CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

domingo, 31 de março de 2013

1 625 - Patrulhamentos mistos no Úcua e Quibaxe

Forte perto da Administração de Quibaxe (foto de Carlos Ferreira, em Dezembro de 2012)
Fazenda Maria Emília, na estrada do café, de Luanda para Carmona (Uíge), nos arredores de Úcua. Placas sinaléticas de Uíge (Carmona) e Úcua, na mesma estrada. Fotos de Carlos Ferreira, a 14 de Dezembro de 2012
A 31 de Março de 1975, hoje se fazem 38 anos, realizou-se em Úcua um patrulhamento conjunto, das forças armadas portuguesas e militares dos movimentos de libertação. Não sei quais, ou se os três, ou se dois, se um. 
O comando dos Cavaleiros do Norte vinha a ter contactos diários com os movimentos e, às quartas-feira, realizava-se uma reunião do Estado Maior. Ao tempo, verificava-se também, para satisfação geral, «uma boa aceitação das medidas militares tomadas», o que, de resto, leio no Livro da Unidade, «tem sido a origem do clima de paz que se vive no distrito, constituindo-se esta equipa de trabalho um exemplo para terceiros».
O patrulhamento, da parte portuguesa, teve participação de grupos de combate da 2ª. CCAV. 8423 (a de Aldeia Viçosa, do capitão José Manuel Cruz) e Esquadrão de Cavalaria 401 - que, em data indeterminada, passara a ser subunidade do BCAV. 8423.
Idênticos patrulhamentos se realizavam em Quibaxe e Salazar.
Eu e o Cruz, de malas feitas, já laureávamos o queijo por Luanda, em gozo de férias.

sábado, 30 de março de 2013

1 624 - Excursão de Cavaleiros de Lisboa para Santo Tirso

Os Cavaleiros do Norte em Paredes, a 1 de Junho de 2012. 
O ex-alferes Cruz, organizador de 2013, à esquerda (de barbas)

A organização de uma excursão para o encontro dos Cavaleiros do Norte de 1 de Junho está a ser preparado a partir de Lisboa, para o norte, mas para que este meio de transporte se torne possível é necessário que os interessados  comuniquem se o pretendem ou não, o mais breve possível. 
«A delicada operação conta com o apoio logístico do ex-furriel Cruz», disse o alferes Cruz, que é o «juiz» da festa, adiantando que «cada um também pode partilhar o carro com outro» e que «não queremos é que alguém falte por alguma dificuldade no transporte ou outra».
Quem quiser ir de véspera, ou ficar por Santo Tirso mais um dia (ou na região), «tem vários hotéis e residenciais que poderemos aconselhar».
 Notas finais:
1 - Estamos abertos a todas as propostas e opiniões.
2 - Quanto mais cedo cada um se inscrever e disser quantos familiares traz, mais fácil e melhor será a organização. Inscrições até 1 de Maio de 2013.
3 - É nossa intenção juntar o maior número de fotografias e outras recordações que nos lembrem os tempos que passamos em Angola. O furriel Machado comandará esta emocionante operação. Diz  o  que  gostarias de trazer.
4 - Não esqueças o boné, a boina ou o quico, para a fotografia de grupo.
5 - Iremos contactar os comandantes da 1ª., 2ª. e 3ª. companhias para que apareçam e tragam o maior número de companheiros.
«Estás na dúvida em comparecer na parada? Não vaciles… o companheirismo  e a boa disposição são uma força. A quem não andou nestas campanhas responde “Perguntai ao inimigo quem somos“, sublinha António Sousa Cruz (alferes do pelotão-auto na peluda), «com amizade e até breve».

CONTACTOS

- António Cruz. António José Dias Cruz, furriel miliciano rádio-montador, morador em Póvoa de Santo Adrião, telefones 219370402 e 91 33 96 333.
- Manuel Machado. Manuel Afonso Machado, furriel miliciano mecânico de armamento. Residente em Braga, telefones 93 640 83 36 e 253 25 79 49.

- António Sousa Cruz (alferes comandante do Pelotão-Auto, na peluda) 
Telefone 252866865, telemóvel 966828841 e asousacruz@gmail.com
Rua de Palmeiró, 598    
4780-664 Palmeira Santo Tirso
- Manuel Afonso Machado (furriel mecânico d´armamento)
 Telefone 253257949, telemóvel 936408336 e   manuelafonsomachado@gmail.com
- Porfírio  Malheiro (1º. cabo do parque-auto, o benjamim)
 Telefone 252856237 e telemóvel 917509953


sexta-feira, 29 de março de 2013

1 623 - Cavaleiros do Norte da CCS em Santo Tirso

O Convento Beneditino de Santo Tirso, onde a CCS dos Cavaleiros do Norte se vão concentrar,
a 1 de Junho. O casal Cruz, com o filho Ricardo, no natal de 1974, no Quitexe (em baixo)



O encontro da CCS do BCAV. 8423 está este ano a cargo de António Albano Cruz, ex-alferes miliciano, em Santo Tirso e a 1 de Junho. «É com muito gosto que o faço e espero que, com os adjuntos Manuel Machado e Porfírio Malheiro, estejamos  à altura de vos proporcionar um agradável dia de convívio  entre todos incluindo as famílias», disse o oficial e ao tempo comandante do parque-auto.
O «teatro das operações» será o Convento Beneditino de S. Bento (foto) onde se situam a Escola Secundária Agrícola e a Igreja Matriz de Santo Tirso.
A «mobilização geral» de 1 de Junho de 2013 terá à esc ala, em ordem de serviço, o oficial de dia alferes miliciano Cruz, o sargento de dia furriel Machado e o 1º. cabo Porfírio Malheiro, que era (é) o benjamim da Companhia.
O objectivo da operação é juntar toda a guarnição da CCS do BCAV. 8423, com a seguinte:
                               
Ordem  de operações

11 horas: Concentração de todos os operacionais (comando, atiradores, mecânicos e condutores auto, transmissões, sapadores, serviços de saúde e religioso, reabastecimentos e tudo o mais) em frente da Igreja.
-11,30 horas: Missa por todos os combatentes vivos e falecidos. Recordaremos o comandante general Almeida e Brito, o capitão Oliveira, o tenente Mora, o alferes Garcia, sargento-ajudante Machado, 1º. sargento Aires,  furriéis Mosteias e Farinhas, os 1ºs. cabos Louro, Marques  (Carpinteiro), Medeiros, Vicente e Almeida, os soldados Coelho e Leal e todos os outros já falecidos e dos quais não temos conhecimento.
- 12,30 horas: Assalto ao rancho. Municiados com o maior apetite e boa disposição, será a altura de,  heroicamente, nos «batermos» com os melhores pratos e vinhos da região.
Durante e após a «refrega», será altura de cada um recordar os grandes e gloriosos feitos na campanha de África.
No sentido de facilitar a vinda do maior número de companheiros, estuda-se a hipótese de alugar uma carrinha (autocarro), que partirá de Lisboa e recolherá  em pontos estratégicos (por exemplo, Leiria, Coimbra e Porto) todos quantos queiram aderir a
esta forma de deslocação. 
Os mouros … (algarvios,  alentejanos , alfacinhas e outros que tais) tomarão o autocarro em Lisboa e apanharão o resto dos cavaleiros até Santo Tirso. «Os vistos na fronteira do Dragão serão tirados com a devida antecedência…», diz António Albano Cruz.

CONTACTOS
- António Sousa Cruz (alferes comandante do pelotão-auto, na peluda) 
Telefone 252866865, telemóvel 966 828 841 e asousacruz@gmail.com
Rua de Palmeiró, 598    
4780-664 Palmeira Santo Tirso
- Manuel Afonso Machado (furriel mecânico d´armamento).
 Telefone 253257949, telemóvel 936 408 336 e manuelafonsomachado@gmail.com
- Porfírio  Malheiro (1º. cabo do parque-auto, o benjamim)
 Telefone 252 856 237 e telemóvel 917 509 953

1 621 - Duas imagens de Carmona, nos dias de hoje

Duas imagens de Carmona (cidade do Uíge de hoje), captadas em Dezembro de 2012 pelo Carlos Ferreira. Em cima, a rua do Pavilhão desportivo do Futebol, Clube do Uíge (o edifício azul) e da escola primária (à esquerda). Em baixo, a entrada da cidade, do lado do BC12, de quem vai do Songo.
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quinta-feira, 28 de março de 2013

1 620 - Acácio Luz, tenente e capitão, 84 anos de vida!!!

Casal Carreira da Luz, Violontina e Acácio. O «nosso tenente 
Luz», agora capitão, a brindar com a esposa, a 2 de Junho de 2012 (em baixo)



Aos idos dias 28 de Março de 1939, algures no Portugal que ia do Minho a Timor, nasceu um varão que a vida levaria pelo mundo, de farda e garbo, a servir o país e a construir amigos, a fortalecer caminhos e distribuir afectos. Muitos amigos!!! O capitão Luz!! O tenente Luz que compartilhou com os Cavaleiros do Norte os 15 meses da nossa jornada africana. Faz hoje 84 anos!! Uééééé!!!
Ao fim da tarde, tive um «pé de orelha»  com ele e logo se lhe soltou a jovialidade, a felicidade e o gargalhar de quem está de bem com a vida e feliz!! A viver num sino!!! 
Acácio Carreira da Luz vive na Marinha Grande, aposentado, com a sua «mais que tudo», a senhora D. Maria Violtina, a nossa maior Amazona do Norte, mãe de seus quatro filhos, que dele suspiraram saudades no tempo de 15 meses que foi o tempo da nossa vida d´África.
Acácio falou da vida, de Maria Violtina, seu amor de uma vida inteira!!!, amor e paixão sem amuos que retraíssem uma relação que lhes deu Isabel Maria, Pedro, Paulo e Marco Nuno, os seus quatro filhos. E falou dos 10 netos, que são flores no espaço de sóis e paraíso que ajardina pela Marinha Grande. 
«Somos 20, quando nos juntamos!!». Vinte! Vin-teeee..., leram bem!
Acácio Carreira da Luz foi «o nosso tenente» do Quitexe, de Carmona, de Luanda. E já de Santa Margarida. Faz hoje 84 anos e está como se o estivéssemos a ver na avenida do Quitexe, há 38 para 39 anos, a caminhar para a secretaria do Comando, onde foi proficiente e alguns vezes teve de dar ouvidos aos maus-humores do comandante  Almeida e Brito.
E agora, a vida: a professora Isabel Maria, licenciada em Letras, que lhe deu duas netas, «dois amores...». O Pedro, o mais velho, director de serviços da CP e mais «duas raparigas...». O Paulo, engenheiro e empresário no sector do turismo e viagens. Hei!!!..., pai de 5 filhos!!! Ciiiiin-co netos de Acácio!!! E Marco Nuno, engenheiro da área electrónica, uma menina e mais «uma netinha» do «nosso tenente» e de D. Maria Violtina.
O que mais quereria o agora capitão Luz?
A saúde que tem, o paraíso familiar em que pousa os seus olhos, a disposição que lhe alegra os dias e «mais tempo dos 20...» para usufruir do apartamento de Vilamoura e do alpendre da casa da Marinha, para uns churrascos e a mesa farta de quem está bem na vida e vive feliz e a comunga com o mundo inteiro, porque por isso fez.
Parabéns, capitão Luz!! Já ergui a taça pelo dia e agora aqui lhe deixo um açafate cheio de abraços dos Cavaleiros do Norte! 

quarta-feira, 27 de março de 2013

1 619 - O Raposo de Zalala que voltou a Angola...


Rogério Raposo e Plácido Queirós, em 1974. O que é 
que eles tem na mão? E quem será o  companheiro 
ali da direita? O Raposo, em pose cinematográfica (em baixo)


  O Raposo foi homem de transmissões, na mítica Zalala, a «mais rude escola de guerra»
Ao tempo, na mui juvenil idade que o levou à jornada africana do BCAV. 8423, já era pai da Ana, a agora sua filha mais velha, que por cá ficou no colo e aos cuidados e afectos da jovem mãe - a namorada/mulher do jovem Cavaleiro do Norte. 
Quantos sonhos e noite mal dormidas terá  tido, por então, o jovem Rogério Raposo, a morrer de saudades dela (da Ana que crescia tão longe...) e a lembrar-se do regaço e do abraço da sua «mais-que-tudo»??!! Quantos??!!! Ai quantos!!! E quanto se terá deixado varrer pela emoção, e pela dor, a imaginar os primeiros sorrisos e choros da miúda Ana, parida do seu sangue e do seu amor, hoje já mulher madura de 40 anos!!!, que engendrou no arrebatamento dos seus amores e paixões mais juvenis e voluptiosas?!!   
O Raposo era das transmissões de infantaria, da família militar de Zalala e Vista Alegre, com o Dias (o furriel, agora aposentado da Polícia Judiciária), o Almeida, o Aires, o Carlos Costa, o Almeida os rádiotelegrafistas Hélio, Jorge Silva, Lazo e Coelho, os criptos Lourenço e Abel Felicíssimo - e Deus sabe se a memória está a esquecer alguém.
Pois o Raposo, que vive pelos lados de Sintra, viu a família crescer-lhe com um casal de gémeos, agora com 33 anos - a Marisa e o Ludjero -, e dois netos. Uma filha, a Marisa, foi tenente da Força Aérea, um genro comanda na GNR e ele anda desde há 20 anos a carpinteirar por Angola. Trabalha em Viana, logo depois do Grafanil, numa firma angolana de portugueses, e gosta de estar por lá. 
Um dia, há-de ir ao Quitexe, a Zalala, a Vista Alegre, a Aldeia Viçosa, a Santa Isabel e Carmona. Matar saudades, dos nossos épicos tempos de jornada uíjana.

terça-feira, 26 de março de 2013

1 618 - Patrulhamentos mistos na cidade de Carmona


A cidade do Uíge (antiga Carmona) nos dias de hoje 

26 (para 27) de Março de 1975, iniciaram-se em Carmona os patrulhamentos mistos, que tantas dores de cabeça nos iriam dar. Ensaiavam-se então - e já lá vão 38 anos! - «os primeiros passos de actividades operacionais em Exército integrado, com os movimentos emancipalistas, a seu pedido».
Luanda, ao tempo, fervia em labaredas revolucionárias e em Lisboa, tomava de posse o IV Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves e composto por elementos do PS, PPD, PCP, MDP/CDE, ex-MES, militares e independentes.
Na véspera, e por decisão do Conselho da Revolução, o general António de Spínola foi expulso das Forças Armadas, na sequência do 11 de Março. Apenas seria reintegrado em 1978 e elevado a marechal em 1981.
O Governo, em Luanda e face à instabilidade que se vivia na cidade, determinou, a 25 de Março, a realização de patrulhas mistas pela FAP/FALA (UNITA) durante o dia e à noite só pelas FA. E o regresso aos quartéis das forças do FNA e MPLA. Também o recolher obrigatório das 21 às 6 horas), que se iria manter nos dias 26, 27 e 28, com apelo à calma e pedidos de imediata entrega pelos civis As medidas procuraram evitar a culpabilização de um dos movimentos, remetendo-a para elementos marginais, de modo a não desencadear mais violência, assim como a entrega de armas se ficou pelos civis, não mencionando o poder popular como era pretendido pelos responsáveis da FNLA (...)
A 26 de Março, a população, de todas as etnias e cores, dá indícios de pânico e nos confrontos entre movimentos, são usadas pistolas e espingarda, mas também morteiros, bazucas e até canhões sem recuo. A tropa portuguesa esqueceu o «momento revolucionário» que se vivia e empenhou-se em tentarem controlar uma situação de guerrilha urbana, altamente complexa e sem inimigo directo.
O Livro da Unidade dá conta que, em Carmona, se verificava «um deteriorar da situação, nomeadamente nos distritos de Salazar e Luanda». Era neste ambiente que eu e o Cruz nos preparámos para entrar em férias.
Hoje, em Carmona - que é Uige, capital da província do mesmo nome, a Polícia Nacional denunciou «supostos grupo de marginais, que ameaçam realizar assaltos à mão armada nas lojas da cidade, durante a quadra festiva». É coincidência, obviamente, mas meçam-se os graus de insegurança, separados por 38 anos.
Notícia e foto, da

segunda-feira, 25 de março de 2013

1 617 - Santa Isabel vai «galopar» para Arganil

Fernandes, Cardoso, Querido, militar da FNLA e Rocha (CCS), 
em cima. Carvalho, Monteiro (CCS) e Belo, Cavaleiros do Norte no Quitexe (1975)
Cardoso e Lopes na fazenda Santa Isabel (1974)

Os Cavaleiros do Norte de Santa Isabel vão confraternizar a 8 de Junho, com mordomia do Cardoso - que por lá furrielou em transmissões e, por cá, fez vida como funcionário público, na administração fiscal. Mora em Coimbra, mas tem interesses familiares em Arganil (de onde e natural) e é aos ares e sabores da sua terra que leva os companheiros da jornada africana. 
Cavaleiros de Santa Isabel, vem à memória, desde logo, o capitão Fernandes, agora engenheiro aposentado e a morar em Torres Novas. E os alferes Simões (Caldas da Raínha), Pedrosa (Marrazes de Leiria) e Rodrigues (recém-aposentado do Instituto de Metereologia, em Lisboa). E os furriéis Ribeiro (aposentado da EDP, em Vila Real), Flora (aposentado da Caixa Geral de Depósitos, em Odivelas), Fernandes (professor em Braga), Carvalho (aposentado da PSP, no Entroncamento), Lino (empresário no Fundão), Graciano (em Lamego, nos vinhos do Porto), Gordo (funcionários da Câmara de Alter do Chão), Lopes (que morará em Lisboa), Belo (aposentado das Finanças, em Retaxo - Castelo Branco), Rabiça (professor aposentado, em Vila Real), Querido (lá por Odivelas), o Cardoso (o mordomo) e o Reino (aposentado da GNR, em Sabugal).
Dois outros, já desta vida se partiram, ambos por doença: o Guedes (a 16 de Abril de 1998) e o Capitão (a 5 de Janeiro de 2010). Assim como o 1º. cabo Manuel Quaresma da Silva, de Cacia, em Aveiro (a 6 de Abril de 2004). Lá por Angola, faleceram Manuel Barreiros, por doença (em Agosto de 1975)  e o Jorge Grácio, o Spínola, vítima de acidente (a 2 de Julho do mesmo ano).
O Cardoso pode ser contactado pelo telefone 939 90 88 07 ou pelo email joaocardoso56@gmail.com.
Ver AQUI

domingo, 24 de março de 2013

1 616 - Memórias poéticas do Quitexe


A casa dos Garcias, no Quitexe. A secretaria da CCS do BCAV. 8423 era o edifício à esquerda. Na foro de baixo, o mesmo edifício, em fase recente, vendo-se ainda o da secretaria. Em baixo, Alfredo Garcia, quitexano de coração e autor dos dois poemas





O 15 de Março de 1961 foi marcante na vida do Quitexe que nós conhecemos 13 anos depois. 
Alfredo Baeta Garcia, quitexense por devoção, e por lá foi nosso contemporâneo,  faleceu a13 de Setembro de 2012, com a bonita idade de 90 anos, e deixou memórias em poesia.
 


À memória do ignorado capataz 

de tonga que sofreu e morreu a 

defender nem ele sabia o quê

Os olhos estão baços e abertos
E os restos do corpo descobertos,
Lacerados na beira da picada
Sem ninguém a gemer loas amigas.
Começa o banquete das formigas
No sangue que correu da catanada
Fica ali algum tempo esquecido
Quando o encontram, parte já comido.
Ninguém sabe ao certo onde nasceu
E se ainda lá tem mãe ou não
Que lhe reze à noite uma oração
Sem o saber, que ele já morreu.
O que o levou ali foi o destino
Que já trazia em si desde menino,
Nem pátria, nem dever, nem devoção,
Tão pouco o que houvera de ser seu.
Mesmo a vida que um dia Deus lhe deu
Foi p’ra cumprir a humana solidão.
Apanhou toda a chuva e mais o sol
Sem nunca ter o nome em qualquer rol,
Não foi soldado nem marcava o ponto,
Não tem cruz nem sequer campa rasa,
Beija-o o sol c’o seu calor de brasa
E os mais que não estavam lá por conto.
Podia até ter sido uma ambição
O que o levasse àquela condição
E se foi diluindo na descrença
Até ficar apenas a saudade
A durar o que fosse a sua idade
Com morte acidental ou de doença.
Morrer desta maneira, à catanada
Não são coisas da vida, não é nada,
É ser peão num jogo com batota
Em que uns fazem de heróis da festa
De que afinal de contas nada resta
Nem a história deles toma nota.
Não há cruzes na beira dos caminhos
Nem memórias nos vivos dos mesquinhos
Anónimos sem fama e sem lamento
Que deram o que tinham, mas por nada
Como maldita sorte, desgraçada,
Mais o antecipado esquecimento.
Estar entre a vida austera e as misérias
Sem sábados, domingos e sem férias,
É ter vida pior que contratado,
O primeiro na forma em fila longa
O último à noite a vir da tonga
Em chuva e suor agasalhado.
Nas noites tropicais daquelas matas,
No meio do capim onde há cubatas,
Nos caminhos direitos e nos tortos,
A natureza inteira, insubmissa
Reza eternamente a sua missa
Por todos quantos lá ficaram mortos 



À memória dos que pereceram 

na picada e na pide

      Conjuntura
Sem soba ninguém decide,
Desapareceu, foi na Pide.
Sem branco não anda nada,
O seu fim foi na picada.
Segura bem a Gê Três,
Olha o capim mais a estrada
P’ra não ser a tua vez
E o teu fim ser na picada.
Não se vê, não está presente
O que era o nosso Cid?
Por se fazer saliente,
Desapareceu, foi na Pide.
No muxito apura a vista,
Que em qualquer curva apertada
Pode estar um terrorista
E o teu fim ser na picada.
Mãe preta de todos nós
E razão da nossa lide,
Não se ouve a sua voz.
Desapareceu, foi na Pide.
Já a salvo no terreiro,
Ouves ainda a rajada.
Lá se foi um companheiro,
O seu fim foi na picada
O Bom Deus do nosso povo
Que era filho de David,
Pregado na cruz de novo,
Desapareceu, foi na Pide.
Igual a sorte marcada
Aos dois ligados pl’envide,
Foi ter fim na picada
Ou desaparecer na Pide.
Alfredo Baeta Garcia



- NOTA: Gentileza de João Garcia, 
sobrinho do autor

sábado, 23 de março de 2013

1 615 - Três imagens de Carmona (Uíge) de hoje...

O Carlos Ferreira esteve em Carmona, cidade que desde a independência se chama Uíge (capital da província do mesmo nome) e mandou-nos uma mão-cheia de fotos. Algumas, já aqui as publicámos. Hoje, deixamos mais três. A de cima, é de uma das avenidas. A do meio, é de um arruamento a norte, A de baixo, é de uam zona nova. Todas elas do dia 19 de Dezembro de 2012.
Obrigado, ó Carlos Ferreira. 



1 614 - O Lito andou pelo Quitexe e terras do Uíge...

A minha pequenina aldeia de 721 moradores teve vários combatentes que passaram pelas terras do Uíge, onde se guarneceram os Cavaleiros do Norte. Hoje, fiquei a saber de mais três: o Lito (na foto, à esquerda), o Manuel Horácio e o Manuel Gomes. Porventura, outros estiveram.
O Lito, com o Neca Taipeiro, foram os primeiros a marchar para a «Angola é nossa» que se proclamava em 1961. E para lá partiram, no navio «Moçambique», em Junho desse ano. Nele voltaram, em Novembro de 1963 - depois de 28 meses em que, em batalhões separados, galgaram trilhos e desbravaram matas, combateram cara a cara com o inimigo e tempos atrás de tempos não tiveram colchão para descansar o corpo.
«Levámos tudo às costas, chegávamos e tínhamos de armar o acampamento, depois de dias e noites de operações que nos levavam pelas matas fora», contou-me o Lito, esta tarde, ali na frente da igreja onde fomos baptizados, ele 13 anos antes de mim.
O Lito empolga-se a falar da sua comissão e não deixa de soltar um e outros ais de emoção (e comoção), quando lhe vêm à memória combates e emboscadas, patrulhamentos e operações que o levaram por sítios tão diferentes como o Quitexe, o Piri, Vista Alegre (onde começaram um cemitério militar), Ponte do Dange, Negage, Camabatela (onde dormiu numa igreja) e Zemba. É de Zemba que fala com memória mais detalhada, por lá ter passado as maiores amarguras e medos dos 28 meses de missão. Tempos duros, que fizeram «mais de 25 mortos» à CCAÇ. 192, formada em Tomar e comandada pelo capitão Sentieiro. Era do Batalhão de Caçadores 186, comandado pelo tenente-coronel Pessanha.
O Lito, aos 73 anos, lembra-se do furriel Mata Reis, do seu pelotão, «quase todos alentejanos e algarvios», e não esquece, como poderia?!, «o António da Mourisca», aqui vizinho de Águeda. «Tínhamos um pacto. Se eu morresse lá, ele trazia as minhas coisas. Se morresse ele, trazia eu as dele. Não morreu lá e veio a falecer cá, de doença ruim...». E do soldado 59, «um grande amigo», que era de Figueiró dos Vinhos, mas de quem já não se lembra o nome.
O Lito não sonharia que, sendo um dos dois primeiros conterrâneos (com o Neca) a jornadear no chão do Uíge, viria a ter-me como um dos militares do último batalhão português naquelas terras. Nem eu, até à tarde de hoje!
- LITO. Aníbal Gomes dos Reis, soldado atirador 
de infantaria, da CCaç. 192, do BCAÇ. 186. 
Aposentado e residente em Ois da Ribeira (Águeda).
NECA TAIPEIRO,
ver AQUI

sexta-feira, 22 de março de 2013

1 613 - O Lino das terras do Fundão...

O Lino, o Belo e o Gordo, no aeroporto de Carmona, em 1975

A vida tem destas coincidências: há precisamente dois anos, a 22 de Março de 2011, aqui evoquei o Lino, que jornadeou por Santa Isabel, depois pelo Quitexe e Carmona, como Cavaleiro do Norte da 3ª. CCAV. 8423.
Hoje mesmo, vejam só, depois de algumas buscas e deambulações, “achei-o” no seu Fundão natal. E está finíssimo da silva: “O mesmo chanfrado daquele tempo, ainda julgo que tenho 30 anos...”, disse-me ele, em palavra larga, altíssonante e a gargalhar. E o chanfrado dele nada tem de depreciativo.

E então, perguntam vocemecês, o que é feito do Lino? 
O Lino está de farta saúde, para dar e vender, depois dos altos e baixos que a vida lhe deu. Trabalha na área das madeiras, teve uma frota de 12 camiões de transportes internacionais (agora fica-se pelos dois) e vive de mesa cheia, no calor e afecto da mulher que, por amor, em 1974 foi mãe do seu primeiro rebento. Tem «um casal e duas netinhas...».
Aqui, ao falar da mulher, vem à memória a viagem que, quatros ou cinco meses depois de chegar a Angola e a Santa Isabel, teve de fazer de volta, para a levar ao altar. «Vim para casar, o capitão Fernandes arranjou-me umas férias e vim, ainda hoje é a minha mulher...»
Deixou-a grávida, o Lino, peregrino de amores jovens e arrebatados, e honrou a paixão que os levou ao «pecado» do amor!
Por lá, entretanto, por Santa Isabel, o Lino fez o milagre da multiplicação das peças-auto e recuperou viaturas atrás de viaturas. «Eram 23 e só quatro estavam operacionais, mas pus aquilo tudo a andar...», recordou-nos ele, sempre com o seu gargalhar alto. E nesse gargalhar se lhe notando alegria, e prazer, e felicidade por recordar a verdura daqueles nossos tempos.
Voltado ao Fundão, em Setembro de 1975, cresceu-lhe a família, os tombos da vida levaram-o 13 anos para Espanha e de lá voltou há 8! Já lhe faleceram os pais e dois irmãos mais velhos. Trabalha com o filho, de 35 anos, e adivinham-se-lhe os olhos a chorar de alegria, quando nos fala da mulher, da família e dos amigos. E da tropa!!
«Malta fixe, pá... Já morreu o Guedes!!! O capitão era um gajo porreiro...», disse o Lino, alvoraçando a voz, sempre que outros nomes lhe vinham à memória: o Gordo, o Belo, o Fernandes, o Flora, o Querido..., tantos outros!
Um grande abraço, ó Lino!
- LINO. José Rodrigues Lino, furriel miliciano 
mecânico-auto, natural e residente no Fundão.
O FURRIEL LINO DE SANTA ISABEL,ver AQUI
texto escrito há exactamente dois anos.

quinta-feira, 21 de março de 2013

1 612 - O especialista da Força Aérea que queria wiskyie

Cruz e Viegas, de férias nos arredores de Nova Lisboa

Os dias dos fins de Março de 1975 aproximavam-se do fim e, para nós - eu e o Cruz - começava o tempo de aligeirar as maletas com que, flauteando a vida, nos iríamos pôr de viajantes em férias. A uma semaninha da partida, meus amigos, parecia que o tempo não passava mais. Por Carmona, já tínhamos que contar, das bocas dos civis, que não toleravam muito bem a tropa e a insultavam. Mas, o que fazer?
De Luanda, chegou-me correio do amigo Alberto, que era 1º. cabo especialista da Força Aérea e meu anterior companheiro de escola, em Águeda. Das mesmas turmas, no então Curso Geral do Comércio. «Isto por aqui não vai bem, há m... todos os dias e as noites não são sossegadas», escrevia-me ele, em aerograma do dia 17 de Março - ao outro dia recebido em Carmona.
O Alberto, preocupado com as «macas» de Luanda (a guerra, entre os movimentos de libertação), estava. Estava, sim semhor!!! Mas o «bate-estradas» (assim chamávamos aos aerogramas) preocupava-se mais com «duas garrafitas de wiskyie» que ele pretendia que eu lhe levasse, caso as recebesse em Carmona. E repare-se no preciosismo: «(...) para pagar, não de borla, se não, não quero».
Os quadros dos Cavaleiros do Norte, como qualquer unidade em zona 100% operacional, tinham direito a comprar esse tipo de bebidas, a preços muito acessíveis. «Vê lá o que podes fazer...», concluía, como se pode ler na imagem do aerograma. 
O que pude fazer, foi levá-las. E do bom!!

quarta-feira, 20 de março de 2013

1 611 - O cavaleiro Marcos que foi ao Rocha...

Restaurante Rocha, no Quitexe, na estrada do cafe. (em cima). Viegas, 
Marcos e Dionísio, três pelrec´s da CCS dos Cavaleiros do Norte (em baixo)


O Marcos foi valente atirador de cavalaria do PELREC! Dos que poderiam torcer, mas nunca vergavam! Dos que nunca recuavam, fosse ao que fosse. Com ele (e o Almeida) fizemos PM, em Carmona, e não havia o quê, ou quem lhe obstruísse o cumprimento de qualquer tarefa. Como antes, no Quitexe, quando atravessávamos a noite, galgando as picadas e trilhos do Uíge angolano, olhando e vencendo as sombras do medo de uma qualquer escolta, patrulha ou operação militares.
Uma noite, no Quitexe, o Marcos «amandou-se» no Rocha, com cucas atrás de cucas - ou eram nocais?!, ou skóis?, ou n´golas??!! -, com o Dionísio, o António, o Florêncio, o Botelho, o Hipólito!!! Tudo brava gente do nosso pelrec. A noite ia já alta e bem regada, com os nossos tropas a afogar saudades dos seus chãos natais, da família, das namoradas, das mulheres e dos filhos. E já era pai, o Marcos! Pai do Paulo Alexandre!
A coisa azedou, quando apareceu o oficial de dia, cujo nome não vem agora ao caso. Nem era da CCS! Então,  RDM para aqui, RDM para acolá, complicou-se a situação e de tal modo que achou o bom do António «galopar» até ao nosso quarto (meu e do Neto), para que lá fossemos. Acudir!!! 
Recorda o Marcos:
«Eu estava embirrado, era reguila, não queria obedecer ao alferes, que eu achava que não tinha razão para o que me izia e fazia, mas lá me convenceste! Lembras-te-me que já era pai, olha lá a tua vida...», contou-me o Marcos, esta tarde.
Fez-se luz, na memória, rebobinada pela narrativa do Marcos. Foi assim, tal e qual!
Mas não se livrou ele da participação, nem nós convencemos o alferes a esquecer o caso. O Marcos «apanhou» 20 dias, agravados para 30, no Comando de Sector do Uíge!
«Nem posso ver esse tipo!... E o comandante nem me quis ouvir», disse-me hoje, magoado pela exigência disciplinar de um oficial, miliciano como nós e que, agora, mora pelos lados de Lisboa.
- MARCOS. João Manuel Lopes Marcos, soldado atirador de cavalaria, da CCS do BCAV. 8423. Carpinteiro, em situação de pré-reforma e morador no Pego (Abrantes).
- ALMEIDA. Joaquim Figueiredo de Almeida, 1º. cabo atirador de cavalaria, faleceu a 28 de Fevereiro de 1009, vítima de doença, em Penamacor, sua terra natal.
- FLORÊNCIO. Augusto Florêncio, soldado atirador de cavalaria. Mora em Sardoal.
- ANTÓNIO. Francisco Fernando Maria António, soldado atirador de cavalaria. Motorista aposentado, residente em Abrançalhas (Abrantes).
- DIONÍSIO. Dionísio Cândido Marques Baptista, soldado atirador de cavalaria. residente no Seixal.
- BOTELHO. Jorge António Pinto Botelho, soldado atirador de cavalaria.
- PM. Polícia Militar. 
- HIPÓLITO. Augusto de Sousa Hipólito, soldado atirador de cavalaria. Reside e trabalha em Reims (França).
- ROCHA. Restaurante do Quitexe, muito frequentado por militares.
  

terça-feira, 19 de março de 2013

1 610 - E porque hoje é Dia do Pai!!!


Cavaleiros do Norte em 2009, pais reunidos no Encontro de Águeda.
Assinalado, está Mosteias, que já era pai há 38 anos 
Clicar na imagem, para a ampliar

E no meio de tanta podridão e miséria, ainda podemos celebrar o Dia do Pai. Este é  mais um ano em que esta data passa sem que o meu esteja fisicamente presente.
Dedico o dia de hoje aos homens que, por vários motivos,  fizeram parte da minha vida e são pais, biológicos ou  adoptivos, mas do coração. Pais-progenitores, pais-avós, pais-tios, pais-amigos…

Pegadas

«Anda mais devagarinho, papá»,
Disse uma criança pequenina.
«Estou a seguir as tuas passadas
E não quero cair.
Às vezes os teus passos são muito rápidos,
Às vezes são difíceis de ver;
Por isso, anda mais devagarinho, papá,
Porque me estás a guiar.
Um dia, quando eu já for crescido,
Tu és aquilo que eu quero ser;
Então terei uma criança
Que me vai querer seguir.
E eu vou querer guiar direitinho,
E saber que estava certo;
Por isso, anda mais devagarinho, Papá
Porque eu tenho que te seguir».

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Seremos sempre  exemplo se valioso for o nosso testemunho de vida
Abraços do camarada e amigo,
José A. Monteiro

segunda-feira, 18 de março de 2013

1 609 - O Buraquinho a comer abacaxi na cubata da Paulina


O Buraquinho, à esquerda, com um cacho de bananas na mão - que divide com o Moreira (o Penafiel)

O Buraquinho era (é) homem de muitas estórias. Davam um livro!! Desde quando, na noite de S. Silvestre de 1974, «falcatruou» a corrida para a ganhar, encurtando passos dentro de uma viatura e depois cortando por uma das transversais da estrada do café para a rua de baixo. A vitória seria do Spínola, que a morte nos viria a «roubar» em Julho de 1975, vítima de acidente.

Notável foi, também, a sua fuga para Lisboa, contada por ele, no encontro de Ferreira do Zêzere, e a forma como, já dentro do avião militar, no aeroporto de Luanda, resolver saltar, já sem... escadas, para a pista.
Agora, o Buraquinho, como homem lendário da nossa épica jornada africana, vem-nos contar de como foi «apanhado» pelo Monteiro e pelo sargento dos morteiros, na sanzala Kadilongue - aí pela meia noite e meia hora de uma noite quitexana.
Pois bem, cá vai, na palavra escrita do Buraquinho:
«Eles iam a passar a ronda e passaram pela sanzala, batendo à porta da cubata onde vivia a Paulina. Eu estava a essa hora com a Paulina, a comer abacaxi, e fiquei aterrorizado, porque não sabia quem poderia ser. Pensei no pior das hipóteses».
Então, conta o Buraquinho, a Paulina também assustada, perguntou: «Quem é?».
O Buraquinho, de abacaxi na mão e as pernas a tremer, ouviu uma voz e reconheceu o Monteiro: «Fiquei tranquilo». 
A Paulina abriu a porta e lá estavam os dois. Continua o Buraquinho:
«Então, pergunta-me o Monteiro, ó Buraquinho, aqui a estas horas?»
Respondeu-lhe ele que «são coisas da vida», coisas da vida aquilo de estar na cubata da Paulina a comer abacaxi.
O Monteiro, que, não esqueçamos,  andava a rondar, aconselhou-o a ser prudente, não fosse o abacaxi estar estragado, sei lá: «Vê lá se ganhas juízo, porque estás sujeito a trazer a cabeça debaixo dos braços...».
O Buraquinho, segundo ele agora diz, apanhou «um grande susto» e, fosse por isso ou porque já tinha acabado de comer o abacaxi, a verdade é se foi embora, no jipe dos militares.