que iriam fazer parte do Governo de Transição, muito embora não fossem revelados os nomes. Sabia-se que da UNITA seria José N´Dele a integrar o Conselho Presidencial. Natural de Cabinda, tinha feito pare da delegação do movimento de Sabimbi na Cimeira do Alvor (Penina).
Os Cavaleiros do Norte, lá pelo Uíge, como que passavam à margem destas movimentações - embora nelas interessados. Os movimentos independentistas continuavam a sua acção de politização do povo, mais a FNLA e o MPLA, menos a UNITA (por lá pouco ou nada enraízada). O Quitexe (a sede do Batalhão de Cavalaria 8423), como sublinha o Livro da Unidade, «é (era) quase na íntegra da FNLA», enquanto que «nas áreas de Aldeia Viçosa e Vista Alegre se verifica(va) uma mesclagem deste movimento com o MPLA». Só que não se entendiam, como aconteceu no comício de 26 de Janeiro de há 41 anos.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

3 289 - Comandante no Sector e Savimbi em Nova Lisboa

A chegada de Jonas Savimbi, presidente da UNITA, a Nova Lisboa (Huambo), 
a 27 de Janeiro de 1975, terá envolvido meio milhão de pessoas. A foto é 
do jornal A Província de Angola, de 28 de Janeiro desse ano


O furriel António Artur Guedes e família
no 1º. Encontro dos Cavaleiros do Norte, 

em Águeda, a 9 de Setembro de 1995. 
Na foto de baixo, o Rodrigo  Manteigas, 1º. 
cabo clarim da 1ª. CCAV. 8423, GNR 
aposentado, de Idanha a Nova? E o 
outro, quem o identifica?
A 28 de Janeiro de 1975, o comandante Almeida e Brito voltou ao Comando do Sector do Uíge (CSU) para mais uma jornada de «estabelecimento de contactos operacionais», acompanhado do oficial adjunto - o capitão José Paulo Falcão.
Ao tempo, recordemos, era «murmurada uma nova remodelação do dispositivo, na qual o BCAV. 8423 iria sediar-se em Carmona», no BC12 - que «desde 1961 guarnecera a capital do distrito do Uíge» e, como se lê no Outubro da Unidade, «iria ser extinto». O que se veio a confirmar no dia 2 de Fevereiro desse mesmo 1975, quando para lá foi a CCS dos Cavaleiros do Norte.
O dia era terça-feira e soube-se que o jornalista António Cardoso tinha sido libertado pela FNLA, na véspera, «a pedido da UNITA», como reportava o Diário de Lisboa, «uma vez que os trabalhadores da Emissora Oficial de Angola se recusavam a fazer a cobertura da chegada de Jonas Savimbi a Nova Lisboa». Foi entregue «muito combalido, ao comando da Região Militar de Angola»
Savimbi chegou a Nova Lisboa a 27 de Janeiro de 1975 e o DL reporta(va) que «foi ovacionado por uma enorme multidão, que alguns jornalistas calculam em meio milhão de pessoas». O DL, a rematar esta notícia, dava conta que «continua a verificar-se, de resto, um nítido parcialismo da imprensa angolana, em favor da FNLA e da UNITA e em prejuízo do MPLA».
A FNLA,  por sua vez e em comunicado a partir de Kinshasa, denunciava «a presença em Luanda de perigosos agitadores a soldo do imperialismo internacional», que, frisava o DL, «não pertenceriam a qualquer dos três movimentos de libertação e teriam tomado conta da Emissora Oficial de Angola».


quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

3 288 - Assalto à Emissora Oficial e calma na terra uíjana


Transporte de militantes para o comício de Aldeia Viçosa, que seria do MPLA 
e da FNLA. A 26 de Janeiro de 1975 e pacificado pela tropa portuguesa


Encontro dos Cavaleiros do Norte, a 9
de Setembro de 1995 - o primeiro, em
Águeda. Em cima, um trio do Comando do
Sector do Uíge: 1º. cabo Manuel Peixoto, 1º.
sargento Gualdino Luz e 1º. cabo Moisés
Carvalho. O «bigodaças» da foto de baixo é 

soldado atirador Avelino Vieira dos Santos, 
da 2ª. CCAV. 8423. Vive em Souto 
de Cima (Leiria)

A FNLA não gostou que um seu comunicado não fosse lido aos microfones da Emissora Oficial de Angola (EOA) e, na noite de 25 de Janeiro de 1975 (um sábado para domingo, o do comício de Aldeia Viçosa, aqui ontem recordado), um grupo comandado por Hendrick Vaal-Neto invadiu as instalações, segundo o Diário de Lisboa do dia 17, «paralisando-a, após destruição de algum material e agressão ao locutor de serviço».
O comunicado, ainda segundo o vespertino da capital portuguesa, «fazia graves acusações ao Governo Provisório e à Junta Governativa de Angola» e a sua não leitura tinha sido decidida por Correia Jesuíno, o Secretário de Estado da Comunicação Social, «tendo sido secundado pelos trabalhadores da emissora»
O sub-chefe de redacção, António Cardoso, foi raptado de madrugada, alegadamente por forças da FNLA, como fazia crer um comunicado deste movimento, referindo que «não é mais do que um nó de uma vasta rede anti-FNLA, à qual pertence, como ele próprio declara».
O ambiente pelos lados do Quitexe, Aldeia Viçosa e Vista Alegre/Ponte do Dange era tranquilo, apesar dos incidentes da véspera (no comício de Aldeia Viçosa) mas o mesmo não acontecia em Luanda, onde «era tenso». A EOA, nesse 27 de Janeiro de há 41 anos «continuava com a programação normal suspensa» e desconhecia-se o paradeiro de António Cardoso.
O assalto da FNLA à Emissora Oficial
de Angola (a 25) foi noticiado pelo Diário de
Lisboa de 27 de Janeiro de 1975
 
O MPLA, em comunicado, acusava a tensão luandina: «Depois dos acordos de Mombaça e da Penina (o Alvor), registou-se uma certa calma (...), mas o clima de guerra civil voltou, agora, a aparecer de novo» - provocado por «certas forças nacionalistas (...), com a aproximação da formação do Governo de Transição». O movimento de Agostinho Neto não dissociava a Revolta do Leste desta situação, citando «a presença repentina de Daniel Chipenda no Posto de Ninda, no leste do país». E a cobertura que a Chipenda era dada pelos órgãos de comunicação social, notando «a facilidade com que insistem na (sua) representatividade, colocando-se deste modo em oposição declarada ao articulado nos Acordos da Penina» - o do Alvor.
Daniel Chipenda, para o MPLA, não passava de «um agente do imperialismo internacional, cujos objectivos são sobejamente conhecidos».

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

3 287 - Comício em Aldeia Viçosa «desentendeu» FNLA e MPLA

Comício de MPLA e FNLA em Aldeia Viçosa, a 26 de Janeiro de 1975. Há 41 anos! 
Os movimentos não se entenderam, o que obrigou à intervenção da 
tropa portuguesa «em situação apaziguadora, que se conseguiu»


O 1º. sargento Fialho Panasco, da 1ª. CCAV. 8423, a
de Zalala. Com a esposa, a 9 de Setembro de
1995, no Encontro de Águeda, o primeiro dos
Cavaleiros do Norte

A 26 de Janeiro de 1975, chegaram ao Quitexe notícias menos agradáveis: o presidente do MPLA, em Dar-es-Salan, admitiu a hipótese de pedir a intervenção da Organização de Unidade Africana (OUA) para, afirmou, «resolver os problemas que Angola terá de enfrentar antes da independência». E o principal problema era o Enclave de Cabinda, onde a FLEC exigia a independência e, na versão de Agostinho Neto, «os governos vizinhos e grupos rebeldes espalham a confusão».
Outro problema era a Revolta do Leste, facção dissidente do MPLA liderada por Daniel Chipenda - que nesse dia, no Luso, deu uma conferência de imprensa, nela afirmando que «fui atacado por um autêntico agente do imperialismo e as Forças Armadas Portuguesas tentaram bloquear a minha entrada no país». Na verdade, as FAP tinham impedido uma outra conferência de imprensa e tentado evitar a entrada dos seus militares (de Chipenda) na cidade. Só desarmados. Mas «acabaram por entrar, após negociações com oficiais portugueses». 
Notícia do Diário de Lisboa, sobre a (possível)
intervenção de tropas da OUA em Angola
«Paralelamente, os meus detractores tentaram impedir que eu contactasse o nosso povo, afim de lhe explicar a situação. A nossa Delegação está pronta a entrar em diálogo imediato com o Governo Português, com a UNITA e com a FNLA», disse Daniel Chipenda, que citamos do Diário de Lisboa, ameaçando que iria visitar outros centros urbanos angolanos «com ou sem autorização».
Estas situações passavam-se longe do Quitexe (e de Carmona), mas não deixavam de preocupar os Cavaleiros do Norte. Até porque, na nossa ZA - predominantemente da FNLA - «registavam-se situações de atrito» entre este movimento e o MPLA. O Livro da Unidade regista que «a mais grave terá sido a 26 de Janeiro, aquando da abertura da Delegação da FNLA em Aldeia Viçosa».
Os movimentos pretenderam fazer um comício conjunto, mas no qual não conseguiram entendimento, o que deu origem à intervenção das NT, em situação apaziguadora, que se conseguiu», relata o Livro da Unidade. 
A paz do Alvor, como se vê, não era bem assim. No terreno, as coisas» complicavam-se.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

3 286 - Mudança para o BC12, Chipenda e Revolta do Leste

Cavaleiros de Zalala, no encontro de 9 de Setembro de 1995, em  Águeda. Da 
direita para a esquerda, os (ex)furriéis milicianos Américo Rodrigues, Jorge 
Barreto, Manuel Pinto e João Dias 

Rogério Silvestre Raposo, soldado de transmissões
da Zalala. As quedas do Duque de Bragança (à esquerda),
as portas de Zalala (em cima,  à direita) e ele mesmo, de
babas à Savimbi. Trabalha em Angola há vários anos



A extinção do Batalhão de Caçadores 12 (o BC12), em Carmona, fez admitir a probabilidade de os Cavaleiros do Norte rodarem para esta cidade, a capital da Província do Uíge. Estávamos já na última semana do mês de Janeiro de 1975 - já lá vão 41 anos, éramos meninos e moços... e já no oitavo mês da jornada angolana - e ainda se «bebiam» notícias, resultados e expectativas da Cimeira do Alvor. Desencontradas, nalguns casos..., mas sempre ansiosamente esperadas. Ir para Carmona - a cidade!!!... - era, muito naturalmente, o melhor que nos podia acontecer.
A Cimeira que «iria definir os termos da negociação da independência de Angola», como definiu, lê-se no Livro da Unidade que «polarizou todas as atenções» e foi em reflexo dela que «começou a ser murmurada uma nova remodelação do dispositivo».  Porém, relativamente a Janeiro de há 41 anos, «nada de positivo ainda se concretizou sobre tal movimento, que está esboçado mas que aguarda ainda a sanção superior, resultante de alterações que a Cimeira do Algarve possa impor», como historia o Livro da Unidade.

Junta Governativa de Angola: capitão de mar
e guerra Leonel Cardoso, brigadeiro Altino de
Magalhães, Almirante Rosa Coutinho, coronel piloto
aviador Silva Cardoso e major Emílio Silva. Em
baixo, notícia
 do Diário de Lisboa de 25 de Janeiro
de 1975, sobre as forças da Facção Chipenda - a
chamada Revolta do Leste

O dia, segundo o Diário de Lisboa, confirmou a nomeação do brigadeiro Silva Cardoso como Alto-Comissário de Portugal no Governo de Transição de Angola - confirmando-se, assim, a hipótese que sucessivamente vinha a ser apontada - já, pelo menos, desde a Cimeira do Alvor. A posse foi anunciada para o dia 28, em Belém, e no mesmo dia partiria para Luanda. Já integrava a Junta Governativa de Angola e participara na Cimeira do Alvor.

A nomeação partiu da Comissão Nacional de Descolonização e substituía o almirante Rosa Coutinho.
Enquanto isso, e segundo o jornal «O Comércio», de Luanda, Daniel Chipenda, dirigente da Revolta do Leste, uma das facções dissidentes do MPLA, entrou na cidade do Luso «às primeiras horas de ontem», dia 24 de Janeiro de 1975. E para aquela cidade se dirigia uma Companhia de 100 homens, com os comandantes Kilimanjaro e Rosa. Estava aquartelada em Ninda, onde Chipenda tinha realizado o congresso da Revolta do Leste. Queria a integração dos seus homens no futuro exército de Angola.
Forças portuguesas e do MPLA tinham tomado posição na estrada de acesso ao Luso, «estabelecendo uma barreira para impedir a entrada das forças de Chipenda» e um oficial português, ainda segundo o jornal O Comércio», propôs que «entregassem as armas para poderem entrar na cidade, mas eles recusaram, a menos que as forças do MPLA procedessem da mesma forma». Kilimanjaro, para «evitar qualquer incidente, ordenou que os seus homens retirassem para uma distância de 3 quilómetros». A FNLA, por seu lado e «saída do Luso», relata(va) o Diário de Lisboa, «começou a movimentar-se próximo do local onde estacionavam as forças de Chipenda».
O jornal O Comércio, por sua vez, acrescentava que «Daniel Chipenda tem, neste momento, forças militares estacionadas nas localidades de Bon, Ninda e Ivungo». Há 41 anos.

domingo, 24 de janeiro de 2016

3 285 - Cavaleiros do Norte à espera do Governo de Transição


Os furriéis milicianos Luís Mosteias (falecido a 5 de Fevereiro de 2013, de 
doença) e António José Cruz e o 1º. cabo Alfredo Coelho (Buraquinho), 
no encontro de Águeda, a 9 de Setembro de 1995


Os furriéis milicianos António Rebelo,
Amorim Martins, Abel Mourato (que
hoje faz 64 anos) e Mário Matos, todos da
2ª. CCAV. 8433, a de Aldeia Viçosa


Sexta-feira, 24 de Janeiro de 1975!!! Os Cavaleiros do Norte, pelo Quitexe, por Aldeia Viçosa e Vista Alegre/Ponte do Dange, continuam a sua jornada angolana da África uíjana. A Cimeira do Alvor, para nós e ao tempo, continuavam por esclarecer e perceber e os dias passavam, sem que conhecêssemos a sua evolução prática. Expectável era a constituição e posse do Governo de Transição, previsto para o dia 31 - uma semana depois.
Vista Alegre em 2010, numa foto de By Bembe,
retirada da net. Ha 41 anos, lá estava
aquartelada a 1ª. CCAV. 842334, a de Zalala
Os três movimentos nada confirmavam, quanto a nomes para o executivo, e a imprensa luandina, a única que regularmente chegava ao Quitexe (nomeadamente o jornal diário A Província de Angola) dava conta de «preocupações com outros aspecto da vida politicas do país». Por exemplo, a lei de imprensa, o direito à greve e as negociações do café - um dos principais produtos da exportação angolana.
«Estas questões são levantadas num momento em que ganha acuidade o possível domínio «partidário» sobre os órgãos de comunicação social. Acusações veladas que vão no sentido de demonstrar que o MPLA manipularia alguns desses órgãos», lia-se no Diário de Lisboa desse mesmo dia. Curiosamente, ou talvez não, notava o DL que «pelo menos três dos órgãos de informação fazem estas acusações, o que demonstra a sua oposição ao MPLA».
Faltavam cerveja e refrigerantes na capital Luanda, era contínuo o aumento de produtos e «o êxodo dos colonos continua(va)», muito embora «a um ritmo menos acelerado». 
 Um ano depois, em plena guerra civil, o MPLA estava às portas do Huambo, a antiga Nova Lisboa: «Tendo libertado cerca de 6000 quilómetros quadrados na Frente Sul, as forças das FAPLA registam em toda a zona ocidental e centro grandes vitórias, que recordam, a Norte, as que procederam a queda de Negage e Carmona». relatava o Diário de Lisboa de 24 de Janeiro de 1976, que então li aqui em casa, trazido de Águeda. 
Notícia do Diário de Lisboa de 24 de
Janeiro de 1975, sobre a situação política em Angola
As tropas das FAPLA estavam a menos de 60 quilómetros de Nova Lisboa «lançando uma ofensiva contra o Alto Hama, importante nó rodoviário que conduz ao Lobito, Huambo e Silva Porto». A ocupação de Novo Redondo tinha aberto «caminho para o Lobito e a de Calucinga para Silva Porto, onde se situa(va) outra grande base logística sul-africana». A norte, «as forças doMPLA, com colunas cubanas à frente, estão a esmagar a FNLA, avançando sobre Santo António do Zaire e Maquela do Zombo», perto da fronteira com o Zaire.

sábado, 23 de janeiro de 2016

3 284 - Cavaleiros em Aldeia Vicosa e inspecção ao BCAV. 8423

O capitão miliciano José Manuel Cruz, comandante da 2ª. CCAV. 8423, a 
de Aldeia Viçosa, e a esposa, o comandante Almeida e Brito e o capitão SGE José 
Paulo Falcão (oficial adjunto e de operações), no 1º. encontro dos Cavaleiros 
do Norte,a  9 de Setembro de 1995, em Águeda

Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa: furriéis
Guedes, Gomes, Martins (de bigode), Letras e
Jesuíno.À frente, de ambos de cigarro na boca,
Sebastião e Oliveira (cozinheiro)



O comandante Almeida e Brito esteve em Aldeia Viçosa, a 23 de Janeiro de  1975, acompanhado pelo capitão José Paulo Falcão (o oficial adjunto e de operações) para «estabelecimento de contactos operacionais» com a 2ª. CCAV. 84233 - aquartelada naquela vila e comandada pelo capitão miliciano José Manuel Cruz.
Ao tempo, murmurava-se cada vez mais a possibilidade de mais uma rotação dos Cavaleiros do Norte. Tal, era resultado das negociações da Cimeira do Alvor, sobre a independência de Angola, e não surpreenderia que a visita do (então) tenente-coronel Almeida e Brito se enquadrasse nesse âmbito.
Agostinho Neto, em Lisboa e na Associação Portuguesa de Escritores, disse «ser necessário que os povo de Angola e de Portugal se unam, porque unidos haveremos de trilhar o com caminho da liberdade, obstando a que se reinstale qualquer outro poder neocolonialista»
«Um recuo para Portugal será um recuo para Angola e um  recuo em Angola será um recuo para Portugal», afirmou Agostinho Neto, frisando também crer que «depois da independência vai haver mais negros em Portugal e mais bancos em Angola».~
Um ano antes, precisamente - dia 23 de Janeiro de 1974 - o BCAV. 8423 foi alvo de «inspecção normal de uma Escola de Recrutas», que esteve a cargo do coronel Magalhães Corrêa, da DAC. 


sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

3 283 - Cavaleiros do Norte da CCS a 4 de Junho na Maia

Imagem (menos boa) do primeiro encontro dos Cavaleiros do Norte, nos 
20 anos da chegada de Angola. A  9 de Setembro de 1995, na Estalagem
da Pateira, em Fermentelos (Águeda)


O (ex-furriel) Viegas a intervir no
primeiro encontro dos Cavaleiros do Norte,
em Águeda, na estalagem da Pateira, a
9 de Setembro de 1995


Os Cavaleiros do Norte da CCS vão reunir a 4 de Junho de 2016 na Maia, na Quinta do Galo - à Barca, na Estrada Nacional 14. Será o encontro de 2016, com concentração na Igreja Paroquial de Santiago de Custóias, em Matosinhos.
A organização é do (1º. cabo) Alfredo Coelho, o Buraquinho, com apoio directo e imprescindível dos condutores Gomes e Celestino e do escriturário Miguel Teixeira (1º. cabo) - todos eles gente do Porto. 
«Pedimos que os interessados em participar tal comuniquem com a possível brevidade, no máximo até ao dia 15 de Maio, para facilitar a organização», sublinhou Alfredo Coelho (Buraquinho), acrescentando o pedido de que «façam a possível divulgação do evento, junto de outros camaradas».
O primeiro encontro dos Cavaleiros do Norte foi precisamente 20 anos depois do regresso de Angola e decorreu em Águeda, na Estalagem da Pateira, organizado pelo (ex-furriel) Viegas. Participaram mais de 300 pessoas, entre ex-militares do BCAV. 84232 e familiares.
Os furriéis milicianos António Carlos Letras e 
António Cruz (e esposa), ambos da 
2ª. CCAV. 8423,  a de Aldeia Viçosa, no 
primeiro encontro dos
Cavaleiros do Norte, a 09/09/1995
O momento mais emotivo foi o da chamada do António Santana Cabrita, soldado básico, para, em nome de todos os Cavaleiros do Norte, entregar uma peça de faiança de Águeda ao comandante Almeida e Brito. 
«Simbolizamos neste gesto, de partilha entre a menos alta e a mais alta patente do BCAV. 8423, a comunhão de responsabilidades e solidariedade que nos levou e nos trouxe da jornada africana de Angola», disse o ex-furriel Viegas, anunciando um momento que foi intensamente vivido e aplaudido.
O comandante Almeida e Brito, por sua vez, sublinhou as virtudes militares e a soberana jornada africana dos Cavaleiros do Norte no Uíge angolano. «A missão que nos levou a Angola só nos honra. Cumprimo-la com elevação e patriotismo, em  momentos 
dramáticos, que exaltaram a capacidade, competência e desprendimento de todos nós», disse Almeida e Brito.
Os interessados em inscrever-se para o encontro da Maia podem contactar Alfredo Coelho, o Buraquinho (pelo telemóvel 
933726335), os condutores Gomes (914268534) Joaquim Celestino (912797280) e o escriturário  Miguel (966501731).

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

3 282 - Sarau no CRU de Carmona e Governo de Transição

Cavaleiros do Norte da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel, em pose fotográfica com combatentes da 
FNLA. Reconhecem-se o furriel Belo (terceiro, de pé e da direita) e o 1º. cabo Fernando 
Simões, apontador 
de metralhadora e falecido a 17 de Agosto de 1998, por suicídio (à direita). E os outros?


O capitão José Paulo Fernandes, aqui
com o 1º. sargento Francisco Marchã (à
direita), da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel
Aos 21 dias do mês de Janeiro de 1975, uma terça-feira, um grupo de Cavaleiros do Norte das 4 companhias deslocou-se a Carmona, para actuar num espectáculo do MFA. A iniciativa, no âmbito da acção psicológica, decorreu no pavilhão gimno-desportivo do Clube Recreativo do Uíge (CRU), com larga assistência popular civil.
O espaço encheu e encheram também as diversificadas actuações dos militares, de que se destacou, surpreendendo, o capitão miliciano José Paulo Fernandes, comandante da 3ª. CCAV. 8423 (a de Santa Isabel), a cantar fado de Lisboa e de Coimbra - e, deste, a Samaritana e o fado Hilário. A festa envolveu outros ramos artísticos e terminou em baile, abrilhantado pelo improvisado conjunto musical dos Cavaleiros do Norte. Com José Paulo Fernandes à guitarra.
A memória sobre este dia foi-se esvaziando nestes 41 anos que se passaram, entretanto, mas ainda se parecem ouvir os aplausos a todos os artistas que, na  noite desse 21 de Janeiro de 1975, encheram o pavilhão do CRU - a cantar, a declamar, a musicar, a revistar teatro. Pena que a não verdura da idade desse tempo não nos alimente, hoje, os neurónios, para relembrarmos os nomes do «cavaleiro» elenco que subiu aos palcos do CRU.
A primeira página do Diário de Lisboa
de 21 de Janeiro de 1975, com notícia sobre
o Governo de Transição de Angola
O dia foi de notícia sobre o Governo de Transição de Angola: «Deverá estar formado até ao dia 31 de Janeiro, segundo os termos do acordo que amanhã vai ser assinado entre o Governo Português e os três movimentos de libertação», sublinha o Diário de Lisboa, em título de 1ª. página.
Ao Algarve, nesse mesmo dia, chegaram ao Algarve dois dirigentes de dois partidos pacifistas de Angola, para «entrarem em contacto» com MPLA, FNLA e UNITA. Tratava-se do engº. Angelino Alberto (da Frente Nacional dos Pacifistas Angolanos) e Francisco Lelé (do Partido Democrático NTO-Bako). O objectivo era «encontrar uma forma de colaboração, ou integrarem-se mesmo num dos referidos movimentos de libertação».
- SIMÕES. Fernando Martins Simões, 1º. cabo 
apontador de morteiros da 3ª. CCAV. 8423, a de 
Santa Isabel. Suicidou-se a 17 de Agosto de 1998, em 
Lourinhal (Penacova), sua terra natal. Foi motorista 
profissional e deixou viúva e uma filha.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

3 281 - Dia de anos no Quitexe e Agostinho Neto em Lisboa

O PELREC da CCS dos Cavaleiros do Norte: 1º. cabo Joaquim Almeida, João Messejana (falecido a 
27/11/2009), José Neves, 1º. cabo Fernando Soares, Augusto Florêncio, 1º. cabo Ezequiel Silvestre (que hoje
 festeja 64 anos), João Marcos, 1º. cabo João Pinto, Raúl Caixarias e 1º. cabo Victor Florindo (enfermeiro). Em 
baixo, 1º. cabo Jorge Vicente (falecido a 21/01/1197), furriel Viegas, Victor Francisco, Manuel Leal (falecido 
a 18/06/2007), 1º. cabo Luís Oliveira (transmissões), 1º. cabo Augusto Hipólito, Aurélio Júnior (Barbeiro), 
Francisco Madaleno e furriel Francisco Neto

A Igreja da Mãe de Deus do Quitexe. A
árvore e a cobertura da direita
estão no espaço que era o aquartelamento
do BCAV. 8423. A foto é de 2012. Repare-se
na modernidade da iluminação pública

Há 41 anos, dia 20 de Janeiro de 1975, fazia 54 anos a senhora minha mãe, a quem hoje vamos soprar as velas dos 95. Era uma segunda-feira e no correio da véspera, domingo e via SPM, recebi aerograma dela, lamentando-se de estar sozinha e nem vontade ter se se lembrar dos anos «quanto mais de os festejar». No espaço de 9 meses, entre Agosto de 1972 e Abril de 1973, a nossa casa tinha ficado reduzida a ela: pela morte de meu pai, os casamentos de minhas duas irmãs e a minha ida para a tropa.
Era sofrido, mas corajoso e incentivador o aerograma. Que agora reli. Emocionado. A dor do luto de uma mãe, nela, sempre me foi escondida - embora a adivinhasse e a sentisse como minha. E sabia que as suas orações e a sua fé me eram dedicadas. «Deus te ajude a cumprires o teu dever e que voltes são e salvo, sem defeitos...», escrevia minha mãe, lembrando que «já deves ser o último da nossa terra a vir da guerra» - o que, não custa a imaginar, mais lhe enlutava a alma.
A mãe Viegas (Maria Dulce) no dia de hoje,
20 de Janeiro de 2016, quando completou 95 anos!
«Já chegou o teu primo de Moçambique e o outro da Guiné e já vieram há meses os filhos da Nilzalima e da Cidalina e por aí andas tu, não sei por onde nem como. Tu bem dizes que está tudo bem, mas o meu coração sente outras coisas, é um negrume, não penses que me iludes», releio, no aerograma de há 41 anos e certo que não era bem assim como ela pensava. E por Angola ainda estava outro conterrâneo: o sapador Custódio Ferreira, que veio pouco depois. Filho de Ermezinda, dela amiga, mas a sua dor era pelo filho. Entende-se.
O 1º. cabo Ezequiel Silvestre, que hoje
festeja 64 anos. Aqui, em pose no jardim
do Quitexe, em 1974
Por lá, fazia 22 anos o Ezequiel Maria Silvestre, bravo Cavaleiro do Norte do PELREC que, porém, não era atirador de cavalaria: era 1º. cabo de reconhecimento de infantaria, o que ia dar no mesmo. É alentejano do Cercal do Alentejo e, reformado, mora em Vale de Figueira, na Sobreda, em Almada. Rijo como o aço, como ainda há momentos me disse.
Agostinho Neto, já em Lisboa - e depois de passagens pelo Porto e Coimbra -, vestiu a bata de médico na visita ao Hospital de Santa Maia, onde trabalhara em 1962, durante alguns meses, antes de entrar na clandestinidade. "Vou-me embora amanhã, mas vou em condições muito mais favoráveis do que há 14 anos», comentou o presidente do MPLA, que visitou enfermarias e doentes, «muitos dos quais o reconheceram e saudaram» - como noticiava o Diário de Lisboa desse dia.
«Angolanos e portugueses, temos um longo caminho a percorrer. Encontramo-os hoje, mas ao longo do caminho voltaremos a estar juntos muitas vezes», disse Agostinho Neto, que iria deixar Lisboa no dia 21 desse Janeiro de 1975, para, no dia 31 estar em Luanda para a posse do Governo de Transição.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

3 280 - Aos 19 dias de Janeiro de 1975, há 41 anos!

Furriéis milicianos Cavaleiros do Norte, na entrada do bar e messe do Quitexe: Ribeiro, Fernandes (que 
hoje festeja 64 anos), Viegas, Belo (de óculos), Bento, Grenha Lopes (meio encoberto), Costa (morteiros) e 
Flora. À frente, Rabiço, Graciano e Abrantes (de cachimbo).


Estrela, Medeiros (falecido a 10/04/2003), Miguel, 
Damião (que hoje faz 64 anos) e Vasco, Cavaleiros 
do Norte numa esplanada de Luanda

A 19 de Janeiro de 1975, um domingo, fez 22 anos o Fernandes, furriel miliciano atirador de Cavalaria da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel e que desde 10 de Dezembro anterior já estava aquartelada no Quitexe, onde acamaradava com os Cavaleiros do Norte da CCS. 
Os anos foram um bom motivo para uma boas «cucas», umas «wiskadas» e uns fortes abraços de parabéns. Como ainda há momentos, pelo telefone, recordámos com o agora aposentado professor António da Costa Fernandes - de Lomar, em Braga.
Da secretaria, fazia anos, também 22, o Damião Augusto das Neves Viana - que seguramente os festejou com os mais próximos, quem sabe se com uma boa jantarada de bife com batatas fritas e ovo a cavalo, tudo regado a «cucas», a «ekas» ou «nocais»,  lá pelo Topete, ou pelo Rocha, ou pelo Pacheco. Vive em Fânzeres, Gondomar.
Os dias de anos eram vividos com intensidade e emoção, lá pelas terras uíjanas - onde fazíamos história e dela éramos personagens. E com saudades dos mimos da família e dos amigos!
O futebol português, há preciosamente 41 anos.
O Sporting  recebeu em venceu (2-1) o FC do Porto e
o Benfica, ganhador (1-0) em Olhão, passou para o
comando da 1^. divisão nacional. os relatos, através
da onde média da (então) Emissora Nacional (actual
RDP) eram avidamente escutados no Uíge
O dia, a nível político, subsequentemente ao Acordo do Alvor, teve MPLA, FNLA e UNITA a movimentarem as suas influências e, em Lisboa, Agostinho Neto fazia «vingar» a ideia de ligação entre os movimentos de libertação, até que «se dê a libertação dos respectivos países de qualquer ideia de colonialismo ou neocolonialismo, que espreitam abertura para se reinstalarem, como acontece em alguns dos maiores países africanos».
Foi dia de futebol, lá pelo Quitexe ansiosamente ouvido em relatos da onda média da Emissora Nacional (a actual RDP). E dia de dérbi: o Sporting recebeu e venceu (2-1) o FC Porto (28 pontos), que assim perdeu a liderança para o Benfica (29). Os encarnados venceram (1-0) em Olhão. Outros resultados: Oriental-Guimarães, 2-0; Belenenses-Académico(a) de Coimbra, 1-3; Leixões-Farense, 3-0; Boavista-U. Tomar, 6-1; Espinho-Atlético, 3-2; e CUF-V. Setúbal, 1-1 (interrompido).  
O Sporting era terceiro (26 pontos), seguido de V. Guimarães (25); 5º.-Boavista, 23; 6ºs.-Farense e Leixões, 18; 8º.-Belenenses, 17; 9º.-CUF, 16; 10º.-V. Setúbal, 15; 11º.-Atlético, 14; 12º.-U. Tomar, 13; 15º.-Oriental, 12; 16ºs.-Oriental e Espinho, 11; 18º.-Académico(a) de Coimbra, 10.
Era o tempo de dois pontos por vitória, um pelo empate e zero pela derrota. Outros tempos!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

3 279 - Comandante no BC12 e movimentos a falar do Alvor

Cavaleiros do Norte, no Quitexe. Um grupo de sapadores, no momento de partida 
para uma escolta ou patrulha, em 1974/75. Alguém consegue identificar alguém?

Furriéis António Carlos Letras e Abel
Mourato, da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa.
Aqui, num jardim de Carmona, em 1975

A 18 de Janeiro de 1975, o comandante Carlos Almeida e Brito esteve em Carmona, numa reunião de comandos que decorreu no Batalhão de Caçadores nº. 12 - o BC12, futuro aquartelamento dos Cavaleiros do Norte. Não custa «adivinhar» que o acordo do Alvor esteve na agenda dos trabalhos.
Obviamente, foi principalmente «a necessidade de estabelecimento de contactos operacionais» que, segundo o Livro da Unidade, «impôs a ida» ao BC12, como também ao Comando do Sector do Uíge (CSU), nos dias 3, 7 e 28 de Janeiro desse ano de 1975.
Agostinho Neto, presidente do MPLA, tinha ficado em Portugal e deslocou-se nesse dia ao Porto, onde afirmou, segundo o Diário de Lisboa, que «a independência de Angola vai mudar radicalmente o nosso país e também as estruturas portuguesas». «As notícias que nos chegam de Angola - acrescentou aquele dirigente - dizem-nos da euforia que ali reina. Os acordos foram os melhores até agora realizados, porque eram os mais difíceis».
«Partimos com divergências profundas e terminamos unidos», disse Agostinho Neto, que nesse dia regressou a Lisboa, passando por Coimbra.
Jonas Savimbi, presidente da UNITA, regressara a África na véspera e dissera, já dentro do avião da Força Aérea Portuguesa que o transportou, que «o acordo reflecte, de facto, o espírito de fraternidade que presidiu aos trabalhos e também a defesa dos interesses do nosso povo».
«Vamos continuar a contactar as delegações do MPLA e da FNLA, para ver se nos aproximando cada vez mais, porque a plataforma de Mombaça serviu para entabularmos negociações com o Governo Português mas teremos de fazer face aos problemas graves do nosso país, da independência e da reestruturação nacional», acrescentou Jonas Savimbi.
Holden Roberto, presidente da FNLA, «teve ontem a noite um acolhimento fantástico, por parte de militantes e simpatizantes» em Kinshasa e, segundo o relato do Diário de Lisboa, disse, sobre a Cimeira do Alvor, que «foi o povo angolano que ganhou» e que «esta vitória é de todos».  Sublinhou também «o acolhimento e a hospitalidade das autoridades portuguesas», considerando que «contribuíram largamente para o êxito da reunião».
Ao tempo, continuava a indefinição sobre quem seria o novo Alto Comissário e o futuro da comunidade branca: «E agora que dizer exactamente aos portugueses brancos que vivem em Angola e querem fazer de Angola a sua pátria?». interrogava Luís Rodrigues, enviado do jornal A Província de Angola, enviado especial ao Alvor. Respondia: «Pois bem, que olhem par as qualidades intrínsecas de bondade, de gentileza natural, de compreensão pela vida familiar e comunitária dos seus irmãos africanos».
Assim ia Angola, há 41 anos!

domingo, 17 de janeiro de 2016

3 278 - Incêndio, há 41 anos, na arrecadação de material!

O incêndio na arrecadação de material do Quitexe foi há precisamente 
41 anos. A imagem mostra as labaredas por cima do telhado do edifício - que 
ficava na Estrada do Café, entre Carmona e Luanda


Os bens dos militares foram retirados do
edifício e colocados na berma da Estrada do
Café. À direita, vê-se o capitão António Oliveira,
comandante da CCS dos Cavaleiros do Norte

Há precisamente 41 anos, com os Cavaleiros do Norte expectantes quanto a tudo o que se soubesse da Cimeira do Alvor, a uma sexta-feira que era o dia 17 de Janeiro de 1975, deflagrou um incêndio na arrecadação de material de guerra da CCS - no mesmo edifício onde se hospedavam alguns oficiais milicianos. Foi um deles, o alferes Garcia, a dar o alarme e rapidamente se combateram as chamas - o que não evitou elevados prejuízos.
Os três bombeiros que acudiram
o incêndio do Quitexe, há 41 anos e com uma
bomba manual de muito pouca água
 
O incêndio terá tido origem num curto-circuito e pregou um enorme susto à guarnição, até porque nos primeiros momentos boa gente admitiu que fosse um acto de sabotagem. Não era e a pronta intervenção da tropa evitou males bem piores, assim como a salvação dos pertences dos militares ali hospedados.
O estouro de algumas munições, devido ao calor das chamas, e o medo de que granadas e outros materiais de guerra (mais poderosos) rebentassem provocou algum pânico e as aflições foram muitas. Chegou a supor-se o pior. «Ardeu completamente uma das casas onde o BCAV. tinha a arrecadação de material de aquartelamento da CCS e os quartos dos oficiais», relata o Livro da Unidade, citando «avultados prejuízos materiais».
A tropa, sublinha o Livro da Unidade, «teve a maior dedicação (...) mas não houve possibilidade de evitar a destruição total do imóvel, por falta de meios adequados para apagar o incêndio, inclusive a própria água».
Foram  chamados os bombeiros, que compareceram (eram três!!!...) com uma bomba manual e de pouca água, o que suscitou até alguma chacota da comunidade militar, que se sorriu da «aparatosa» intervenção. Os bombeiros apresentaram-se, imagine-se, até de gravata. -  Ver AQUI