CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

domingo, 26 de junho de 2022

5 845 - Comandantes da ZMN e do CSU no BCAV. 8423! Retaliação, em 1974, contra GE´s e sobas!

O capitão miliciano José Manuel Cruz, comandante Almeida e Brito e os alferes milicianos
 João Machado e Jorge Capela em Aldeia Viçosa. Dia de Natal de 1974

O furriel Viegas no Destacamento da Fazenda Luísa
Maria, em Julho de 1974, onde estava um pelotão
da 2ª. CCAV. 8423 - o do alferes Machado
  
O tenente-coronel Carlos Almeida e Brito acompanhou, a 26 de Junho de 1974, os comandantes da Zona Militar Norte (ZMN), o brigadeiro Altino de Magalhães, e do Comando de Sector do Uíge (CSU), o coronel tirocinado Bastos Carreiras, às zonas de acção (ZA) das várias subunidades dos Cavaleiros do Norte.
O comandante do BCAV. 8423 fez-se acompanhar pelo Administrador do Concelho do Dange/Quitexe e esteve em Aldeia Viçosa (onde se aquartelava a 2ª. CCAV. 8423, a do capitão miliciano José Manuel Cruz), a Vista Alegre (a CCAÇ. 3145 do capitão miliciano Raúl Corte-Real) e Fazenda Santa Isabel (a 3ª. CCAV. 8423, a do capitão miliciano José Paulo Fernandes).
O objectivo era, de acordo como livro «História da Unidade», «a procura de estreitamento de relações entre as autoridades militares e civis».
De volta à sede do BCAV. 8423 e já à noite, reuniu no Clube do Quitexe com as autoridades locais.
A Administração Civil e jardim do Quitexe, a 24 de
Setembro de 2019, quando por lá passou o furriel
Viegas, da CCS do BCAV. 8423


Retaliação contra antigos 
e actuais GE´s e sobas!

O Quitexe era a vila onde tínhamos chegado dias antes (a 6 de Junho) e chão onde se aquartelava a CCS. E era dia-a-dia de muitos jovens que, no fulgor da juventude, foram arrimados para cenários de guerra. Dias maiores e melhores eram sempre os que correspondiam à chegada de companheiros deslocados em outras companhias - Zalala, Santa Isabel e Aldeia Viçosa, ou quaisquer outros destacamentos do BCAV. Ou nós mesmos por lá passávamos. Eram momentos importantes, nomeadamente pela troca de confortos e experiências, que eram colhidas de sementeiras emocionais e psicológicas diferentes, é bem verdade, mas que nos emprestavam um maior sentido de serviço e coragem. Se há tempo em que a solidariedade existe, não tenhamos dúvidas, é na tropa. E nomeadamente nos tempos de guerra. Um dia importante, de data que não consigo recordar, foi o de uma saída ao Destacamento de Luísa Maria, com passagem, no regresso e inesperada, por uma sanzala, na qual a autoridade do soba tinha sido posta em causa, com agressões morais e físicas pelo meio. 
Foram momentos menos fáceis.
Havia a suspeita (depois confirmada) de por lá estarem infiltrados «inimigos» e nestes momentos de virtual confronto, em que a fúria, o medo e a dor não sossegam a alma, tudo pode acontecer. 
A informação de que dispúnhamos apontava para acções retaliatórias contra antigos e actuais GE´s e sobas. E também sabíamos que «desconhecidos» tinham abatido por esses dias um antigo GE, para os lados de Vista Alegre.
Os novos cenários políticos resultantes do 25 de Abril tinham criado uma janela de abertura e contactos que apontavam para a paz, mas... nunca fiando. Era esse o perigo maior!
Mapa da área do Quitexe feiro, de
memória por Alfredo Baeta Garcia


Velho soba agredido
e ensanguentado !

A área dos chamados «quartéis» de Camabatela e Quiculungo seriam as mais sensíveis e era para essas bandas que inesperadamente iríamos ter de passar, no regresso de Luísa Maria ao Quitexe - numa longa volta por picadas de pó que eram novas nos nossos destinos. E virtualmente traiçoeiras! Lá chegados, achámos o velho soba da sanzala (não me lembro do nome) agredido e ensanguentado à porta da sua palhota coberta de capim seco, com uma velha mauser sem balas pousada ao lado, rodeado de carpideiras em cânticos plangentes. Foi levado para o Quitexe, onde foi socorrido no hospital e «entregue» à administração civil. Pelo caminho, houve tempo para uns tiros a uma pacaça que galgava na picada. Recordo, como se fosse hoje, o sorriso do velho soba, de boca rasgada e larga, sem dentes, a olhar o entusiasmo dos soldados que a todo o tiro tentavam abater o animal - sem conseguirem, a coluna, de resto, nunca parou... - mantendo-se ele firme e sem um ai, ainda que roído de dores, sentado no Unimog e com o sangue a secar-lhe nos grossos lábios de rosto desbarbado. O sorriso era aquele fechar de lábios de quem sofria como, aliás, bem se notava nos breves esgares que não nos podia ocultar. Mas sempre se afirmando fiel à bandeira portuguesa, como fez questão de recordar a todo o passo dessa viagem de regresso ao Quitexe. 
Uns dias depois, no jardim da vila, vinha eu a sair da estação dos Correios quando o vi, de longe, a parar ao toque do arrear da bandeira, na Rua de Baixo - em sentido, firme, em pose garbosa. Arrepiei-me! 
- SOBA. Autoridade civil tradicional em Angola.
- PACAÇA: Animal semi-selvagem, idêntico às vacas europeias.
- MAUSER: Arma de origem alemã, que foi usada pelo exército português. Mais usual, no nosso tempo, era a G3.
Lídia Fernandes
em 1974/75
Lidia Fernandes em 2018


Lídia do Quitexe uíjano 
em festa de 67 anos !

Lídia Fernandes, ao tempo com viçosos 17 anos, era uma das beldades quitexanas do tempo da CCS dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423.
Estudante na Escola Industrial e Comercial Tomaz Berberan, em Carmona - a capital uíjana -, era filha de Nelson Fernandes, que no Quitexe trabalhou no café de D. Maria e para o comerciante José Morais, já falecido e pai das irmãs Morais - a Lurdes, enfermeira em Almada, e a São, que mora em Águeda. Era sobrinha do mecânico Guedes, muito frequentador do bar e messe de sargentos, é, por esta via de sangue familiar, prima outra beldade quitexana daqueles tempos - a Gena Guedes.
Lídia Fernandes vive actualmente (foto à esquerda) em Crans Montana, na zona de Valais, na europeia Suíça. Não se diz a idade de uma senhora, mas... felicitamo-la pelos 67 anos que hoje comemora.
 Parabéns!

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