CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

5 313 - A Mãe Centenária dos Cavaleiros do Norte



Maria Dulce, a Mãe Centenária dos Cavaleiros
do Norte ! Separados pelo vidro «covid», estão
mãe, dois filhos e dois netos!

O dia 20 de Janeiro de 2021 é dia de Maria Dulce festejar 100 anos! É a Mãe Centenária dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423.
Maria Dulce Pinheiro Estima nasceu nesse distante dia de 1921, em terras de Óis da Ribeira, freguesia de Águeda, de gente que trabalhava a terra, em casa humilde e filha de Aniceto Fernandes Estima, ex-combatente da 1ª. Grande Guerra, regedor da freguesia quando parede traiçoeira da casa que construía lhe roubou à vida.
Viúva, ficou Maria Pinheiro de Almeida, a mãe de família, a 15 de Janeiro de 1929 e irmã de José Pinheiro de Almeida - que foi revolucionário republicano e membro do grupo que, no Luso, por volta de 2008, lá se deslocou para prender D. Manuel I. Viúva e com 4 filhos/crianças para criar, o mais novo com menos de 2 meses. Era uma «escadinha» de filhos: Maria Dulce quase a fazer 8 anos, Carmen com 5, Arménio com 3 e José Valentim, o caçulinha, com menos de 2 meses.
Maria Dulce não teve vida fácil: trabalhou na terra desde os 8 anos, fez a escola primária do tempo (coisa rara...), fez praças e feiras, andou pelos teatros (reza a lenda local que era excelente actriz amadora) e casou com o conterrâneo Celestino Morais Viegas. Que a morte levou aos 50 anos, em 1972!
«Era amoroso!...», disse-nos ela hoje, de rasgado sorriso, ela que nunca foi muito dada a confissão de intimidades. «E muito meu amigo!...».
A assoprar as velas dos 100 anos!

A mãe centenária dos
Cavaleiros do Norte !

O casal teve três filhos: Ana Maria (que mora em Viana do Castelo, e, em Óis da Ribeira, Maria Dulce e Celestino José - que, vá lá saber-se porquê, é chamado normalmente de Zé Celestino. É (foi) o furriel Viegas, da CCS do BCAV. 8423.

É aqui que entra a Mãe Centenária dos Cavaleiros do Norte!
A 23 de Agosto de 1972, enviuvou, casaram e saíram de casa as duas filhas (em Dezembro e Fevereiro seguintes) e foi o filho para a tropa, a 24 de Abril do distante 1973. Ir para a tropa, naquele tempo de há 48 anos, era ir para a guerra. O que aconteceu a 29 de Maio de 1974. Para Angola.
Maria Dulce, no espaço de 9 meses, viu uma casa cheia, de 5 pessoas, reduzida a ela mesmo.
Só, viúva e sem os 3 filhos! Doente, também, se não bastasse.
Mas resistiu a tudo, como sempre fez na vida, até aos 100 anos que hoje fez: desde a gripe espanhola (era criança), à 2ª. Grande Guerra Mundial, ao racionamento, aos medos de ter um filho na guerra colonial. À COVID-19 de agora.

João e Susana: os netos mais novo e mais velha
da Mãe Centenária dos Cavaleiros do Norte

Festa íntima e
sem a família

As limitações de visita e confraternização consequentes da epidemia covídica impediram festa mais íntima e familiar.
Todavia, foi possível partilhar este dia maior da vida de Maria Dulce por alguns minutos, ouvir os seus deliciosos pareceres e gracejos e memórias sobre a sua longuérrima vida e, actualíssima, o «bicho que anda por aí».
Assoprou as velas dos 100 anos, sorriu de alegria farta, mandou as suas sempre oportunas piadas, viu o resto da família pelo whatsap e até gargalhou ao ouvir cantar os «parabéns a você»!
«Isso é para mim? Ora, vão mas é trabalhar...», disse Maria Dulce, com um «vão, vão..., vão pela fresca» de adeus. Até aos 101 anos!
Faremos a festa devida, quando morrer a pandemia! Paga a Maria Dulce, está garantido!
Amanhã, vai receber a vacina anti-covid.
«Olha lá, isso é bom?...», perguntou. «É no braço?».
É prá vida, Maria Dulce!

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