sexta-feira, 31 de julho de 2015

3 207 - Reforços em Carmona e conflitos no território angolano

CARMONA, um dos últimos render de parada do BC12. Reconhecem-se o alferes 
miliciano António Albano Cruz (oficial de dia, à frente) e o 1º. sargento José Luzia 
(atrás). Em formatura, os clarins Irineu Sousa (?) e José Caetano, o furriel miliciano 
António José Cruz, seis praças (quem serão?) e o furriel miliciano Domingos Peixoto


A parada do BC12, em Carmona, notando-se
o mítico depósito de água, as casernas dos praças (do lado
esquerdo) e o refeitório e cozinha (ao fundo)





A 31 de Julho de 1975, «começou a materializar-se» em Carmona a operação de rotação dos Cavaleiros do Norte para Luanda. A operação vinha a ser preparada desde há dias, em reuniões do comando do BCAV. 8423 e elementos do QG/RMA - nos dias  23, 28 e 29, imediatamente anteriores. Na véspera, os pormenores indicados tinham sido dados ao Estado Maior Unificado e nesse 31 de Julho de há precisamente 40 anos, uma 5ª.-feira, chegou ao BC12 uma Companhia de Comandos (uma de Páraquedistas ficou aquartelada no Negage), que iria(m) reforçar a segurança da coluna que sairia (e saiu) a 4 de Agosto. 
«A operação começou a materializar-se em 31 de Julho, com a chegada de viaturas e de tropas de reforço, após ter sido comunicado à FNLA que tal se iria processar, o que foi feito em reunião com o Estado Maior Unificado, em 30 de Julho», relata o Livro da Unidade.
Luanda, para onde íamos, e no Caxito «a situação continuava estacionária, não havendo notícias de incidentes, nem movimentos assinaláveis de tropas, quer da FNLA quer do MPLA», relatava o Diário de Lisboa desde 31 de Julho de 1975.
O mesmo não acontecia, em Saurimo, na Luanda - com confrontos entre o MPLA e a UNITA. Mas, ainda segundo o Diário de Lisboa, «os conflitos armados que até agora se cingiam a Luanda, Quanza Norte e Malanje, já alastraram a outros pontos do território» - nomeadamente a Porto Amboim, a 400 quilómetros de Luanda, entre o MPLA e a FNLA, com «emprego de armas pesadas», que «pôs a população em pânico, tendo a maioria sido evacuada pelo navio «Sofala», com destino ao Lobito». Em Novo Redondo, 80 quilómetros mais a sul, «os combates que tinham cessado na terça-feira à tarde recomeçaram ontem (quarta) com particular violência, tendo sido usadas armas pesadas». A população preparava-se para «abandonar a cidade».
As 6000 pessoas que, em Malanje, se tinham refugiado no quartel das tropas portuguesas, «começaram a ser evacuadas para o sul de Angola. em comboios de 50 viaturas, escoltadas por militares portugueses em 10 quilómetros».

quinta-feira, 30 de julho de 2015

3 206 - Cavaleiros para rodar e combates do MPLA e FNLA

O BC 12, onde os Cavaleiros do Norte aquartelaram de 2 de Março a 4 de 
Agosto de 1975 - quando rodaram para Luanda. Visto do lado do Songo (foto de 
Jorge Oliveira, de 1973)  

Carmona, actual cidade do Uíge, capital
da província do mesmo nome, nos dias
de hoje. Foto da net




A 30 de Julho de 1975, hoje se fazem 40, anos (o tempo passa, éramos nós uns rapazinhos de 22 para 23 anos!!!...), o Estado Maior Unificado de Carmona reuniu pela última vez e na agenda estava o inevitável: a rotação do BCAV. 8423 para Luanda - prevista para 3 e 4 de Agosto!!! 
O facto estava comunicado à FNLA e com «o ambiente ligeiramente desanuviado», como se lê no Livro da Unidade, a expectativa dos Cavaleiros do Norte era a maior: a missão estava a ser cumprida, seguiria a nossa jornada africana de Angola por Luanda.
Luanda onde Agostinho Neto tinha sugerido a saída das tropas portuguesas, depois de o Alto Comissário Silva Cardoso ter comentado dias antes que Portugal «deveria renunciar aos acordos do Alvor», assinados em Janeiro desse ano de 1975. O presidente do MPLA não foi de meias palavras: «Estamos de acordo, se o Alto Comissário acelerar a saída das tropas portuguesas».
A FNLA continuava no Caxito, embora o MPLA comunicasse que as suas tropas cercavam a cidade. A FNLA, segundo o Diário de Lisboa desse dia 29 de Julho de 1975, estaria «à espera de carburante para avançar sobre Luanda». Precisaria, ainda e primeiro, segundo o DL, de «obter uma vitória militar 20 quilómetros a norte da capital, em Quifandongo, zona onde se concentravam importantes forças do MPLA».
Em Malanje, não tão longe de Carmona como isso, «recomeçaram os combates, ao fim da tarde de ontem, com particular violência». Dois aviões militares que transportavam fornecimentos «foram atingidos pelo fogo cruzado entre unidades da FNLA e do MPLA, tendo ficado ferido um dos tripulantes».
 Em Luanda, e continuamos a citar o Diário de Lisboa, «irrompeu ao fim da tarde um cerrado duelo de armas ligeiras e pesadas nas imediações da Fortaleza de S. Pedro da Barra, onde as tropas da FNLA continuavam a resistir ao assédio do MPLA». Era para esta Luanda, como aqui temos dito, que iam partir os Cavaleiros do Norte.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

3 205 - Uíge com fome e MPLA a querer «expulsar» tropas...

O edifício do antigo Comando do Sector do Uíge (CSU) e da Zona Militar 
Norte (ZMN), agora Órgão de  Justiça Militar (OJM) das Forças Armadas 
de Angola (foto  da net)

Holden Roberto, presidente da FNLA,
a 32 quilómetros de Luanda


A 29 de Julho de 1975, relatos de viajantes do Uíge, chegados a Luanda, davam conta de que «40 pessoas morrem diariamente de fome». Ao tempo, não tivemos por lá conhecimento de tal e muito menos com esta dimensão. Mas o Diário de Lisboa, de que nos socorremos, também dá conta da chegada ao Uíge, a esse tempo, de mais de 300 000 angolanos até aí refugiados no Zaire, durante a guerra da independência.
«A escassez de alimentação tornou-se desesperada (...). Ao mesmo tempo» -  reporta(va) o DL -, «continuam a afluir ao distrito os refugiados de Luanda, onde mais de 300 pessoas foram mortas nos combates que opuseram estes dois movimentos» - o MPLA e a FNLA.
Notícia do Diário de Lisboa de 29 de
Julho de 1975. O presidente do MPLA
sugeria a retirada das tropas portuguesas
As estradas de acesso ao distrito do Uíge (a Carmona), «dominado pela FNLA, estão controlados pelo MPLA», reportava o mesmo DL, razão que obrigava a que «os reforços de emergência tivessem de ser feitos por via aérea».
No mesmo dia, o presidente do MPLA sugeriu que «os militares portugueses deveriam abandonar imediatamente no território angolano». Agostinho Neto reagia assim aos incidentes de Vila Alice e afirmou que o seu movimento «perdeu alguns dos seus melhores quadros políticos». E exigiu, também, «a imediata retirada do Alto Comissário português».
Soube-se na mesma data que Holden Roberto, o presidente da FNLA, estava em Ambrizete, onde, segundo o Diário de Lisboa desse dia, se situava «a sede provisória do Estado Maior do ELNA» - Exército de Libertação Nacional de Angola, o braço armado da FNLA. O ELNA «mantinha inúmeros postos de controlo entre Ambrizete e Caxito» e, aqui, a um dezena de quilómetros, «as FAPLA dinamitaram uma pequena ponte».
Era de lá, de Ambrizete, que Holden Roberto dizia à AFP pensar que, e cito, «a situação vai evoluir nos próximos dias». Depois do Caxito, acrescentou o presidnete da FNLA, «devemos preparar-nos para um novo assalto, tanto mais que , neste momentos, nos encontramos apenas a alguns quilómetros de Luanda e posso garantir-vos que tudo se fará para que este ataque tenha êxito».
Holden Roberto acusava o MPLA «ter violado todos os inúmeros acordos» e, por isso mesmo,acrescentava, «não queremos voltar a ser enganados... portanto devemos avançar».
Preparava-se o cerco a Luanda!

terça-feira, 28 de julho de 2015

3 204 - Cavaleiros a fazer malas e tensão em Carmona

O BC12, em Carmona, vista aérea. O pavilhão em baixo era o da cozinha e refeitório, 
a seguir as oficinas e a parada, com casernas e serviços 
de ambos os lados. Ao fundo, de cobertura vermelha, o edifício do comando. 
A estrada para cidade (para a direita) e o Songo (esquerda)

Quitexe, a Estrada do Café. A placa
indica que Carmona (Uíge) fica
a 39 quilómetros. Centenas
de vezes que os Cavaleiros do Norte
 por aqui passaram, em 1974 e 1975


28 de Julho de 1975! É domingo e, em Carmona, os Cavaleiros do Norte estão cada vez mais próximos do dia da rotação para Luanda. Já se sabe que a CCS e a 1ª. CCAV. 8423 vão de avião, directamente para Luanda, para o aquartelamento do Batalhão de Intendência de Angola, no campo Militar do Grafanil.
A preparação da gigantesca operação «não de adivinhava fácil» e sabia-se que a 2ª. CCAV. (a de Aldeia Viçosa) e a 3ª. CCAV. 8423 (a de Santa isabel, depois do Quitexe e agora em Carmona) vão em coluna terrestre, com apoio de uma Companhia de Comandos e outra de Paraquedistas. 
A FNLA «reina» no Uíge e repete embaraços às NT «perigosamente alvo das queixas e ataques da FNLA, nomeadamente reivindicando os desequilíbrios de outros locais», como se lê no Livro da Unidade. O ambiente é pesado e os Cavaleiros do Norte, com instruções operacionais rigorosas, tudo vão suportando, com rigor, com coragem, sacrifício e dor.
A mesma FNLA, no Caxito, continua sem avançar sobre Luanda, «apesar das sucessivas ameaças». Na verdade, lê-se no Diário de Lisboa desse dia, «o MPLA organizou um cerco às forças da FNLA e começou a sabotar pontes». A de Porto Quiri já estava cortada pelas FAPLA´s e o MPLA «iniciou a concentração de forças para desencadear um ataque à FNLA», admitindo-se que fosse «utilizar artilharia e mísseis terra-ar».
Notícia do Diário de Lisboa de 29 de Julho
de 1974, há 41 anos, sobre a cimeira e acordo
do MPLA com a FNLA
Em Kinshasa, um comunicado da FLEC (que reivindicava a independência do Enclave de Cabinda, dava conta do não reconhecimento do Governo Revolucionário Provisório, anunciado por Nzita Henriques Tiago. «Embora vice-presidente da FLEC, Nzita Henriques Tiago não pode comprometer o nosso movimento sem autorização do presidente Luís Fanque Franque. Esta sua iniciativa é, portanto, demagógica e das mais graves consequências», considerou o comunicado, adiantando que Luizi Mailu, indicado como Ministro dos Negócios Estrangeiros do GRP, «já foi demitido das funções que tinha na FLEC» e que «seja como for, as populações de Cabinda reconhecem um só líder - Luís Ranque Franque».
Assim ia, há 40 anos, o processo de independência de Angola. 
Um ano antes, em Bukavu, no Zaire, MPLA e FNLA (sem a UNITA) «concordaram em estabelecer uma frente comum para negociar com Portugal a independência de Angola». O acordo foi assinado depois de dois dias de conversações e entraria em vigor logo depois do congresso do MPLA, dias depois. O presidente Agostinho neto foi «violentamente criticado durante a cimeira» e o Diário de Lisboa de 29 de Julho de 1974 admita mesmo que se teria demitido. Este facto, todavia, «não foi oficialmente confirmado».

segunda-feira, 27 de julho de 2015

3 203 - Véspera do êxodo civil e ataque às NT em Luanda

O BC12, na estrada para o Songo, visto do lado de Carmona (seta verde). 
O bloco da direita (seta vermelha) foi o «pouso» dos furriéis milicianos 
da CCS nos últimos dias do Uíge. Há 40 anos!

Santos e Castro com Holden Roberto,
presidente da FNLA. há 40 anos,
possivelmente no Ambriz

A 27 de Julho de 1975, um domingo, os Cavaleiros do Norte continuavam a preparar a rotação para Luanda, prevista para 3 e 4 de Agosto. Faltava uma semana e aguardava-se a chegada de tropas de reforço. Os furriéis milicianos da CCS já tinham abandonado a messe do Bairro Montanha Pinto e estavam instalados no bloco habitacional ao lado do BC12 (ver foto).
A população civil, no geral até aí muito hostil às NT,  passou a ter novo entendimento sobre o seu papel e a solicitar apoio, querendo acompanhar a coluna militar que ia partir para Luanda. Diz o Livro da Unidade que «insegura e descrente do seu futuro (...) resolveu-se pelo êxodo».
Na véspera, noite de sábado, dia 26 e em Luanda, no bairro Vila Alice, «o MPLA desarmou um grupo de militares portugueses que seguiam numa viatura» e, segundo o comunicado do Alto-Comissário Silva Cardoso, «posteriormente, mandaram seguir a viatura, tendo aberto fogo pelas costas contra os seus ocupantes, tendo ferido dois, um dos quais gravemente». O COPLAD exigiu a entrega dos agressores até às 8 horas, «mas não foram entregues, nem dadas explicações às autoridades portuguesas».
O prazo foi dilatado até às 10 horas, quando «montaram um dispositivo para a detenção dos homens do MPLA», na Vila Alice. O comandante português discutiu com o do MPLA e, estando as NT no exterior, «as forças do MPLA abriram, fogo sobre as tropas portuguesas, que ripostaram, generalizando-se o incidente e provocando 15 mortos e feridos entre as FAPLA´s e civis». O incidente motivou um comunicado do MPLA, nomeadamente «exigindo explicações públicas urgentes».  E anunciando que ia mandar um protesto ao Governo Português e ao MFA. Entre as forças portuguesas, ficaram feridos dois alferes, dois furriéis e um soldado.
Malanje era palco de combates entre o MPLA e a FNLA, «após ligeira trégua conseguida pelas autoridade portuguesas, que pretendiam «a evacuação dos feridos e o abastecimento de víveres».
No Luso, os combates com o MPLA resultaram em «inúmeras baixas nos militares da UNITA».
O Caxito continuava ocupado pela FNLA, que, 
O Diário de Lisboa noticiava, a 28
de Julho de 1975, que o tenente coronel Santos
e Castro comandava a força
da FNLA que ocupava o Caxito
segundo o Diário de Lisboa, «aguardavam o reagrupamento de colunas vindas do norte, para então avançarem sobre Luanda». Mas o MPLA dava conta que as tropas da FNLA no Caxito «estão cercadas e sem possibilidade de avanço».
Era para esta Luanda que os Cavaleiros do Norte preparavam a sua partida, dizendo adeus a Carmona. O DL dava conta que «um antigo oficial do Exército Português comanda a coluna da FNLA que ocupa o Caxito». Era o tenente-coronel Santos e Castro - irmão do engenheiro Fernando Santos e Castro, que tinha sido Governador Geral de Angola, deputado da Assembleia Nacional e presidente da Câmara de Lisboa. pai de Ribeiro e Castro, até há dias deputado do CDS/PP.

domingo, 26 de julho de 2015

3 102 - FNLA proclama guerra total e MPLA a resistência popular



Fortim e casa da administração da fazenda Chandragoa, no arredores do Quitexe, onde
os Cavaleiros do Norte estiveram há precisamente 41 anos, dia 25 de Julho de 1974

Título do Diário de Lisboa de 26 de Julho
de 1975, reagindo à declaração de «guerra
total», feita pela FNLA
Dia 26 de Julho de 1974. O tenente coronel Almeida e Brito, comandante do BCAV. 8423, instalado no Quitexe, deslocou-se à Fazenda Minervina. Na véspera e de uma assentada, tinha estado nas Fazendas Chandragoa, Businaria e Isabel Maria. E já tinha visitado, nesse Julho de há 41 anos, as fazendas Negrão (no dia 7) e Rio Duízio (14).
Um ano depois, em Luanda e lendo agora no Diário de Lisboa desse último sábado de Julho, «o glorioso MPLA, legítimo defensor dos interesses e aspirações do povo angolano, proclama a resistência popular generalizada de guerra aos dirigentes da FNLA». Respondia, assim, à «proclamação de guerra total» feita na véspera, por Holden Roberto, através da Emissora Oficial de Angola.
A FNLA declarou «guerra total ao MPLA,
como se lê na notícia do Diário de Lisboa
de 26 de Julho de 1975. Há 40 anos!
A FNLA ocupara o Caxito e estaria a 17 quilómetros de Luanda, no Cacuaco - o que, todavia, foi desmentido por fontes próximas do MPLA. Continuava no Caxito, segundo este movimento (o de Agostinho Neto), «com 7 carros blindados, auto-metralhadoras de fabrico americano e tropas de infantaria». 
Holden Roberto, através da Emissora Oficial de Angola, fôra claro no apelo à «guerra total contra o MPLA», apelando simultâneamente, às tropas portuguesas «para não intervirem», sob o risco de, observou, «Angola mergulhar num banho de sangue».
O presidente da FNLA afirmou igualmente que a sua frente dispunha de «forças consideráveis, capazes de controlar todo o país» e acusou a União Soviética, Cuba e Moçambique de «interferirem nos assuntos internos de Angola». Assim como as tropas portuguesas de «ajudarem o MPLA».
Luanda, a 25 de Julho de 1975, registou «intenso fogo de armas pesadas, especialmente de morteiros, durante toda a manhã e até às 17 horas, incidindo especialmente nos bairros Cazenga, Cuca e Petrangol». Ao fim da tarde, os FNLA´s do quartel de S. Pedro da Cuca «entregaram-se ao MPLA». segundo noticiou este movimento. 
A Carmona, nesse dia 26 de Julho de 1985, aconteceu «o regresso da coluna que tinha ido a Salazar e o pessoal que tínhamos em Luanda». E riscou-se mais um dia do calendário do adeus à capital do Uíge.

sábado, 25 de julho de 2015

3 201 - Cavaleiros preparam rotação e FNLA reconquista o Caxito

Cavaleiros do Norte de Zalala: furriéis José Louro, Américo Rodrigues, José 
Nascimento, Jorge Barata e Jorge Barreto e alferes milicianos
Mário Jorge Sousa e 
Lains dos Santos, todos da 1ª. CCAV. 8423 


Título da 1ª. página do Diário de Lisboa
de 25 de Julho de 1975, dia em que, à terceira
tentativa, saiu uma coluna militar de Carmona




Carmona, 25 de Julho de 1975. É 5ª.-feira e os Cavaleiros do Norte continuam a sua dificílima  missão, expectando a cada vez mais próxima rotação para Luanda. Está em marcha a preparação da gigantesca operação, sucedendo-se reunião dos comandos do BCAV. 8423 com «elementos do QG/RMA, de modo a obter os meios necessários».
Prevê-se que o movimento se comece a materializar a 31 de Julho e, nesse mesmo dia 25 de Julho de há precisamente 40 anos, leio no Livro da Unidade, «desanuviado ligeiramente o ambiente, conseguiu realizar-se a desejada coluna a Salazar, em terceira tentativa, fazendo.se o seu regresso e o do pessoal que estava em Luanda, a 26 de Julho».
Enquanto isso, a FNLA, na véspera, reocupou o Caxito, a 60 quilómetros de Luanda, reconquistando a vila ao MLPA. Três blindados do movimento de Holden Roberto estacionaram na praça principal e sabia-se que outros 4 estavam nas redondezas - para além de, leio no Diário de Lisboa, «uma grande concentração de viaturas». Porém, «a marcha triunfal para Luanda», anunciada pela FNLA, estava obviamente longe de ser concretizada. Na capital, «prosseguem acções de fogo nas três zonas críticas  onde estavam elementos da FNLA» - Cuca, Cazenga e S. Pedro da Barra.
Daniel Chipenda, apontado como comandante
As distâncias de Luanda para o
Caxito e para o Uíge (a antiga cidade
de Carmona)
das forças no Caxito, afinal estava em Carmona e era daqui que lançava «avisos»: «As nossas forças marcham sobre Luanda e esperamos que a sua entrada na capital se faça nos próximos dias», disse em entrevista à AFP.
Acrescentou que «das várias declarações de várias entidades do Governo de Lisboa, as forças portuguesas não se oporão realmente ao avanço das forças da FNLA» e que os os homens deste movimento «não têm medo de uma eventual intervenção da aviação portuguesa».
«Vamos a Luanda não para negociar, mas para dirigir», acrescentou Daniel Chipenda, acentuando que «todos os acordos anteriores forma violados pelo MPLA». Confirmou que o seu movimento (de que era secretário geral adjunto) «não tinha a intenção de se acantonar no norte de Angola, mas sim de se instalar em Luanda e de manter na capital o seu quartel general». E confirmou que «Holden Roberto se encontra, actualmente, em território angolano».
Por esta altura, recorde-se, corria entre os Cavaleiros do Norte a «informação», nunca confirmada,  de que Holden Roberto estaria em Carmona. E seria que a FNLA iria proclamar um novo Estado, a Norte? Daniel Chipenda respondeu: «Não queremos balcanizar o nosso país. A nossa capital não é nem Carmona nem São Salvador, mas sim Luanda». O movimento, nas suas palavras, tinha iniciado a caminhada para Luanda no intuito «não de negociar, mas de conquistar o poder».
A Luanda, por esta altura, já tinham chegado «pequenos grupos do ELNA» - o exército da FNLA. Pelo mar e, cito o DL, «desembarcando pela calada da noite junto às pescarias situadas perto do Forte de S. Pedro da Barra, onde continuam a a resistir centenas de (seus) militantes». Na caminhada para o forte, e de novo cito o DL, «esse grupo atacou a cadeia Comarcã de Luanda, mas as forças do MPLA que a defendem repeliram o ataque».

sexta-feira, 24 de julho de 2015

3 200 - Incidentes em Carmona e combates em Luanda


Carmona, Messe de Sargentos onde, no Bairro Montanha Pinto, esteve a 
2ª. CCAV. 8423. Ficava do outro lado do jardim onde estava a messe de oficiais, 
que foi messe de sargentos da CCS, dos Cavaleiros do Norte - a última guarnição 
portuguesa na capital do Uíge. Há 40 anos!!!


Notícia da página 9 da edição do Diário
de Lisboa de 24 de Julho de 1975

A 24 de Julho de 1975, a France Press e a Reuters davam conta, em despachos de Luanda, que «rebentaram combates, nomeadamente em subúrbios da capital angolana, apesar do cessar fogo acordado a noite passada, entre os dois principais movimentos de libertação rivais». Entenda-se, entre o MPLA e a FNLA.
«O tiroteio rebentou nos bairros de Cubas e Cazenga, durante a noite e ao princípio da manhã de ontem", relatava o Diário de Lisboa desse dia, adiantando que «tem-se a impressão que o MPLA se esforça agora por eliminar os últimos esforços de resistência da FNLA, em Luanda, para poder enfrentar, sem preocupações para a sua rectaguarda, a coluna da FNLA que se aproxima do norte». 
As informações sobre esta marcha eram contraditórias, sabendo-se embora que continuavam os combates na zona do Caxito, bem próximo de Luanda (a uns 50 quilómetros), e que a FNLA, com carros blindados, seria comandada por Daniel Chipenda, que dias antes estava em Carmona.
Os 600 sitiados da FNLA na Fortaleza de S. Pedro continuavam a resistir ao MPLA e «eram abastecidos, durante a noite e partir do mar, com munições e víveres».
Jonas Savimbi, presidente da UNITA, em Abidjam (capital da Costa do Marfim), classificou a situação em Angola como «muito grave» e acrescentou «haver o risco de surgir um novo Vietname», devido, sublinhou, «ao desrespeito pelos acordos de Nakuru e do Alvor».
A imprensa do dia dava igualmente conta de declarações de Agostinho Neto, dirigidas aos estivadores do porto de Luanda: «A instalação do poder popular e a luta revolucionária vai levar-nos à independência completa, com felicidade para o povo angolano», lemos no Diário de Lisboa desse dia. Foi nesse 23 de Julho de 1975 que também visitou as instalações do Jornal de Angola (ex-A Província de Angola), parcialmente destruídas por uma bomba, dois dias antes. O jornal estava sob gestão directa dos trabalhadores, depois da destituição do seu director, o jornalistas Rui Correia de Freitas.
Os Cavaleiros do Norte, em Carmona, riscavam dias do calendário, expectando a rotação para Luanda. Continuavam os pequenos incidentes diários, com dedos apontados pela comunidade civil branca, que se sentia «marginalizada e sem receber quaisquer apoios ou segurança». Não era verdade: até ao último momento, com permanentes riscos de vida, os Cavaleiros do Norte fizeram da prevenção uma certeza: salvar toda a gente fosse de que cor fosse, de que credo, de que partido, de que raça!!!

quinta-feira, 23 de julho de 2015

3 199 - Exigências da FNLA em Carmona e o (não) cessar fogo

Carmona, a actual cidade do Uíge. A praça dos serviços públicos. À direita, ainda
se vê o edifício que foi o comando da Zona Militar Norte (ZMN), onde há 40 anos estavam
os Cavaleiros do Norte da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala
Notícia do Diário de Lisboa de 23
de Julho de 1975. Há 40 anos!!!


Carmona, 23 de Julho de 1975. O comandante Almeida e Brito reuniu uma vez mas com os comandos militares da FNLA e não aceitou as suas exigências. Queriam armas! No mesmo dia, reuniu com «elementos do QG/RMA, de modo a obter os meios necessários» à operação de rotação para Luanda - movimento que se começaria a materializar a 31 de Julho», como se lê no Livro de Unidade.
Em Luanda, MPLA e FNLA acertaram o cessar fogo, no decorrer de uma reunião na Comissão Nacional de Defesa, presidida pelo general Silva Cardoso, o novo Alto Comissário de Angola. A FNLA, via rádio, deu instruções aos seus militares para cumprirem o cessar fogo, embora «mantendo-se nas suas posições». O MPLA também instruiu os seus homens para respeitarem as tréguas.
O Jornal de Angola - o anterior A Província de Angola, conotado com a FNLA - foi alvo da explosão de uma bomba, com muitos prejuízos materiais e apenas um polícia militar e um tipógrafo feridos. O Diário de Lisboa de há 40 anos noticiava que «as Forças Armadas Portuguesas estão prontas a intervir em Angola para impedir o possível avanço das tropas da FNLA sobre Luanda». Não havia, todavia e felizmente, notícias de confrontos armados, havendo, isso sim, «sinais de que os dois movimentos antagónicos estão a abandonar as armas por uma guerra de palavras». Hoje, sabe-se que não foi bem assim.
E já ao tempo não foi. O recolher obrigatório continuava entre as 21 e as 6 horas da manhã e as Forças Armadas alertavam para a eventualidade de a FNLA avançar para Luanda: «Os combates poderão alastrar para as zonas centrais da capital, em vez de se confrontarem nos subúrbios, como até agora».
A FNLA negociava com Mobutu «a passagem para Angola do pessoa e do material de que dispõe no Zaire» e acusava o Governo Português de «intervir abertamente ao lado do MPLA». «Nenhum bando armado será capaz de bater as forças da FNLA, no seu conjunto», lia-se no comunicado do movimento liderado por Holden Roberto.
Num outro comunicado, ia mais longe, anunciando que as suas tropas «marcham sobre Luanda, para libertarem as populações da capital angolana». O comunicado foi enviado à France Press e assegurava que «as tropas da FNLA estão prontas a entrar numa guerra neo-colonial contar o regime Português».
Cessar fogo? Qual cessar fogo?!

quarta-feira, 22 de julho de 2015

3 198 - Chipenda em Carmona e MVL impedido de avançar

CARMONA, a actual cidade de Uíge, em vista aérea relativa-mente recente. A foto 
foi cedida por Basílio Gomes Borges. Em baixo, à direita e 
na mesma foto, vê-se o hospital

Daniel Chipenda esteve em Carmona
há precisamente 40 anos. Era
secretário geral adjunto da FNLA

Aos 21 dias de Julho de 1975, repetiu-se a «gracinha» da FNLA: «impediu» o avanço do MVL para Luanda. Já o mesmo tinha acontecido no dia 13, uma semana antes. Os Cavaleiros do Norte não tinham ordem para disparar e o regresso tornou-se inevitável. Com grande constrangimento das forças, que tiveram explicações (suficientes) do comandante Almeida e Brito e, deste, enérgica reacção junto dos responsáveis da FNLA.
Quem estava na cidade, por estes dias, era Daniel Chipenda, ao tempo secretário geral adjunto da FNLA e que, dos estúdios locais da Emissora Oficial de Angola, se dirigiu «a todo o povo angolano», anunciando que o presidente Holden Roberto estava em território nacional para «conduzir as operações militares do ELNA». 
«Nós, FNLA, somos, portanto, obrigados a pegar em armas para mais um vez dizer não aos que querem oprimir o povo. Voltamos às armas pela mesma razão de 1961. Queremos liberdade. Queremos liberdade e terra para os angolanos», disse Daniel Chipenda.
Notícia do Diário de Lisboa,
do dia 22 de Julho de 1975
A situação agrava-se em Luanda e continuavam os combates na fortaleza de S. Pedro - onde 600 militares da FNLA há vários dias resistiam ao assalto do MPLA. A cidade dispunha de reservas de combustível para apenas 4 dias e já estava em causa a ponte aérea para Lisboa. 
O Caxito, a 50 quilómetros da capital estava bloqueado por tanques da FNLA - porém, impedidos de avançar. O caminho de ferro entre Luanda e Malanje foi cortado a 40 quilómetros de Salazar, cidade que estava praticamente abandonada e muitos habitantes figuram e refugiaram-se em Nova Lisboa e Sá da Bandeira. Mais de um milhar recolheu-se o quartel português.
Carmona preparava o plano de evacuação dos Cavaleiros do Norte!



terça-feira, 21 de julho de 2015

3 197 - Dia da Cavalaria e guerra civil iminente

Avenida do Quitexe (ou Rua do Baixo). À direita, vê-se o edifício do 
comando (com a bandeira nacional hasteada) e a porta d´armas 
dos Cavaleiros do Norte. Há precisamente 41 anos!

Notícia do Diário de Lisboa de 21 de
Julho de 1975, sobre o ataque da FNLA
às Forças Armadas Portuguesas. na
Barra do Dande


O Dia da Cavalaria foi assinalado no Quitexe, a 21 de Julho de 1974, com «cerimónias simples», destacando-se a mensagem do comandante, enviada a todas as subunidades, por não poder ser «o dia festivo, o dia em que todos os Cavaleiros em confraternização vivessem essas horas e meditassem no passado, para orientarem o futuro». 
«A época é difícil, as solicitações são várias, o desentendimento entre os homens uma constante, mas esses factores não podem arrastara-se ao Exército e, por isso mesmo, neste Dia da Cavalaria de 1974, o Comandante apela para o conceito de disciplina, o sentido da responsabilidade, a agressividade do combatente, de modo a que possam os militares do BCAV. 8423 ser um destes muitos bravos que foram já imortalizados na afirmação do Patrono, de que «essas poucas páginas brilhantes e consoladoras que existem na História de Portugal Contemporâneo, escrevemo-las nós, os Soldados de África»», epistolou o comandante Almeida e Brito.
Em Luanda e enquanto isso, um comunicado das Forças Armadas dava conta da melhoria geral da situação e apelava «uma vez mais, para que a população não dê crédito a quaisquer boatos, tendentes a perturbar a ordem e o sossego que se te vindo a acentuar». Ainda segundo o mesmo comunicado, «não deu entrada no Hospital de S. Paulo qualquer ferido ocasionado por armas de fogo».
Um ano depois, a situação era bem mais grave: forças da FNLA atacaram um  avião DO 27 da Força Aérea, na zona da Barra do Dande, onde fazia voo de reconhecimento. Morreu no 1º. cabo mecânico da tripulação. Uma corveta da Marinha também foi atingida na mesma zona. Ao mesmo tempo, os 600 homens da FNLA acantonados na Fortaleza de S. Miguel resistiam ao cerco do MPLA - já desde 5ª. feira anterior (dia 17 de Julho).
A FNLA; através da rádio,  pediu «a mobilização completa das suas tropas» e o Diário de Lisboa, que citamos, dava conta que «o apelo às armas pode ser o prelúdio de uma guerra civil, que no ministro do Interior do Governo Provisório de Angola e dirigente da FNLA, N´Gola Kabangu, disse estar muito perto». Acusava os portugueses de combaterem ao lado do MPLA, nomeadamente impedindo o avanço de «uma coluna fortemente armada» que seguia em direcção a Luanda. E ameaçou que «se os portugueses continuassem a obstruir o avanço das tropas, a FNLA teria de responder pela força».
A FNLA estaria perto do Caxito, a escassos 50 quilómetros de Luanda.
Era para esta Luanda que os Cavaleiros do Norte iam partir dentro de duas semanas. Há 40 anos!!!


segunda-feira, 20 de julho de 2015

3 196 - Picada de Zalala e Governador Geral em Lisboa


Os furriéis Manuel Dias (à frente) e Plácido Queirós (de mãos
 nos joelhos), ambos 
da 1ª. CCAV. 8423, depois de um acidente na mítica picada
do Quitexe para Zalala


Foto-legenda do Diário de Lisboa de 20 de
Julho de 1974, sobre os incidentes de Luanda



A 20 de Julho de 1974, o comandante Almeida e Brito visitou o BCAV. 8324, então aquartelado em Sanza Pombo, para «estabelecimento de contactos operacionais». Era sábado e dia da chegada do general Silvino Silvério Marques a Lisboa - abandonando o Governo Geral de Angola. À saída de Luanda, disse que lhe pareceu difícil a instauração da guerrilha urbana e comentou que, pelo contrário, «o inimigo irá dar possibilidade de fazer mais rapidamente do que nós supúnhamos o saneamento que é indispensável na cintura para-urbana de Luanda».
O general referiu-se também ao saneamento da PIM (a  ex-PIDE/DGS) e foi interinamente substituído pelo Secretário de Estado, dr. Pinheiro da Silva. «Será a primeira vez, pelo menos nos tempos modernos, que Angola será governada por um mestiço», referia o Diário de Lisboa desse dia - dando igualmente conta do que populares do musseque Dengo comentaram para a jornalista Ângela Caires (do DL): «Diga a Lisboa que a palavra do general Spínola ainda cá não chegou. O que ele disse não está a ser cumprido».
A chegada de Silvino Silvério Marques a Lisboa expectava que, segundo ele próprio e relatado pelo Diário de Lisboa, «não pode deixar de supôr-se que Conselho de Ministros quer ouvir o Governador Geral de Angola, a respeito dos massacres de Luanda
Pelas bandas do Quitexe, «prosseguiram os trabalhos da JAEA na estrada Vista Alegre-Ponte do Dange» e, na antevéspera (dia 18 de Julho), «iniciaram-se os trabalhos de reparação do itinerário para Zalala». Os Cavaleiros do Norte garantiam a segurança das brigadas de trabalho da JAEA, tal qual já tinham feito, e continuariam a fazer, na estrada (picada) para Camabatela.
-DIAS. Manuel Dinis Dias, furriel miliciano 
mecânico-auto, da 1ª. CCAV. 8423. Faleceu 
em Lisboa, onde residia, a 20 de Outubro de 2011, 
vítima de doença
- JAEA: Junta Autónoma 
de Estradas de Angola.

domingo, 19 de julho de 2015

3 195 - Cavaleiros em Carmona e MPLA a cercar a FNLA em Luanda

Elementos das Forças Militares em Carmona, numa altura em que, com as NT, 
patrulhavam as ruas da cidade. Há 40 anos, os seus graduados receberam galões e 
divisas do que seria ( e não foi) o Exército Nacional de Angola




Alferes miliciano Domingos Carvalho
de Sousa, da 2ª. CCAV. 8423, que há
40 anos foi para Carmona e agora,
promotor comercial, reside nos (seus)
Marrazes de Leiria

Os acontecimentos de Luanda (que aqui sumariamente temos relatado) levaram a que, a 17 de Julho de 1974, a 2ª. CCAV. 8423 (a de Aldeia Viçosa, comandada pelo capitão miliciano José Manuel Cruz), cedesse, em dilgência, «um grupo de combate para patrulhamentos na área suburbana de Carmona». 
Era o grupo comandado pelo alferes miliciano Domingos Carvalho de Sousa.
Ao mesmo tempo, em Luanda, a capital, as Associações Económicas de Angola (AEA) condenaram «a vaga de incidentes nos musseques» e contestaram «a legitimidade do Governo local», por, nomeadamente e como acentuavam, «não representar as correntes políticas angolanas», e informando que iriam  mandar a Lisboa «uma delegação. em busca de soluções urgentes».
As diligências não foram bem sucedidas, tanto quanto se sabe.
Notícia do Diário de Lisboa de 19
de Julho de 1975, sobre o cerco
do MPLA à FNLA, em Luanda
Um ano depois, «registavam-se rebentamento de morteiros e intenso tiroteio junto à Fortaleza de S. Pedro da Barra», a 7 quilómetros de Luanda e onde se «acantonaram 600 militares da FNLA». A fortaleza era, leio no Diário de Lisboa desse dia, «o único ponto de Luanda que ainda se encontra em poder deste movimento» - a FNLA. E já desde há alguma dias que estava cercado por forças do MPLA.
Carmona, por essa altura e com os Cavaleiros do Norte aquartelados no BC12, assistiu, no dia 17 de Julho desse 1975 (há 40 anos!!!...), à cerimónia de «entrega de galões e divisas aos graduados da subunidade»  - a Companhia das Forças Integradas -, que iriam formar o futuro Exército Nacional de Angola. O momento, segundo o Livro da Unidade, foi aproveitado para «explorar os deveres militares e as responsabilidades dos chefes, em acção orientadora destes elementos que, embora desejando fazer algo por Angola, se sentem submergir e deixar de ver a aceitação e autoridade que se pretendeu imprimir-lhes».
Não faltavam boas intenções!!!

sábado, 18 de julho de 2015

3 194 - Luísa Maria e Vista Alegre, incidentes e mortes em Luanda


Vista Alegre, a entrada do lado de Carmona, com o aquartelamento lá em 
cima. Aqui estava, há 41 anos, a CCAÇ. 4145 e, a partir de 21 de Novembro de 
1974, a 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala, até 24 de Abril de 1975


O antigo aquartelamento português de
Vista Alegre, em Dezembro de 2012. Foto
de Carlos Ferreira, que foi 1º. cabo da Zalala






A 17 de Julho de 1974, terminou a Operação Turbilhão - de que não encontrei registo de início -, e, por via disso, retornaram «à responsabilidade operacional do BCAV. 8423 as ZA de Luísa Maria e Vista Alegre». Isto, como refere o Livro da Unidade, «dada a necessidade do Sector CN orientar a sua actividade noutro sentido, em virtude dos acontecimentos de Luanda que, de certo modo, poderiam vir a influenciar aquela ZA».
O final da Operação Turbilhão levou também a que, já a 18 de Julho de 1974 - hoje se completam 41 anos -  a 1ª. CART. do BART. 6322/COTI passasse «à dependência operacional do BCAV. 8423» - os Cavaleiros do Norte. Continua(va), porém (a 1ª. CART. 6322) a «trabalhar a área dos «quartéis» de Camabatela e Quiculungo», o que, na prática «completa(va) o esforço operacional do Subsector em procurar actuar sobre todos os refúgios da ZA».
Notícia do Diário de Lisboa de 18 de
Julho de 1974, sobre a situação em Angola 
E por Luanda? Diminuía o número de incidentes, mas «continua(va)m a ser assaltados estabelecimentos comerciais e troca de tiros esporádicos». Até às 20 horas da véspera (dia 17) «tinham entrado 4 mortos e 16 feridos nos hospitais». «Parte da população branca dos bairros negros está(va) a refugiar-se na cidade, onde a vida é (era) quase inteiramente normal», noticiava o Diário de Lisboa.
A cidade era policiada pela PSP e os musseques pelas Forças Armadas» - em patrulhas constituídas por «soldados brancos e negros, frequentemente comandados por oficiais negros ou mestiços». Foram apreendidas 9 pistolas de vários calibres (a europeus), uma pistola na posse de um africano, 4 granadas de mão na posse de europeus e africanos e duas espingardas caçadeiras (a dois europeus). Um europeu foi detido (na posse de uma caçadeira e três granadas) e 17 africanos foram presos (por roubos).
O comunicado das Forças Armadas dava igualmente conta de «depradações de casas comerciais do bairro da Lixeira» e também de «actos de violência nos bairros Mota, Sambizanga, Rangel e Bungo» - este muito perto do porto de Luanda. No Sambizanga, foram detidas 30 pessoas «por falta de documentos e em posse de armamento».

sexta-feira, 17 de julho de 2015

3 193 - Oficial de reabastecimentos no Quitexe e tensão em Luanda

Alferes milicianos Jaime Ribeiro, António Garcia e José Alberto Almeida, no «adro» 
da igreja do Quitexe. À esquerda, a caserna dos atiradores e a dos sapadores; depois, o 
edifício do comando do BCAV. 8423


Notícia do Diário de Lisboa de
17 de Julho de 1974, há 41 anos 

A meados de Julho de 1974, chegou ao Quitexe o alferes miliciano José Alberto Almeida, oficial de reabastecimentos, que faltava na guarnição - desde que, ainda em Santa Margarida, outro miliciano fora dado como «incapaz para o serviço  militar», o também alferes miliciano Gaspar José F. Carmo Reis (de quem não tenho nenhuma memória).
A 17 de Julho desse mesmo 1974, fazia 33 anos o (nosso) capitão José Paulo Falcão e o comandante Almeida e Brito deslocou-se ao Comando do Sector do Uíge (onde já tinha estado a 14 e voltou a 31) para «contactos operacionais». Em Luanda, a população (especialmente a africana) e alguns jornais acusavam as autoridades civis e militares de culpas nos incidentes dos dias a anteriores, denunciando-lhe «ausência de capacidade de previsão e falta de espírito de decisão». E exigiam a demissão do governador geral (general Silvino Silvério Marques) e do comandante-chefe das forças armadas.
O número de mortos subira para 16, com 63 feridos e 16 pessoas detidas pelo Exército. O campeonato de futebol foi suspenso e proibida a circulação de viaturas ligeiras particulares durante a noite. A Universidade de Luanda interrompeu as suas actividades, em «posição de luto e solidariedade para com os trabalhadores negros» - que, da parte deles, voltaram ao trabalho.
«O ambiente de tensão estabelecido na área suburbana deu origem a algumas manifestação de solidariedade entre as comunidades de raças diferente», noticiava o Diário de Lisboa desse dia.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

3 192 - O dia (marcado) da rotação do BCAV. para Luanda



Carmona, bairro Montanha Pinto. A Messe de Oficiais que se «transformou» 
em Messe de Sargentos da CCS dos Cavaleiros do Norte, 
de 2 de Março aos 
primeiros dias de Agosto de 1975. Há 40 anos!



A Zona Militar Norte (ZMN), em Carmona
e em foto relativamente recente. tirada da net



Há precisamente 40 anos, dia 16 de Julho de 1975, já os Cavaleiros do Norte sabiam da sua desejada saída para Luanda. Era «a melhor opção», segundo relata o comandante Almeida e Brito, no Livro da Unidade. «(...) Expôs-se o assunto ao QG/RMA, obtendo-se a  certeza da rotação do BCAV. 8423 para Luanda, a partir de 3 de Agosto, esquematizando-se a montando-se uma operação para essa saída, que não se adivinhava fácil», historia o LU.
Em Luanda, sucediam-se os problemas. Na véspera, de manhã e segundo o Diário de Lisboa, «registaram-se graves incidentes, com as forças da ordem a abrir fogo sobre manifestantes negros», falando-se de inúmeros feridos e pelo menos 20 mortos. A tarde foi tempo para o funeral de 4 vítimas de incidentes nos musseques, funeral que envolveu 30 000 pessoas e decorreu sem problemas. Registou-se, até, um facto inédito: «Pela primeira vez, segundo observadores locais, as bandeiras dos dois movimentos de libertação rivais - MPLA e FNLA - esvoaçavam lado a lado, com os seus cartazes e os seus slogans».
Notícia do Diário de Lisboa de 16 de Julho
de 1975, sobre os incidentes em Luanda
Eis alguns deles: «Não à auto-determinação», «O que queremos é a independência», «Abaixo o  Comando-Chefe das Forças Armadas em Angola», «Independência total», «O futuro de Angola pertence aos africanos» e «Os representantes de Angola são o MPLA e a FNLA». Repare-se que não se fala na UNITA.
Era para esta Luanda que, em Carmona e por esse tempo de 1975, se preparava a retirada dos Cavaleiros do Norte. A guarnição continuava em «permanente situação de prevenção simples» - que já vinha desde o dia 12 e se prolongaria até 18 de Julho de 1975. Mas estava, no meio desta «picada» de problemas, a esfregar as mãos de contentamento. Aproximava-se cada vez mais o final da nossa jornada africana do Uíge angolano!

quarta-feira, 15 de julho de 2015

3 191 - FNLA a ocupar Uíge e pedido de armas às NT

Quartel do BC12, em Carmona, onde esteva instalado o Batalhão de Cavalaria
8423. Ficava à saída da cidade, na estrada para o Songo

Fazenda Santa Isabel, onde esteve
aquartelada a 3ª. CCAV. 8423, do capitão
miliciano José Paulo Fernandes

A 3ª. CCAV. 8423, a do capitão miliciano José Paulo Fernandes e aquartelada na Fazenda Santa Isabel, recebeu o comandante Almeida e Brito a 15 de Julho de 1974. 
O dia foi tristemente assinalado pela morte, devido a um acidente de viação, do soldado Bernardo Oliveira, de 26 anos, da incorporação local (angolana) e elemento do respectivo Grupo de Mesclagem. Era natural de Caiango, no Alto Canale.
Exactamente um ano depois, já com todo o BCAV. em Carmona, a FNLA fez-lhe «pedido de armas retidas no quartel». Que foram recusadas.
Viviam-se tensos momentos, por estes meados de Julho de 1975. Na véspera, a capital Luanda fora cenário de violentos combates (de que resultaram pelo menos 12 mortos e 60 feridos e refugiados). Em Carmona, com os Cavaleiros do Norte em «permanente situação de prevenção simples», patrulhavam-se a cidade e os principais itinerários.
Os comandos militares, em Luanda, pouca atenção davam ao Uíge, onde a FNLA cada vez mais queria ocupar posições e controlar pontos estratégicos - depois de, na primeira semana de Junho, ter expulsado o MPLA. «No terreno, assiste-se a uma ocupação de parte do distrito do Uíge, por tropas da FNLA», referia o Diário de Lisboa de 15 de Julho de 1975.
A fuga das populações (à guerra) «mais flagrante torna a divisão do país em zonas de influência que poderão conduzir a uma guerra de secessão e, por outro,lado, isolam mas a norte Cabinda, que se encontra sob controle do MPLA», comentava o DL. O jornal de Lisboa sublinhava também que «ontem circulavam notícias de que uma coluna da FNLA, incluindo blindados, se encaminharia para Luanda» - notícias que o mesmo DL não conseguiu confirmar.
Notícia do Diário de Lisboa, sobre
o Uíge, a 15 de Julho de 1975
Melo Antunes, ministro português dos Negócios Estrangeiros, encontrou-se com Agostinho Neto, presidente do MPLA, numa tentativa de «acabar com os conflitos com os movimentos rivais» e círculos diplomáticos luandenses admitiam que «haver ainda um possibilidade real de um confrontação em grande escala entre MPLA e FNLA». E, acrescentava o jornal, citando as mesmas fontes diplomáticas, «se tal acontecesse, as consequências para a capital poderiam ser catastróficas».
Um oficial de alta patente da Força Aérea Portuguesa, citado pela Reuters, afirmou que «a FNLA prepara-se, aparentemente, para reforçaras suas tropas em Luanda, ou mesmo cercar a cidade, que é extremamente vulnerável».