CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

sábado, 25 de setembro de 2021

5 563 - A Carmona colonial continua quase igual ! Tropa protegeu civis e equipamentos públicos!

 

O antigo BC12, a 25 de Setembro de 2019, há 2 anos - quando por lá passou o furriel Viegas. Foi
 aquartelamento dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423, a última guarnição portuguesa em
 terras do nortenho Uíge angolano. É agora o quartel general da Zona Militar Norte das FAA

O furriel Viegas na (antiga) avenida Capitão Pereira, agora
avenida Agostinho Neto. Há 2 anos e em frente ao edifício dos
deputados uíjanos da Assembleia Nacional de Angola


A chegada a Carmona, a meio da tarde de 24 de Setembro de 2019, foi tempo de um desfiar imenso e sentido de emoções - recuando aos primeiros dias de Junho de 1975. Quando por lá, em missão militar, assistíamos e participávamos no parto de um país novo. Angola!
Mário Ribeiro, que foi oficial angolano pós-independência e estudante do Instituto Superior Técnico, nosso «taxista» pela imensa Angola, surpreendia-se com a nossa memória, no caminho para os locais de culto militar da cidade, do tempo da nossa jornada pela capital do Uíge. O BC12, o Comando do Sector, as messes, a Rua do Comércio, a Sé, as piscinas, o hospital, até o Diamante Negro.
«Como é possível lembrar-se com esse pormenor, tantos anos depois?!...», interrogava-se ele, ao volante do «jipão» que nos faz andar mais de 6000 quilómetros pela gigantesca Angola, quando lhe dizia o necessário «vire à esquerda, corte à direita, siga em frente», pelas ruas de Carmona que foram nosso chão por meio ao da nossa jornada africana do norte de Angola.
Com não lembrar, emocionado, esse tempo de 44 anos antes e os trágicos primeiros dias de Junho, quando a morte enlutou a cidade, molhou o chão de sangue e a trágica violência só foi travada pelos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423?!
O Comando do Sector do Uíge/ZMN é agora
o Tribunal Militar da ZMN das FAA

Tropa protegeu civis e
equipamentos públicos

O quartel (o BC12), a esse tempo, acolheu milhares de civis, assim evitando a matança, que chegou a ser tentada nas camas do hospital, impedida pelos militares portugueses, logo a 1 de Junho e dias seguintes de 1975, quando Carmona era um inferno de fogo e combatentes da FNLA e do MPLA lutavam quase corpo a corpo, ensaguentando e enlutando a cidade.
Obuses, morteiros e granadas rebentavam noite e dia. As rajadas faziam estranhos coros nos céus e a tropa portuguesa tinha a missão de proteger os civis e equipamentos públicos, numa cidade que não a tinha em grande cuidado e respeito.
Ao passar frente ao liceu, nessa alvorada de domingo, a Berliet em que seguíamos para o BC12 foi atacada e uma rajada silvou sobre as nossas cabeças.
«Filhos da p...», ouviu-se um grito de aflição. Foram momentos sem recuo, de enfrentar tudo e todos, sem temores. Nada iguais aos vividos sempre que galgávamos os trilhos e picadas e as matas semeadas de ameaças - de arma em riste, imaginando e temendo que, no horizonte misterioso e a perder de vista, um qualquer perigo nos amortalhasse.
Foram piores!!! Muito piores e mais perigosos!
Tudo isso me renasceu na memória: o cruzamento do sinaleiro da Rua do Comércio, onde mulher europeia dias antes cuspira e batizara a tropa de cobardes e traidores e nessa madrugada, com 4 ou 5 crianças, nos pediu apoio e levámos para o quartel; a Rádio Clube de Uíge, de onde «vimos» a matança do capinzal, para o lado da zona industrial, e de lá recolhemos feridos, onde achámos uma bota com pé negro dentro, de corpo regado a gasolina e cortado a catanada; os combates dos bairros suburbanos, regados de sangue de angolanos que entre si lutavam, irmãos da mesma luta pela independência mas ali inimigos de morte; o choro da muita gente que não entendia aquela guerra e pedia apoio à tropa portuguesa. Nunca recusado. O edifício do Banco de Portugal, de onde escoltámos pesado carregamento de valores, para o aeroporto.

O edifício do restaurante «Escape», encerrado, na
Rua do Comércio, em Carmona e a 25/09/2109

A Carmona colonial
continua quase igual !

O Exército Português estava limitado ao Batalhão de Cavalaria 8423 - e nem todas as Companhias... - e Deus sabe quanto heroísmo, quanta bravura, se soltou da alma dos bravos homens que do BC12 saíam para a cidade, enfrentando mil perigos e salvando centenas de vidas, permanentemente arriscando as suas!
Tudo isto me vem à memória, neste regresso à saudosa Carmona, que agora é Uíge, e era cidade moderna, jovem, febril e super-activa, parecendo desenhada a régua e esquadro, com bairros e jardins onde se semeavam verdes, os bairros habitacionais compartilhados por brancos e negros, angolanos de todos os credos e origens! A piscina, a zona industrial, a praça dos serviços públicos: Tribunal, CTT, Paços do Concelho e Comando Militar. Tudo soltou memória de saudade da terra uíjana de Angola!
A malha urbana colonial continua praticamente igual - mas agora rodeada de bairros, que a cercam, até e depois do BC12 e na estrada para o Songo. Há alguns edifícios não concluídos e abandonados desde o tempo colonial e escolas novas, na saída para o Quitexe, por lá se achando muitos estudantes.
Os locais de culto da tropa portuguesa ainda por lá se encontram: o renovado Pinguim, o bar do Eugénio, o Escape, o mercado, o velho Cine Moreno, o pavilhão do Recreativo do Uíge e as piscinas, a emblemática Rua do Comércio, o bairro Montanha Pinto, o aeroporto, a estrada para o BC12, o bar Diamante Negro - quem o  pode esquecer? Fechadas, achámos muitas lojas do tempo colonial e também o restaurante Escape, moda dos idos 1975.
Foi esta Carmona que recordei, emocionado e saudoso, 44 anos depois, há 2 e em jornada de saudade pela terra africana do Uíge angolano.
Norberto Morais o furriel
da CCS do 1974/1975. Ao
lado, na actualidade e aos
71 anos de idade !

Morais, furriel da CCS, 
faz 71 anos em Elvas !

O furriel miliciano Norberto António Ribeirinho Carita de Morais, da CCS do BCAV. 8423, festeja 71 anos a 25 de Setembro de 2021. Precisamente hoje!

Natural da vila de Nisa e desde há muitos anos morador em Elvas, onde trabalhou no Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, foi mecânico-auto de especialidade militar e integrou a equipa do Parque-Auto, comandada pelo alferes miliciano António Albano Cruz - que ontem, precisamente, fez 76 anos!
Estamos todos a focar menos jovens!
Regressou a Portugal no dia 8 de Setembro de 1975, no fina da sua jornada africana de Angola, e aposentou-se em Janeiro de 2013, fazendo parte dos quadros do Instituto Nacional de Recursos Biológicos.
Acabámos de falar com ele e ficámos a saber que, a 10 de Junho de 2020, há ppouc mais de um ano, teve um pequeno acidente vascular cerebral de que recuperou, sem mazelas, estando em grande forma.
Hoje, dia 71 dos seus anos de vida, daqui e para ele vão os nossos parabéns!

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