Apresentação dos SUV, na véspera da chegada da CCS do BCAV. 8423
A CCS do BCAV. 8423 desembarcou no aeroporto de Lisboa ao fim da tarde de 8 de Setembro de 1975, depois do voo dos TAM, desde Luanda. Não sem alguma emoção a encher a alma (nomeadamente de minha parte) ao ver familiares a abraçar Cavaleiros do Norte que chegavam. E dessa estava eu livre, pois ninguém sabia de mim.
Eu, o Neto e o Mosteias, lamentavelmente para nós, fomos dos últimos a sair da gare - por termos presos a entregar a uma PM que não chegava mais. E não chegou. Desembaraçado - e seguramente mortinho por se abraçar à sua Leonor e pegar no colo o filho de quase um ano -, o Mosteias indagou o seu «preso» sobre se sabia o destino da guia de marcha. Como sabia, dispensou-o e lá foi ele. Olhámos um para o outro, eu e o Neto, e vá de nos desalgemarmos dos nossos e lá foram eles à vida deles. E nós à nossa.
Os largos minutos de espera no aeroporto deram para saber de novidades de Lisboa, que tanto queríamos saber. E uma delas talvez explicasse a ausência dos PM´s que deveriam levar os «presos»: é que, na véspera, tinha-se realizado uma manifestação de centenas de soldados e milhares de pessoas em apoio à resistência das Companhias 8243 e 8246 do Regimento de Polícia Militar à mobilização para Angola. A palavra de ordem era “nem mais um embarque, regresso dos soldados”.
Outra novidade, chocante (para a formação militar dos Cavaleiros do Norte), foi a apresentação dos SUV, numa conferência de imprensa, também da véspera (7 de Setembro) e dada no Porto por dois soldados e um oficial), «embuçados por razões de segurança».
Vínhamos nós de uma Angola a ferro e fogo e desembarcávamos num Portugal onde o V Governo pedia a demissão (a 7 de Setembro), se registavam atentados bombistas, o MRPP incentivava os retornados a ocupar as casas desocupadas, se repetiam greves, manifestações, plenários e proibições.
O Conselho da Revolução (dominado por militares do Movimento dos Nove) proibiu a divulgação «de relatos ou notícias de quaisquer acontecimentos ocorridos em unidades» militares, ou de «tomadas de posições, individuais ou colectivas, de militares», ou a divulgação de «quaisquer comunicados, moções ou documentos». Somente o Presidente da República, o CR e os chefes de Estado-Maior poderiam fazer declarações ou tomar posições.
O general António de Spínola em Paris, prosseguia contactos com militares e civis, disposto a pôr-se à cabeça de «um vasto movimento democrático» de oposição à via da Revolução Socialista em Portugal. Olhem só onde se vinham meter os Cavaleiros do Norte!
O bom de Benigno, motorista da FRAL (empresa do pai do Neto) foi paciente na sua espera por nós, lá acomodámos as malas no carro e parámos em Alcoentre, para comer bacalhau (que saudades!) e beber vinho branco! Águeda e as nossas casas estavam a umas três horas e tal de EN1.
- PM. Polícia Militar.
- TAM. Transportes Aéreos Militares.
- SUV. Soldados Unidos Vencerão.
37 ANOS DEPOIS AINDA
ResponderEliminarESTAMOS PIOR!!
ManPinto