CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

5 190 - Redescobrindo Angola (2): A caminho do chão do Uíge! O Quitexe está muito igual!

O que resta do edifício do Comando do BCAV. 8423.
Ao fundo, a Igreja de Santa Mãe de Deus, na vila do Quitexe

  
A chegada do furriel Viegas ao Quitexe, 44 anos
depois, na imagem com o condutor Nogueira
 do Liberato, companheiro da jornada de saudade
às terras uíjanas de Angola e da nossa jornada
africana que foi tempo da pré-independência.
Viagem de saudade e memória!


Redescobrindo Angola, 
44 anos depois... (2)
A caminho do chão 
do Uíge!

O caminho para o Uíge foi o mesmo de há 44 anos, em asfalto, passando Cacuaco e Caxito (de trágicas batalhas no ido ano de 1975, entre MPLA e FNLA), terras onde muita gente se via na rua, tranquilamente e olhando o 
Páginas 3 e 4 da reportagem publicada no jornal
«Sol» de 1 de Fevereiro de 2020

jeep grande e branco, que parava e perguntava: «Como é que vai Angola?».
Gente anónima, ao acaso achada nas largas ruas, foi-nos contando da sua esperança: «Nós vai no futuro, nós acredita no João Lourenço, os Angola vai ser muito melhor».
Os caleluias (pequenas motorizadas com atrelados cheios de gente, a caminho de um qualquer destino) e os táxis azuis levam e trazem pessoas, de e para todo o lado, os machimbombos, mais raros mas também sobrelotados, galgam os mais de 300 quilómetros da viagem, mais difícil nas duas cordilheiras com troços de 10% de inclinação - onde, lentos e cautelosos, três pesados camiões carregavam madeira para o porto de Luanda e nos demoraram a viagem.
O futuro parecia escrito nos olhos desta gente que, para trás e para a frente, brancos e negros, sem distinção de cores, galgava as estradas longas, de uma Angola imensa e por onde íamos matar as saudades da nossa jornada africana do Uíge. Depois Úcua e o Piri, o corte para o Quibaxe e, deixando a província do Bengo, a entrada na do Uíge, pela Ponte do Dange - onde os Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423 fizeram guarda nos últimos 15 meses da soberania portuguesa, garantindo a segurança do principal itinerário de Luanda a Carmona - num tempo, o de 1974/75, em que os movimentos de libertação, em busca de implantarem a sua ideologia política e social, a todo o custo queriam enraizar os seus ideais nas populações e não se incomodavam em provocar frequentes quezílias com a tropa portuguesa.
A velha ponte colonial foi destruída pela guerra e uma nova construção dá passagem para o norte, pela Estrada do Café fora, até Vista Alegre, depois Aldeia Viçosa, Dambi Angola e o corte para a Fazenda Santa Isabel, até ao Quitexe, a 40 quilómetros de Carmona, depois o desvio para a mítica Fazenda de Zalala «a mais dura escola de guerra».
Os bananais e a imensa mata entram na estrada, parecendo aparados por tesoura de jardim, mas vê-se, a nu olho, que é cortada pelos pesados camiões que de lá acarretam madeira. Disse-nos voz do povo que «para a China, para pagar dívidas, mais o petróleo».
A messe de sargentos da CCS do BCAV.
8423, a 24/09/2019, no Quitexe


O Quitexe
está muito igual

  

O Quitexe está igual, quase igual do «nosso» saudoso Quitexe de 1974/75. Logo na entrada, o velho Posto 5 - onde se guardava a vila e detia quem menos bem se comportava, em jeito. Depois, a administração (muito bem conservada), as casas dos Morais (agora o Banco BIC) e do Carlos Gaspar, os restaurantes Topete, o Rocha e o Pacheco, a escola primária, a casa dos Correios, o Clube do Quitexe (onde em 1974 vimos «Eusébio», o filme do pantera negra), o hospital, tudo na Rua de Cima (a Estrada do Café).
O edifício do Comando do BCAV. 8423, na de Baixo (a avenida) está em ruínas, aparentemente com uma família lá dentro, num contentor. Há roupa a secar numa corda e crianças a espreitar. Outras, perguntam-nos o que por ali fazemos e brincam com carrinhos de madeira. 
O espaço das casernas, oficinas, refeitório, balneários e parada do BCAV. 8423 está ocupado com pavilhões, de onde saem e entram jovens estudantes, todos de bata branca e a olhar-nos com curiosidade. Ao lado, mesmo a lado, está o adro da Igreja de Santa Maria de Deus e a missão onde pastoreou o padre Albino Capela, agora a viver em Barcelos.
O «nosso» quartel inexiste, na sombra de um enorme imbondeiro. Da porta d´armas, resta o sítio e uma avenida que foi de alcatrão está agora esburacada, aqui e ali ainda com o separador central com alguns verdes a alegrar o espaço.
Um comerciante de Malanje abriu loja na antiga messe de oficiais e diz que «isto está muito parado». A messe e bar de sargentos, a secretaria e a casa dos furriéis são habitações ocupadas, de gente que nos espreita e saúda com sorriso largo: «Saúde, papá..., brigado», dizem-nos algumas crianças. E recusam-se a vender os seus pequenos brinquedos de madeira.
A casa do comandante está destelhada, pintada de azul e abandonada. Mesmo em frente, a moradia que foi de Rui Rei e é agora a Delegação da Polícia Nacional. Ao lado, a antiga enfermaria militar está ocupada por serviços públicos. Funcionam a escola, a administração e o hospital coloniais, edifícios coloniais bem conservados.
Deixámos o Quitexe com emoção, deixando cair uma traiçoeira lágrima de alegria e já saudade. Íamos a caminho de Carmona - cidade fundada por Montanha Pinto e batizada pelos portugueses com o nome de Presidente da República. Que os angolanos fizeram Uíge, capital da província deste nome, no norte de uma Angola que foi chão de muitas lutas e hoje é terra de esperança.
- AMANHÃ (3): O regresso a Carmona, cidade-mártir 
de 1975 ! A Carmona colonial continua quase igual !
Texto publicado no jornal «Sol» de 01/02/2020
Américo Rodrigues
furriel miliciano


Rodrigues, furriel de 
Zalala, faria 68 anos !

O furriel miliciano Rodrigues, da 1ª CCAV. 8423, faria 68 anos a 24 de Setembro de 2020. Faleceu a 30 de Agosto de 2018.
Américo Joaquim da Silva Rodrigues, atirador de Cavalaria de especialidade militar nos Cavaleiros do Norte, também foi vagomestre por terras de Zalala, Vista Alegre, Songo e Carmona, por isso sendo louvado em ordem de serviço.
Regressou a Portugal, e à sua natal Vila Nova de Famalicão, no dia 9 de Setembro de 1975 e fez vida profissional na área têxtil. 
A morte «roubou-o» do nosso convívio físico a 30 de Agosto de 2018, há pouco mais de dois anos, e hoje aqui o recordamos, fazendo memória de um grande e bom companheiro da jornada africana do Uíge angolano. RIP!!! 

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