quinta-feira, 30 de junho de 2016

3 443 - Mobilização de alferes milicianos dos Cavaleiros do Norte

Cavaleiros do Norte da CCS no destacamento da Fazenda Luísa 
Maria: 1º. cabo Augusto Hipólito e furriel Viegas (atrás), Raúl Caixarias, 
Ezequiel Silvestre e João Marcos, todos eles do PELREC

Alferes milicianos Jaime Ribeiro, Augusto
Rodrigues e José Alberto Almeida (que chegou
ao BCAV. 8423 em Julho de 1974, já no Quitexe).
Em baixo, o alferes miliciano Mário
Jorge de Sousa, de Zalala

O comandante Almeida e Brito esteve no Destacamento da Fazenda Luísa Maria a 30 de Junho de 1974, na sua primeira visita de carácter operacional como comandante do Batalhão de Cavalaria 8423. A escolta foi do PELREC e a visita inseria-se no plano de «contactos operacionais» imediatamente seguintes à assumpção de responsabilidades dos Cavaleiros do Norte na sua ZA. Lá estava o grupo de combate comandado pelo alferes João Machado (de Operações Especiais, os Rangers), da 2ª. CCAV. 8423, 
a de Aldeia Viçosa.
Era domingo, o último do nosso primeiro mês de «maçaricos» da guerra colonial, e pelas matas do Uíge continuava a «Operação Castiço DIG». Na véspera e no Quitexe,  Almeida e Brito e o seu Estado Maior reunira uma vez mais as autoridades tradicionais do Quitexe, no «âmbito da actividade psicológica, com vista a preparar e mentalizar as populações para o programa do MFA», como já aqui várias vez lembrámos.
Um ano depois e chegados ao fim de um mês traumatizante (devido aos dramáticos incidentes da primeira semana desse Junho de 1975), os Cavaleiros do Norte, honrando os pergaminhos da arma e conscientes das suas responsabilidades no sensível momento que se vivia, tinham feito algumas alterações ao seu dispositivo. A 1ª. CCAV. 8423, aquartelada no Songo, rodou para Carmona no dia 12 e a guarnição do Negage «foi reforçada (...), com a desactivação de Sanza Pombo». E expectava-se a saída da 3ª. CCAV. 8423, do Quitexe para Carmona, o que só viria a acontecer a 8 de Julho, mais de uma semana depois.
Ordem de Serviço nº. 278, de 26 de Novembro
de 1973, com a «nomeação por imposição, para
prestar serviço na RMA» e vários futuros
alferes milicianos do BCAV. 8423

Hoje, recordamos a Ordem de Serviço nº.278, de 26 de Novembro de 1973, com a «nomeação por imposição, para prestar serviço na RMA e nas companhias que a cada um se indica dos srs. oficiais» do Regimento de Cavalaria nº. 4, todos futuros alferes milicianos:
- CCS: António Manuel Garcia, de Operações Especiais (Rangers), natural de Pombal de Ansiães, Carrazeda de Ansiães; Jaime Rodrigues Picão Ribeiro, Sapador, de Constância; António Albano de Araújo Sousa Cruz, mecânico-auto, de Santo Tirso.
-1ª. CCAV. 8423, a de Zalala: Mário Jorge de Sousa Correia de Sousa, de Operações Especiais (Rangers), da Calçada da Lavra, em Lisboa; e atiradores de Cavalaria Carlos Jorge da Costa Sampaio, da avenida 5 de Outubro, em Lisboa; Pedro Marques da Silva Rosa, do Bombarral; e José Manuel Lains dos Santos, de Almeirim. 
- 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa: João Francisco Pereira Machado, de Operações Especiais (Rangers), de S. Sebastião da Pedreira, em Lisboa; e atiradores de Cavalaria Jorge Manuel de Jesus Capela, da rua Fernão de Magalhães, em Lisboa; João Carlos Lopes Periquito; e Domingos Carvalho de Sousa, de Marrazes, em Leiria.
- 3ª- CCAV., a de Santa Isabel: Augusto Rodrigues, de Operações Especiais (Rangers), de Vouzela e morador em S.ebastião da Pedreira, em Lisboa; e atiradores de Cavalaria Carlos Almeida e Silva, de Outeiro do Marco, do Beco, em Ferreira do Zêzere; Mário José Barros Simões, de S. João Baptista, em Tomar; e Luís António Pedrosa de Oliveira, da Estrada de Santiago, em Marrazes, em Leiria. 

quarta-feira, 29 de junho de 2016

3 442 - Rotações e não visitas, guerrilheiros sul-africanos em Angola

Cavaleiros do Norte de Zalala: NN, Campos, alferes Lains dos Santos, 
furriel Nascimento e Casimiro. Em baixo, Ruizinho e NN. Quem ajuda 
a identificar estes (NN) antigos combatentes?

Furriéis Manuel Pinto (à esquerda) e João
Aldeagas, ladeando o alferes Pedro Rosa, que
hoje festeja 64 anos em Palmela. Um trio de
Cavaleiros do Norte de Zalala!

Os graves incidentes ocorridos na primeira semana de Junho de 1975 - e as consequências que provocaram e influenciaram os tempos mais próximos de há 41 anos, tão dramáticos foram... - levaram a que «não se verificassem quaisquer às visitas às subunidades» do Batalhão de Cavalaria 8423, a unidade dos Cavaleiros do Norte, ao tempo já principalmente aquartelado no BC12, em Carmona.
Os furriéis milicianos José Nascimento (à
esquerda) e Jorge Barreto, ladeando o soldado
 Santos, impedido da messe de oficiais de Zalala
A 3ª. CCAV. 8423 continuava no Quitexe (ida de Santa Isabel, a 10 de Novembro de 1974) e a 1ª. CCAV. 8423 no Songo, onde chegara no dia 24 de Abril, ida de Vista Alegre e Ponte do Dange. E aqui chegada, de Zalala, a 20 de Novembro, «completando as rotação a 25» desse mesmo mês de 1974.
As mudanças de dispositivo e, segundo o Livro da Unidade, «a necessidade de adaptação aos novos problemas a viver» também contribuíram para tal facto, muito embora, e de novo cito as palavras do comandante Almeida e Brito, «não deixasse de haver um perfeito e permanente apoio aos seus anseios, através de contactos inversos». Isto é, «com as vindas a Carmona dos comandos subordinados». Que ao tempo e no que ao BAV. 8423 tinha a ver, a ver tinha com a 1ª. CCAV. do capitão miliciano Davide Castro Dias (Zalala, Vistas Alegre/Ponte do Dange e Songo) e a 3ª. CCAV. do capitão miliciano José Paulo Fernandes (Fazenda Santa Isabel e Quitexe).
As dúvidas, no plano político, continuavam a levedar e Agostinho Neto, presidente do MPLA. pediu a demissão do Alto Comissário Silva Cardoso, acusando-o de «comportamento que contraria a evolução política do país». E as autoridades portuguesas de «pactuarem, com a movimentação de ex-pides e oficiais reaccionários que operam em Angola, donde algums deveriam ser expulsos».
As estruturas da PIDE/DGS, segundo Agostinho Neto, «continuam intactas e os reaccionários regressam, depois de saídas temporárias para Espanha, África do Sul e Brasil». «Há oficiais do Exército português, conhecidos como reaccionários, que voltam a Angola para exercerem funções não militares. O que quer isto dizer?», interrogava-se Agostinho Neto.
Um ano antes, dia 29 de Junho de 1974, os Cavaleiros do Norte continuavam envolvidos na «Operação Castiço DGI» e da África do Sul chegavam notícias da «passagem para Angola de mais de 100 membros da tribo Ovampo, que representa mais de metade dos 750 000 habitantes do país».
«Serão castigados com todo o rigor da lei», disse, sobre isso, o ministro da defesa Ovempo, o chefe Jefta Mukundi.
Os chamados «transfugas» iriam «provavelmente receber formação de guerrilha nos países vizinhos» e Jefta Mukundi apelou para que o ajudassem a deter os responsáveis, prometendo recompensa considerável. E anunciou que quem ajudar outros «a deixar do país sem passaporte incorre na multa de 6000 dólares ou um ano de prisão».
Ia assim  processo de independência de Angola, há 42 anos!

terça-feira, 28 de junho de 2016

3 441 - A morte de Fialho Panasco, 1º. sargento de Zalala!!!

O 1º. sargento Fialho Panasco (fardado) com os furriéis milicianos 
Plácido Queirós e Américo Rodrigues (`s esquerda), um civil e uma 
criança de Vista Alegre (à direita)

O 1º. sargento Fialho Panasco e esposa no
encontro de Águeda, a 9 de Setembro de 1995.
Em baixo, o condutor Aniano Mesquita Tomaz,
que hoje faz 64 anos, na Mealhada
O dia 28 de Junho está marcado, para os Cavaleiros do Norte, como o da morte, há 11 anos, do 1º. sargento Fialho Panasco - que foi chefe de secretaria da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala. A 28 de Junho de 2005, de doença oncológica e em Carnaxide (Lisboa), onde residia.
Alexandre Joaquim Fialho Panasco, de seu nome completo, nasceu a 17 de Outubro de 1935 e seguiu carreira militar. 
A Ordem de Serviço nº. 174 do BCAV. 8423 8423 publica louvor, sublinhando-lhe «a melhor prontidão, dedicação e espírito de sacrifício (...), o elevado sentido de colaboração, vincada para a lealdade do comando que serviu». O do capitão miliciano Davide Castro Dias.
Há 42 anos, em finais de Junho de 1974, estava ele (e todos os Cavaleiros do Norte) na jornada africana do Uíge angolano e continuava a «Operação Castiço DIG», sem contactos com o IN - muito embora, como refere o Livro da Unidade, «fossem normalmente referenciados os seus vestígios».
Em Angola, segundo uma notícia do Diário de Lisboa de 28 desse mês, «formaram-se mais de 30 movimentos políticos, depois do 25 de Abril». Para o MPLA, «esta proliferação de partidos e de organismos de carácter político constitui um perigo, na medida em que a maior parte poderia ser manipulada por diferentes interesses colonialistas», numa altura em que, denunciava o movimento de Agostinho  Neto, «Portugal ainda não reconheceu às suas colónias o direito à independência completa e imediata».
Angola continuava (era) também cenário de guerra (o próprio BCAV. 8423 estava em operação militar contínua) e o Serviço de Informação Pública das Forças Armadas anunciava mais três militares mortos, nenhum deles em combate: Miguel Coragem, de Conda, e o 1º. cabo Tavares Chicanha, do Bié (de doença), ambos do recrutamento local, e o 1º, cabo José Augusto Valente Fernandes, de acidente de viação e de Figueira de Castelo Rodrigo.
Um ano depois, continuavam os patrulhamentos nos principais itinerários (procurando garantir a necessária segurança do tráfego) e na cidade de Carmona - onde, apesar de tudo e depois da trágica primeira semana do mês, este «decorreu, no seu restante, sob forte tensão emocional, quer pelos alguns atritos que voltaram a dar-se», como sublinha o LU, como também pelas já várias vezes aqui referidas carências logísticas.
Ordem de Serviço nº. 54 do RC4 com a
apresentação do 1º. cabo miliciano (futuro
furriel) enfermeiro Jorge Barreto
Publicamos hoje, em fac-simile, a página da Ordem de Serviço nº. 54, de 6 de Março de 1974, do RC4, com a apresentação «vindo do Regimento de Serviços Saúde, por ter sido nomeado para servir no Ultramar, com destino ao BCAV. 8423, do 1º. cabo miliciano Jorge Manuel Mesquita Barreto». O enfermeiro Barreto da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala.
O então futuro furriel miliciano apresentou-se às 10 horas de 28 de Fevereiro de 1974, no Regimento de Cavalaria nº. 4, em Santa Margarida.
ar-se ser este militar digno do conceito em que do antecente era tido e que agora se confirmou».

segunda-feira, 27 de junho de 2016

3 440 - Formação do BCAV. 8423 e das Forças Militares Mistas

Alguns militares da 1ª. Companhia das Forças Militares Mistas (de Angola)
na parada do BC12, em Carmona. Receberam instrução dos quadros 
milicianos (alferes e furriéis) do BCAV. 8423. Há precisamente 41 anos!

Furriéis Mário Matos, 1º. cabo José António
Pampim e furriel João Brejo, que amanhã faz
64 anos, na Cruz de pau, no Seixal. Todos 

da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa

O mês de Junho de 1974, pelas bandas de Carmona e do BC12, foi tempo para a formação da 1ª. Companhia das Forças Militares Mistas (1ª. FMM), no caso integrada por elementos oriundos das fileiras da FNLA e da UNITA - já que o MPLA, na sequência dos acontecimentos da primeira semana, tinham sido expulsos da cidade (e do distrito).
Coronel Craveiro Lopes,
comandante do RC4 há 42 anos.
Quando se formalizou o BCAV. 8423
O comandante Almeida e Brito, no Livro da Unidade, refere também que «conseguiram-se os primeiros elementos para o Estados Maiores Unificados, quer do CTC quer do BCAV.», ficando na expectativa de neles «encontrar uma colaboração que permita levar a bom termo o processo em curso».
Preocupação do tempo, mas da área económica da região (que também inquietava os militares), era o abandono dos «trabalhadores das plantações que abandonaram a área de cultivo do norte e regressaram às suas aldeias nos planaltos centrais», como noticiava o Diário de Lisboa. Tal abandono poderia, e tal se temia, «causar problemas quando chegar a altura das colheitas, em Julho e Agosto». Colheitas do café.
Outra preocupação tinha a ver com os motoristas de camião, «preocupados com as barreiras de estrada e outros problemas» e que, receava o jornal, «possam não desejar transportar o café para os portos»Vários problemas tiveram os Cavaleiros do Norte com alguns, por esse tempo de há 41 anos e nalguns troços da Estrada do Café.
Um ano antes, e no Clube do Quitexe, reuniu uma vez mais (a 26) a Comissão Local de Contra-subversão (CLCS). E, noutra área, «afim de melhorar os itinerários do Subsector, entraram em curso da reparação dos itinerários Vista Alegre-Ponte do Dange e a picada para a Fazenda Santa Isabel».
A Ordem de Serviço nº. 73, de 28 de Março de
1974, do RC4, dá conta da extinção dos Esquadrões
de Instrução e da formação do BCAV. 8423
Hoje, recordamos a constituição formal do Batalhão de Cavalaria 8423, formado a partir de militares o 4º ., 5º. e 6º. Esquadrões de Instrução do Regimento de Cavalaria 4 (RC4) - ao tempo comandado pelo coronel de cavalaria Craveiro Lopes. 
A Ordem de Serviço nº. 73, de 28 de Março de 1974, do RC4, dá conta da sua extinção e da formação do BCAV. 8423 «com a seguinte composição: CCS, 1ª. CCAV, 2ª. CCAV. e 3ª. CCAV».
O Batalhão de Cavalaria 8423, como se pode rever no Livro da Unidade (capítulo 1, página 1), «pode dizer-se que começou a existir cerca de Outubro/Novembro de 1973, com a mobilização da maioria dos seus quadros». Teve o RC4 como unidade mobilizadora, mas «por condicionalismos diversos» não se realizou o 4º. turno de Instrução Especial de 1973, pelo que, no que respeita ao BCAV. 8423, «o encontro da maioria do pessoal do Batalhão - oficiais, sargentos e praças - só se deu a 7 de Janeiro de 1974, no Destacamento do RC4».
A leitura da Ordem de Serviço 73, de 1974 e do Regimento de Cavalaria 4, em Santa Margarida, dá-nos agora conta da formação oficial: 28 de Março de 1974. Já todos nos sabíamos estar mobilizados para Angola. E já os então futuros Cavaleiro do Norte tinham andado em instrução: desde as 9 horas de 8 de Janeiro, quando se realizou uma «reunião de trabalho em que estiveram presentes os quadros do BCAV».




domingo, 26 de junho de 2016

3 439 - Comandantes da ZMN e CSU nos Cavaleiros do Norte

Cavaleiros do Norte à porta do bar de Sargentos do Quitexe: Fernandes (de 
mão na mão do Ribeiro), Viegas, Belo (de óculos), Grenha Lopes (meio
encoberto), Bento, Costa (Morteiros) e Flora. À frente, Ribeiro (de mão 
na mão do Fernandes), Rabiço, Graciano e Abrantes (de cachimbo)

Brigadeiro Altino de Magalhães (em
cima) e coronel tirocinado Bastos
Carreiras (em baixo)
O dia 26 de Junho de há 42 anos (em 1974) foi de intensa actividade na ZA dos Cavaleiros do Norte, nomeadamente a resultante das visitas do brigadeiro Altino de Magalhães (foto de cima) e do coronel tirocinado Bastos Carreiras (foto de baixo) - respectivamente  comandantes da Zona Militar Norte (ZMN) e Comando do Sector do Uíge (CSU), em Carmona - à 2ª. CCAV. 8423 (em Aldeia Viçosa), à 3ª. CCAV. 8433 (na Fazenda Santa Isabel) e à CCAÇ. 4145 (em Vista Alegre).
As visitas foram acompanhados pelo comandante Almeida e Brito (do BCAV. 8423) e nelas e «na procura do estreitamento de relações entre a autoridade militar e administrativa (...) todas as reuniões de mentalização realizadas no decorrer do mês, o administrador do Concelho do Dange acompanhou esta visita», até porque, como refere o Livro da Unidade, «o brigadeiro Altino de Magalhães também realizou a sua visita nas funções de Governador do Distrito do Uíge».
O concelho do Dange foi criado em 1961, logo depois do 15 de Março, envolvendo os Postos Administrativos do Quitexe (até aí pertencente ao de Ambaca, com sede em Camabatela), de Cambamba, Vista Alegre e Aldeia Viçosa. O administrador chamava-se Galina (na foto, ao lado).
Altino de Magalhães, nesta data e ainda segundo o Livro da Unidade, também visitou o Destacamento de Luísa Maria onde, ao tempo e desde há bem poucos dias, estava o pelotão comandado pelo alferes miliciano João Machado, da 2ª. CCAV. 8423 (a de Aldeia Viçosa) - de Lisboa chegado a 4 de Junho anterior, com toda a guarnição comandada pelo capitão miliciano José Manuel Cruz.
Os Cavaleiros do Norte continuavam empenhados na «Operação Castiço DIG» e, em Luanda, na véspera (dia 25), «os sinos repicaram durante 15 minutos» para assinalar a independência de Moçambique e à meia noite registou-se «um minuto de silêncio em memória daqueles que tombaram durante as guerras de libertação em Angola e em Moçambique».
Em Libreville, a capital do Gabão, o presidente da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) apelou aos dirigentes da Organização de Unidade Africana (OUA) para «intervirem antes que seja demasiado tarde, para encontra uma saída para a situação muito preocupante que reina em Cabinda».
A FLEC acabava de ser «reconhecida pelo governo gabonês como representante do povo de Cabinda» e o (seu) presidente Ranque Franque denunciou «o conluio luso-angolano» para, segundo o Diário de Lisboa (citando a Agência France Press), «apropriação das riquezas de Cabinda, em detrimento do seu único proprietário legítimo, o povo do território».
O problema era que os três movimentos angolanos - o MPLA, a FNNLA e a UNITA - tinham, na Cimeira de Nakuru, mantido o princípio de que Cabinda era parte integrante do território angolano. Um problema que ainda hoje se mantém, como sabemos.

sábado, 25 de junho de 2016

3 438 - Acalmia e preocupações em Carmona, tiroteio em Luanda

Cavaleiros do Norte, a maioria de Transmissões: 1ºs. cabos Soares (atirador), Oliveira e Pais, furriel 
Rocha, 1º. cabo Estrela (braços cruzados e sem boina), Silva, alferes Hermida (de bigode), Zambujo, 
furriel Pires (de braços cruzados), Abel Felicíssimo (1ª. CCAV., de bigode e atrás), 1º. cabo Mendes (de 
quico e bigode), Soares, 1º. cabo Pires (escriturário?) e Wilson. Em baixo, Jorge Silva (3ª. CCAV.), 
José Costa, Salgueiro (?), furriel Cruz e 1º. cabo Tomás


António Santana Cabrita, soldado básico da
CCS, aqui com o furriel Viegas (à esquerda) e
crianças da sanzala da Talambanza, na saída
do Quitexe, na estrada para Carmona, em 1974.
Em baixo, há um ano e em Cascais, com os furriéis
milicianos Viegas e Cruz, todos da CCS
Carmona, há 41 anos e depois da trágica primeira semana de Junho - semana de «momentos difíceis, preocupantes em todos os aspectos», como sublinha o Livro da Unidade -, vivia a pacificação, controlada a segurança pela guarnição do Batalhão de Cavalaria 8423, muito embora «sob forte tensão emocional, quer pelos alguns atritos que voltaram a dar-se», quer também porque se viveram «momentos de carências logísticas», de que, aliás, já aqui falámos.
O Livro da Unidade, que citamos, refere que «são reflexo do estado de latente conflito que continua e dá azo a um desabar de esperanças que se possa ver em bom e belo panorama o dia de amanhã», como escreveu o comandante Almeida e Brito.
Luanda, a capital, também, vivia «um período de acalmia», logo a seguir à Cimeira de Nakuru, no entanto quebrada por «tiroteios esporádicos e alguns rebentamentos de morteiros nos bairros Operário, Vila Alice e Marçal». 
O Alto-Comissário, em comunicado, dava conta da «actuação de bandos de marginais armados, em alguns casos usando uniformes dos movimentos de libertação» e o seu reflexo no «amedrontamento da população, que vive em contínua instabilidade psicológica». O Diário de Lisboa noticiava assistir-se a «um possível início de actividades de terrorismo urbano, com o aparecimento de explosivos tipo armadilha».
Um ano antes, era terça-feira e através da leitura da imprensa soube-se que o funcionamento da PIDE/DGS em Angola custava anualmente 156 000 contos - o equivalente a 35 270 000 de euros, segundo o conversor da PORDATA. Tinha, para além de um director e de um sub-director provinciais, 6 inspectores adjuntos, 22 subinspectores, 61 chefes de brigada (incluindo uma mulher), 80 agentes de primeira (5 mulheres), 330 agentes de segunda, 17 agentes femininos de 2ª., estagiários, 15 agentes motoristas e pessoal técnico auxiliar de identificação, transmissão e administrativos - incluindo 50 guardas prisionais e 9 contínuos. Ao todo, 877 pessoas.
A PIDE/DGS, segundo o orçamento de 1974, tinha 6000 contos para gastos confidenciais e 8000 para informadores. A manutenção de grupos de Flechas, o seu braço armado, dispunha de uma verba própria: 32 000 contos - 5 180 000 milhões de euros, a custos de hoje.
Publicamos hoje, em fac-simile, a página da Ordem de Serviço nº. 55, do RC4, da 7 de Março de 1974, com a apresentação de mais três Cavaleiros do Norte, «por terem sido nomeados para o ultramar» e para as respectivas Companhias:
- CCS, a do Quitexe: António Santana Cabrita, soldado básico, natural do Alvor, em Portimão (Algarve) e agora residente em Cascais.
- 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala: os soldados de transmissões de infantaria José António Gomes de Almeida, de Sesimbra; e José Pereira da Costa Aires, da Baixa da Banheira, na Moita.
Os três chegaram do Batalhão de Reconhecimento de Transmissões (BRT), aquartelado na Trafaria.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

3 437 - Apresentação do capitão Oliveira, comandante da CCS

Cavaleiros do Norte do Parque-Auto, comandados pelo alferes António Albano Cruz (ao centro, de óculos, 
boina e mãos nas ancas). À sua direita, conhecem-se os 1ºs. cabos Domingos Teixeira (estofador, de tronco 
nu) e Joaquim Breda. À esquerda, o Agostinho Teixeira (pintor). Mais à direita, o Porfírio Malheiro. 
E os outros, quem são? Quem os identifica?

O capitão António Oliveira (à esquerda) com os
alferes milicianos António Manuel Cruz, António
Manuel Garcia e Jaime Ribeiro, na sanzala do Cazenza,
na saída do Quitexe para Camabatela 

A 24 de Junho de 1974, dia de S. João de há precisamente 42 anos, o Comando de Sector do Uíge (CSU), em Carmona, foi espaço de mais uma reunião de «contactos operacionais» da parte de oficiais do Batalhão de Cavalaria 8423, os Cavaleiros do Norte, cuja Companhia de Comando e Serviços (CCS) estava aquartelada na vila do Quitexe e com as companhias instaladas na Fazenda de Zalala (a 1ª. CCAV.), em Vila Viçosa (a 2ª. CCAV.) e Fazenda Santa Isabel (a 3ª. CCAV.). 
Ordem de Serviço nº. 59, fac-simile da
página com a apresentação do capitão
António Martins de Oliveira (SGE), que
veio a ser comandante da CCS dos
Cavaleiros do Norte
Era segunda-feira e os Cavaleiros do Norte continuavam envolvidos na «Operação Castiço DIG», da qual e depois de um seu soldado ter sido vítima de uma mina anti-pessoal, retirou a 41ª. Companhia de Comandos, «após umas escassas 18 horas de operação, quando ela e para esta unidade, envolveria 8 dias de actividade operacional» - assim historia o Livro da Unidade.
A 41ª. CC actuava na Baixa do Mungage e foi lá que acorreu o PELREC, depois da sua participação activa na operação, precisamente para evacuar o soldado vítima da mina anti-pessoal e lá também, na Baixa de Mungage, que conheci o furriel miliciano Dias, um conterrâneo de Águeda, que era da dita CC. 
«Há aqui alguém de Águeda?», perguntámos, eu e o Neto, quando chegados do local onde os Comandos nos esperavam para a evacuação, ao alvorecer de um qualquer dia de fins de Junho de 1974. Havia o Dias, que nós não conhecíamos, ficámos a conhecer, e que ainda hoje é companheiro de algumas jornadas gastronómicas. 
A 41ª. CC estava parada numa zona da mata da Baixa do Mungage - local mítico da guerra colonial no Uíge angolano... - e também lá encontrámos Valongo, outro furriel miliciano, que era angolano e tinha sido futebolista internacional júnior, enquanto atleta do FC do Porto. O que será feito dele?
O soldado foi evacuado para o Hospital do Negage, suponho que depois para Luanda, e acabou por ser amputado de um pé.
Recordamos hoje a Ordem de Serviço nº. 59, de 12 de Março de 1974, com a apresentação do capitão António Martins de Oliveira, que viria a ser o comandante da CCS do BCAV. 8423. Curiosamente, ia transferido da Escola Central de Sargentos, em Águeda - naturalidade dos furriéis milicianos Neto e Viegas.
Repare-se que vencia «gratificação de serviço como professor» e, entre outras regalias, tinha «casa anexa a esta escola» - suponho que nas chamadas Casas dos Oficiais, ainda hoje existentes mas lamentavelmente abandonadas. Outra nota curiosa: era portador de várias notas e assentos e de «um envelope lacrado, contendo declaração para liquidação de abonos, em caso de falecimento». Faleceu mas anos depois, em data desconhecida, já aposentado. Como major, então recentemente promovido, ainda o encontrei em Aveiro, como responsável pelo Distrito de Recrutamento Militar (DRM), no final dos anos 70, talvez princípios dos anos 80.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

3 436 - Comandante na mítica Zalala e testes de futuros Cavaleiros!

Zalala, onde o comandante Almeida e Brito esteve há 42 anos. A equipa 
de futebol: o furriel Eusébio Martins é o terceiro da esquerda, de pé, equipado 
e de bigode (falecido a 16/04/2014, de doença e em Belmonte). Em baixo, o 
furriel Jorge Barata (o quinto e de bigode, falecido a 10/10/1997, de 
doença e em Alcains), seguido do condutor José Romão (Carapau). 
Quem ajuda a identificar os restantes Cavaleiros de Zalala?

Oficiais de Zalala:  capitão Davide Castro Dias (ao
centro), ladeado pelos alferes Pedro Rosa e José Lains
dos Santos, a 4 de Junho de 2016, no encontro do Pombal.
Em baixo, 
Zalala: a mais rude escola de guerra!

A Fazenda Zalala, onde se aquartelava a 1ª. CCAV. 8423, anfitrionou o comandante Almeida e Brito mos dias 23 e 24 de Junho de 1974. Há 42 anos! 
O objectivo foi «o estabelecimento de contactos operacionais», tal como já acontecera no Comando de Sector do Uíge (CSU), em Carmona (a 12, 4 e 20) e na 2ª. CCAV. 8423, no dia em que chegou a Aldeia Viçosa (10), o mesmo da visita a Vista Alegre (à CCAÇ. 4145) e à Fazenda Liberato (à CCAÇ. 209).

A 1ª. CCAV. 8423 era comandada pelo capitão miliciano Davide de Oliveira Castro Dias e a lendária Zalala apontada como «a mais rude escola de guerra». Assim «rezava» a inscrição na parede, à entrada do aquartelamento (foto).
Era domingo, o da noite de folguedo de S. João e véspera do dia deste festivo santo popular, que por lá, todavia, não deve ter sido muito lembrado. Recordemos que, simultâneamente e desde as 4 horas da madrugada de 20, estava no terreno a «Operação Castiço DIG», mobilizando os operacionais do batalhão.
Luanda «acordara» nesse dia com o manifesto do Comité de Acção Política, de apoio ao MPLA e objectivando «a consciencialização das massas trabalhadoras, com vista à independência de Angola». Manifesto assinado por Aristides Van-Dunen, Frederico Colombo, Álvaro de Assis Africano, Noé Saúde, Hermínio Escórcio, Horácio Braz da Silva, Adolfo João Pedro, Arlindo Sousa e Silva, David Aires Machado, Manuel Pedro Pacavira e Roberto Victor de Almeida.

Os signatários do manifesto consideravam que o MPLA era «o legítimo representante do povo de Angola e único interlocutor para quaisquer negociações com o Governo Provisório». Por outro lado, e segundo Aristides Van-Dunen, «combatem quaisquer tendências divisionistas no seio do MPLA, apoiam o dr. Agostinho Neto e são contra qualquer ideia de realização do Congresso» do partido.
Hoje e na imagem ao lado, recordamos a Ordem de Serviço nº. 63, de 16 de Março de 1974, que publicou as classificações de testes de educação física de vários militares do BCAV. 8423, todos eles atiradores de Cavalaria:
- 1ª. CCAV. 8423: José J. P. Murraças, 18 valores; e Franklim S. Ribeiro, 16. Nenhum deles seguiu para Angola.
- 3ª. CCAV. 8423: Jaime F. Reis, 17 valores, não seguiu para Angola; António Manuel da Silva Matias Matias, 16; Raúl Henriques Caixaria, 16, de Sarge, em Torres Vedras; António Carvalho Moita, 17, do Campo de Santa Clara, em Lisboa; José Valdemar Guinote Mendes Antunes, 18, 1º. cabo, do Pragal, em Almada; José António dos Santos Neves, 16 valores, 1º. cabo, da Cerca, em Avelãs de Caminho, de Anadia; João Manuel Lopes Marcos, 16, do Pego, em Abrantes.
Raúl Caixaria e João Marcos foram mais tarde «transferidos» para a CCS (a companhia do Quitexe) e para o PELREC.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

3 435 - Acção psicológica, captura e libertação de «velho»

Cavaleiros dos Norte no Quitexe: tenente Mora, furriéis milicianos 
Neto, Viegas e Monteiro, 1º. cabo Miguel (todos da CCS) e furriéis 
milicianos Reino e Aldeagas (da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel)


Comandante Almeida e Brito e o capitão José
Paulo Falcão no encontro de Águeda, a 9
de Setembro de 1995
Aos 22 dias do mês de Junho de 1974, o comandante Almeida e Brito - acompanhado pelo oficial adjunto, capitão José Paulo Falcão - reuniu no Quitexe com as autoridades tradicionais, no «campo da acção psicológica», como nota o Livro da Unidade, precisando que também visava «preparar e mentalizar as populações para o Programa do MFA».
A Operação «Castiço DIG» continuava a decorrer, desde as 4 horas da madrugada do dia 20. Saliente-se que no seu decorrer, mas em data indeterminada, «foi capturado um velho do «quartel» de Aldeia, o qual, depois de interrogado, porque manifestou o desejo de voltar para a mata, foi posto em liberdade, de acordo com o panorama de aproximação pretendido e com vista a constituir exemplo de que as NT procura(va)m uma solução diferente da anterior para o caso de Angola».
Angola que, a avaliar pelas declarações de Agostinho Neto,  presidente do MPLA, iria continuar em guerra. «A luta só cessará quando os dirigentes do MPLA estiverem plenamente convencidos de que Portugal decidiu entregar o poder ao povo angolano», noticiavam as agências France Press e Reuters e o Diário de Lisboa desse dia 22 de Junho de 1974, a partir de Brazaville e citando Agostinho Neto, desmentindo uma notícia da Emissora Católica de Angola. Esta, anunciara, recordemos, a disponibilidade do MPLA para abandonar a luta armada e facilitar uma solução política do problema angolano. Para «sondar a reacção do MPLA», explicou, depois, o director de informação desta estação de rádio.
MPLA que, segundo Agostinho Neto, garantia que «a actual situação no território é extremamente favorável as guerrilheiros e que os combates estão a intensificar-se no sector oriental de Angola e no Enclave de Cabinda».
Notícia do Diário de Lisboa de 22 de Junho
de 1974, sobre o MPLA  e a guerra em Angola
Um ano depois, a 22 de Junho de 1975, conheciam-se mais pormenores da Cimeira de Nakuru, no Quénia. Por exemplo, que os presidentes Agostinho Neto (do MPLA),  Holden Roberto (da FNLA) e Jonas Savimbi (da UNITA) admitiam que «a situação do país se tinha deteriorado», isto após a «introdução de grande quantidade de armas, depois do cessar-fogo com o Estado Português», como referia o Diário de Lisboa. Assim como «a existência de zonas de influência, onde cada um dos movimentos reivindica superioridade militar, assim como armamento de civis». Os três presidentes lamentaram também que «as suas divergências internas tenham levado a combates que fizeram inúmeras vítimas a agravaram a situação, desenvolvendo o tribalismo, o regionalismo e o racismo».
A este tempo de há 41 anos e pelas bandas do Uíge, os Cavaleiros do Norte prosseguiam actividades correntes e de segurança, a que se acrescentaram «diversas escoltas, porquanto, perdida que foi a liberdade de itinerários, só se garante a certeza de movimentos com o apoio militar, quando não até, e também, o aéreo».

terça-feira, 21 de junho de 2016

3 434 - Operação Castiço DIG, 3 mortos e cimeira angolana

Manuel Idalmiro Vargas, condutor de Zalala (à direita e sentado) veio 
dos Açores com as netas e esteve no encontro da 1ª. CCAV. 8423 do Pombal. Aqui, 
sob o olhar atento do José Romão, outro condutor da Zalala


  
A 21 de Junho de 1974, prosseguiu a operação «Castiço DIG», que envolveu o Batalhão de Cavalaria 8423 (na sua mais autentica estreia nas matas de Angola) e a 41ª. Companhia de Comandos. 
Já ontem aqui se disse que «não teve grande compensação o esforço desenvolvido pelas NT» e vale a pena lembrar que «teve efeitos mais graves, pois que foi accionada uma mina anti-pessoal», da qual, infelizmente e em data indeterminada, «um seu soldado sofreu a amputação de um pé».
A notícia do dia, no que a
João Marcos e Raúl Caixarias, dois
 «PELREC´s» que participaram na
Operação Castiço DIG, há 42 anos.
Na foto de cima,
 Ferreira. 1º. cabo
Vicente e Francisco, de garrafa na
boca (atrás), Marcos (tapado), fur-
riéis Neto e Monteiro (à civil), 1º.
cabo Almeida (falecido a 28/02/2009)
e NN (cortado). à frente, Aurélio
(Barbeiro) e Leal (falecido a
18/06/2007)
 
Angola dizia respeito, tinha a ver com o MPLA: «As três dissidências estão decididas a ultrapassar as contradições secundárias para se uniram contra o inimigo principal, o colonialismo português», escrevia o semanário «África-Asie», lembrando o encontro de Lusaka, a 8 de desse Junho de 1974, «entre José Eduardo dos Santos, membro fundador do MPLA, Vieira Lopes, antigo membro da direcção e representante da tendência «Revolta Activa», e Dimuca, membro da direcção e representante de Agostinho Neto e Daniel Chipenda, antigo membro do comité director».
José Eduardo dos Santos é o actual Presidente do MPLA e da República de Angola. Para esse dia estava prevista uma «cimeira de unidade», em Lusaka, e preparação do 1º. Congresso do nacional do partido.
O Serviço de Informação Pública das Forças Armadas, nesse mesmo dia, dava notícia de mais três mortos em combate, em Angola: o furriel miliciano Hélder Aniceto dos Santos Lima, de Benguela (do recrutamento local), e os soldados Mário Justino Viegas Pacheco, de Olhão, e José Manuel da Silva, do Funchal, na Madeira. Os três mortos em combate.
Notícia do Diário de Lisboa sobre três
motos em combate, em Angola
Um ano depois, terminava a Cimeira de Nakaru, que entre outros pontos, confirmava a realização das eleições angolanas a 11 de Novembro, a aproximação política dos três partidos, para além do «cessar fogo que pôs termo às hostilidades entre MPLA e FNLA».
«O principal resultado da conferência foi a deliberação de fundir num só exército de 30 000 homens os efectivos das Forças Armadas dos três movimentos, desarmando os excedentes. Ao mesmo tempo iniciar-se-á a operação de desarmamento dos civis», noticiava o Diário de Lisboa de 21 de Junho de 1975.
Tudo bem! Só que na mesma edição também se noticiava a denúncia do MPLA, em comunicado, de «manobras ofensivas por parte da FNLA, tendentes a aproveitar a aparente acalmia que a realização da cimeira provocou».
Acrescentava o MPLA que as referidas operações, entre os dias 15 e 18, tinham «características de uma ofensiva militar conjunta e simultânea sobre as povoações de Forte República, Brito Godinho, Duque de Bragança, Cale, Cangola, Quiculungo, Samba Caju, Samba Lucala e Barra do Dande», algumas delas bem perto da Carmona, onde os Cavaleiros do Norte continuavam a sua missão. De Carmona e do Uíge, porém, não havia notícias na imprensa. O que era um muito bom sinal.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

3 433 - Comandante Almeida e Brito faleceu há 13 anos! Angola em 1974/75!!!

Almeida e Brito, comandante do BCAV. 8423 (o segundo, da esquerda), faleceu 
há 13 anos. Na imagem, da noite de consoada de 1974, no Quitexe, está 
ladeado pelo furriel Armindo Reino, Armando Silva e capitão José Paulo Falcão

Cavaleiros do Norte de Zalala no encontro do
Pombal: Neves (Bolinhas), Lains dos Santos (alferes),
Américo Rodrigues e Mota Viana (ambos furriéis)

O (então) tenente coronel Almeida e Brito, comandante do BCAV. 8423, faleceu há precisamente 13 anos - dia 20 de Junho de 2003, de morte súbita e no decorrer de uma viagem turística a Espanha. Tinha 76 anos e estava aposentado, com a patente de general.
Após o regresso de Angola, comandou o Regimento de Lanceiros de Lisboa e, entre outras funções, foi 2º. comandante da Região Militar Centro (em Coimbra) e da GNR e comandou a Região Militar Sul (em Évora). 
General Almeida e Brito 
Foi participante activo dos primeiros encontros dos Cavaleiros do Norte - quando melhor e mais intimamente conhecemos o lado humano do militar que nos comandou na jornada africana do Uíge angolano. A esse tempo, de Junho de 1974 a Setembro de 1975, foi dele o comando determinado e competente, que soube continuar o BCAV. 8423 sólido e solidário, corajoso e sem medos - principalmente nos trágicos dias da primeira semana de Junho de 1975, em Carmona.
Recordamo-lo com saudade, fazendo memória do grande comandante que, nas horas mais difíceis, foi homem maior e militar competente e corajoso.
Há 42 anos, dia 20 de Junho e uma quarta-feira, Almeida e Brito teve «contactos operacionais com o Comando do Sector do Uíge», em Carmona, e, às 4 horas da madrugada e a partir do Quitexe, «iniciou-se a Operação Castiço DIG, na qual participaram, nas suas 4 fases, todas as subunidades orgânicas do BCAV. 8423». A operação só terminaria em Julho (em dia desconhecido) e dela, segundo o Livro da Unidade, «não se viu grande compensação do esforço desenvolvido pelas NT, pois que, salvo uma emboscada sem consequências, no Tabi, só teve por reacção IN a materialização de tiros de aviso».
Notícia do Diário de Lisboa de 20 de
Junho de 1974, há 42 anos, sobre a luta
armada do MPLA em Angola
 
O dia foi tempo para se saber da disposição do MPLA em «manter a luta armada, até à independência completa», reagindo assim e em Brazaville, a notícias difundidas pela Rádio Eclésia - Emissora Católica de Angola, segundo as quais o movimento de Agostinho Neto «teria decidido renunciar a luta armada, para prosseguir, na legalidade a luta pela Independência».
O Comité Director do MPLA considerou a informação (no programa «Luanda 74») como «uma provocação destinada a estabelecer a confusão entre a população de Angola» e que, de resto, «já não era a primeira vez que fez eco de manejos provocatórios».
Um ano depois, chegavam ecos da Cimeira de Nairóbi (Nakuru), entre MPLA, FNLA e UNITA, apontando para «a unificação das tropas e aproximação política dos três movimentos». Formar-se-ia o exército nacional pela fusão das forças armadas dos três movimentos e pretendia-se também o desarmamento dos civis, mas Holden Roberto, presidente da FNLA, admitia que este «pode levar ainda muito tempo a concretizar».
Os trabalhos desse dia de há 41 anos apontavam para, entre outros aspectos, para o «restabelecimento do equilíbrio militar no norte de Angola». Precisamente a zona de acção do batalhão de Cavalaria 8423, os Cavaleiros do Norte.
- ALMEIDA E BRITO. Carlos José Saraiva de Lima
Almeida e Brito, Nasceu a 25 de Novembro de 1927 e
faleceu a 20 de Junho de 2003, de morte súbita.
Ver AQUI

domingo, 19 de junho de 2016

3 432 - Contra-subversão no Quitexe e férias dos rádio-telegrafistas

Cavaleiros do Norte no encontro da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala, a 4 de 
Junho de 2016, no Pombal: Mota Viana, Américo Rodrigues, Victor Velez e
João Aldeagas (Atiradores de Cavalaria), Manuel Pinto (Operações 
Especiais, os Rangers), João Dias (Transmissões) e Plácido Queirós 
(Atirador de Cavalaria), todos ex-furriéis milicianos 



A Comissão Local de Contra-Subversão (CLCS) do Quitexe reuniu a 19 de Junho de 1974. «Tiveram lugar as normais reuniões», lê-se no Livro da Unidade, apontando também o dia 26 (seguinte). Os Cavaleiros do Norte adaptavam-se à sua vida operacional e criavam empatias com as autoridades e população local. 
Gente TRMS de Zalala: Lago e Raposo (de
pé), Coelho, Hélio, Lourenço. Aires e Carlitos
.
E,na
foto de baixo, do Quitexe: 1º. cabo Mendes.
Soares, furriel Pires, 1º. cabo Oliveira e Costa. Em
baixo, NN, Zambujo e 1º. cabo Salgueiro
O mesmo acontecia em Aldeia Viçosa, vila onde estava aquartelada a 2ª. CCAV. 8423 (a do capitão miliciano José Manuel Cruz) e nas Fazendas Zalala e Santa Isabel, espaços, respectivamente, da 1ª. CCAV. 8423 (do capitão miliciano Davide Castro Dias) e da 3ª. CCAV. 8423 (do capitão miliciano José Paulo Fernandes).
O BCAÇ. 4211 já partira, fazia alguns dias, e a responsabilidade da ZA desde 14 que era integralmente assumida pelo BCAV. 8423. Almeida e Brito, o comandante, conhecia bem a zona (ali foi oficial adjunto do BCAV. 1917, em 1968) e inspirava confiança ilimitada aos debutantes combatentes. «Maçaricos», assim eram identificados na gíria militar. Era quarta-feira e o PELREC teve um patrulhamento apeado, depois de largado na estrada para Carmona e aldeia do Quitoque - galgando esta, onde os jovens combatentes viram as primeiras mulheres negras de seios nus e filhos pendurados nas costas, algumas a mascar tabaco..., depois caminhando por lavras adentro e pelos primeiros e temidos trilhos da mata, numa operação diurna que serviu de adaptação e de moer de alguns medos.
Ao dia, não sabíamos, mas desde a véspera que Richard Nixon, Presidente dos Estados Unidos, estava nos Açores para debater com António Spínola (PR de Portugal) a questão das colónias portuguesas. As conversações iam começar precisamente nesse dia 19 de Junho de há 42 anos. Era a Cimeira dos Açores!
Um ano depois, Junho de 1975, era a do Quénia - entre os três movimentos de libertação, buscando a paz que as armas «matavam» na terra da Angola que tinha independência marcada para 11 de Novembro desse 1975. O desarmamento dos civis e a expulsão de todos os elementos da ex-PIDE/DGS (com julgamento dos angolanos a ela ligados e sua reeducação nacionalista) e a acção do Governo e as suas implicações político-económicas foram temas das negociações da véspera. 
Carmona e o Uíge tranquilizavam-se militarmente, embora levedassem dúvidas sobre o futuro - particularmente da comunidade europeia branca. Continuavam as deficiências de abastecimento, logo por isso as carências logísticas, e as NT, sem grande descanso, procuravam assegurar «a liberdade de itinerários» - que, na prática, dependia da sua acção no terreno.
Hoje, 42 anos depois, lembramos um, grupo de militares entrou em férias de mobilização. A Ordem de Serviço nº. 65, de 19 de Março de 1974, dá conta dos seguintes, todos rádio-telegrafistas:
Ordem de Serviço nº. 65, de 19 de Março de
1974. Fac-simile da relação dos rádio-telegrafistas
que entraram em ferias (10 dias) de mobilização
- CCS: Humberto Mora Zambujo, de Sines; e João Orlando Machado da Silva, de S. João, em Lisboa.
- 1ª. CCAV. 8423: 1º. cabo Hélio Rocha da Cunha, de Mamouros, em Castro Daire; 1º. cabo Jorge Manuel da Silva, de Cárquere, em Resende; Fernando Jesus da Costa Coelho, de Campanhã, no Porto; e António Henriques Nunes Lago, da Pontinha, em Odivelas.
- 2ª. CCAV. 8423: 1º. cabo Jorge da Silva Martins, de Gândara dos Olivais, em Marrazes, Leiria; 1º. cabo José Maria Pedrosa de Pinho Beato, da Cedofeita, no Porto; João Carlos Santana Palongo, de S. Sebastião, em Setúbal; e Domingos Maciel de Faria, de Durães, em Barcelos.
- 3ª. CCAV. 8423: 1º. cabo António João Malhado Rodrigues, de S. Pedro, em Elvas; 1º. cabo Aníbal Amadeu Rocha dos Santos, do Bairro da Musgueira do Norte, no Lumiar, em Lisboa; José de Oliveira Novo, de Vale Rico, em Souto, na então Vila da Feira; e Jerónimo Maria Rafael Soares, de Massamá, em Queluz.
A Ordem de Serviço anota(va) também Manuel A. R. Falho (ou Fialho) e Arménio A. Vinhais, que não constam, porém, da lista dos militares que embarcaram para Angola - por razões que desconhecemos.