quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

3 261 - S. Silvestre 74 do Quitexe e a «batota» do Buraquinho

Avenida do Quitexe. A partir da direita, a Casa dos Furriéis (esquina), Messe de Oficiais, onde 
estava a meta da S. Silvestre de 1974 (varandim verde), depósito de géneros e Messe de Sargentos (casa 
branca e seguinte) 

Jorge Custódio Grácio, o Spínola,
vencedor da S. Silvestre do Quitexe, há 41
anos. Faleceu, vítima de acidente, a
2 de Julho de 1975



A corrida de S. Silvestre do Quitexe, à meia noite de 31 de Dezembro de 1974 para 1 de Janeiro de 1975, foi ganha pelo Spínola, Cavaleiro do Norte da 3ª. CCAV. 8423. Imortalizou a tendência do Buraquinho para a «brincadeira»: forjou a vitória, fez «batota» e, naturalmente, e na desportiva, cedeu a coroa de louros ao vencedor. Só podia ser...
É ele mesmo, Alfredo Rodrigo Ferreira Coelho, 1º. cabo analista de águas, o Buraquinho, quem, na primeira pessoa, faz a memória dessa noite desportiva dos Cavaleiros do Norte do Quitexe - por sinal imensamente chuvosa. 
Assim:
Alfredo Coelho (Buraquinho) e Moreira,
dois dos «artífices» da (não) vitória da
S. Silvestre do Quitexe
«Eu, Alfredo Coelho (Buraquinho), vou contar a história da corrida de S. Silvestre, na noite de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro de 1975, de uma terça para a quarta-feira, às 00,00 horas. A corrida começou na entrada da picada de Zalala até à messe dos oficiais, no Quitexe. Eu também participei e tinha que fazer das minhas, para ser o vencedor. E, então, o que é que eu fiz? Como os enfermeiros tinham que acompanhar a corrida, na ambulância, combinei com o 1º. cabo enfermeiro Gomes e o soldado maqueiro Moreira (o Penafiel) que quando a corrida começasse, eu isolar-me-ia e entraria na ambulância, sem que fosse detectado pelo resto dos atletas. A ambulância vinha à frente, com outras viaturas militares a fazer escolta e a iluminar a estrada até ao Quitexe, porque não havia luz eléctrica. Ao chegar próximo da casa do administrador, onde estavam oficiais e o administrador a ver a corrida, eu então saltei da ambulância e comecei a correr, e quem me via só dizia «força Buraquinho, és o primeiro!!!...». O problema é que cometi um erro, que foi virar na segunda rua do Quitexe quando deveria virar na terceira, onde ficava o bar do Rocha. Mas cheguei à meta em primeiro lugar e o capitão Oliveira começou logo a bater palmas e a gritar: “É o Buraquinho, é da CCS!...». Só que tudo ficou em águas de bacalhau, após a chegada do segundo que, naturalmente, denunciou a minha chegada forjada e o capitão Oliveira ficou desanimado por ser um militar da 2ª. companhia e não da CCS, como ele pensava. Sabem quem foi o 1º. classificado? Foi o Fernando, conhecido por Spínola, que era da 2ª. Companhia de Cavalaria».
Jorge Custódio Grácio, o nome real de Spínola, era soldado atirador da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel - que, ao tempo, já estava aquartelada no Quitexe. Tragicamente, viria a falecer a 2 de Julho de 1975, vítima de um acidente na estrada para carmona, perto da Fazenda Pumbaloge. Era natural de Casal das Raposas, em Vieira de Leiria (Marinha Grande).
- A morte Grácio, o 
Spínola, AQUI 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

3 260 - O fim do ano de 1974 e a cimeira dos 3 movimentos

Cavaleiros do Norte do Parque Auto. Atrás, NN, Canhoto, Miguel (NN (mecânico), Gaiteiro
  NN, Picote (de mãos nas ancas e a sorrir), Agostinho Teixeira (pintor), NN (mais trás),  
Serra (mãos no cinto), Pereira (mecânico),  1º. sargento Aires (de óculos), alferes Cruz 
(de branco), Celestino (condutor), furriel Morais (de óculos), NN e NN (condutores)  
e Vicente. À frente, Domingos Teixeira (estofador), Marques (o Carpinteiro, falecido a 1 de
 Novembro de 2011), Madaleno (atirador, de tronco nu) e  Esgueira. Quem identifica os NN?


 José António Nascimento, furriel Cavaleiro do 
Norte de Zalala, mas aqui já em Vista Alegre
A 30 de Dezembro de 1974, lá pelo Quitexe - e por Aldeia Viçosa e Vista Alegre/Ponte do Dange... -, onde jornadeavam, os Cavaleiros do Norte, preparava-se a corrida de S. Silvestre, que fecharia o ano da sede do batalhão, em ambiente desportivo e no âmbito do plano de acção psicológica. Pelos outros aquartelamentos, outras actividades de lazer festa se desenrolariam. Quanto ao dia a dia, ia igual e sem problemas. A grande novidade do de 30 de Dezembro desse já distante 1974, tinha a ver com a data (anunciada) da realização da Cimeira dos três movimentos de libertação com o Governo de Portugal: 10 de Janeiro de 1975 «algures, em Portugal». Até lá, disse Jonas Savimbi em Lusaka, UNITA, MPLA e FNLA «realizarão uma cimeira para concordarem numa plataforma comum, para apresentarem nas conversações com o Governo Português». Isto, numa altura em que, segundo as agências noticiosas France Press e a Reuters, se registavam «progressos recentes na melhoria das relações entre os três movimentos de libertação angolanos, através da assinatura de acordos».
Notícia do Diário de Lisboa de há 41 anos,
sobre a Cimeira dos movimentos angolanos
com Portugal
Observadores internacionais, em Lusaka e citados pelo Diário de Lisboa, afirmaram que «essa cimeira apresenta-se como uma gigantesca evolução no caminho do entendimento dos três movimentos, para se encontrar a adequada solução angolana de independência»
«O nosso objectivo é ter em Angola um Governo de Transição antes do fim de Janeiro e a independência dentro de 9 a 12 meses», afirmou Jonas Savimbi, o presidente da UNITA- enquanto o Diário de Lisboa escrevia que «foi dado um passo em frente pela solução do problema de Angola, o maior território colonial português em África»

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

3 259 - Movimentos mais urbanos e refugiados catangueses

Combatentes e militantes da FNLA e do MPLA em Vista Alegre, ainda 
no tempo do aquartelamento local da 1ª. CCAV. 8423 dos
Cavaleiros do Norte

Convívio de civis com militares, no balcão da
messe de sargentos do Quitexe, onde se vê o sr.
Dias e o 1º. Aires. Todos os outros são furriéis
milicianos na noite de passagem de ano
de 1974 para 1975: Ribeiro (com a garrafa na
mão), ´Depois, António Lopes (de
óculos e cigarro na mão), Viegas, Bento (bigode)
e Flora. Depois, Rocha (de bigode), Carvalho
(bigode e boina), Grenha Lopes e Luís
Capitão. Em baixo, o Armindo Reino


O Governo Provisório de Angola, há 41 anos, «refuta(ou) energicamente as acusações feiras em Kinshasa (...) sobre o caso dos 2000 refugiados catangueses que desde 1963 se encontram em Angola e recusaram regressar ao Zaire, apesar da amnistia concedida pelo presidente Mobutu».
Os ditos refugiados estavam maioritariamente «instalados no distrito da Lunda, constituíram família, vivendo ordeiramente», segundo relatava o Diário de Lisboa, citando um comunicado do Governo Provisório, acrescentando que «foi livremente que tomaram a decisão de não voltar ao Zaire e preferindo continuar a trabalhar em Angola».
Estes acontecimentos chegavam ao Uíge - ao Quitexe, a Aldeia Viçosa, Vista Alegre e Ponte do Dange? Não chegavam oficialmente e deles (e de outros) apenas tínhamos conhecimento através da imprensa, em particular pelo jornal A Província de Angola, diário que se publicava em Luanda - o actual Jornal de Angola -, que regularmente chegava ao Quitexe.
Os movimentos, com mais ou menos facilidade, continuavam a sua instalação no território, nalguns casos ocupando antigas instalações militares dos portugueses, noutros criando delegações políticas - que acabavam por ser mini-aquartelamentos, bem o sabíamos. 
«Abandonados que foram alguns locais, começou a verificar-se uma aproximação dos movimentos, nomeadamente aos povos já há tempo fixados, na sua maioria com incidência da FNLA, mas também, em alguns casos, do MPLA», lê-se no Livro da Unidade.
«Adivinha-se uma reserva latente entre os dois movimentos, já que na área predomina a FNLA. No entanto, não se tem verificado actos que possam preocupar as suas actividades», sublinha(va) o LU, acrescentando que tais actividades «começaram também a entrar junto das populações europeias, que continuam pensando com reservas sobre o seu futuro, mas aceitando de bom grado, pelo menos aparente, a presença efectiva daqueles movimentos». Da UNITA, nem se falava. 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

3 258 - Futebol no Quitexe, o MPLA e Daniel Chipenda

Futebol, equipa de sapadores do Quitexe: NN, Afonso Henriques, 
NN, NN e NN; Em baixo, Amaral, Calçada, Grácio, NN e 
Coelho (falecido 13 de Maio de 2007, vítima de doença)

Futebol no Quitexe: Lopes (furriel enfermeiro),
Gomes, Grácio, Mosteias, Alves (morteiros)  e
NN. Em baixo: Monteiro, Covilhã (condutor dos
morteiros), Teixeira, Miguel (furriel
paraquedista) e Jorge Botelho


O sábado de 28 de Dezembro de 1974 não levou novidades especiais ao Uíge angolano, onde os Cavaleiros do Norte cumpriam a sua jornada africana. Chegava correio do «puto» e as informações eram curtas. E as perguntas rodavam todas à volta da data do nosso regresso. Que nós cada vez mais desejávamos, mas de que não sabíamos. Ai se soubéssemos!
Cumpriam-se serviços à ordem», jogava-se futebol entre subunidades, tinha passado um ciclo de cinema e preparava-se a corrida de S. Silvestre, para a qual se adivinha farta concorrência entre os craques da CCS e da 3ª. CCAV. 8423 - ambas aquarteladas na vila quitexana.
Complicadas iam as relações internas do MPLA. Em Paris, e segundo despacho das agências France Press e ANI, o dirigente Luís Azevedo, das relações exteriores da Facção Chipenda, anunciou que esta tendência decidira  «expulsar do dr. Agostinho Neto do MPLA» e denunciou os acordos de cooperação assinados dias antes, no Luso, entre este e Jonas Savimbi (UNITA). A situação era confusa, até porque Chipenda tinha sido expulso do MPLA. E, por outro lado, a sua Facção também censurava o papel de Rosa Coutinho na conclusão desse acordo. 
Ao Governo Geral, em Luanda, entretanto e segundo o Diário de Lisboa, chegavam «mensagens de regozijo» pela nomeação de Rosa Coutinho para o cargo de Alto Comissário e «paralelamente, de repúdio pela abertura do escritório de Facção Chipenda».
Notícia do Diário de Lisboa de 28 de Dezembro
de 1974, sobre o diferendo entre Daniel Chipenda e
Agostinho Neto, do MPLA, que atingia Rosa Coutinho
Outras notas do mesmo dia: 
1 - Foi adjudicada a construção do Aeroporto de Catumbela, nesta vila e na foz do rio do mesmo nome,  «para servir as cidades de Benguela e Lobito e, em caso de necessidade, ser alternativa ao de Luanda, para os jactos». Adjudicação por 82 000 contos.
2 - O Zaire acusou as autoridades portuguesas de Angola de «tentarem obstar que cerca de 2200 gendarmes catangueses regressem do exílio». Nos primeiros anos da década de 60, tinham fugido do Zaire de Mobutu, refugiando-se em Angola e ingressando nas forças militares portuguesas. «Os delegados da Junta Portuguesa de Angola estão deliberadamente a criar-lhes dificuldades, recorrendo a métodos que de maneira nenhuma diferem dos que (se) praticavam no execrável regime de Salazar», dizia o comunicado oficial do Governo zairense - que tinha anunciado uma amnistia para esses antigos membros da polícia paramilitar do Catanga (a província da secessão).

domingo, 27 de dezembro de 2015

3 257 - Rojões na festa de Natal e a (não) cimeira angolana

O Natal em Vista Alegre, na 1ª. CCAV. 8423. Reconhecem-se o Horácio 
Carneiro (primeiro, à esquerda) e os furriéis milicianos Plácido Queirós (o 
terceiro, de bigode) e Eusébio Martins (primeiro à direita, de bigode), falecido 
16 de Abril de 2014, por doença e em Belmonte, a sua terra natal

Os furriéis milicianos Viegas (no seu primeiro
serviço em Angola) e Nelson Rocha, na entrada
da messe de sargentos do Quitexe, nos primeiros
dias de Junho de 1974



Aos 27 dias de Dezembro de 1974, no inesquecível Quitexe da nossa jornada uíjana de Angola, acabámos com a lata de rojões que o Neto tinha levado de cá, embalados numa lata de unto da Tobom que minha mãe lhe tinha mandado - quando cá esteve de férias. Estávamos nas oitavas das festas natalícias e o saboreio do precioso e saudoso manjar matou-nos muitas das saudades da lareira e da mesa tradicional de família.
Os furriéis milicianos José Pires e
Francisco Neto, na entrada da messe
do bairro Montanha Pinto, em Carmona
Os tempos, lá pela vila, iam calmíssimos - assim como por Aldeia Viçosa e Vista Alegre e Ponte do Dange, onde se aquartelavam a 2ª. e a 2ª. CCAV. 8434. Os rojões, com batata cozida e couve arranjada não sei onde, regadas a vinho tinto (um Teobar de garrafão, coisa rara por aquelas bandas...) foram uma delícia de sabores e aconhegaram os estômagos. E animaram a alma!!! Juntaram-se-nos o Pires de Bragança e o Rocha (ambos de transmissões) de e o acepipe desapareceu num instante, Saudosos rojões!!!
Ao tempo, e apesar de reptidas promessas, a data da cimeira continuava por marcar. O Diário de Lisboa desse dia reportava que «não está de modo nenhum afastada a possibilidade de o encontro entre os três movimentos e o Governo Português vir a ter ligar em território nacional». Na véspera, e a Lisboa, tinha chegado a delegação portuguesa que, em Kinshasa, se encontrara com Holden Roberto - o presidente da FNLA.  Jonas Savimbi, presidente da UNITA, reunira em Brazaville com altos dirigentes do MPLA, «incluindo Agostinho Neto», o presidente.
«Tudo parecia indicar - noticiava o Diário de Lisboa de há precisamente 41 anos  - a iminência de um encontro entre os três movimentos» - MPLA, FNLA e UNITA.
A Presidência da República, em Lisboa, por seu lado e em comunicado, negava que a Cimeira estivesse marcada para 3 de Janeiro de 1975 - como um jornal diário noticiava nesse 27 de Dezembro. «Esclarece-se que a notícia em causa carece de fundamento», sublinhava a nota presidencial, acrescentando que «no presente momento, toda e qualquer informação sobre o assunto é prematura, nomeadamente quanto a datas e locais».

sábado, 26 de dezembro de 2015

3 256 - Natal de 1974 e Almeida e Brito no comando da PM em 1975

O tenente-coronel Almeida e Brito (à esquerda, de mãos trás das costas) 
foi comandante dos Cavaleiros do Norte e, há 40 anos, tomou posse como 
comandante do Regimento de Polícia Militar (PM) de Lisboa. A foto é do 
encontro de Penafiel, da CCS e a 27 de Setembro de 1997

Cavaleiros do Norte de Zalala, da
1ª. CCAV. 84233, mas aqui em Vista Alegre: o
furriel Plácido Queirós e o 1º. cabo
Carlos Ferreira


A 26 de Dezembro de 1974, o comandante Almeida e Brito deslocou-se a Carmona, ao Comando de Sector do Uíge (CSU) e à Zona Militar Norte (ZMN) «em retribuição da mensagem de Natal do Exmo. Comandante do Sector do Uíge», como reporta o Livro da Unidade.
Foi esta:
«Festa da família, época em que é mais viva a saudade dos parentes e amigos, não é ainda para nós que neste Natal de 1974 terminará a velada de armas iniciada há 14 anos em Angola.
Fique-nos a consolação de encontrar no seio do Exército uma segunda família, a mesma camaradagem diária de combatente para combatente, comungando os mesmos princípios, vivendo os mesmos bons e maus momentos.
Fique-nos a certeza de estar a cumprir uma alta missão, ajudando a construir em paz um novo país de expressão portuguesa.
Nesta quadra, em que em todo o  mundo se deseja PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA VONTADE, juntemos os nossos esforços para que em ANGOLA se consiga essa paz e, indiferentes a ofensas e calúnias, com a consciência tranquila, prossigamos confiantes e serenos até ao fim, para que possamos dizer. com satisfação e orgulho, MISSÃO CUMPRIDA.
Na impossibilidade de o fazer pessoalmente, com esta saudação a todos os Oficiais, Sargentos e Praças do Sector, envio os meus votos de Boas Festas e Feliz Natal».  
Notícia de há 40 anos, do Diário de Lisboa,
sobre a situação militar da já independente
Angola, dividida em três frentes
Um ano depois, 26 de Dezembro de 1975 e com Angola já independente, reportava o Diário de Lisboa, citando a ANOP, a Reuter e a France Press, que «a guerra civil parece ter parado nas principais frentes de combate, embora as forças rivais tenham como objectivo avanços em pelo menos duas regiões». O MPLA controlava Luanda e a faixa central de Angola e esperava entrar no norte - o território da FNLA. A UNITA «visa conseguir um grande avanço no interior oriental». A FNLA tinha o quartel general em Ambriz e estava «a conter o avanço do MPLA para norte de Luanda». Mas o comandante Juju, do MPLA, afirmava que «tomar o Ambriz era questão de dias», embora fontes militares americanas «dignas de crédito», segundo o DL, garantissem que «as tropas do MPLA não tinham efectuados avanços ao norte de Luanda, em direcção a Ambriz».
Carmona e o Uíge, a «capital» da FNLA, ao tempo dos Cavaleiros do Norte, estava fora dos círculos noticiosos. Nada aparecia na imprensa, que «matasse» a nossa curiosidade de ex-combatentes.
Notícia do Diário de Lisboa de 
26/12/1975, sobre a posse do tenente 
coronel Almeida e Brito como
 comandante da PM
Em Lisboa, era noticiada a nomeação do tenente-coronel Carlos José Saraiva de Lima Almeida e Brito como comandante do Regimento de Polícia Militar. Tinha sido o nosso comandante na nossa jornada africana do Uíge angolano. O segundo comandante da PM era o major José Luís Jordão Ornelas Monteiro, que foi 2º. comandante do BCAV. 8423 em Santa Margarida e, nas vésperas do embarque, «desviado» para a Guiné. O comando do RPM incluía também os majores Ayala Botto, Rúben e Mamede.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

3 255 - O dia de Natal de 1974 no Quitexe angolano

Os furriéis milicianos Grenha Lopes, Viegas (de camuflado) e Ribeiro (de 
óculos), com o Fernandes (debaixo das mãos do Viegas), no dia de 
Natal de 1974, à porta da Casa dos Furriéis do Quitexe

Natal de 1974 numa caserna do Quitexe: um
rosto que não identificamos (em baixo, à esquerda), o
Marques (Carpinteiro, a espreitar), NN, o Rebelo (do
bar de sargentos), NN (de barbas), o alferes Jaime Ribeiro,
o Almeida (cozinheiro), um civil negro, o Messejana 

(falecido 27 de Novembro de 2009), 
o Florêncio e o alferes Garcia (falecido a 2 de
Novembro de 1979)


O dia de Natal de 1974, no Quitexe, não foi muito diferente (em termos de obrigações militares) dos restantes, mas era um dia especial, sensível nos nossos corações, saudoso das tradições das nossas terras. Dos afectos e dos sabores gastronómicos das lareiras e cozinhas das nossas famílias.
Por mim, saído de sargento-dia na formatura das 8 horas da manhã, passeio ao banho rápido e ao «mata-bicho» no bar e messe de sargentos - onde não falhavam os serviço sempre atentos do cozinheiro Duarte, do auxiliar Rebelo e também do barista Lajes. A noite tinha sido tranquila, com distribuição de bagaço (e brandy?) pelo pessoal de reforço, na ronda da meia noite. O que, com grande gosto nosso, os surpreendeu e... valorizou. Sentiram-se mais acarinhados e apoiados, acredito!
Feito o banho e saboreado o «mata-bicho» foi tempo, de minha parte, para um saltinho à Igreja da Mãe de Deus, onde o padre Albino Capela celebrou a mensagem do Menino nascido!
Voltei ao quarto e, até à hora do almoço, reli o o meu correio de Natal, recebido a montes, nos dias anteriores: de minha mãe, irmãs e cunhados, de familiares e amigos, de tanta gente. As palavras eram as de circunstância, no geral, mas apeteceu-me hoje, 41 anos depois, ressaboeará-las uma a uma, recapitulando as emoções deste dia tão especial da nossa formação católica e humana - e que foi vivido longe das neves e frios natais, em terras de África e de calor. Lá longe, tudo era vivido de forma muito especial.
O comandante Almeida e Brito, rodeado
pelo furriel Reino e o soldado Mendes, na consoada
do Quitexe, a 24 de Dezembro de 1974
O comandante Almeida e Brito, chegado de férias europeias, participara na consoada natalícia da véspera, com palavras de incentivo e encorajamento ao pessoal da guarnição. 
«Fique-nos a certeza de estarmos a cumprir uma alta missão, ajudando a construir, em paz, um novo país de expressão portuguesa», disse Almeida e Brito, citando a mensagem do Comando do Sector do Uíge, na consoada quitexana de 24 de Dezembro de 1974.
A 25, uma quarta-feira, deslocou-se  à 1ª. CCAV. 8423, a do capitão Davide Castro Dias, «tendo almoçado em Vista Alegre e visitado Ponte do Dange», onde peregrinou o espírito missionário da nossa jornada africana de Angola. À noite, e no regresso ao Quitexe, consoou em Aldeia Viçosa, onde estava aquartelada a 2ª. CCAV. 8423, a do capitão José Manuel Cruz.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

3 254 - A noite de consoada do Natal uíjano de 1974

Natal de 1974, no Quitexe. Sentados e de frente, o capitão Fernandes,  furriel Reino, o comandante Almeida 
e Brito Armando Silva, capitães Falcão e Oliveira e tenente Mora. A olhar de frente e bigode, o alferes 
Hermida,  Graciete Hermida, Margarida Cruz,  alferes Cruz e esposa do tenente Mora. De costas, sargento 
ajudante Machado (a fumar), neto e filha do capitão Oliveira, NN e esposas do capitão 
Oliveira e tenente Mora

Natal de 1974 no Quitexe. De frente, os furriéis
milicianos Rocha (de bigode), Fonseca (a fumar), Viegas (a
rir), Belo (de óculos). Ribeiro e (???), À direita, Monteiro,
Cândido Pires, Machado (a fumar) e Costa (a sorrir). De pé,
o soldado Lajes, do bar de sargentos


A 24 de Dezembro de 1974, foi noite de consoada natalícia no Batalhão de Cavalaria 8423 - os Cavaleiros do Norte. 
Houve festa, assim, nos aquartelamentos o Quitexe (com a CCS e a 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel), em Aldeia Viçosa (2ª. CCAV. 8423) e em Vista Alegre (3ª. CCAV. 8423, ida de Zalala).
«Realizou-se a tradicional consoada, com a presença de todo o pessoal da CCS e da 3ª. CCAV., bem assim das famílias», frisa o Livro de Unidade.
Natal de 1974 em Vista Alegre (3ª. CCAV. 
8423). Quem os sabe identificar?
As esposas dos oficiais, com a filha do capitão Oliveira e (se me lembro bem) a Irmã Augusta (irmã do padre Albino Capela) esmeraram-se na preparação da ementa natalícia e, recorda o alferes Cruz, «penso que estavam representados todos os sabores de todos os cantos do país, desde o Algarve a Trás-os-Montes», obviamente para agradar as paladares diferentes dos Cavaleiros do Norte, oriundos um pouco de todos os cantos do país, muitos deles (e por isso mesmo) com diferentes costumes hábitos, sabores e costumes natalícios. O comandante Almeida e Brito já tinha chegado de férias, de Lisboa, e participou no evento -na mesa de honra e ladeado pelos capitães José Paulo Fernandes, José Paulo Falcão e António Oliveira e os mais novos sargentos (o furriel Armindo Reino) e praças (Armando Silva), ambos da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel e, ao tempo, já aquartelada no Quitexe.
Natal de 1974 em Natal de 1974 em Aldeia 
Viçosa (3ª. CCAC. 8423): furriéis milicianos Matos e 
Mourato (tapado), 1º. sargento Fernando Norte e, à 
frente, furriel miliciano Carlos Letras
O bacalhau foi rei da consoada, mas também não faltou o polvo e outros pratos típicos da época - enchendo as compridas mesas do refeitório. Dos doces e para além da aletria, rabanadas, mexidos e sopas secas, ainda veio o queijo, o arroz-doce, o leite creme e outros. Quanto a bebidas, havia para todos os gostos e os bravos e nostágicos Cavaleiros do Norte não se fizeram rogados.
O alferes Jaime Ribeiro, comandante do Pelotão de Sapadores e à conversa com o alferes Cruz, recordou-lhe que «era tanta a quantidade e a variedade» que alguns dos bravos militares do BCAV. 8423 «até entraram de gatas nas suas casernas e quartos». 
«Acho que isto - disse o alferes António Albano Cruz - nos ajudou a criar a nossa personalidade, a a nossa maneira se ser e estar e a forças com que agora, nos momentos difíceis que atravessamos, tanto jeito ou falta nos faz».
As guarnições de Aldeia Viçosa (segunda foto) e Vista Alegre também não «jejuaram» nesta agora saudosa e então quente Noite de Natal, repetindo pratos e prazeres das boca. A noite, de verdade,era memorável e nas memórias dos Cavaleiros do Norte ficou. Desde há 41 anos!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

3 253 - O natal de 1974 nas escolas do Quitexe

Festa de Natal na escola de Aldeia do Quitexe, onde leccionava a professora 
Margarida Cruz. A representação, repare-se, foi de crianças «feitas» actores negros


A professora (agora médica) Margarida
e o ex-alferes miliciano António Albano Cruz,
na actualidade

A 23 de Dezembro de 1974, um domingo, passou-se o dia na inesquecível vila do Quitexe com uma «espreitadela» à Igreja da Mãe de Deus do Quitexe, onde o padre Albino Capela celebrava e (alguns de) nós íamos lavar as almas e (muitos outros) consolar os olhos, vendo passar a raparigada europeia mais nova. Coisas platónicas, que, porém, muitos cios os sonhos incendiavam!
A professora Graciete Hermida, o
(ex-furriel) Viegas e o (ex-alfrees) José
Leonel Hermida, em Fevereiro deste ano,
na Figueira da Foz
O pequeno tempo fica(va) mesmo ao lado do parque militar dos Cavaleiros do Norte, apenas separado por um enorme adro, não demarcado, por onde passeámos muitas tardes, muitas vezes fazendo o tempo passar. 
O natal já se vivia por aquelas bandas há farto tempo, principalmente nas escolas primárias, nas quais, nomeadamente, leccionavam três Amazonas do Norte: a filha do capitão António Oliveira, comandante da CCS) e as mulheres dos alferes milicianos António Albano Cruz (a futura médica Margarida Cruz) e José Leonel Hermida (a ainda professora Graciete).
A filha do capitão Oliveira (cujo nome esqueci, de todo) teria na casa dos 30 anos e era mãe de um miúdo dos 6 ou 7 (ou oito). Deles, nada sabemos. Ele, já major, «achei-o» uma vez, no DRM de Aveiro, quando precisei de uma licença militar para ir a estrangeiro, em finais dos anos 70. O mesmo aconteceu com o Neto, noutra altura.
A professora Margarida Cruz é médica, ainda ao serviço, na área de Sano Tirso - deixando «à solta» o seu «mais que tudo» António Albano Cruz, reformado há um pouco mais de um ano. Vivem em Santo Tirso, com o seu filho mais velho, o Ricardo - benjamim dos Cavaleiros do Norte. O mais novo está no estrangeiro.
A professora Graciete Hermida, professora continuou e aposentada está, assim como José Leonel Hermida (que também fez carreira como professor). Vivem na Figueira da Foz e a filha (única) é investigadora na Madeira, na área da biologia.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

3 252 - A dois dias da consoada de Natal de 1974

Amazonas Margarida Sousa Cruz, Graciete Hermida (com Ricardo Cruz 
ao colo), esposa e filha do capitão Oliveira e esposa do tenente João 
Mora: as consoadeiras do Natal quitexano de há 41 anos


Natal da escola da sanzala do Canzenza,
na saída do Quitexe para Camabatela, onde
leccionava a futura médica Margarida
Cruz (à esquerda, na foto)

Aos 22 dias de Dezembro de 1974, pelas bandas uíjanas de Angola, já se cheirava a Natal e à doçaria que, prestimosas, as famílias femininas dos oficiais dos Cavaleiros do Norte estavam a preparar, para gáudio da gulodice da malta da guarnição.
O dia natalício do Cristo e em Quem a generalidade da tropa acreditava era expectado com ansiedade, sabendo-se, embora, que seria de calor e não de frio e neve, sem fogueiras, sem os mimos das cozinhas maternas, sem o afecto da gente mais próxima dos nossos «eus».Não sabíamos mesmo se sem o presépio que tantas vezes enfeitara a nossa imaginação de crianças 
O Quitexe ia mostrando os seus enfeites de época e nas escolas da vila e das sanzalas organizaram-se festas, a que se associaram patentes militares. A da imagem é da sanzala do Cazenza e mostra um momento de festa natalícia, organizada pela professora (e futura médica) Margarida Cruz - que se vê à esquerda, de bata branca, como mandavam os regulamento escolares de então. Era (e é) a a «mais que tudo» do alferes António Albano Cruz.
A seguir a ela, um grupo de alferes milicianos: Augusto Rodrigues (?, de dedo no nariz), Hermida. Pedrosa, Simões, Cruz, Ribeiro e Garcia. À frente, de óculos e camisa branca, o (então) padre Albino Capela, sacerdote da Missão do Quitexe, ao lado da Igreja da Mãe de Deus e muito perto das instalações operacionais do Batalhão de Cavalaria 8423.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

3 251 - O furriel Rito dos Cavaleiros do Norte de Zalala

Cavaleiros do Norte com as Portas de Zalala atrás. Atras, dois desconhecidos (quem 
são?). Sentados e ao meio: Carlos Ferreira (1º. cabo) e os furriéis Jorge Barata 
e José Louro. À frente (os furriéis) Nascimento, Rodrigues e Manuel Dias

O furriel Jorge Queirós, da 1ª. CCAV. 8423, 
junto do memorial militar: «Em homenagem 
aos que, na zona de Vista Alegre, tombaram
por Portugal»



O furriel miliciano João Rito chegou à 1ª. CCAV. 8423 em Dezembro de 1974. Há 41 anos! Transferido de uma outra unidade em jornada angolana, não sabemos qual e muito menos qual a razão. Dele não temos memória, que agora procurámos - sabendo-o da região de Ourém.
João Correia Marques Rito, de seu nome completo e furriel miliciano atirador de infantaria, era filho de um professor e já faleceu. «Há uns 4 anos, de acidente..., contou-nos Luís de Jesus Freire, um ex-combatente e agora proprietário de um café/pastelaria na Freixianda, em Ourém.
O furriel miliciano Luís Capitão, 
da 3ª. CCAV. 8423 - falecido a 
5 de Janeiro de 2010, em Vila 
Nova de Ourém
Luís Freire tem memórias de João Rito: «Conheci-o perfeitamente, passava por aqui muitas vezes...», contou-nos um destes dias, depois de, (com)prometido com este blogue, ter feito a pesquisa necessária para saber do que dele (Rito) era feito.
João Rito era da Salgueira, de Ourém. De lá bem perto era também o (ex-furriel) Luís Capitão, da 3ª. CCAV. 8423 (a de Santa Isabel), falecido, de doença, a 5 de Janeiro de 2010. Cumprida a jornada africana de Angola, por lá continuou, fazendo pela vida. Nunca casou.
«Apareceu morto, na estrada para Albergaria dos 12. Terá sido atropelado, não sei explicar mais nada sobre esse acidente», disse Luís Freire.
A isto, com eventuais falhas, se resume a vida de um Cavaleiro do Norte da 1ª. CCAV. 8423. De quem, tragicamente, já não podemos falar para além da memória e da saudade.
* NOTA: Apesar das diligências feitas, 
não nos é possível editar foto do furriel João 
Rito. Lamentamos e evocamo-lo com saudade.


domingo, 20 de dezembro de 2015

3 250 - Morteiros em Carmona e «zalalas» em Natal do Porto

Cavaleiros do Norte de Zalala, ontem reunidos para o almoço de Natal, no 
Porto, no Assador Típico. A grande novidade foi a presença do Leirinhas - à  
(re)abraçado 40 anos depois. Ver mais fotos, AQUI


Os alferes milicianos António Garcia (falecido a 2
de Novembro de 1979), Jaime Ribeiro e João Leite
(comandante do Pelotão de Morteiros 4281)


A 20 de Dezembro de 1974, o Pelotão de Morteiros 4281, comandado pelo alferes miliciano João Leite, iniciou a sua rotação do Quitexe para Carmona - que, porém, só se concluiria em Janeiro de 1975. O Livro da Unidade, de que nos socorremos neste memoriar da história do BCAV. 8423, fala da «primeira fase da retracção do dispositivo do Sub-sector» - que, nesse Dezembro de há 41 anos, já incluíra o abandono das Fazendas Santa Isabel e Luísa Maria.
Os furriéis milicianos Fernando Pires e 
Luís Filipe Costa, ambos do Pelotão 
de Morteiros 4281
A esse dia, uma sexta-feira e já em Lisboa, o almirante Rosa Coutinho afirmou, sobre o ritmo das conversações com os movimentos, que «os deveres do povo português não se esgotam com a conclusão formal dos acordos de independência» de Angola. A descolonização, disse, «não é só conceder a independência às colónias, seria demasiado fácil e demasiado cómodo, mas não é tudo».
O almirante ia voltar a Luanda «ainda antes do Natal» e deslocou-se a Lisboa expressamente para conversações com «as autoridades centrais», imediatamente depois do seu encontro com os presidentes do MPLA (Agostinho Neto) e da UNIA (Jonas Savimbi), na cidade do Luso. Encontro que rotulou de «histórico» e também «vital» para o processo descolonizador.
Acrescentou, todavia, que «só ficarei descansado quando vir reunidos, no território de Angola, os presidentes dos três movimentos». «O que se está a tratar - disse Rosa Coutinho - não é tanto o estabelecimento de uma frente comum como do processo de descolonização de Angola».
Ontem, esses 41 anos depois desta etapa descolonizadora, vários Cavaleiros do Norte de Zalala (da 1ª. CCAV. 8423) reuniram-se no Porto, em almoço de Natal.
O Leirinhas apareceu pela primeira
vez nos encontros dos Cavaleiros
do Norte de Zalala
A grande novidade foi a presença do soldado Leirinhas, atirador que foi electricista, pela primeira vez e desde que os «zalalas» foram desmobilizados, em Setembro de 1975.  
O capitão Davide Castro Dias comandou as tropas, para o assalto gastronómico - com os combatentes Pinto, Queirós, João Dias (com a «mais que tudo»), Rodrigues e Barreto (todos furriéis milicianos, faltando Mota Viana, por estar adoentado), Maia (padeiro), Carneiro, Carvalho, Famalicão, Pereira, Vilaça e Pimenta. Esperamos não ter deixado escapar o nome de nenhum. 
Assim é que é... «trotar» a vida, meus caros Cavaleiros do Norte de Zalala!

sábado, 19 de dezembro de 2015

3 249 - Cavaleiros à espera do Natal e encontro do Luso

Cavaleiros do Norte da 1ª. CCAV. 8423, em Zalala: os furriéis milicianos José 
António Nascimento (vagomestre, emigrado nos Estados Unidos) e Manuel 
Dinis Dias (mecânico, falecido a 20 de Outubro de 2011, de
 doença e em Lisboa)

Rosa Coutinho a cumprimentar Jonas Savimbi,
na Base Aérea do Luso. À esquerda, de óculos,
Agostinho Neto. Entre este e atrás de Rosa
Coutinho (farda branca), está Lúcio Lara

Os uíjanos Cavaleiros do Norte lá andavam nas suas calmas, a galgar os dias quentes de Dezembro de 1974, entre serviços de ordem, fiscalização de itinerários (principalmente na Estrada do Café) e uma ou outra escoltas, nomeadamente em deslocações do comandante interino - o capitão José Paulo Falcão.
O correio da metrópole chegava aos montes, através do SPM e embrulhado em mensagens de Natal: da família, das mulheres, das namoradas, dos amigos, das madrinhas de guerra. Todos, quase todos, a perguntar pela data do regresso. No Portugal metropolitano, levedava a ideia de «nem mais um soldado» para as frentes coloniais, como se por lá - por Angola, por Moçambique, pela Guiné... - não estivessem milhares de homens para render!!!
Ao tempo, na véspera e lá por Angola e na base Aérea do Luso, o Alto Comissário Rosa Coutinho reuniu com os presidentes Agostinho Neto (MPLA) e Jonas Savimbi (UNITA), primeiro separadamente, depois a três. O comunicado final, lido por Lúcio Lara (chefe da Delegação do MPLA em Luanda), não podia ser mais esperançoso, anunciando ir ser posto «termo às hostilidades e propaganda que dificultem a colaboração franca e sincera entre as duas organizações».
Vista Alegre. Quartel onde. há precisamente
41 anos, estava instalada a 1ª. CCAV. 8423, a
de Zalala, comandada pelo capitão miliciano
Davide Castro Dias
O comunicado era de 10 pontos, deles sublinhando (nós) os de «procurar estabelecer, e conjunto com a FNLA, neste momento crucial da história do nosso povo, uma plataforma política para a formação do Governo de Transição». Também «estudar formas práticas de cooperação imediata, nos planos político e militar». Por outro lado, «opor-se, tenazmente, às manobras da reacção interna que visam perpetuar as relações injustas herdadas do colonialismo, perturbando assim a paz duramente conquistada, após anos de sacrifício». Finalmente, «combater com vigor as manobras que atentem contra a dignidade nacional e visem a secessão do país».
O encontro terminou com uma conferência de imprensa, durante a qual Agostinho Neto disse que ainda não estava marcados a data e o local da cimeira dos três movimentos com o Governo Português, mas que «ela se realizará depois de 27 de Dezembro, em território não português e numa área geográfica já definida pelos três movimentos de libertação».
Sabe-se hoje que, afinal, foi no algarvio Alvor (no Hotel Penina), começando a 10 de Janeiro de 1975 (uma sexta-feira) e terminando apenas a 28, acordando os representantes portugueses e dos três movimentos de libertação (FNLA, MPLA e UNITA) na constituição de um Governo Provisório, chefiado por um Alto-Comissário Português e na data de 11 de Novembro de 1975 como a do dia da proclamação da independência.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

3 248 - Calma no Uíge, encontro de Rosa Coutinho, Neto e Savimbi

Cavaleiros do Norte do Quitexe: Soares, Oliveira, Pais e Rocha, Estrela (braços cruzados e sem boina), Silva, 
alferes Hermida, Zambujo, furriel Pires (braços cruzados e farda de saída),  Felicíssimo
(atrás, de bigode, 
da 3ª. CCAV.), Mendes, Soares, Pires (o Fecho Eclair?) e Wilson. De cócoras, Jorge Silva (3ª. CCAV.) Costa, 
Salgueiro (?), furriel Cruz e Tomás

O furriel José Nascimento, da 1ª. CCAV.
8423, com o comandante Domingos Pascoal,
da FNLA, em Vista Alegre

A 18 de Dezembro de 1974, terminou no Quitexe o ciclo de exibições cinematográficas, iniciado a 4 (anterior) e que passou pelas várias subunidades dos Cavaleiros do Norte - e também abertas à população civil.
No mesmo dia, o almirante Rosa Coutinho, Alto Comissário de Portugal em Angola, encontrou-se na cidade do Luso (actual Luena, capital do Moxico) com os presidentes da UNITA (Jonas Savimbi, ali chegado dois dias antes) e do MPLA (Agostinho Neto). «Inesperadamente», reportou o Diário de Lisboa desse dia.
O vespertino da capital portuguesa adiantava que «existem fortes possibilidades» de as negociações serem conjuntas: envolvendo, pois, o Governo de Portugal e aqueles dois movimentos de libertação. 
Jonas Savimbi, recordemos, admitira dois dias antes concluir as negociações com o MPLA, no sentido de «criar, pelo menos teoricamente, a frente comum que durante os passados meses tem sido afincadamente procurada pelos três movimentos de libertação», sendo a FNLA o terceiro.
A frente comum iria «abrir caminho», assim se expectava, para a cimeira dos três movimentos de libertação com Portugal, para se estabelecer o Governo de Transição e «levar levar Angola à independência total».
Os presidentes do MPLA e da UNITA iam reunir com Rosa Coutinho, no Luso mas, em Paris, a FNLA atacava o movimento de Agostinho Neto, acusando este presidente de ter feito «todos os possíveis para criar dificuldades de última da hora» à realização da cimeira.
A notícia do Diário de Lisboa, de 18 de
Dezembro de 1974, sobre o encontro de Agostinho
Neto (MPLA) e Rosa Coutinho. na cidade do
Luso (Luena), em Angola
Pakou Zola, o dirigente do movimento liderado por Holden Roberto, sublinhou, nas declarações à Agência Reuter, que FNLA e UNITA tinham chegado a acordo sobre uma frente comum, «faltando apenas agora a unificação do MPLA».
Os Cavaleiros do Norte da CCS e da 3ª. CCAV. 8423 (aquartelados no Quitexe, esta última rodada da Fazenda Santa Isabel), a 2ª. CCAV. 8423 (em Aldeia Viçosa) e a 3ª. CCAV. 8423 (que se tinha deslocado de Zalala para Vista Alegre e Ponte do Dange) continuavam a sua jornada africana do Uíge angolano, expectantes mas confiantes  relativamente ao futuro.
O nosso primeiro Natal (e que viria a ser o último) como combatentes da guerra colonial.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

3 247 - A dura experiência de Parkinson de Rodolfo Tomaz

Rodolfo Tomás, à direita, com o António José Cruz, no encontro dos Cavaleiros do Norte 
da CCS em Santo Tirso - a 1 de Junho  de 2013. Mais atrás, reconhecem-se o Francisco 
Dias, o Aurélio (Barbeiro, de costas) e Manuel Machado

Rodolfo Tomás, António José Cruz,
António Pais e António Silva, quarteto de
rádio-montadores dos Cavaleiros do Norte.
Há 41 anos, no Quitexe

O Rodolfo Tomás foi 1º. cabo rádio-montador e companheiros de muitos convívios dos Cavaleiro do Norte da CCS. A doença de Parkinson alterou radicalmente a sua vida e a dos seus mais próximos.
O seu testemunho, na primeira pessoa:

Há cerca de dois anos e meio, comecei a ter pequenos sintomas de mal estar, em todo lado esquerdo e afectando braço e perna. Não dei grande importância e sempre tive a convicção de que tinha sofrido um ligeiro AVC durante o sono. Andava na rua, sempre a fazer gestos parecidos com o passo de marcha militar, abrindo e fechando a mão, pois sentia-a adormecida. Os dias foram passando, sem nunca a tal dar importância, mas cada dia... pior. Amigos e família diziam-me diáriamente «põe-te direito...», mas eu sentia-me direito. Era o que eu pensava. Na realidade, pude depois confirmar que já não estava bem no convívio de Santo Tirso. A prova está na foto da cerimónia religiosa, na qual estou, inadvertidamente, com a mão direita no cotovelo esquerdo. Só mais tarde observei esse pormenor. 
Postal de Natal do Rodolfo Tomás, do
Quitexe (Angola) e para a família, em 1974.
Há precisamente 41 anos! 
O passar dos dias e meses foi dando razão à minha mulher e filhos: eu andava torto e derreado, inclinado para a frente. Chegava à noite com dores nas costelas frontais, de tanto me pisarem no estômago. Um dia, fui a um acumpunturista e fez-me três sessões, uma por semana. No fim, disse-me que já não era com ele, para ir ao médico. 
O meu médico mandou fazer análises de rotina e medicou-me, pensando ser um resfriado vulgar. O certo é que eu estava cada vez pior. Acamei, pois tinha-me receitado para depressão, o que era contrário à doença. Emagreci 5 quilos. 
A minha mulher contou-lhe o que se estava a passar e ele viu-me, mandou parar com os remédios e disse-me que não podia fazer mais nada. Aconselhou-me ir às Urgências. Como sou do Porto, fui ao Hospital de Santo António. Consegui “infiltrar-me” e estive lá 8,31 horas. Fiz análises ao sangue, radiografia aos pulmões, electrocardiograma e cheguei a neurologia. Fiz um TAC à cabeça e passadas mais de duas horas veio o veredicto: «O senhor tem Parkinson».
Fiquei gelado. Uma equipa (duas médicas e um médico) tinham acabado de dar o “xeque mate” da minha vida. 
Afinal, o porquê desta doença? Como acontece? Quais os sintomas? Como tratar?
1º.- O Parkinson não tem cura.
2º.- O tratamento é só para atrasar o avanço da doença.
3º.- Não é hereditário.
4º.- Não é contagioso.
Rodolfo Tomás à saída de Carmona,
na estrada (do Café) para o Quitexe
Quais os sintomas? Tremuras das mãos e pernas, sensação de que a qualquer momento podemos cair. Muita fadiga. 
No meu caso e de momento, estou à espera de fazer uma ressonância. O lado esquerdo está mais afectado, com sensação de princípio de cãimbras e a latejar 24 horas. Um tormento, até para dormir. Tomo um sedativo para ajudar a dormir, com dores e sempre sem posição para acalmar.
Porquê Parkinson ou como tudo se passa?
Dizem os médicos que o nosso cérebro tem de gerar células que vão transitar e alimentar o sistema nervoso central. Quando tal não acontece, os nossos movimentos físicos ficam descoordenados, provocando dores (às vezes, tal como eu sinto), sensação de estar a ser calcado pela pata de um elefante. É um exagero, mas é para compreender melhor.
Esta anomalia de células que não alimentam o sistema nervoso central pode provocar outras doenças, tais como Parkinson, alzheimer e depressões. Há dias em que a pessoa se sente deprimida. Às vezes “choro”, sem saber como ou porquê? Sente-se uma enorme tristeza, talvez pensando que já não se consegue fazer o que fazíamos em novos.
Prevenções: Evitar lugares fechados e pouco arejados, para não respirarmos môfos e bolores (!!!).
- Tratamento: Comprimidos de Sinemet carbidopa e levodopa 25mg+100.
- Posologia: comecei com três comprimidos. Agora, 2+1+2+1, às 8, às12, às16 e às 20 horas.
RODOLFO TOMÁS

- NOTA: Os Cavaleiros do Norte acompanham, 
solidários, o delicado momento de saúde do 
companheiro Rodolfo Tomás. 
Inspiram-lhe, no que for possível, tempos melhores e 
mais felizes - com o desejo de muita força e coragem 
para reganhar a qualidade de vida que a vida lhe «rouba». 
Um grande abraço, Tomás! Embrulhado em esperança e
 com a fé que inspira e te pode tornar mais forte!