O 16 de Outubro de 1974 foi quarta-feira e dia de receber correio de Portugal, de minha mãe, agora a caminho dos seus provectos 99 anos: «Fala-se por cá que vocês vem embora, mas tu não me dizes nada, nunca dizes nada. O filho da Nilzalina e o Dinis da Cidalina já vieram da Guiné e tu...»», apontava e
Estudantes da escola que funciona no espaço do antigo quartel do BCAV. 8423, no Quitexe |
O António (da Nilzalina, entretanto falecido, vai para dois anos) e o Dinis eram rapazes do meu ano, mobilizados eles para a Guiné. Outro, era o Custódio, sapador em Angola e colocado no Batalhão de Engenharia de Luanda, com quem me encontrava sempre que ia à capital angolana.
E que lhe poderia contar eu? Que ela percebesse e não a preocupasse?
Pouca coisa, quase nada.
O Uíge por onde jornadeavam os Cavaleiros do Norte continuava expectante, nomeadamente depois do anúncio de cessar-fogo da FNLA. Continuava a «intensa actividade de patrulhamentos, nomeadamente orientados para a obtenção de liberdade de itinerários».
O quartel ficava à esquerda, visto da Igreja. Ao cimo e ao fundo, a Administração, um edifício com excelente aspecto exterior (clicar na imagem, para ampliar) |
O fim de operações
na mata uíjana !
A paragem de hostilidades pouco alterou o ritmo operacional dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423.
A grande, a mais profunda e importante alteração (e convenhamos que não era coisa pouca...) tinha sido o fim das operações na mata - sempre semeadas de perigos, ora nos trilhos tantas vezes ensaguentados das emboscadas, das minas e das armadilhas, ora nas picadas e nos medos das matas cerradas, onde a cada sítio ou momento poderia surgir um ataque.
O dia, em Luanda, confirmava a chegada de delegações da FNLA (liderada por Endrick Vaal Neto) e do Zaire (por Bula Matamba, conselheiro do presidente Mobutu Sese Seko), para conversações com a Junta Governativa de Angola, principalmente sobre o processo de descolonização e independência e, em particular, sobre a formação de um Governo de Coligação, com «representantes dos vários movimentos de libertação e outras facções políticas».
Notícia do Diário de Lisboa de 16 de Outubro de 1975, sobre a situação militar em Angola |
Importantes combates
entre movimentos rivais
Um ano depois, precisamente, esperava-se a chegada da Comissão de Conciliação da OUA a Carmona, dominada pela FNLA - depois de já ter estado em Luanda (controlada pelo MPLA) e Nova Lisboa (pela UNITA). Mantinham-se as diferenças do MPLA relativamente aos dois outros movimentos.
«Afiguram-se remotas as possibilidade de conciliação», relatava o Diário de Lisboa de 16 de Outubro de 1975. A própria Missão da OUA tal considerava improvável que aceitasse negociar com os dois rivais. E o presidente Agostinho Neto considerava-os «movimentos fantoches, dirigidos do exterior do país».
A 26 dias da independência «trav(av)am-se importantes combates entre os movimentos rivais, nas frente de Luanda, do centro e do sul». Relativamente à capital, «a luta caracteriza-se por uma ofensiva desencadeada pela FNLA na zona do Caxito, decorrendo os combates no triângulo Porto Quitiri/Libongos e Caxito». No centro, o MPLA «após renhidos combates com tropas da UNITA, libertou a localidade de Quibala, no eixo rodoviário Nova Lisboa/Lobito/Novo Redondo/Luanda, avançando agora sobre Cela, importante centro agrícola de que depende Nova Lisboa».
A norte, a zona dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423 (entre outras do Uíge e do Zaire), «não havia notícias pormenorizadas, sabendo-se apenas que o MPLA avança(va) na zona dos Dembos».
Assim ia a Angola de há 44 anos, a 26 dias do dia maior, o da declaração da independência: 11 de Novembro de 1975!
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