CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

sábado, 6 de agosto de 2022

5 586 - A odisseia de milhares de civis, 570 kms. e 58,45 horas de viagem, de Carmona ao Grafanil!

Paragem da histórica e epopeica coluna dos Cavaleiros do Norte do BCAV 8423, de
  Carmona para Luanda, com centenas e centenas de civis, em mais de 700 viaturas.
Imagem, de uma paragem, entre muitas, dos históricos dias 4 a 6 de Agosto de 1975

Recorte da imprensa de Luanda de 6 de Agosto de
1975 sobre a coluna que tinha saído de Carmona 


A coluna dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423 estava pronta para retomar a marcha para Luanda e arrancou do Dondo às 7 horas da manhã de 6 de Agosto de 1975.
Uma quarta-feira de há precisamente 47 anos e comandada pelo tenente-coronel Almeida e Brito, oficial de Cavalaria.
A cidade do Dondo era importante nó rodoviário angolano, cruzamento das estrada para Nova Lisboa e Salazar (actual N´Dalatando), por onde passaram os Cavaleiros do Norte para a última etapa da épica rotação, que em terceiro dia, já vinha da uijana cidade de Carmona. 
A. Brito comandou coluna
de Carmona ao Grafanil
Faltavam 174 quilómetros até chegar ao campo Militar do Grafanil - onde se irão juntar à CCS e 1ª. CCAV. 8423, no BIA.
A inglesa BBC, estação de televisão de Londres, a este tempo, fazia a cobertura aérea da parte final da coluna, com uma equipa de reportagem. Às 10,20 horas, a coluna seguia em estrada de asfalto e foi sobrevoada por um helicóptero (com a BBC) e dois Fiat´s - caças bombardeiros da Força Aérea Portuguesa (FPA).
Passou-se Catete, a terra de Agostinho Neto (o presidente do MPLA) e, já por entre as 11 horas e o meio dia, com todos os civis da coluna, os Cavaleiros do Norte «começaram a chegar ao Grafanil», onde, ansiosos, os esperava os companheiros que, três dias antes, tinha viajado de avião. 
O tempo de escoamento foi de 45 minutos.
«Terminou assim, às 12,45 horas, o movimento do BCAV. 8423 de Carmona para Luanda, nos 570 quilómetros de itinerário e no tempo de 58,45 horas, trazendo cerca de 700 a 800 viaturas», relata o livro «História da Unidade».
O mesmo livro sublinha também que «terminou, assim, a odisseia de milhares de civis que, à chegada a Luanda» e acrescenta que esta «teria sido a missão mais difícil do BCAV., mas também aquela em que bem demonstrou o seu «querer e saber querer», conduzindo uma operação que forçosamente terá de ser um pilar bem marcante da sua história».
Notícia do «Diário de Lisboa»
de 6 de Agosto de 1975

Uma coluna de 1500 veículos
e dezenas de quilómetros !

A imprensa luandina do dia seguinte reportava que «chegou do Uíge uma coluna de civis e militares» de Carmona e do Negage. Citando números algo  diferentes.
«A coluna compreendia cerca de 1500 veículos, muitos dos quais de carga, com mobílias, electrodomésticos e outros bens, pertencentes aos  europeus residentes naquelas zonas e que, pelos vistos, tencionam abandonar o país, em virtude do que ali está a acontecer e da retirada tropa portuguesa».
«Muitas destas pessoas», ainda segundo o jornal (supomos que o «A Província de Angola», na altura já «Jornal de Angola»; ou talvez o «Notícias de Luanda» - ver o recorte na imagem acima), «nasceram naquelas terras ou lá viviam há muito tempo».
«Disseram que devem ser raros os europeus que lá ficaram, apesar de Daniel Chipenda ter estado o Negage a tentar demovê-los de partirem», referia o jornal.
O Diário de Lisboa, por seu lado, dava conta que «a retirada das tropas portuguesas que se encontravam em Carmona e no Negage, onde se encontrava uma base aérea portuguesa, originou a saída do resto da população europeia que ainda se encontrava na região».
«A FNLA parece ter posto algumas dificuldades à saída maciça destes milhares de pessoas», reportava o vespertino de Lisboa, sublinhando também que a coluna tinha «uma extensão de dezenas de quilómetros».
José L. Craveiro


Craveiro de Luísa Maria
faleceu há 3 anos !

O encarregado da Fazenda Luísa Maria, onde esteve aquartelado um destacamento dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423 (e outros, em tempos anteriores), era José Lopes Craveiro, que faleceu há 3 anos: a 6 de Agosto de 2019 e aos 91 anos.
Natural de Maçãs de D. Maria, no concelho de Alvaiázere, a sua jornada africana do Uíge angolano foi passada a livro, da autoria de seu filho Carlos, obra intitulada «Cartas de chamada de um regresso anunciado», apresentada a 28 de Junho de 2015 e em sessão na qual participou o blogue «Cavaleiros do Norte / BCAV. 8423».
Afazenda ficava a uns 40 quilómetros do Quitexe, seguindo pelo caminho de Camabatela, onde algumas vezes fomos e onde José Lopes Craveiro sempre foi fidalgo e hospitaleiro anfitrião dos jovens combatentes e hoje o recordamos com saudade, dele fazendo memória RIP!!

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