CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

1 517 - A passagem de ano de 1974 para 1975 no Quitexe

A foto que hoje vos trago tem exactamente 38 anos. 38!!!! É da passagem de ano de 1974 para 1975, na frente do bar e messe de sargentos do Quitexe. Como se vê, não falta a boa disposição. 
E o que será feito desta malta toda? Aqui vos deixo, o que sei.
O Fernandes, atrás e à esquerda, de bigode, é professor na sua Braga natal. A seguir, este vosso criado, que faz vida por Águeda. O Belo (de óculos, bigode e camisa suada) é aposentado da administração fiscal e vive no Retaxo (Castelo Branco). Depois, meio escondido, está o Lopes (atirador), que é de Barcelos mas vive por Lisboa. Segue-se outro «bigodaças», o Bento, que é do Barreiro e vive em França. E cá está o impagável Costa, dos Morteiros, de quem não sei nada, Depois, o afável e sempre jovem Flora - que foi de Alcains para Lisboa, se aposentou da Caixa Geral de Depósitos e vive em Odivelas.
O Ribeiro, o primeiro da frente e do lado esquerdo, é aposentado da EDP e mora em Vila Real. Também em Vila Real, vive o Rabiço que era enfermeiro e se aposentou como professor. Depois, o Graciano - que continua na sua Lamego Natal e ligado ao sector vitivinícola. Finalmente, o Abrantes, que também se aposentou de professor, na sua Castelo Branco.
As festas da noite, incluíram farta mesa e refrescantes bebidas, jantares aqui e ali e até uma corrida de S. Silvestre. E eu de serviço!!!

domingo, 30 de dezembro de 2012

1 516 - O furriel Reino faz anos duas vezes...

Noite de passagem de ano de 1974 para 1975, no Quitexe. Furriéis Bento, 
Rocha, Viegas, Flora, Lopes (enfermeiro), Capitão e Ribeiro (em cima). Carvalho,
Belo, Lopes (atirador) e Reino (em baixo)

O Reino é beirão da Guarda, nascido nas berças do Sabugal, onde há 61 anos não se chegava com a pressa de hoje e de onde se saía raramente, só de quando em vez, só por alguma razão muito importante. É  um homem que faz anos duas vezes por... ano. Vejam só!
O Reino, diz ele, nasceu a 28 de Dezembro de 1951, mas só foi registado como nascido a 1 de Janeiro de 1952. Por alguma razão, os pais não foram logo à Conservatória e, quando o fizeram, alteraram a data, para, quiçá, não pagarem multa. Ficou, assim, com dois dias de nascimento - o natural e o oficial. Era assim por esse tempo.
A tropa levou-o a Lamego, no terceiro e último turno de Operações Especiais (Ranger´s) de 1973, curso em que eu e o Neto já fomos (meios) instrutores. Era mais velho que ambos, em idade, mas mais novo em termos militares. Chegou aos Cavaleiros do Norte com atraso, relativamente a todos os outros mobilizados e incorporou-se na 3ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão José Paulo Fernandes. Foi já lá, em Santa Isabel, que o conhecemos, recordando as semanas duras da especialidade de Penude, em Lamego. Entre Dezembro de 1974 e 2 de Março de 1975 foi companheiro da jornada do Quitexe.
O Reino que ali vemos de farta bigodaça, seguiu vida profissional na GNR, de que já se aposentou. Grande abraço, ó Reino, pelos teus anos de 28 de Dezembro!!! E também pelos teus anos de 1 de Janeiro. São 61, em qualquer dos casos!
- REINO. Armindo Henriques Reino, furriel miliciano de Operações Especiais (Rangers). Aposentado da GNR, mora no Sabugal.
- CAPITÃO. Luís Ribeiro Capitão, furriel  miliciano atirador de cavalaria, da 3ª. CCAV. 8423. Foi maquinista da CP e, por doença, faleceu a 5 de Janeiro de 2010, em Ourém, de onde era natural.

sábado, 29 de dezembro de 2012

1 515 - O Natal na escola primária da sanzala do Cazenza

O Natal do Quitexe, em 1974, também foi à escola da sanzala do Cazenza, mesmo na saída do Quitexe, à esquerda, na estrada (na picada, melhor dizendo) que ia para Camabatela e antes do cemitério da vila. 
Aqui, em primeiro plano, de camisa brabca e óculos, vê-se o padre Albino Capela, que sacerdotava na missão e paróquia do Quitexe.
Atrás, a partir do quadro negro da escolas (onde ainda é possível ler a palavra Boas, certamente de... festas) está um militar que não consigo identificar (até pareço eu...) e segue-se uma linha de alferes milicianos: Hermida (de bigode e com as mãos no cinto), Pedrosa de Oliveira, Barros Simões, Cruz (de bigode e óculos), Ribeiro e Garcia. 
Assim foi, há 38 anos, um dia de festa e partilha, entre a guarnição militar e a comunidade civil. Repare-se que a mesa parece farta e os olhares das crianças parecem bem felizes. E a senhora ali do lado esquerdo e de branco? Quem será, alguém se lembra?

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

1 514 - Últimos dias de Dezembro de 1974...

Carvalho, Viegas e um furriel angolano, cujo nome 
se varreu da memória (em cima), Flora, Belo, Fernandes e Ricardo (em baixo)


Os últimos dias de 1974 foram vividos com  crescente e levedada  ansiedade pelo Quitexe. A 3ª. CCAV. 8423, do capitão José Paulo Fernandes, já abandonara definitivamente a Fazenda Santa Isabel, aquartelava-se na vila-sede dos Cavaleiros do Norte, e o Pelotão de Morteiros 4281 fazia malas para Carmona. A saída começara a 20 de Dezembro e concluir-se-ia nos primeiros dias de Janeiro de 1975.
O que mais «incomodava» a tropa, a esse tempo, era a multiplicação de serviços, o que acontecia desde que os militares angolanos tinham passado à disponibilidade. Julgo não errar, dizendo que faríamos serviços de dois em dois dias: ora sargento de dia, ora sargento da guarda, ora sargento de piquete, ou prevenção. A chegada dos companheiros de Santa Isabel, a 10 de Dezembro, aliviou a carga de «trabalho» e, valha a verdade, multiplicou a camaradagem.
Ansiedade, dizíamos, por saber a data da nossa saída da vila quitexana, onde estávamos desde 6 de Junho. As informações não apareciam, tirando uma ou outra dica dos oficiais milicianos - também eles pouco informados, como é de supor. Pouco transpirava das sucessivas reuniões dos nossos comandos com os do Comando de Sector do Uíge e Zona Militar Norte, em Carmona. Só em Dezembro de 1974, realizaram-se reuniões a 2, 4, 7, 9 e 16, pelo menos.
- CARVALHO. José Fernando da Costa Carvalho, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 3ª. CCAV. 8423.  Reformado da PSP e morador no Entroncamento.   
- FLORA. António Pires Flora, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 3ª. CCAV. 8423. Aposentado da Caixa Geral de Depósitos e morador em Loures.
. BELO. Agostinho Pires Belo, furriel miliciano vagomestre, da 3ª. CCAV. 8423. Aposentado das Finanças, morador no Retaxo (Castelo Branco).
- FERNANDES. António da Costa Fernandes, furriel atirador de cavalaria, da 3ª. CCAV. 8423. Professor, residente em Braga.
- RICARDO. Alcides dos Santos da da 3ª. CCAV. 8423Fonseca Ricardo, furriel miliciano atirador de cavalaria. Aposentado e morador em Loures. 


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

1 513 - Futeboladas no Quitexe dos finais de 1974...

Futebol e cinema, no Clube do Quitexe, foram «ementa» dos últimos dias de 1974. Nem tudo eram serviços, tropa, continências e paradas. O modesto campo de futebol da vila, à saída para Carmona, à esquerda, foi palco de animados despiques - ora opondo pelotões militares, ora animados prélios com civis.
A foto mostra uma das equipas desse tempo e consigo reconhecer, em cima e da esquerda para a direita, o Lopes (furriel enfermeiro), o Gomes e o Grácio (guarda-redes), o Mosteias (o grande Mosteias, já na altura pai, desde Setembro), um 1º. cabo maqueiro do Pelotão de Morteiros (que será de Espinho) e o da direita, o da direita quem é?
Em baixo, conhecem-se, pela mesmo ordem, o Monteiro (furriel de Operações Especiais, em serviço na  secretaria da CCS), um condutor dos Morteiros (que será da Covilhã, diz o Pagaimo, mas quem é?), o Teixeira (estofador), um outro que poderá ser o Miguel (furriel pára-quedista, mas não sei ao certo) e o Botelho (atirador do PELREC). 
Bem gostava eu de ter a certeza que quem são estes futebolistas quitexanos cuja identidade escapa. Será que alguém pode ajudar? A imagem não é de grande qualidade - nem sei já quem ma enviou - mas os rostos não escapam, falhando a memória sobre os nomes. Quem ajuda? 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

1 512 - O comandante que era para ser e não foi detido

Porta d´armas do BCAV. 8423, no Quitexe (à direita). Comandante Almeida e Brito (em baixo)

A 26 de Dezembro de 1974, o comandante Almeida e Brito foi a Carmona retribuir a mensagem de Natal do Comandante do Sector do Uíge - o CSU, instalado na ZMN. Tinha chegado dois dias antes e participado na consoada do refeitório dos praças. 
Corria pelo Quitexe, ao tempo, um boato que tinha a ver com ele. Que, ido de férias a Lisboa, não voltaria, pois seria detido pelo Conselho da Revolução. Assim não foi, mas como há gente sempre com a maldade na ponta da língua e da alma, eis que algumas pessoas foram acusadas de propalar o boato. E foram chamadas ao gabinete de Almeida e Brito. Porque é que tinham dito tal coisa, porque é que não tinham dito (e os acusados não tinham dito nada, a não ser comentar, como toda a guarnição, o boato que circulava, eis que Almeida e Brito foi «admoestado» por um seu comandado.
«Participarei judicialmente contra o meu comandante, se mantiver a acusação», disse-lhe um miliciano, de pescoço levantado, corajosamente - de forma que, ajuizadamente, seria considerada irresponsável e até perigosa. Não seria assim, sem pena disciplinar, que se falava a um comandante. E muito menos a um comandante da estirpe de Almeida e Brito, conhecido pelo rigor e severidade da sua acção. Austero, exigente, daqueles que não dão facilidades a comandados. Porém, se era expectável que o miliciano levasse «uma porrada», a verdade é que não levou e foi mandado embora.
Anos mais tarde, era Almeida e Brito 2º. comandante da Região Militar Centro, o assunto veio a conversa e ficou-se a saber de onde partiu a denúncia. O nome não é para aqui chamado, mas distinga-se a posição do comandante. Que não quis julgar sem ouvir e, ouvindo, disso tirou conclusões e não puniu o «acusado».  Também é por esta dimensão que se identificam os grandes comandantes.
- ALMEIDA E BRITO. Carlos José Saraiva de Lima Almeida e 
Brito, tenente coronel de cavalaria e comandante do Batalhão 
de Cavalaria 8423. Foi 2º.comandante da Região Militar Centro e 
da GNR e comandante da Região Militar Sul, entre outras funções. 
Faleceu a 20 de Junho de 2003, vítima de doença súbita, 
no decorrer de um passeio, em Espanha.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

1 511 - A noite de Natal do Quitexe, há 38 anos, em 1974!

Alferes Garcia e Almeida, no Quitexe /1974),. Atrás, 1º.s sargentos Barata e Aires




JOSÉ ALBERTO ALEGRIA
(ex-alferes miliciano Almeida)
TEXTO

Para ti António Garcia, a propósito
de os poetas serem fingidores…

Agora que, passados estes anos todos, o nosso amigo Celestino Viegas pôs mão à obra para nos motivar a reviver os tempos de Angola, quero que o meu primeiro contributo escrito seja dedicado a ti, para podermos todos ter-te neste convívio.
Quando cheguei ao Quitexe, já após vários meses da vossa instalação, em rendição individual e em machimbombo (num dia tão bem descrito pelo CV neste blog …), “caí” num grupo de camaradas que já se conheciam há muito tempo e no qual as relações humanas já estavam razoavelmente definidas. Dada a condição de Oficial de Reabastecimentos e também dadas as atribuições informais de “Oficial às Ordens” do Comandante, só nos momentos de lazer na Messe de Oficiais é que fomos tendo tempo para nos conhecermos.
Quis o acaso que partilhássemos a mesma mesa na sala de jantar (juntamente com a Alferes Jaime P. Ribeiro e outro) e, desde os primeiros dias, foi-me evidente a tua enorme necessidades de vangloriação heróica dos feitos do grupo de operações especiais que comandavas com dedicação e eficiência. Só que, tal como nas histórias dos caçadores e pescadores, as façanhas descritas eram de uma insólita e excessiva dimensão (do género: “ontem fizemos, ontem matámos, ontem esfolámos…”). Ora para mim, Oficial Miliciano de formação muito pouco militarista, as tuas diárias descrições das façanhas operacionais passaram a ser momentos a que eu ostensivamente não prestava a mínima atenção. Tal facto não te passava despercebido e noutras ocasiões, quando eu no bar ou na varanda da Messe me dedicava a ler os filósofos clássicos gregos (que, em boa hora, tinha levado para a guerra, dado que nunca os tinha lido na formação académica…), tu passavas a exercer a represália denominando-me sistematicamente e provocatoriamente como “o nosso intelectual”. E assim fomos gerindo a nossa “guerra fria” entre Julho e Dezembro…
Acontece que, ao aproximar-se o Natal, o nosso Comandante, em conversa de circunstância, me avisou:“Vais ver que na noite de Natal alguns dos mais “valentes” vão ser os primeiros a irem-se abaixo psicologicamente...”. Como te lembras, essa era a única noite em que partilhávamos o jantar com todo o pessoal, no Refeitório dos Soldados. Às tantas da noite, quando já havia muita emoção, acompanhadas de litros de bebida e abraços de lamechas, tive de ir à Messe dos Oficiais buscar algo e, como conhecia os cantos da casa, nem acendi a luz. Foi então que na penumbra me deparei contigo, recolhido num canto do bar, em plena crise de choro pelas saudades da tua família. Creio que uns breves segundos de hesitação foram suficientes para decidir fazer de conta que não te vi, e voltei ao Refeitório onde, por certo, a cerveja já tinha corrido mais e as lamechices natalícias também.
No dia seguinte, à hora da refeição na mesa de quatro do costume, não resististe a iniciar o relato de mais uma das gloriosas façanhas do teu grupo de operações oficiais… Só que, no final da descrição, para meu espanto e muito discretamente, piscaste-me o olho como que para dizer “desculpa lá, estas histórias já não são para ti que desde ontem me conheces um pouco, mas para os outros…”.
A partir desse dia, passou a haver entre nós um código de comunicação e de compreensão em que o“valente comandante de operações especiais” e o “discreto intelectual” foram construindo uma bonita amizade. Por duas vezes que vim de licença à Metrópole, pediste-me mesmo para ir ver a tua namorada, à residência onde estava hospedada no Porto!
Regressados da nossa missão africana, mantivemos um permanente contacto que incluiu dois momentos muito fortes:
1 - O teu casamento na Igreja de Pombal de Ansiães, onde tendo chegado já atrasado na companhia do nosso estimado Oficial António Souza Cruz, e, estando já todos a tirar a fotografia de grupo na escadaria, tiveste o desplante de abandonar o grupo e vir a correr na nossa direcção, manifestando assim a alegria pela nossa presença. Pouco tempo deste-me o prazer de vir com a tua Mulher passar uns dias da lua-de-mel na casa de meus Pais em Albufeira.
2 - Passado um ano ou dois, combinámos ir cinco dias de verão para casa dos teus Pais em Pombal de Ansiães. Já eras Inspector da Judiciária e para isso pediste uma licença que possibilitou partilharmos um tempo inolvidável nas terras quentes do Douro. A viagem de regresso ao Porto foi um tempo de premonição: sendo noite, quiseste falar abertamente de vários assuntos que te obcecavam naquela época: a exaltação da chegada breve do teu primeiro filho, a tua profundo decepção pelo trabalho na Polícia Judiciária, onde assistias a práticas que eram contra os teus princípios de honra e de ética, e a tua consequente decisão de ter de abandonar em breve essa Instituição. Foi uma conversa plena de franqueza, de emoção e de sentimentos íntimos, que só é possível entre dois amigos certos.
Poucos meses passados, o António Souza Cruz telefonou-me a perguntar se tinha lido a notícia no jornal: o Inspector António Manuel Garcia tinha morrido, em serviço, num acidente de viação. Por coincidência ou não, participava na investigação sobre o assassinato de Ferreira Torres… Esse foi um dos dias mais tristes da minha vida, por saber que ficavam tantas coisas por partilhar, tanto contigo como com a tua Família!
Mas agora ao rever a tua imagem em tantas das fotos que este blogue nos está a proporcionar quero sobretudo dizer-te:
«Meu caro António Manuel Garcia, tu és um dos mais presentes entre todos nós, pela tua honradez, pela tua coragem e pela tua verticalidade.
E mais tarde, noutro mundo, ainda quero ouvir outras das tuas inenarráveis façanhas de bravo Oficial de Operações Especiais do BCAV
8423…».
JOSÉ ALBERTO ALMEIDA
- ALMEIDA 1. José Alberto Alegria Martins de Almeida, alferes miliciano de reabastecimentos. Econonista e arquitecto, é profissionalmente conhecido por José Alberto Alegria, mora em Albufeira e é Cônsul de Marrocos no Algarve.
- ALMEIDA 2. Chegada do alferes Almeida ao Quitexe em http://cavaleirosdonorte.blogspot.com/2009/05/o-alferes-miliciano-almeida.html
- GARCIA 1. António Manuel Garcia, alferes miliciano de operações especiais, comandante do PELREC, natural de Pombal de Ansiães (Carrazeda de Ansiães). Faleceu em 1979(80), era agete da Polícia Judiciária.
* NOTA: Pela primeira vez em 1511 postes do blogue, repito um 
texto. Porque nos fala do Natal de 1974, o único dos Cavaleiros do 
Norte na Jornada de África. Porque é um notável texto! Um texto  
de memória, de história, de camaradagem e afecto. Que honra 
e faz orgulhar todos os Cavaleiros do Norte! Porque 
não podemos, nem devemos, nem queremos esquecer os nossos 
maiores e melhores.
Fzendo a memória de Garcia, nela juntamos a de todos os 
nossos companheiros que já partiram

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

1 510 - O Natal que chega do Pinto de Zalala...

Pinto, Velez e Rodrigues (furriéis), 1º. sargento Fialho Panasco e 
(furriéis) Queirós, Victor Costa (em pé), Aldeagas (de cócoras) e Nascimento (sentado) 

O Pinto, nado de Penafiel e de vida feita em Paredes (do Porto), mandou mensagem de Natal, que vale por todas e todos os Cavaleiros do Norte. Aqui a reproduzimos, assinando-a por baixo:
O 8423 criou laços de amizade que vão muito além de um acontecimento como o Natal!
Fiámos ligados pelo nascimento!!!! O nascimento de uma amizade que nos acompanhará até ao fim  dos nossos dias!!!
Desejo-vos um bom Natal!!!
E que o ano de 2013 seja tudo o que desejamos para todos nós!
MANUEL PINTO
- PINTO. Manuel Moreira Pinto, furriel miliciano 
de Operações Especiais (Rangers). Natural de Penafiel e 
residente em Paredes, onde é empresário do ramo automóvel.


domingo, 23 de dezembro de 2012

1 509 - As vésperas de Natal e o Quitexe de 1974

04317.004.006
A 19 de Dezembro de 1974, o Governo Português assinou com o PAIGC o acordo que fixou em 5 de Julho de 1975 a proclamação da independência da República de Cabo Verde. Esta e outras, eram «coisas» que nos passavam despercebidas pelo Quitexe - onde as notícias nos chegavam apenas pelo correio pessoal, ou pelos jornais de Lisboa. Pouco, dos de Luanda. .
A 20, foi a vez de tomar posse o Governo de S. Tomé e Príncipe, até aí outra das colónias do Império Português. E noticiava-se a expulsão de Daniel Chipenda do MPLA, ele que em Agosto anterior tinha sido eleito sucessor de Agostinho Neto na presidência do mesmo MPLA (como se pode ler nesta notícia do Século. do dia 31 desse mês). Teria outras posições na vida pública angolana, que não vem ao propósito de blogue.
Em Lisboa, o  ministro Almeida Santos garantia, na televisão, que «haverá lugares na metrópole para funcionários ds ex-colónias». Os Estados Unidos anunciavam um auxílio de 500 000 contos a Portugal, para construção de habitações. 
O MPLA, a FNLA e a UNITA abriam delegações em Carmona, capital da província do Uíge, e secretarias no Quitexe e Vista Alegre. 
A guarnição dos Cavaleiros do Norte prosseguia a sua vida: serviços no aquartelamento, futebol e cinema, já não falando de alguns «desenfianços» a Luanda e a Carmona.  
- CHIPENDA. Daniel Chipenda, antigo futebolista do Benfica e da Académica. Dirigente e comandante militar do MPLA, criador da Facção Chipenda e secretário geral da FNLA, depois voltando ao MPLA. Foi embaixador de Angola no Egipto e faleceu em Fevereiro de 1996.

sábado, 22 de dezembro de 2012

1 508 - Natal e famílias de militares do Quitexe

Alferes Cruz e esposa Margarida, com o filho Ricardo, no Natal do Quitexe (1974)

O Ricardo era a «mascote» dos Cavaleiros do Norte, o Menino Jesus ao vivo da nossa festa de Natal de 1974, no Quitexe, terra uíjana de Angola, por onde jornadeávamos há precisamente 38 anos!
O Ricardo, o bebé ali em pose, sentado no colo da mãe, era (é) filho do alferes Cruz, o oficial do parque-auto, que lá juntou a família. Ele mesmo, licenciado em engenharia, a sua «mais que tudo», a futura dra. Margarida (ao tempo finalista universitária de medicina) e o Ricardo.
Moravam em casa civil e não deixaram passar despercebida a época natalícia, que aqui vemos engalanada com a árvore de Natal, os doces de época e sem faltar o bolo-rei - que bem se nota, olhem ali para o lado direito da imagem, em baixo.
«Não havia o frio e a neve, a lembrar o natal de Portugal, mas houve o calor do companheirismo de toda a guarnição e não faltou emenda adequada», lembrou o alferes Cruz, citando até alguns exageros da malta militar: «Recordou-me o Ribeiro que muitos entraram de gatas nas casernas». 
Famílias militares, no Quitexe, eram também (que me recorde) as do capitão Oliveira, que por lá tinha a mulher e a filha e um neto - com uns 6 ou 7 anos, filho desta filha. Não consigo lembrar-me dos nomes. E os casais formados pelo tenente Mora, alferes Hermida e sargento-ajudante Machado e respectivas esposas.
Todos se juntaram na noite de consoada, com a rapaziada por lá sem família e os solteiros, no refeitório da parada!
- OLIVEIRA. Capitão SGE, comandante da CCS. Natural de Viseu morava em Ovar e já faleceu. 
- MORA. João Eloy Borges da Cunha Mora, tenente SGE e adjunto do comando da CCS. Natural do Pombal, faleceu a 21 de Abril de 1993, com 67 anos. 

- CRUZ. António Albano Araújo de Sousa Cruz, alferes miliciano mecânico-auto. Engenheiro aposentado, natural e residente em Santo Tirso.
- HERMIDA. José Leonel Pinto de Aragão Hermida, alferes miliciano de transmissões. Engenheiro, aposentado e residente na Figueira da Foz.
- MACHADO. Luís Ferreira Leite Machado, sargento ajudante. 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

1 507 - O Natal de 1974 no Quitexe


Mesas da consoada de Natal no Quitexe, 24 de Dezembro de 1974. Reconhecem-se o Rocha, o Fonseca Viegas (de camuflado), o Belo, o Ribeiro e o Florindo (à esquerda), o Monteiro, Pires (Montijo) o Costa (morteiros) e Machado (de cigarro na boca). Em baixo, ao centro e sentado, o comandante Almeida e Brito, ladeado  pelo capitão Fernandes e o Reino (à esquerda, na foto), Ribeiro e capitães Falcão e Oliveira (de óculos). Atrás, de pé, o Soares, o Garcia (?) e o NN. Em primeiro plano, o alferes Hermida (de bigode) e esposa, a espoca e o alferes Cruz (de óculos)

Aproxima-se a noite de Natal de 2012, talvez valha a pena recordar a de...1974! Há 38 anos, éramos todos nós jovens militares que, a Angola, foram em missão. A consoada foi no refeitório dos praças do Quitexe e toda gente estava encalorada do clima e da emoção. Juntas, a CCS e a 3ª. CCAV., dias antes chegada de Santa Isabel. E bacalhau  e muitos pitéus natalícios, confeccionados pelas esposas dos militares.
O dia correu calmo, quanto aos serviços correntes, embora com alguma nostalgia na alma de muitos de nós. A saudade bem se entendia mais viva e sentida neste dia tão especial, dia de família e de emoções que não se contam. Por lá andava o Papélino, a nossa mascote, a quem perguntei o que era o Natal dele! Foi-me contando natais que ele não vivera, mas sonhara... - de tantas vezes ouvir contar! Fazia de conta.
A noite da consoada foi feliz! Sabia-se que podíamos estar tranquilos na comunhão da mesa natalícia, pois era certo o companheirismo que medrava entre as forças armadas e os movimentos emancipalistas - o ex-IN. E havia, instintivo, o sentimento de que seria a última velada de armas da tropa portuguesa, por terras de Angola! De que nós éramos actores! Via-se alegria e emoção, nos rosto dos soldados, soldados de qualquer patente, sabendo-se construtores de um novo país que estava para nascer.
Falou o comandante Almeida e Brito, chegado de Lisboa nas vésperas. Ouvido em silêncio e emoção. A tropa consoou feliz! Duas centenas e meia de homens, cada qual com uma ementa de saudade no peito, tiveram a sua consoada africana.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

1 506 - Ainda a coluna de Carmona para Luanda - 2 (fim)

Alfredo Coelho (Buraquinho) com a namorada (e depois
 mulher) em Carmona (1975). Comandante Almeida e Brito (em baixo)

(continua de ontem)
A coluna estava no Negage, em impasse, quando chegou Daniel Chipenda e o problema resolveu-se. O nosso comandante teve uma conversa com ele e, como homem mais compreensível e preparado, tudo se resolveu. Se assim não fosse, era um banho de sangue - sabe-se lá com que consequências.
Graças a Deus, seguimos na coluna, que arrafncou por volta das 11 horas da manhã do dia 4 de Agosto de 1975. Tivemos vários incidentes pelo caminho, mas o que mais me marcou, tirando o de Negage, foi ao atravessar a serra de Lucala, onde houve tiroteio e as nossa Força Aérea actuou, com os Fiat´s (aviões caça-bombardeiros) e heli-canhões
Ao chegarmos a Luanda,estava a televisão da BBC, que fez uns comentários e entrevistou o capitão José Paulo Fernandes, comandante da 3ª. CCAV. 8423. Eu estava ao lado dele, mas tão nervoso que não compreendi uma única palavra - falaram em Inglês.
Graças Adeus tudo correu bem, mas temos de agradecer ao nosso comandante, tenente-coronel Almeida e Brito. Além de ser um pai para todo o batalhão, foi um homem corajoso por aquilo que vi, e nem todos tiveram essa oportunidade. Além disso, foi um grande amigo meu. Quando lhe pedi para deixar a minha mulher ir de avião para Luanda, no dia 3 de Agosto, com a CCS, ele atendeu-me. Nunca poderei esquecer isso!
ALFREDO COELHO 
(BURAQUINHO)

1 505 - Ainda a coluna de Carmona para Luanda - 1

Coluna de Carmona para Luanda, com civis. Militares, conhecem-se o furriel Guedes 
(primeiro da direita) e o soldado Santos (ao lado dele) e o 1º. cabo Mendes (segundo, da esquerda)

Quando a coluna dos Cavaleiros do Norte saiu de Carmona, para Luanda, a 4 de Agosto de 1975, um dos «CCS´s» era o Buraquinho (foto à esquerda). Ele veio contar a sua versão da viagem:
«Houve muitas desavenças entre o pessoal civil que se preparava para sair e a FNLA - que não queria deixá-los sair e muito menos com as viaturas cheias de material comestível e não só. Pouco mais tarde, já no Negage, a coluna esteve parada  durante bastante tempo, porque a FNLA não a deixava passar.
O comandante da FNLA era o tenente Hieto, que tinha chegado de Kinshasa, no Zaire, treinado pelas tropas de Mobutu e se gabava de ter 8000 guerrilheiros sob seu comando.
Foi quando o nosso comandante Almeida e Brito tomou posição e lhe disse: «Por cada militar dos meus, você precisa de 20; por cada sargento, precisa de 30; por cada oficial, precisa de 40!».
O tenente Hieto espantou-se e comentou que «dessa maneira, não tenho homens suficientes» para nos enfrentar. Foi um momento muito teso e todos nos arrepiámos.
Eu estava perto e ainda parece que estou a ouvir o nosso comandante a dar-lhe resposta: «Podem morrer muitos dos meus homens, mas os seus ficam aqui todos derretidos!...».
Virou-se para nós e disse: «Rapazes, preparai-vos!...».
Eu tremia por todos os lados!».
Continua amanhã.
- BURAQUINHO. Alfredo Rodrigo Ferreira Coelho, 1º. cabo 
analista e depurador de águas, da CCS do BCAV. 8423. 
Empresário de restauração, morador em Custóias (Matosinhos).

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

1 504 - Mensagem de Natal do comandante da Zona Militar Norte

O comandante do Sector do Uíge e Zona Militar Norte, instalados em Carmona, era o general Altino de Magalhães, que pelo Natal de 1974, mandou uma mensagem à guarnição dos Cavaleiros do Norte.
O comandante Almeida e Brito, do BCAV. 8423, retribui-le a cortesias, em visita que lhe fez, a 26 de Dezembro - dia seguinte ao de Natal. Ele mesmo chegara de Lisboa, dois dias antes, de férias.
Transcrevemos a mensagem de Altino de Magalhães:

«Festa de família, época em que é mais viva a saudade dos parentes e amigos, não é ainda para nós que nestes Natal de 1974 terminará a velada de armas iniciada há 14 anos.Fique-nos a consolação de encontrar no seio do Exército uma segunda família, a mesma camaradagem diária de combatente para combatente. 
Fique-nos a certeza de estar a cumprir uma alta missão, ajudando a construir, em paz, um novo país de expressão portuguesa.
Nesta quadra, em que em todo o mundo se deseja PAZ NA TERRA AOS HOMES DE BOA VONTADE, juntemos os nossos esforços para que, em ANGOLA, se consiga essa paz e, indiferentes a ofensas e calúnias, com a consciência tranquila, prossigamos confiantes e seremos até ao fim, para que possa os dizer, com satisfação e orgulho, MISSÃO CUMPRIDA!
Na impossibilidade de o fazer pessoalmente, com esta saudação a todos os oficiais, sargentos e praças do Sector, envio os meus votos de Boas Festas e Feliz Natal». 

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

1 503 - O adeus do Pelotão de Morteiros 4281

Alferes Garcia, Ribeiro e Leite (em cima), Valdemar e Pagaimo (em baixo)


A 19 de Dezembro de 1974, amanhã se passam 38 anos, o Pelotão de Morteiros fez malas e preparou-se para o adeus ao Quitexe e apresentação em Carmona, no BC12. Foram nossos companheiros durante 5,5 meses. E bons companheiros, liderados pelo alferes Leite, oficial açoreano que agora (e desde há muitos anos) faz vida nos Estados Unidos.
O pelotão dividia com o PELREC alguns serviços operacionais, nomeadamente patrulhas, escoltas e serviços, mas a minha memória corre-me para a mata da serra do Quimbunda, a nordeste no Quitexe, nos caminhos paralelos à picada para Zalala - onde uma vez nos foi buscar, ao final de três dias de operação, ainda era verde a nossa experiência de combatente da floresta, por onde galgámos trilhos que nos enchiam de medos e sentimos, no corpo, o frio do cacimbo angolano. Por onde palmilhávamos quilómetros do chão angolano e sentimos a fome que a ração de combate não matava e a sede que nem os cantis esvaziados faziam esquecer.
O PELMORT. 4281 foi um dos anfitriões dos Cavaleiros do Norte, quando chegámos ao Quitexe - a 6 de Junho de 1974. Estava adido ao BCAÇ. 4211, que substituímos, tal qual a CCAÇ. 209/RI 21, a que se viria a revoltar.
O Valdemar e o Pagaimo, que mostramos e, foto desse tempo, estiveram no encontro dos Cavaleiros do Norte, a 2 de Junho deste ano, em Paredes.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

1 502 - Mensagem de Natal do tenente (agora capitão) Luz


Alferes Garcia e Ribeiro, capitão Leal (médico) e 
tenente Luz, em 1974. O capitão Luz e esposa, actualmente (em baixo)

Natal de 2012

Para os meus caros amigos, jovens “Cavaleiros do Norte” do Quitexe/Carmona e agora nos diferentes lugares onde cada um reside:
Os meus sinceros votos de um Santo Natal e de um Novo Ano de 2013 repleto das maiores felicidades e da melhor saúde, extensivo às vossas famílias.
 Com um grande abraço do então
 Tenente Luz

*
- PS. Não querendo misturar as coisas, parece-me justo transcrever aqui um parágrafo contido na mensagem de Natal que enviei ao nosso amigo ex-furriel Celestino Viegas: “Desejo-lhe ainda muita força para continuar no blogue Cavaleiros do Norte a história do nosso Batalhão, sobre a qual escrevendo já tanto fez e sempre ao bom estilo que, estou certo, todos quantos a acompanham tal como eu, tanto apreciam e valorizam.
Parabéns pelo trabalho e também aos colaboradores”.
- LUZ. Acácio Carreira da Luz, tenente do SGG, chefe da 
secretaria geral do Batalhão de Cavalaria 8423. 
Aposentado como capitão, tem 83 anos e reside 
na Marinha Grande
Ver «Os 83 anos do capitão Luz», AQUI

domingo, 16 de dezembro de 2012

1 501 - Salazar, 5 de Agosto de 1975...

A epopeica evacuação dos Cavaleiros do Note, de Carmona (Uíge) para Luanda, já aqui foi narrada, a várias mãos. Envolveu, recordemos, uma viagem de 570 quilómetros cheios de problemas, feita em 58,45 horas, entre 4 e 6 de Agosto de 1975, com apoio de uma Companhia de Comandos e outra de Pára-Quedistas, aviões Fiat (caças) e hélicópteros, começando com 210 viaturas e chegando a ter cerca de 700 - tantos foram os civis que se juntaram à coluna.
O documento fotográfico (via Manuel Pinto, furriel miliciano Ranger da 1ª. CCAV. 8423) regista uma paragem em Salazar (actual Ndatalando), com militares e civis a recomporem-se da «violenta» viagem e a prepararem mais um caixote - onde os civis juntavam os haveres que podiam, fugindo para chão seguro.
Quantos civis terão escapado à morte nesses dias de odisseia, nunca se saberá.
«Sentindo-se abandonados e entregues à sorte do querer da FNLA e convencidos de que as NT os abandonariam» (cito o Livro da Unidade) os civis desesperavam. Mas, e de novo cito o LU, «assim não aconteceu e procurou-se uma solução» que viria a ser encontrada depois de uma reunião com Daniel Chipenda, no Negage, às 16 horas de 4 de Agosto. Mas os incidentes repetiram-se, com gravidades diferentes, em Camabatela, Samba Cajú, Vila Flor, Lucala, Salazar (aqui com o MPLA e cidade que demorou 4 horas a ser atravessada) e Dondo, antes de Catete e depois Grafanil, às portas de Luanda. 
A imagem fica para a história: Cavaleiros do Norte a ajudarem civis, em Salazar, a 5 de Agosto de 1975. A história, sendo mais  ou menos epopeica, tem sempre os seus heróis desconhecidos, como estes dois Cavaleiros do Norte, dados de coração e mãos na ajuda ao povo que sofria na histórica evacuação de Carmona para Luanda.

sábado, 15 de dezembro de 2012

1 500 - Mil e quinhentas vezes Cavaleiros do Norte!!!

O tempo foi passando e a postagem de hoje, neste blogue de saudades da jornada africana que nos levou ao solo uíjano de Angola, tem o nº. 1500!!! 
Somam-se milhar e meio de vezes que refrescámos a memória dos tempos em que, jovens, irreverentes e generosos, saudosos mas sem medo, não regateámos servir Portugal e dele não fugimos, nem do seu futuro. Não fizemos como alguns, que da fuga se fizeram heróis!
O dia era 9 de Abril, Quinta-feira Santa de 2009!
Passou-se este tempo todo e o blogue, sem querer e crer, transformou-se numa teia de cumplicidades e afectos que, se outro mérito não teve, teve o de (re)achar muitos companheiros que a vida fez «perder» nos seus caminhos. Companheiros que nos contactam de todo o lado, de Portugal (dos mais inusitados e esquecidos sítios), de França e Suíça, da Alemanha, Inglaterra, Holanda e Suécia, do Brasil, do Canadá, dos Estados Unidos, até da longínqua Austrália e das irmãs terras de Macau e Timor-Leste. Também de Angola, de gente que por lá nos conheceu e de nós tem saudade!
O gosto de reencontrar tantos companheiros - os quitexanos, os zalalas´s, os de Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange e Liberato (por aí fora) - e tantos são!!!,  juntou-se ao desgosto de saber da partida de alguns, levados pelo luto da doença ou do acidente.
Foi (é) essa gente toda que nos tem «obrigado» a andar por cá, fazendo memória(s) da jornada africana, vivida de há 37 para 38 anos. Éramos jovens e estamos todos sexagenários. O tempo voou e mal demos por ele!
Primeiro post do
blogue, ver aqui

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

1 499 - Destacamento de Luísa Maria extinto há 38 anos

Hipólito e Viegas (atrás), Caixarias, Silvestre (?) 
e Marcos no Destacamento da Fazenda Luísa Maria (1974)

A 14 de Dezembro de 1974, foi extinto o Destacamento Militar da Fazenda Luísa Maria - por lá sendo última guarnição um pelotão da 2ª. CCAV. 8423, dos Cavaleiros do Norte, estacionada em Aldeia Viçosa. 

O PELREC esteve lá numa das primeiras semanas da nossa jornada africana, certamente porJulho desse ano, lá se retratando a imagem deste post - uma das primeiras a cores que fazem parte do meu espólio angolano.
As mais rápidas memórias que me ocorrem de Luísa Maria são as de lá ter ido num domingo, em data indeterminada e no grupo de combate que eu integrava - o PELREC, da CCS - numa escolta ao comandante Almeida e Brito, e de, numa outra vez, uma enorme pacaça correr algumas centenas de metros atrás do UNIMOG onde seguíamos, pela picada fora. O pesado animal corria que se danava e resistiu ao verdadeiro tiro ao alvo de que foi vítima, fugindo depois pela mata adentro.
Há uma outra, que se me soltou agora: a de lá termos estado numa missão que nos levou aos arredores da mítica Pedra Verde.
- HIPÓLITO. Augusto de Sousa Hipólito, 1º. cabo de Reconhecimento de Infantaria. Natural de Vinhais e residente em França.
- VIEGAS. Celestino José Pinheiro Morais Viegas, furriel miliciano de Operações Especiais (Rangers). Natural e  residente em Ois da Ribeira (Águeda). 
- CAIXARIAS. Raúl Henriques Caixarias, soldado Atirador de Cavalaria. Aposentado e residente em Sarge (Torres  Novas).
- SILVESTRE. Ezequiel Maria Silvestre, 1º. cabo de Reconhecimento de Infantaria. Residente no Feijó (Almada).
- MARCOS. João Manuel Lopes Marcos, soldado Atirador de Cavalaria, residente no Pêgo (Abrantes).

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

1 498 - Mensagem do Natal de 1966 dos Artilheiros do Quitexe

Sede do Batalhão de Artilharia 786, no Quitexe (1966)

O Natal de 2012 está à porta, embrulhado em frio e com o (des)entusiasmo de uma época de crise sem precedentes, que nos torna (portugueses) menos felizes e mais pobres. Há 46 anos, pelo Quitexe, a guarnição era de artilheiros (gente que nos antecedeu e abriu caminho) do Batalhão 786.
O comandante era o tenente-coronel Dagoberto Graça que, ao tempo, emitiu esta mensagem de Natal (que nos foi enviada pelo então furriel miliciano José Lapa):
«É este o segundo Natal que, por imperativo da nossa missão, passamos nesta ubérrima região de Portugal, espiritualmente unidos numa grande Família - a do BART 786 - a que nos orgulhamos de pertencer.
Dezoito meses são decorridos sobre a chegada a Angola, dezoito meses são passados numa actividade reconhecida de mérito por quem tem autoridade para a apreciar. Longo período, durante a qual se cimentaram entre todos os componentes desta grande família, laços de amizade, compreensão e de entre-ajuda, que perdurarão pela vida fora.
Hoje, como ontem, continuamos cientes de que o cumprimento da nossa missão nesta província exige sacrifícios, coragem, determinação, resistência física e confiança, mas conscientes da sua necessidade e moralizados pela certeza de que a nossa presença é indispensável, não regateamos novos esforços que nos sejam exigidos e continuaremos teimosamente a defender e a manter o elevado conceito em que somos tidos como um dos melhores Batalhões da ZIN.
O esforço que se nos pede é árduo e difícil e grande é também o sacrifício de estarmos afastados dos entes queridos, pais, esposas, filhos ou noivas, nesta quadra festiva, mas sentimo-nos orgulhosos por estes esforços e sacrifícios serem colocados generosamente no Altar da Pátria ameaçada.
Volto a afirmar a todos que servem comigo neste Subsector, como o fiz há um ano, que reconheço, aprecio e agradeço o zelo e a dedicação e a lealdade com que têm actuado, como agradeço também a coragem e a resignação, além da elevada compreensão, com que os nossos familiares sofrem o afastamento e suportam os perigos e dificuldades que a cada passo se nos deparam.
Daqui vos desejo um Natal Feliz e peço a Deus que continue a auxiliar-nos como até agora, a todos proporcionando um Ano Novo cheio de venturas e prosperidade.
Comando em Angola, 25 de Dez 66
O comandante

- NOTA:                                                      
O comandante Graça faleceu com o posto 
de general. Eu, que lidei diáriamente com ele, 
tenho do nosso comandante a ímagem de um 
grande militar,humanista e que impunha 
a sua autoridade sem exageros .
Um abraço
J. Lapa


quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

1 497 - Saída, entradas e castigos nos Cavaleiros do Norte

A Igreja da Mãe de Deus do Quitexe

O alferes capelão José Ferreira de Almeida era o capelão dos Cavaleiros do Norte. Dele - e ele me absolverá - pouca memória tenho, para além da imagem de um jovem padre, alto, de óculos, que certamente andaria de companhia em companhia (nelas se demorado, por Zalala, Aldeia, Viçosa e Santa Isabel, porventura por Vista Alegre, Ponte do Dange e Liberato), razão porque, desde o Junho da nossa chegada, não o terei visto  muitas vezes.

Saiu do Quitexe, e, final de comissão, pelo mês de Dezembro de 1974. Há 38 anos!
O capelão foi embora, mas chegou João Rito, furriel miliciano atirador de cavalaria, à 1ª. Companhia e pelo mesmo Dezembro de 1974 adentro, já os bravos de Zalala estavam em Vista Alegre e Ponte do Dange. Também não tenho memória dele, de onde veio e por que chegou aos Cavaleiros do Norte. Nem agora lhe achei o paradeiro. 
O mês foi também de algumas punições, nomeadamente na 1ª. CCAV. 8423, todos dos chamados grupos de mesclagem, oriundos do RI20 e todos com 10 dias de prisão disciplinar. Os seus apelidos eram Silva, António e Cauindo (estes dois últimos, com pena agravada para 20 dias). E um da 2ª. CCAV., a de Aldeia Viçosa: Isaac Viegas, com 16 dias de prisap disciplinar agravada.
Uma curiosidade: o castigo de Cauindo, depois de agravado para 20 dias (pelo comando do batalhão) e para 30 (pelo Comando de Sector), segundo a Ordem de Serviço nº. 16/75. Mas o castigo viria a ser anulado. Vá lá saber-se porquê.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

1 496 - O Quitexe nos dias de 2012...

Residência do comandante Almeida e Brito (assinalada a roxo), messe e bar 
de sargentos (a vermelho) e de Oficiais (a verde). O Quitexe de 2012 quase igual ao de 1974/75

O Quitexe de 2012 tem esta «cara», na Rua de Baixo (ou avenida), que tinha (e tem) duas faixas de rodagem, separadas por parte ajardinada, verde de relva e plantas tropicais. É quase igual ao do tempo dos Cavaleiros do Norte e na imagem (de Ivo Bije) são perfeitamente identificáveis instalações do Batalhão de Cavalaria 8423. 
Os «diários» desta página de histórias terão, todos (sem excepção), uma qualquer história vivida neste passeio, que fazia pisámos milhares e milhares de vezes, no percurso do bar e messes para a parada e oficinas. Mesmo em frente, ficava o bar dos praças e o coberto onde eram dadas aulas regimentais. Por mim, recordo, com nostalgia, com saudade, os 9 meses em que fiz este caminho e no bar e messe de sargentos onde, com os companheiros do Quitexe, cavaqueámos a vida, discutimos a guarnição, matámos a sede e a fome, afogávamos as nossas saudades nas grades de cerveja e lemos  e escrevemos aerogramas e cartas que nos chegavam de Portugal e dos amigos. Tantas, tantas, tantas... 
Já lá vão 37 para 38 anos!! O tempo voou!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

1 495 - O adeus definitivo dos Cavaleiros do Norte a Santa Isabel

Cavaleiros do Norte de Santa Isabel no Encontro de 2010, em Coruche

Os Cavaleiros do Norte da 3ª. CCAV. 8423 abandonar definitivamente Santa Isabel a 10 de Dezembro de 1974 - hoje se completa 38 anos. Foi a última guarnição militar portuguesa naquela fazenda, «ocupada» desde os heróicos e trágicos tempos de 1961/62.
O comando era do capitão miliciano José Paulo Fernandes, que com os seus homens lá chegou a 11 de Junho anterior, depois da chegada a Luanda e ao Campo Militar do Grafanil (a 5 do mesmo mês de Junho do já distante ano de 1974).
O corpo de oficial miliciano era formado pelos alferes milicianos Rodrigues (Operações Especiais), Mário Simões, Pedrosa de Olivaira e Carlos Silva (atiradores de cavalaria). A classe de sargentos incluía o 1º. Marchã (chefe da secretaria) e os furriéis milicianos Ribeiro, Flora, Fernandes, Ricardo, Carvalho, Graciano, Gordo, Lopes e Querido (atiradores de cavalaria), Reino (operações especiais), Lino (mecânico), Belo (alimentação), Rabiça (enfermeiro) e Cardoso (transmissões). Já faleceram, Guedes (armamento pesado) e Capitão (atirador de cavalaria).
Abandonaram Santa Isabel e instalaram-se no Quitexe, onde jornadeavam a CCS e o Pelotão de Morteiros 4281.