Viegas, Mosteias e Neto em Julho/Agosto de 1975
A chegada a Portugal, para quem vinha de Angola e da guerra urbana que por lá matava gente todos os dias, era uma espécie de bálsamo. E na minha aldeia, ainda hoje tranquila, era como chegar ao paraíso - onde todos nos perguntavam tudo.
Para nós, era um descoberta: a do Portugal novo.
Par nós, era a descoberta de um novo vocabulário: o fascismo e a reacção, o colonialismo, a ditadura, a extrema direita e a estrema esquerda, a exploração dos trabalhadores, as intentonas e as barricadas, as revoluções, as manifestações, as greves, o gonçalvismo e muitos outros ismos que a memória foi deixando perder.
Por mim, aqui chegado a uma terça-feira (9 de Setembro de 1975), apenas no sábado (dia 13) me decidi por ir a Águeda - onde o mercado-feira semanal era (e é) ponto de encontro de muita gente.
Estava no auge o ELF (Exército de Libertação de Fermentelos - a vila da Estalagem das Pateira, que os Cavaleiros do Norte bem conhecem -, de quem, por ser fartamente reaccionário, se diziam cobras e lagartos. Na verdade, vim a saber, tudo não passava de uma brincadeiras de um grupo de pessoas que, por altura das eleições do 25 de Abril desse ano (as Constituintes), andaram de carrinha e aparelhagem sonora a fazer propaganda dos partidos menos à esquerda (mesmo bem longe) do Portugal político que então levedava.
A brincadeira, porém, deu em coisa séria por muito tempo e não faltou quem, do dito ELF, malhasse com os ossos na prisão, já pelo 1976 dentro. Histórias que não vem muito a este cantinho dos Cavaleiros do Norte.
A 37 anos de distância, seguro da opinião, não tenho dúvidas em dizer que senti encontrar um Portugal inseguro, diria que à deriva, num Setembro quente de preocupações (que daria no 25 de Novembro) e que assemelhei às tragédias de nervos e de medos que deixáramos para trás, em Luanda.
Agora vos digo, e acreditem, emocionei-me ao rever-me no cidadão (ex-militar) que descobriu esse Portugal novo de 1975. O Portugal que nos trouxe aos dramáticos dias de hoje.
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