quarta-feira, 31 de outubro de 2012

1 457 - O 1º. sargento José Luzia da secretaria da CCS

Monteiro, 1º. sargento Luzia e Viegas, 
no bar dos sargentos do Quitexe em finais de 1974

O 1º. sargento Luzia foi responsável pela secretaria da CCS do BCAV. 8423 e louvado pelos «serviços prestados na RMA», que, segundo o Livro da Unidade, «merecem ser realçados e destacados em louvor público». 
O louvor sublinha-lhe «a maior lealdade, aprumo e correcção» e os serviços da maior responsabilidade que exerceu, «sempre se manifestando excepcionalmente competente e trabalhador», nas suas «delicadas missões» por terras do Quitexe, Carmona e Luanda.
Ontem falei com o agora sargento-mor Luzia, aposentado e à beira dos 79 anos, morador na Reboleira (Amadora): «O meu último serviço foi em 1987, em Lanceiros, na Polícia Militar, depois reformei-me».
Filho dele, falecido por doença aos 40 anos (em 2004), foi Luzia, internacional de andebol, atleta e mais tarde treinador-adjunto do Sporting. Deixou-lhe um neto, agora com 13 anos, de 1,82 metros e 71 quilos, andebolista do Benfica. Duas outras netas estão a acabar os seus cursos de médicas dentistas e uma filha é advogada e outra funcionária de um ATL, ambas na Reboleira.
Antes de Lanceiros e da PM, então como sargento-chefe, jornadeou pela guarnição de Braga e diz-se bem com a vida. «Não tive tudo o que quis, mas fiz muitas coisas que  gostei de fazer», comentou na nossa conversa.  
A acabar, deixou um recado: «Ó Viegas, quando estiver com o Monteiro, dê-lhe um abraço!!! E ao Dias, ao Mendes...». Darei!
- LUZIA. José Claudino Fernandes Luzia, 1º. sargento de cavalaria, responsável pela secretaria do CCS do  BCAV. 8423. Aposentado, atingiu a patente de sargento-mor e reside na Reboleira (Amadora).

terça-feira, 30 de outubro de 2012

1 456 - Pilhagens na estrada de Quitexe para Aldeia Viçosa


Quitexe e Aldeia Viçosa, ali tão perto, mas estrada (do café) 
de Carmona (Uíge) a Luanda, com muitos problemas nos finais de 1974

Aos dias (últimos) de Outubro de 1974, pelo Quitexe, continuava intensa a actividade de patrulhamentos, no sentido e com o objectivo prático de garantir a segurança do tráfego rodoviário. Aconteciam várias emboscada na estrada do café (principalmente) e nas picadas de acesso às localidades vizinhas da sede do BCAV. 8423.
Tal se justificava, prementemente.
«A FNLA, nomeadamente a partir de 18 de Outubro, começou a realizar actividade de pilhagem aos utentes dos itinerários, principalmente no troço compreendido entre Quitexe e Aldeia Viçosa», refere o Livro da Unidade.
Algumas delas fez o PELREC - e os pelotão de Sapadores (do alferes Ribeiro) e o grupo de combate de uma das companhias operacionais que por lá se aquartelava mensalmente, mais o Pelotão de Morteiros 4281, do alferes Leite. «Procurou-se contrariar esta acção de banditismo com o lançamento de patrulhamentos inopinados, aquando do aparecimento de queixas, sem que, contudo, se preveja parar com elas, já que, à aproximação das NT, a FNLA se furta ao contacto e, consequentemente, não se evita a acção já realizada, ou a realizar, pois a presença das NT não é, e não pode ser, contínua», historia o Livro da Unidade.
Os incidentes não eram só com os FNLA´s, mas também com alguns camionistas civis, que (até custa dizer) desdenhavam da tropa e faziam muita questão de tal coisa sublinhar. Uma vez, perto do Dambi Angola, tivemos de deter um deles - que nos chegou a ameaçar com armas. Ele, contra cerca de 30 homens armados de GNR, granadas e outros equipamentos de combate rápido.  

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

1 455 - A apresentação do sub-comandante João Alves

Edifício do comando do BCAV. 8434 (à esquerda)

As dificuldades do processo de independência de Angola começaram nos próprios angolanos, logo após da declaração de cessar fogo. Não se entendiam, por razões que teriam (ou achavam ter) e das quais agora não vale a falar.
A 29 de Outubro de 1974 (hoje se fazem 39 anos), apresentou-se no comando do BCAV. 8423, o sub-comandante João Alves, da FNLA, acompanhado de 6 elementos deste movimento emancipalista, identificando-se como sendo do "quartel" Aldeia, na serra do Quimbinda, na área do Quitexe - bandas por onde passámos algumas vezes, em operações militares, ou meras escoltas para as fazendas ou sanzalas, em apoio sanitário ou a actuvidades comerciais.
O que se passava era simples: eram atribuídas às NT actividades de perturbação cívica que, e cito o Livro da Unidade, «facilmente se concluíram ser de elementos estranhos, que procuram, certamente, criar um clima de desconfiança local, entre a FNLA e as NT».
O assunto foi esclarecido numa reunião no comando (foto) do Quitexe, que envolveu o comandante Carlos Almeida e Brito (BCAV. 8423) e a autoridade administrativa local. Registe-se este facto, nada dispiciendo, e cito o Livro da Unidade: foi a primeira vez que elementos da FNLA se apresentaram às autoridades militares portuguesas, depois do cessar-fogo. Assim se fez a história.

domingo, 28 de outubro de 2012

1 454 - O desarmamento dos milícias da área do Quitexe

O desarmamento dos milícias que operavam na área do Quitexe começou faz hoje precisamente 38 anos - a 28 de Outubro de 1974. A partir deste dia e voluntariamente, depois de uma reunião com todos os regedores, a quem «foi feito ver a necessidade de entregarem o armamento».
A reunião de 26 de Outubro decorreu na administração civil (fora, portanto, dos olhos dos militares da guarnição do Quitexe) e semeada de dúvidas e receios pois, na prática, tratava-se de desarmar milícias que eram (tinham sido) leais a Portugal, enfrentando os movimentos emancipalistas nas suas sanzalas. Ou talvez nem tanto, pois havia a ideia, na altura, de que milícias e combatentes conviviam abertamente nas suas povoações e lavras - em contactos mais ou menos  disfarçados, nas frequentes.
A memória refrescou-se sobre uma conversa com o alferes Garcia, numa escolta ao dr. Leal (capitão médico miliciano), a uma sanzala dos arredores do Quitexe, quando nos disse que os milícias de lá (e o regedor) estavam «feitos com os turras», para, por isso mesmo, «abrirmos os olhos». E o alferes Garcia lá saberia do que falava, pois trabalhava regularmente com o capitão José Paulo Falcão, o oficial de operações, e tinha informações que, naturalmente, não partilhava connosco.
Seja como for, o desarmamento decorreu sem problemas, com a entrega das armas no respectivo depósito do Quitexe, ao cuidado do BCAV. 8423. Não sei que destino lhe foi dado.

sábado, 27 de outubro de 2012

1 453 - O 1º. cabo enfermeiro Florindo do Cartaxo

Os 1ºs. cabos Florindo (o terceiro, da esquerda para a direita) e Alfredo Coelho (Buraquinho, o primeiro da direita), com dois Cavaleiros do Norte cujo nome está varrido da memória

O Florindo jornadeou pelo Quietexe, na enfermaria, onde ajudou a matar dores e saudades. Era forte, alto e com fama de pegador de touros, honrando as tradições tauromáquicas do Cartaxo, de onde é e onde vive! 
O Florindo, como enfermeiro, foi palmilhou muitas léguas, com o PELREC, pelo chão vermelho das picadas e trilhos do Uíge, espreitado pelos mesmos perigos que nós (os operacionais), mas ele com a mochila de medicamentos e 1ºs. socorros às costas, sem alguma vez lhe fraquejar o passo, ou a mão serena para o «remédio» que fosse preciso, na hora de ajudar alguém.
Foi companheiro (muito) próximo da nossas aventuras e desventuras da jornada angolana e, por mim, com afecto maior - pois foi portador, nas suas férias de Portugal, de encomenda que lhe chegou para me trazer. E comungou de muitas e saborosas conversa pelas noites quentes do Quitexe fora, amenizadas (ou alegradas) com o prazer de algumas Cucas, ou Nocais, diria mesmo de umas Eka´s, ou já mais para o fim, o prazer de saborear a espuma de uma N´Gola! A espuma e o que lhe vinha depois, fresquíssima, a gorgulhar na garganta! 
Hoje, nos acasos da vida, cheguei à fala com ele - ele que, pelo trabalho, não tem podido estar nos encontros dos Cavaleiros do Norte da CCS. 
«Ó pá, não tem dado mesmo!!!...», remediou-se o Florindo, em explicação curta para as suas ausências. «Pró ano tenho d´ir!!!...», prometeu, de ar solene.
A foto é do Quitexe, tirada bem perto da enfermaria e da messe de sargentos, e se não escapa o Florindo e o inimitável Buraquinho, varreu-se da memória o nome (que não o rosto) dos outros dois companheiros. Alguém ajuda? Quem são? 
- FLORINDO. Victor Manuel Nogueira Florindo, 1º. cabo 
enfermeiro. Natural e residente no Cartaxo, onde é 
proprietário de um restaurante.
- COELHO. Alfredo Rodrigo Ferreira Coelho, o Buraquinho, 
1º. cabo analista de águas. Natural e residente em Custóias, 
onde é proprietário de um restaurante.   

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

1 452 - O Velez, o Baldy Pereira e o Évora Soares de Zalala...

Velez, Miguel, Pires (Bragança) e Cruz (esquerda), Graciano, NN, 
Viegas, NN, Machado e Rocha, na messe de sargentos do Quietexe (1974) 

O nês de Outubro está a chegar ao fim e, por 1974 e no aquartelemento de Zalala, registava-se a chegada do furriel miliciano Évora Soares.

A Junho chegara o Velez, que viajou com a Companhia, de Lisboa para Luanda (sem fazer a instrução de Santa Margarida) - enquadrando-se nos comandados do capitão Castro Dias já no (campo militar do) Gafanil e com eles viajando a 7 de Junho de 1974 para a mítica e perigosa Zalala, enquadrado o pelotão comandado pelo alferes Rosa. Pelotão que também incluía os furriéis Pinto (de Oparações Especiais, os Rangers) e o Aldeagas (atirador de cavalria).
O Dias (transmissões) lembrou, há tempos, que o Velez foi lá alcunhado de Quinzinho da Catana. Foi um bom companheiro - que já lembrámos neste blogue, a 1 de Julho de 2009.
O Mota Viana e o Baldy Pereira, ambos caídos na alçada disciplinar, foram por essa substituidos pelo Rito e pelo Soares. Não tenho a certeza, mas creio ter sido o último a ocupar o lugar do M Viana. È uma questão cronológica que o livro da unidade poderá esclarecer, segundo o Dias, mas a verdade +e que apenas se refere ao Mota Viana - que castigado em Outibro de 1974 e saiu logo depois. Do Baldy Pereira, embora saibamos que esteve na companhia de Zalala, a verdade é que não o achámos no Livro da Unidade.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

1 451 - O Graciano de Santa Isabel e Lamego...

Fernandes, Graciano, um militar da FNLA e Neto (em cima), Rocha, 
Querido e Cardoso (em baixo), nos arredores do Quitexem em Janeiro de 1975

O Graciano foi garboso furriel miliciano da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel. Por lá jornadeou como atirador de cavalaria e era daqueles companheiros de quem nunca se pensa outra coisa que não seja a de com ele respirar amizade franca e partilhar afectos que se comungam, se sentem e se tornam inesquecíveis.
«Ó Viegaaaaas!!!!...», soltou-se ele, em gargalhada aberta e solta, há poucos minutos, quando, inesperadamente, lhe falei pelo telefone. Passados anos! «Ó furriel de operações especiais,  raaaangers!....».
Bom, se pensava eu surpreendê-lo, surpreendido fiquei com a agilidade mental do Graciano, de como ele  me reconheceu a voz e os tiques que todos temos, ao falar e, nestas coisas, da tropa, a evocar tempos imemoráveis!
Aproximou-nos por lá, pelo Quitexe, o facto de, sendo eu «ranger» e ser ele de Lamego (por onde suei as estopinhas do curso), termos criado afinidade muito próxima, o que nos divertiu por lá - a lembrar o chão de Penude, da serra das Meadas, de Cambres, da Magueija e do Souto (que afinal é Couto), do Granjal e da Matancinha, a Quintã, a Quintela e Sucres, os rios Balsemão e Varosa e toda a imensidão das vinhas e pomares do Douro - a estrada para a Régua, a ponte de Reconcos e os tantos sítios da terra lamecense. A Senhora dos Remédios e o presunto de Lamego!
O Graciano está nas suas 7 quintas!
Sexiiiigenário desde Abril, continua com a vida dedicada aos vinhos do Douro, a sua grande paixão. «Gosto disto, qué queres?! Só descanso aos domingos!!!...», disse-me ele, que mora em Cambres e tem casa em Lamego.
Mas isto de casas, é o que menos interessa. O Graciano emociona-se é a falar dos filhos: Nuno Mendonça, médico neurologista nos Hospitais da Universidade de Coimbra; e Helena, advogada nesta cidade.
Ainda lhe estou a ouvir a permanente gargalhada, na conversa desta noite. Que recuiu no tempo, até 1974 e 1975, e nos fez sentir mais jovens. «Ó pá, tens de vir cá, ao menos para um almoço», convidou o Graciano.
Irei! Vais ver que vou, quando menos esperares!
- GRACIANO. Graciano Correia da Silva, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel. Encarregado de armazém da Porto Cruz (actualmente, a francesa Marquase). Reside em Cambres (Lamego).
- FERNANDES. António da Costa Fernandes, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 3ª. CCAV.. Professor, residente em Braga,
- NETO. José Francisco Rodrigues Neto, furriel miliciano de Operações Especiais (Rangers), da CCS. Empresário, morador em Águeda.
- ROCHA. Nelson Remédios da Silva Rocha, furriel miliciano de transmissões, da CCS. Técnico de vendas, residente em Valadares (Gaia).
- QUERIDO. José Avelino Borges. furriel miliciano atirador de cavalaria, da 3ª. CCAV.  Empresário comercial em Odivelas. 
- CARDOSO: João Augusto Martins Cardoso, furriel miliciano de transmissões, da 3ª. CCAV.. Aposentado da função pública, natural de Arganil e residente em Coimbra. 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

1 450 - «Eusébio - o Pantera Negra" no Clube do Quitexe





O filme "Eusébio, A Pantera Negra", de 1973, rodou no Clube do Quitexe pelo mês de Outubro de 1974 e andou a rodar pelas várias companhias operacionais dos Cavaleiros do Norte.
A realização era de Juan de Orduña e tinha o próprio Eusébio com um dos intérpretes, ao lado da mulher (Flora Ferreira) e de Isabel de Castro, Júlio Cleto, José David, Gilberto Gonçalves, Maria Liberia, José Moreno, Ibrahimo Muss, Ermelinda Rodrigues, entre outros.
O enredo andava à volta de uma rapaz  que, como futebolista, evoluiu dos tempos da bola de trapo até à bola de ouro europeia e a projecção do filme encheu o salão do Clube por mais de uma vez.
"Eusébio, a Pantera Negra" relata-nos a vida do ídolo do futebol português, desde os primeiros pontapés na bola, passando pelos grandes momentos da sua vida pessoal, até à sua consagração como jogador de futebol.
As sessões eram abertas à comunidade civil e (não sei se com este filme) atraíam as mais jovens e atraentes raparigas do Quitexe, falo das europeias -,  filhas de fazendeiros ou comerciantes da zona, em quem os militares gostavam de pôr o olho, quanto mais não fosse para... «sonhar».
O filme foi passado em toca a ZA, entre 10 e 23 de Outubro (ontem se passaram 38 anos), assumido como «acção psicológica sobre as NT» mas também, e cito do «Livro da Unidade», uma «actividade orientada para as populações».

terça-feira, 23 de outubro de 2012

1 449 - Queirós, do armamento pesado à secretaria e louvor

Rodrigues, Queirós e Eusébio, em Zalala (1974)

Os dias finais de Outubro de 1974, na ZA dos Cavaleiros do Norte, foram passando entre escoltas, patrulhas e serviços de vigilância, alternando-as com uma ou outra escaramuças com os militares dos movimentos de libertação que iam aparecendo em zonas urbanas. 
E não era nada fácil gerir este comungar de espaços e autoridade territorial.
O Neto preparava-se para vir de férias a Portugal  e o PELREC, em termos operacionais, ficava muito dependente de mim, sempre que o alferes Garcia passava a adjunto do oficial de operações. E Zalala  preparava-se para viajar até Vista Alegre e Ponte do Dange, abandonando a mítica guarnição que era «a mais dura escola de guerra».
Zalala fazia, também, tempo de vésperas dos 22 anos do Queirós, que de furriel miliciano de armamento pesado, passou, com louvor, a auxiliar do 1º. sargento Norte, na secretaria e como encarregado da cantina, funções para as quais «não possuía aptidões especiais», mas, apesar disso e por tão eficiente ser,  colhendo «admiração de camaradas e subordinados» e, e aqui se sublinha com a justiça que se deve, «creditando a consideração do comando que serviu».
O Queirós, que foi furriel por Angola, é agora aposentado do Estado Português e está em plena forma física. Um verdadeiro Cavaleiro do Norte. Atinge a «patente» de «sexiiiigenário» a 26 de Outubro de 2012! Salvé, Queirós!
- QUEIRÓS. Plácido Jorge de Oliveira Guimarães Queirós, 
furriel miliciano de armamento pesado. Trabalhou na área do 
comércio automóvel, está aposentado e mora em Braga.
- GARCIA. António Manuel Garcia, alferes miliciano de 
Operações Especiais (Rangers), comandante do PELREC. 
Natural de Pombal de Ansiães (Carrazeda de Ansiães). 
Faleceu a 2 de Novembro de 1979, vítima de acidente, 
era agente da Polícia Judiciária.
- PELREC. Pelotão de Reconhecimento, Serviços e Informação.
- RODRIGUES. Américo Joaquim da Silva Rodrigues, furriel 
miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV. (Zalala). 
Aposentado, mora em Famalicão.
- EUSÉBIO. Eusébio Manuel Martins, furriel miliciano atirador 
de cavalaria, da 1ª. CCAV. (Zalala). Aposentado, mora em Belmonte.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

1 448 - O furriel que se veio embora e não voltou ao Quitexe

Rocha, Fonseca, Viegas, Belo, Ribeiro e Machado (à esquerda), Monteiro, Pires 
(Montijo), Costa (dos Morteiros), Machado (de cigarro na boca)  e Lajes (do bar de sargentos)


A foto é da noite de Natal de 1974, no Quitexe, mas vem aqui hoje, por antecipação de alguns dias, querendo celebrar os 61 anos do Fonseca - que os fará no próximo domingo, 29 de Outubro de 2012. Nasceu em 1951, na freguesia de Nossa Senhora da Fátima, em Lisboa.
O Fonseca era furriel amanuense e dono da típica sensibilidade alfacinha. E grande companheiro - e quando  digo grande companheiro, não me refiro à sua altura física (a pingar o metro e noventa e tal, penso eu de que!!!). Era da camaradagem e da cultura geral, que o tornava gente maior da  guarnição do Quitexe.
O Fonseca sempre nos ia dizendo, nos seus vagares das nossas latas conversas do bar de sargentos, no intervalo do seu trabalho no edifício do comando do BCAV., que quando viesse de férias não voltava. E a verdade e que não voltou.
Fez-se Janeiro de 1975 e aí veio ele até à capital do (ex)império - a revolucionária Lisboa que, ao tempo, fervia de emoções e génios políticos, grávida de acontecimentos e manifestações sociais. Veio de férias e no mesmo avião que o Monteiro - o «ranger» que secretariou o 1º. sargento Luzia.
Ele dizer, dizia!!! Que vinha e não voltava!!! E era convicto!!! Mas, realmente, nós é que não acreditámos em tal «ameaça». Mas, sem dúvidas, não voltou.
O Fonseca trabalha na área da contabilidade (é revisor oficial de contas). A última vez que falei com ele estava de boa saúde e contente com a vida, recordando os seus tempos do Quitexe com alguma nostalgia.
- FONSECA. José Carlos Pereira da Fonseca, furriel 
miliciano amanuense. Natural de Lisboa e residente no 
Laranjeiro (Almada). É técnico oficial de contas.
«

domingo, 21 de outubro de 2012

1 447 - O desarmamento das milícias da área do Quitexe

Entrada do Quitexe, do lado de Carmona (actual Uíge)

O comandante Almeida e Brito considerou o desarmamento das milícias como um dos três «acontecimentos da mais elevada importância» do mês de Outubro de 1974, na área de intervenção dos Cavaleiros do Norte. «Não teve boa aceitação dos povos, nomeadamente nos postos sede (Quitexe) e Aldeia Viçosa», refere o Livro da Unidade, afirmando mesmo «saber-se que os apresentados e o FNLA vivem em contacto permanente, quase geral, há largos anos».
«Sabe-se até -e continuamos a citar o Livro da Unidade - que poucas vezes, e salvo honrosas excepções, as milícias não tiveram actuações de vulto, em defesa dos seus aldeamentos». E era essa, recordemos, a sua missão primeira.
O desarmamento começou a 21 de Outubro, mas argumentaram os povos que «esses núcleos armados» - as milícias - eram a sua «melhor defesa às acções de depradação e exigência do IN» - sendo certo que, a isso, não poderia acudir a tropa portuguesa, pois «não chegava para superar todas as situações». E, por outro lado, vivia-se em período de cessar fogo - se bem que com intervenções pouco pacíficas e até a entrar  na área do banditismo fácil, assaltos, roubos, ameaças de morte a quem tinha servido a bandeira de Portugal.
A questão resolveu-se pacificamente - felizmente!!! - após uma reunião com os regedores, que de alguma maneira tutelavam as milícias, a 26 de Outubro. As milícias entregaram armas, voluntariamente, a partir de 28 de Outubro de 1974.

sábado, 20 de outubro de 2012

1 446 - Um Pisco que foi herói de Carmona...

1º. cabo Pisco (e Rito) no Encontro da 2ª. 
CCAV. 8423, a 29 de Setembro de 2012, em Vila Viçosa

Pisco é nome de Cavaleiro do Norte, atirador de cavalaria e 1º. cabo da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa. Foi louvado pela sua «actuação nos incidentes de Junho, na cidade de Carmona», que, assim sublinha o louvor do comandante Almeida e Brito, «foi bem marcada pelo intenso trabalho desenvolvido, não olhando a riscos e canseiras, factos que se tornaram notórios».
O 1. cabo Pisco era militar «disciplinado e dotado de forte sentido de camaradagem», pelo que, assim destaca o louvor proposta pelo capitão José Manuel Cruz (comandante da 2ª. CCAV.), «tornou-se apreciado por todos os que com ele privaram, razões que o distinguem».
A foto de Pisco é recente, do encontro de Vila Viçosa, a 29 de Setembro. E nela se mostra o seu olhar sereno e tranquilo, de gente que está de bem com todos e com a vida. Já dele referia o louvor de 1975 «a maneira como se conduziu na vida militar, onde se impôs pelo exemplo e determinação sempre demonstrados».
- PISCO. Francisco de Jesus Pisco, 1º. cabo 
atirador de cavalaria, natural de Proença-a-Nova 
e residente em S. João da Talha (Lisboa).

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

1 445 - Bem "pregou" 22 anos o 1º. cabo Tomaz

Tomaz, Cruz, Pais e Silva, rádio-montadores 
da CCS, no Quitexe, em 1974, na parada do quartel

A verdade manda dizer que não tenho a menor memória do episódio que aqui se conta. Mas também não tenho a menor dúvida do momento festivo de há precisamente 38 anos, no Quitexe, dia de anos do Tomaz! Vinte e dois!!! Os 22 anos do 1º. cabo rádio-montador Tomaz.
Aqui está história, na primeira pessoa, a dele:
"É verdade que tenho o Quitexe no coração, mas quem não tem? As memórias são mais que muitas e aqui vai mais esta recordação. Foi há 38 anos que festejei os meus 22 anos no Quitexe e desde logo ficou combinado que o aniversariante da equipa dos rádio-montadores tinha que pagar a jantarada. O primeiro foi eu e lá teve de ser. Fomos os quatro (eu, o Silva, o Pais e o furriel Cruz), todos todos jantar ao restaurante em frente da CCS - o Pacheco.
Nunca mais vou, ou vamos, esquecer o prato: coelho à caçador e isto nem é, não..., não é piada política do momento. Tudo foi bem regado com um garrafão de vinho arranjado pelo furriel Cruz, eu sei lá como!
Claro que não faltaram amigos de ocasião, a querer beber um copo mas o garrafão fixou-se no chão, trancado com os pés. 

A noite não terminou ali.
O furriel Cruz, depois de já estar um "pouquito" alegre, e não admira, disse-nos baixinho: «Venham ao meu quarto,  que tenho lá uma coisa só para nós". 

E lá foram os quatro Cavaleiros do Norte ajudar o furriel Cruz a levar, debaixo do braço, uma garrafa de whisky, agora, para o quarto dos rádio-montadores. Terminámos a noite a escondê-la, não fosse o diabo tecê-las, e fizemos o totoloto - o que nos deu motivo de grandes gargalhadas quando, no outro dia, mostrámos as cruzes que o furriel Cruz tinha feito: «Isto!!! Isto não foi eu...». Mas tinha sido.
Estes momentos são uma boa e feliz recordação de todos nós, para toda a vida. E recordo-os com emoção.
Grande abraço para todos os Cavaleiros do Norte que guardam e recordam estes momentos únicos das nossas vidas. 

RODOLFO TOMAZ

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

1 444 - Acções de banditismo e patrulhamentos inopinados

Aquartelamento da CCS do BCAV. 8423 no Quitexe, vista a partir da 
capela. O primeiro pavilhão era a caserna do PELREC, depois a dos sapadores

«A FNLA,  a partir de 18 de Outubro, começou a praticar a actividade de pilhagem aos utentes dos itinerários, especialmente no troço entre Quitexe e Aldeia Viçosa», lê-se no Livro da Unidade. O dia 18 de Outubro é hoje, mas falamos do de há 38 anos.
Ao tempo, existia o cessar fogo (no caso do movimento de Holden Roberto, que sucedeu à UPA, até unilateralmente declarado), o que pressuporia «a paragem de hostilidades entre as NT e a FNLA». Mas,  fosse por prudência, fosse por estratégia militar,a verdade é que «nada mudou a vida operacional que se conduzia» e que «continuou a caracterizar-se por intensa actividade de patrulhamentos, nomeadamente orientados para obtenção da liberdade de itinerários».
Recuando a esse tempo, e continuando a citar o Livro da Unidade, aqui deixamos este registo: «Procurou-se contrariar esta acção de banditismo com o lançamento de patrulhamentos inopinados, aquando do aparecimento das queixas, sem que contudo se preveja acabar com elas, já que, à aproximação das NT, a FNLA se furta ao contacto e, consequentemente, não se evita a acção já realizada e a realizar à posteriori, pois a presença das NT não é e não pode ser contínua»
Vale a pena recordar que, a 14 de Outubro desse ano, entre as fazendas Alegria II e Ana Maria, dois civis brancos europeus foram emboscados e mortos, quando seguiam numa viatura.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

1443 - Santa Isabel a preparar as malas para o Quitexe...

Fazenda Santa Isabel, onde jornadeou a 3ª. CCAV. 8423

A 17 de Outubro de 1974 - já lá vão 38 anos!!! - fomos de escolta a Santa Isabel, onde a 3ª. CCAV. 8423 contava dias para o adeus final, que viria a acontecer a 4 de Dezembro. Lá foi uma delegação de oficiais, julgo que comandada pelo capitão Falcão (o adjunto do comando e oficial de operações). Preparava-se a rotação destes Cavaleiros do Norte para o Quitexe.
O ciclo de visitas passara já pelo destacamento de Luísa Maria, onde estava um pelotão da 2ª. CCAV. (no dia 13) e iria a Aldeia Viçosa (a 24), não se efectuando a Zalala (que fazia malas para Vista Alegre e Ponte do Dange), Liberato (onde ainda estava a CCAÇ. 209/RI21, que se ia desmobilizar e, em Nova Lisboa, passar à disponibilidade) e Vista Alegre (onde se aquartelava a CCAÇ. 4145, que ia para Luanda) - justamente por esta razão.
A guarnição de Santa Isabel, por este tempo, estava reduzida, com um pelotão cedido ao BC12 e que passou por Quipedro e Além Lucunga. Regressou ao chão isabelianao a 8 de Novembro seguinte.
- Os últimos dias de Santa Isabel, AQUI
- Caçada de pacaça em Santa Isabel,  AQUI

terça-feira, 16 de outubro de 2012

1 442 - Os meados de Outubro de 1974 na área de Zalala...

Nascimento, Sousa e Dias (mecânico), junto a uma das cruzes de Zalala

Aos meados de Outubro de 1974, o êxodo dos trabalhadores rurais (principalmente oriundos da zona do Huambo, Nova Lisboa) teve forte impacto no Uíge e algumas fazendas fecharam portas, nomeadamente as dos arredores de Zalala, Canzundo e Vista Alegre.
A fuga - e de fuga se tratava, pois eram ameaçados de morte - era imposta pelos dirigentes e militares da FNLA, meio à socapa, outras vezes nem tanto assim. O Livro da Unidade, sem dúvidas, refere também «a fuga do pessoal dirigente das fazendas, por julgar que a sua presença não tem justificação e até que não será aceite no futuro, uma vez que se tem provas absolutas de que é a FNLA que impõe a saída dos trabalhadores rurais, sob coação de morte, se tal não fizerem».
Por Zalala, preparava-se a rotação para Vista Alegre e Ponte do Dange. O comando do batalhão fazia, por esta altura, visitas às diversas companhias, mas já nem foi a Zalala, justamente porque se estava já a operar a retracção do dispositivo militar, face ao cessar fogo - entretanto, e depois da FNLA, também anunciado pelos outros dois partidos emancipalistas: o MPLA e a UNITA. 
A Zalala chegavam, entretanto, um outro furriel miliciano atirador de cavalaria:o José Carlos Évora Soares - de quem não sei paradeiro. Assim como do Manuel Dinis Dias, que era o mecânico. De partida, estava o Mota Viana, que agora faz vida por Braga, na área das artes gráficas. O Nascimento emigrou para os Estados Unidos e vive no Arizona.  

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

1 441 O cessar fogo unilateral da FNLA, há 38 anos!

O presidente Holden Roberto e a bandeira da FNLA

A FNLA anunciou a 15 de Outubro de 1974 - hoje se completam 38 anos!!! -, o cessar fogo unilateral, pondo fim às hostilidades com as NT, o que, porém, e releio do Livro da Unidade, «em nada mudou a vida operacional» dos Cavaleiros do Norte, que «continuou a caracterizar-se por intensa actividade de patrulhamentos, nomeadamente orientados para a obtenção da liberdade de itinerários».
. Sabe-se agora que, e leio do site oficial da FNLA, que «conduzindo a luta armada até 11 de Outubro de 1974, a FNLA foi o único movimento que assinou um verdadeiro acordo de cessar-fogo com o Governo português, pondo assim fim a uma longa e heróica luta de Libertação Nacional»
Fazendo história e continuando a citar o site oficial, diz a FNLA que as sus origens «remontam a 7 de Julho de 1954, quand os angolanos formaram a União das Populações de Angola - a UPNA, que, em 1958, deu lugar à UPA (União dos Populações de Angola), «imprimindo-se a união um carácter nacional, cujo objectivo fundamental era a libertação e a independência nacional».
A UPA iniciou a luta de libertação nacional, a 15 de Março de 1961, antecedendo «esta acção patriótica» com as de  4 de Janeiro e de 4 de Fevereiro do mesmo ano na Baixa de Kassanji (Malange) e Luanda, respectivamente A 27 de Março de 1962 constituiu-se em Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), em fusão com o PDA (Partido Democrático de Angola). Era, no tempo dos Cavaleiros do Norte, o movimento mais presente em terras uíjanas de Angola.
 A FNLA afirma-se, segundo o mesmo site, como «o primeiro Movimento de Libertação de Angola a ser reconhecido internacionalmente», na Cimeira da OUA, no Cairo (Egipto), em 1963, através do GRAE (Governo Revolucionário de Angola no Exílio), seu órgão executivo, na pessoa do presidente Holden Roberto.
 O acordo de cessar-fogo foi assinado em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo (ex-República do Zaire), pelo Presidente da FNLA (Álvaro Holden Roberto), na qualidade de Comandante-em-Chefe do ELNA», e pelo general Fontes Pereira de Melo, Chefe da Casa Militar do Presidente da República Portuguesa, em representação do Governo português.
 A FNLA, foi a autora e co-signatária dos Acordos de Alvor, em Portugal, a 15 de Janeiro de 1975 e com os outros dois movimentos de libertação reconhecidos em Angola - o MPLA e a UNITA.
Ver AQUI

domingo, 14 de outubro de 2012

1 440 - Os revoltosos do Liberato à procura do mundo


Aquartelamento da fazenda Liberato (foto de Luís
 Patriarca). Em baixo, João Nogueira, da CCAÇ. 209/RI21




A noite de Bruxelas ia a meio, em descontraída conversa de bar de hotel, quando tocou o telefone: era o Nogueira, do Liberato, da Companhia de Caçadores que se revoltou, deteve oficiais e sargentos (europeus e angolanos) e intentou avançar para Carmona, para o Comando de Sector.
A CCAÇ. 209/RI21 era de intervenção e principalmente formada por  militares angolanos de todas as cores. Nunca interveio em coisa nenhuma e tempo houve, até, que por lá se sentiu abandonada e sem armas.
Nogueira, ao telefone, recapitulou a revolta, a detenção dos graduados europeus e o avanço para Carmona. Avanço que recuou já na estrada do café, indo os «zalalas» dar a volta pela Ponte do Dange. E porque se revoltaram? Nogueira, que por lá era condutor, filho de ferroviário europeu de Tomar, nem se lembra já: «Assim de momento, nem eu sei!!!», respondeu.
Oficiais e sargentos, de todo o modo, foram «todos postos no poiol» e, 38 anos depois, o condutor Nogueira dá conta que «já tinhamos contactos com a FNLA e depois com uma brigada móvel do MPLA».
E sabiam que vos esperávamos, antes do Quitexe?
O antigo condutor soltou uma gargalhagda e ficou-se por um misterioso «por alguma razão fomos dar a volta pela Ponte do Dange».
Nogueira, de resto, não tem complexos em assumir o estatuto dos revoltosos: «Éramos todos uns grandes  malucos!!!...».
O que o antigo «liberato» queria, agora, era «encontrar malta  daquele tempo». «Não sei de ninguém!!!», lamentou-se. 
Já ficou a saber o paradeiro de um dos «detidos», o meu amigo Zé Marques, que por Liberato jornadeou como  furriel miiciano Oliveira, o vagomestre. Natural do Caramulo, estudou e trabalhou em Águeda (onde reside), foi meu companheiro de escola e aposentou-se há pouco, da Caixa Geral de Depósitos. 
- NOGUEIRA. João Luís Nogueira da Costa, 
soldado condutor, natural de Tomar - onde 
reside. Foipara Angola aos 5 meses, com a família, 
de pai ferroviário. Viveu no Lobito,onde tem família.
Ver AQUI
AQUI
e AQUI
Ver AQUIAQUI e AQUI.

sábado, 13 de outubro de 2012

1 439 - Cavaleiros em Luísa Maria e notícias de Portugal


Caixarias, Ezequiel (?) e Marcos (em baixo), Hipólito e Viegas 
(em cima)  na  fazenda Luísa Maria, a 13 de Outubro de 1974. 

A 13 de Outubro de 1974, um domingo, o PELREC escoltou oficiais do Comando do BCAV.8423 à Fazenda Luísa Maria, onde ao tempo estava uma pelotão da 2ª. CCAV. 842.3, a de Aldeia Viçosa. A visita era de rotina, mas não tanto, pois preparava-se a rotação do dispositivo militar dos Cavaleiros do Norte e Luísa Maria seria um dos destacamentos a extinguir. E  assim foi, a 14 de Dezembro seguinte
De volta o Quitexe, recebo notícias de Portugal, em forma de  jornal e com algum atraso. Um comunicado do Governo «prisões, durante a madrugada, de elementos da reacção». E de uma apreensão de armas em Lisboa e o cancelamento de uma manifestação de apoio ao general Spínola. Ainda em Lisboa, rapazes e raparigas, na zona de Benfica, revistam minuciosamente todos os carros que entravam na cidade. O mesmo acontecia em Algés, em Sacavém e na ponte sobre o Tejo, do lado sul. 
«Caça às bruxas», escrevia o meu amigo Victor Oliveira, que tinha sido agente da Policia Judiciária e, ao tempo, era quadro superior da Dinners Clube, dando nota de que «neste outono quente, algo de anormal e indefinido se esta a passar».
A carta tem data e carimbo de 11 de Outubro e chegou ao Quitexe (com o jornal da véspera) na tarde de domingo, dia 13. Era o tempo em que os Correios funcionavam. De 5 de Outubro, uma semana antes, vinham recados de Costa Gomes: «Não cultivemos o espírito mesquinho da denuncia. Sejamos puros e sinceros a informar o povo  a juventude. Que na variedade de opiniões que a verdadeira democracia consente, possamos encontrar uma unidade pluralista».

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

1 438 - Os soldados angolanos do exército de Portugal


Plácido Queirós (a vermelho) e o Dias, mecânico (furriéis) e Carlos Sampaio(a amarelo, alferes) . Lá atrás, de bigode, o Barata (furriel). Em baixo, à direita, o Santinhos  

Grupo de combate dos Cavaleiros do Norte de Zalala, em imagem colhida na mítica e perigosa picada que ligava ao Quitexe, à civilização mais próxima. Eram para ai uns 40 quilómetros de pó e de medos, de que desconfiávamos a cada curva, ou zona de de arborização mais densa. 
Era a picada de Zalala, que nos levava à «mais dura escola de guerra», como se lia na entrada da fazenda que servia de aquartelamento aos comandados do capitão miliciano Castro Dias. 
O que aqui quero sublinhar, à distância serena dos 37/38 anos que se passaram, é a convivência fraternal entre militares europeus (os brancos) e os nativos, angolanos de nascimento e residência. Sempre pacífica e amiga, quantas vezes ultrapassando o mero relacionamento convencional, para se estender às suas famílias. Quantas vezes eram dados medicamentos e alimentação aos irmãos angolanos que, nesse tempo, vestiam a farda de Portugal!!! E roupas, artigos de higiene!!! Livros e artigos escolares!
Uma coisa que sempre me impressionou foi (era) o respeito pela bandeira de Portugal. Estivessem onde estivesse, dentro ou fora do aquartelamento, paravam sempre que se ouviam os toques de içar ou arrear bandeiras e, virando-se para onde sabiam decorrer a cerimónia, paravam e faziam continência - mesmo até civis. 
- SAMPAIO. Carlos João da Costa Sampaio, alferes 
miliciano atirador de Cavalaria, da 1ª. CCAV. 8423.
- QUEIRÓS. Plácido Jorge de Oliveira Guimarães Queirós, 
furriel miliciano atirador de cavalaria. Aposentado, 
natural e residente em Braga.
- OUTROS MILITARES: Alguém pode ajudar a identificá-los?

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

1 437 - A saída dos Caçadores da 209 do Liberato

A Fazendo do Liberato. Monumento  aos mortos

A meados de Outubro de 1974, ficou a saber-se que, na sequência das políticas determinadas por Lisboa (conducentes à independência de Angola), se iria iniciar a remodelação do dispositivo militar da zona de acção do Batalhão de Cavalaria 8423.
O BCAV. tinha sub-unidades em Zalala (1ª. CCAV.), Aldeia Viçosa (2ª. CCAV.) e Santa Isabel (3ª. CCAV.), mais companhias independentes em Vista Alegre (a CCAÇ. 4145) e Liberato (CCAÇ. 209/RI21), para além do Pelotão de Morteiros 4281 (Quitexe) e Grupos Especiais (GE) no Quitexe (o 217 e o 223), Aldeia Viçosa (222) eViosta Alegre (208).
A CCAÇ. 209, instalada no Liberato seria (e foi) uma das companhias a rodar. Regressaria a Nova Lisboa e ao RI21, a 8 de Novembro. A fazenda por onde jornadearam tantos e tantos militares portugueses, deixaria definitivamente de ter guarnição - o que acontecia desde 1961/62. E que guarnição!!!, a última, maioritariamente formada por militares angolanos, que se revoltou e embaraçou os Cavaleiros do Norte do Quitexe.
O Livro da Unidade dedica duas linhas e meia ao acontecimento: «Saliente-se ainda que, em 27SET, na sequência de outros incidentes internos, processaram-se na CCAÇ. 209 graves problemas disciplinares, os quais passaram ao controlo do Comando de Sector do Uíge».


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

1 436 - O Jorge Barata faleceu há 15 anos...

Barata, Lains dos Santos e Rodrigues em Zalala (1974) 


Hoje, quando já se faz noite e faço horas para o jantar, dedilho o computador de um 11º. andar de Bruxelas, onde a vida me trouxe por uns dias, ao Parlamento Europeu.
Aqui «achei» alguns portugueses, muito engravatados e algo solenes, com ar de muito atarefados e fazendo não sei bem o quê. Quero dizer, fazem política (ouvi dizer), uns; e assessoram, outros. E nada do que vejo é muito diferente desde a vez que a primeira vez que cá estive (já em 1997), nem das três que se seguiram - antes deste outono de 2012.
Os «milagres» tecnológicos permitem-me, deste quarto de onde pouco se vê pela cidade, de noite enevoada e fria, permitem-me chegar ao escritório de casa e à minha agenda dos Cavaleiro do Norte. E o que leio? Que amanhã, dia 11 de Outubro de 2012, 15 anos se passam da morte, inesperada e por isso mais cruel e injusta, de um companheiro de Zalala: o (furriel) Barata.
 Era o Barata de Alcains e de lá saiu para Santarém, onde fez recruta e especialidade na Escola Prática de Cavalaria. Saí eu de lá, depois da recruta,  para Lamego e só nos voltámos a encontrar em Santa Margarida, onde se formou o BCAV. 8423.
A Alcains voltou o Barata, depois da jornada angolana. Por lá continuou a vida, a trabalhar, constituindo família e a jogar futebol, pelo Desportivo de Castelo Branco e pelo clube da terra. 
A 10 de Outubro de 1997, hoje se passam 15 anos, passou normal o seu dia, era contabilista em Penamacor, e  faleceu vítima de um enfarte do miocárdio. Na véspera, ainda treinou futebol, jantou, sentiu-se mal, foi levado de ambulância ao hospital mas faleceu no dia seguinte, às 7 horas da manhã.
Deixou viúva, um filho e uma filha.

Até um destes dias, Barata!
BARATA. Jorge António Eanes Barata, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV. 8423. Natural de Alcains.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

1 435 - O capitão médico Leal fez 84 anos!!!



O capitão miliciano médico Leal fez 84 anos a 3 de Outubro. Oitenta e quatro, disse bem! Oito, quatro!!! Acabei de falar com ele e está magnífico, dando-me o prazer de contar que de mim se lembra muito bem. Fantástico! 
Aqui trago esta facto, o de se lembrar de mim, não para puxar  galões à minha vaidade (não é nada disso...), mas para sublinhar a notável jovialidade do dr. Leal. E a formidável frescura da sua memória!
 O então capitão miliciano médico deixou o Quitexe em  Outubro de 1974. E ali o vemos, em foto do tempo, à esquerda, com o tenente Luz - que também vende saúde e vida, do alto dos seus 82 anos, pela Marinha Grande.
O dr. Leal - assim o conhecíamos, sem olhar à patente militar -, era homem  de farta jovialidade e enormíssima e permanente boa disposição. Acumulou as suas funções militares com as de Delegado de Saúde do Quitexe e «apoiou permanentemente todas as populações civis, europeias e africanas».
Já aqui falámos dele, mas voltamos para lembrar que, aos 84 anos, ainda exerce clínica geral em Fafe (onde reside) - e hoje mesmo todo o dia deu atendeu doentes, no consultório de sua casa. Com uma memória fresca como alface a sair da hora.
«Então e o encontro, quando é o encontro? Quero lá estar...». E quando lhe disse que, para o ano, vai ser à porta de casa, em Santo Tirso, rejubilou por saber quem organiza - o engº. (ex-alferes) Cruz! 
Há 38 anos, deixou o Quitexe e os Cavaleiros do Norte e foi então que, além de louvado, foi condecorado com a Medalha Militar Comemorativa das Campanhas do Exército Português, com a legenda ANGOLA 1972-73-74. O dr. Leal é natural de Santarém e médico de clínica geral. Fazendo nossas as suas palavras, em Angola fez «todas as especialidades». Voltou há 38 anos e durante mais de 30 trabalhou no Hospital de Fafe, na Misericórdia, em lares e creches, onde quer que fosse reclamada a sua sacerdotal competência profissional.
Aos 84 anos, ainda está para as curvas. 
«Ó pá, vai ser uma festa quando fizer 104!!...», disse ele, na conversa telefónica desta noite.
Eu nem quero imaginar!!! Vai ser um festão!!! E nós, os Cavaleiros do Norte, já com 80!!! Vai serde arromba!!! 
Ver AQUI
- LOUVOR. Clicar na imagem, 
para a ampliar

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

1 434 - Deserções e punições em Outubro de 1974

Alguns elementos dos grupos de mesclagem, 
com militares da 1ª. Companhia, a de Zalala. Nenhum destes foi desertor

O mês de Outubro de 1974 foi tempo de deserções e punições, entre os Cavaleiros do Norte. Deserções de soldados do grupo de mesclagem, aquartelado na 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa. Punições, a 12 militares europeus, das quatro companhias. 
Não é que rapaziada fosse indisciplinada, não era, mas há sempre... coisas!
Os desertores foram quatro e todos oriundos do RI20. Aqui ficam os apelidos, sem os identificar totalmente, por boas razões: Gabriel (agora com 60 anos), Amaro e Sobrinho (com 61), Bartolomeu e Júnior (62). O que será feito deles, o que não será? Provavelmente, ao tempo, engrossaram as  fileiras de um dos movimentos de libertação. Agora, não fazemos ideia.
Quanto aos punidos foram «à dúzia». 
- CCS (5): Santos e Gaiteiro, 10 dias de detenção (o primeiro agravado para 15 dias de prisão disciplinar). Coelho,10 dias de prisão disciplinar, agravada para 20, pelo Comando de Sector do Uíge (CSU), e para 30, pelo comando da Zona Militar Norte. Pinho, 9 dias de prisão disciplinar. Marques, 20 dias de prisão disciplinar agravada, agravada para 30 dias de prisão disciplinar agravada pelo CSU. 
- 1ª. CCAV. (2): Viana (15 dias de prisão disciplinar agravada, agravado para 20, pelo Comando de Sector do Uige; e para 30, pelo comando da Zona Militar Norte. João, do grupo de mesclagem, 20 dias de prisão  disciplinar agravada, agravada para 30, pelo Comando de Sector do Uíge (CSU).
- 2ª. CCAV. (2): Marques, 10 dias de prisão disciplinar, agravada no BCAV. para 15 dias de prisão disciplinar. Guerreiro, 10 dias de prisão disciplinar, agravada no BCAV. para 20 dias de prisão disciplinar agravada.
- 3ª. CCAV. (3): Barata, Carvalho e Silva, os três com, cada, 10 dias de prisão disciplinar, agravada no BCAV. para 15 dias de prisão disciplinar.
- NOTA: Os nomes próprios foram propositadamente 
omitidos, podendo os apelidos corresponder, ou não, 
aos que então melhor identificavam os militares punidos.