CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

5 526 - Cavaleiros expectantes no Grafanil e o retorno a Portugal de 350 000 portugueses !

 
Cavaleiros do Norte  no Quitexe: Mendes (?) e 1ºs. cabos Domingos Teixeira, 
o estofador (atrás) e João Monteiro (Gasolinas), Américo Gaiteiro e 1º. cabo
Porfírio Malheiro (sentados), Alípio Canhoto (com a arma na mão e mão na 
cabeça) e, à direita, António Pereira (já falecido)


Os dias de Angola e de Agosto de há 46 anos pareciam não passar para os Cavaleiro do Norte do BCAV. 8423, ansiosos por voltara aos seus chãos natais, mas que, aquarelados no Campo Militar do Grafanil, continuavam como «unidade de reserva da RMA» e, por isso mesmo, permanentemente na iminência de intervir em qualquer escaramuça mais grave - como já acontecera no Bairro do Saneamento.
Ao mesmo tempo, milhares de portugueses fugiam da guerra angolana e chegavam a Lisboa - os chamados retornados - e um grupo organizado preparou um comício na capital portuguesa, a 19 de Agosto de 1975, há 46 anos, e exigiram «a intensificação do transporte de angolanos para a metrópole».
Transporte, reportava o Diário de Lisboa de há 46 anos (ver imagem abaixo), «através de 
Caixotes com bens de portugueses
a abandonar Angola (net) 
todos os meios, incluindo (...) o fretamento de outras unidades e estudar, com urgência, a colocação dos desalojados nas respectivas empresas, formação de escolas ou criação de turnos especiais nas escolas e liceus para os filhos dos desalojados».
Estas e outro tipo de situações tardiamente (e mal) chegavam ao conhecimento dos Cavaleiros do Norte que, na verdade e nos últimos dias em terras de Angola, continuando expectantes quanto ao regresso a Portugal, eram continuadamente solicitados por uma «bateria» de pessoas 
a pedir ajuda, nomeadamente para mandar património para Lisboa: mobiliários e equipamentos domésticos, automóveis, outro e todo tipo de bens, tudo o que fosse riqueza  pessoal que, por nada, queriam abandonar.
Mas quantos e quantos voltaram com a roupa que vestiam, uma ou duas pequenas malas, tudo coisa pouca..., por lá deixando toda uma vida de trabalho!
Notícia do Diário de Lisboa de 19 de Agosto
de 1975, sobre o transporte de desalojados
 (e carga) de Luanda
 para Lisboa



O retorno a Portugal
de 350 000 portugueses !

O BCAV. 8423 continuava como «unidade de reserva» da RMA, mas o essencial para nós, ao 14º. para o 15º. mês da jornada africana de Angola, era, na verdade, saber a data do nosso regresso. 
O esperado dia 8 de Setembro de 1975, dia em que regressou a CCS - nos dias seguintes, seguida pelas 3 companhias operacionais.
Coincidentemente, ou não, o Instituto de Apoio aos Retornados Nacionais (IARN) já tinha aberto uma delegação em Luanda e preparava «acções de retorno de 300 000 cidadãos portugueses residentes em Angola», como noticiava o Diário de Lisboa desse dia. Inscrições até ao dia 31 de Outubro. E poderiam ser bem mais, admitia o jornal, citando o IARN, que informava estar «prevista uma margem de segurança para que aquelas acções possam, no mesmo período, atingir 350 000 pessoas».
O IARN adiantava, também, estar «planeado para o mesmo período um programa de transporte, por via marítima, de 170 000 metros cúbicos de carga pertencente aos referidos desalojados».
Foi o grande êxodo dos portugueses, e não só - também muitos africanos! Cuja epopeia este blog alguma vez poderia contar suficientemente bem e rigorosamente.
O furriel Viegas, à direita, com familiares em 
Nova Lisboa, Abril de 1975: Idalina, Fátima,
Valter e o pai Rafael Polido

Os conterrâneos que o
blogger procurava !

A esse tempo de há 45 anos, a grande «indústria» que se desenvolvia em Luanda (e porventura por toda a Angola) era a da construção de caixotes, nos quais, com mais ou menos cubicagem, os colonos procuravam enviar para Lisboa os seus bens - de que acima falamos. 
Muitos terão conseguido, outros nem tanto.
Por mim e também por esse tempo, procurava saber de familiares, conterrâneos e amigos espalhados por Angola: os irmãos Resendes, a Cândida, o José Martinho, o João Lopes e o Mário Coelho e a Benedita, a Fernanda (em Luanda), Clemente, Anacleto e Mário Neves (na Gabela), Cecília e Rafael Polido, Manuel, Abílio e José Viegas, os Mirandas, o Orlando Rino (em Nova Lisboa), Higino Reis (em Sanza Pombo), a Maria Rosa e o Manuel (Sá da Bandeira) e outros que a memória agora não lembra. Eram mais de uma centena de conterrâneos espalhados pelo imenso território de Angola!
Felizmente, por uma ou outra vias, todos regressaram a Portugal e à nossa aldeia. Muitas vezes, nas ocasionais conversas do dia-a-dia, nos lembramos destes dias de há 46 anos -entretanto refrescadas pelas nossa visita de 2019, entre 22 de Setembro e 10 de Outubro.

Sem comentários:

Enviar um comentário