CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

domingo, 6 de setembro de 2015

3 244 - Último sábado de Angola, Estrangeiros e Alto Comissário


Cavaleiros do Norte no Quitexe. Homens das Transmissões: 1º. cabo José Mendes, 
António Soares, furriel José Pires, 1º. cabo Luís Oliveira e José António Costa. Em baixo, 
NN (será José Orlando Silva?), Humberto Zambujo e 1º. cabo Jorge Salgueiro). À 
esquerda, vê-se a torre da Igreja da vila


Diário de Lisboa de 6 de Setembro de
 1975: «Interferências estrangeiras impedem
solução para a crise», segundo o MPLA.
A crise angolana de há 40 anos!

Os primeiros dias de Setembro de 1975 iam-se passando e, com eles, estava cada vez mais próxima a mágica 2ª.-feira, 8!!! Dia 8!!! O dia do regresso da CCS do Batalhão de Cavalaria 8423. Em altura próxima (cuja data já se me varreu da memória), muito provavelmente nesse sábado de faz hoje 40 anos, levávamos, eu e o Neto, bagagem nossa (e do Monteiro) da casa de Viana para o Grafanil, quando fomos interpelados no posto da PSP, por homens armados do MPLA! Uns 7 ou 8 e até aos dentes! Alguns deles com duas e três armas.
Nem o facto de estarmos fardados, os impediu de tentarem fazer uma busca e manifestarem o desejo de ficaram com as garrafas de whisky (e outras) que levámos embaladas, para serem transportadas para o avião que no dia 8 nos traria para Lisboa. Foram momentos de frisson, pois o Neto reagiu de revólver em punho (que tinha comprado em Carmona) e por momentos sentimos a vida em perigo! Grito daqui e dali, dos homens do MPLA e do Neto, e lá fomos embora, em silêncio sepulcral até ao Grafanil. Eu arrepiado, ao lado do Neto - que conduzia o pequeno automóvel da empresa do pai, que tinha uma fábrica em Viana.
Já no Grafanil, perguntei ao Neto se sabia o que tinha feito. Mas ele reagiu sem medos: «Matava-os todos!!!! Ai se eles nos tentassem tirar as garrafas!...».
Ainda hoje, passados 40 anos, me arrepio quando, desfiando as nossas memórias da jornada africana, eu e o Neto nos sentamos à volta da mesa para falarmos desses tempos que não voltam. E ele continua a dizer que «matava-os todos!!!!».
Há 40 anos, dia 6 de Setembro de 1975, o MPLA continuava a denunciar «interferências estrangeiras» e admitia mesmo «a internacionalização do conflito» angolano. O almirante Leonel Cardoso, o novo Alto Comissário (chegado na véspera) afirmava ter saído de Lisboa «sem o conforto da presença no aeroporto de qualquer responsável político ou  militar, ou representantes, a levar-me uma palavra de despedida, de simpatia e de encorajamento», mas não seria isso que, acrescentou, «fará esmorecer a sede de venho animado e que me levou a aceitar a missão que ninguém queria».
A África do Sul admitira, na véspera, publicamente e pela primeira vez, que as suas tropas tinham entrado em Angola - para protegerem a central de bombagem de Calueque, como ontem aqui falámos... -, mas a verdade é que, citando o Diário de Lisboa de 8 de Setembro de 1975, «as tropas sul-africanas permanecem ali estacionadas, referindo uma nota do Governo da África do Sul que retirarão «logo que seja possível».
Há 40 anos, precisamente dois dias antes do começo dos voos de regresso dos Cavaleiros do Norte a Portugal!

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