Viegas e Pires, do Montijo, na sanzala Talambanza, à saída do Quitexe, para Carmona. Em baixo, a avenida do Quitexe, em Dezembro de 2012 (foto de Carlos Alberto Ferreira, de Zalala) |
A 20 de Novembro de 1974, andei eu a ponderar sobre os meus então viçosos quase 22 anos, que faria no dia seguinte. Tivemos uma escolta a uma fazenda, comemos lá peixe seco - o que, se me lembro bem, era uma estreia gastronómica para mim!!!... -, e não gostei!!! E voltámos à nobre vila quitexana, onde aquartelávamos e nos esperava o banho da praxe - para limpar a lama do corpo, amassada de suor e pó das picadas. E o correio, que agora reli, com uma mão cheia de recados de afecto, pelas 22 vezes que fazia anos.
Agora, que os re(re)li, deixei-me emocionar pelo aerograma do Alberto Ferreira, o meu amigo cabo especialista da Força Aérea, que estava na Base Aérea de Luanda: «Estás aí para o norte e certamente com mais sossego que nesta m... de cidade, onde há porrada todos os dias. Nós agora é que estamos na guerra (...). Espero que sobrevivas a esse tédio e festejes os teus 22 anos com a alegria que todos merecemos, pois andamos por cá a dar o lombo ao manifesto, sem saber para quê. Grande abraço, pá!, não te esqueças de uma wiskada por mim".
O Alberto, com quem dividi bancos de escola (em Águeda) e noitadas de Luanda, por sítios de prazer e de gosto, foi um amigo de sempre, licenciou-se em economia, foi vereador e candidato a presidente da Câmara de Águeda e faleceu, de doença, há quase 9 anos. Fui dos últimos amigos a falar com dele, dias antes do seu triste passamento. «Acabei, pá!!!...», disse-me, sem um qualquer nó de garganta, sentindo-se próximo do seu fim, mas sereno e corajoso.
Andava pelo Minho, a despedir-se da vida - assim me disse, sem amargura, ou um lamento, sem quaisquer lutos de alma.
Luanda, ao tempo, fervilhava em problemas de segurança, com muita gente civil armada, não se sabia (???) como nem por quem. A imprensa de 20 de Novembro de 1974, há 40 anos!!!, ufff!!!!... -, dava conta que «as Forças Armadas Portuguesas e as milícias populares do MPLA continuam a patrulhar os bairros suburbanos da capital angolana, assegurando o rápido reestabelecimento da ordem». Não sei se seriam bem assim. Na véspera, tinham sido presos três homens que «em nome do MPLA, saqueavam um estabelecimento comercial». Confessariam, noticiava o Diário de Lisboa, que cito, «serem provocadores a soldo da reacção». O MPLA não dizia quem seria tal reacção, mas o jornal deixava entender «estarem ligados a outro movimento de libertação». Qual? Diria eu que a FNLA. A UNITA pouco aparecia.
Havia problemas em Cabinda, onde a FLEC reinvidicava a independência do enclave e, pelo MPLA, era acusada de ser «um bando de fantoches a soldo do imperialismo, como apoio de um país vizinho", referindo-se ao Zaire de Mobutu.
Mais a sul, no planalto central do Huambo, em Nova Lisboa, a PSP deteve 7 cidadãos brancos e apreendeu-lhes um Land Rover. Os presos foram transferidos para a Casa de Reclusão de Luanda.
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