CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

5 293 - A passagem de ano no Uíge angolano e a Corrida de S. Silvestre de 1974!

Jorge Grácio, o Spínola,
vencedor da S. Silvestre
do Quitexe de 1974

C. Pagaimo. o
2º. classificado
BCAV. 8423

A noite de passagem do ano de 1974 para 1975 foi de fortes bátegas de água pelas bandas do Uíge angolano, por onde jornadeavam os Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423. E de Corrida de S. Silvestre.
O «rancho» do dia até foi foi melhorado e a malta fora das escalas de serviço procurou os melhores programas possíveis, dentro dos condicionalismos que se viviam numa guarnição militar.
Messes cheias, cantina e bares militares cheios, garrafas a abrir nas casernas da parada, onde quer que estivesse um soldado dos Cavaleiros do Norte, não faltou sede para «matar» nesse tempo de festa e de saudade dos chãos de Portugal.
A noite foi intensamente chuvosa, mas não suficientemente forte para atemorizar os valentes atletas-militares que se prepararam para «a tradicional corrida de S. Silvestre no Quitexe» - corrida que, como sublinha o livro «História da Unidade», procurava «marcar a passagem do ano de 1974/75 em convívio fraterno e de paz, tal como as famílias do Quitexe fizeram, tendo no seu seio as famílias de militares, aqui presentes, por impossibilidade de juntar todo o BCAV.»

O Pagaimo em Outubro de 2019, ladeado
 pelos furriéis Viegas, à esquerda, e Neto

Spínola e Pagaimo na frente
da Corrida de S. Silvestre!

A intensa chuva que caiu não foi suficientemente forte para atemorizar os atletas-militares que se prepararam para «a tradicional corrida de S. Silvestre no Quitexe» - corrida que procurava «marcar a passagem do ano de 1974/75 em convívio fraterno e de paz, tal como as famílias do Quitexe fizeram, tendo no seu seio as famílias de militares, aqui presentes, por impossibilidade de juntar todo o BCAV.».
Chuva civil não molha militar!
A prova viria a ser ganha, e com todo o mérito, por Jorge Custódio Grácio, soldado atirador de Cavalaria da 3ª. CCAV. 8423, a da Fazenda Santa Isabel, e por lá (e depois pelo Quitexe) imortalizado como Spínola. O segundo lugar foi do 1º. cabo Celestino Pagaimo, do Pelotão de Morteiros 4281.
O Jorge Grácio (Spínola) viria a ser vítima mortal de um trágico acidente de motorizada, quando, sozinho, embateu na rotunda da entrada de Carmona. Faleceu a 2 de Julho de 1975 e o seu corpo veio para Portugal no avião que transportou a 3ª. CCAV. 8423, a 11 de Setembro do mesmo ano. Está sepultado na sua terra natal, o Casal das Raposas, em Vieira de Leiria. 
Hoje, o recordamos com saudade. RIP!!!
O 1º. cabo Celestino de Jesus Pagaimo fez carreira militar nas Brigadas de Trânsito (BT) da GNR e, já aposentado, mora em Montemor-o-Velho - onde recentemente esteve confinado, devido ao efeito da pandemia COVID 19.

O 1º. cabo Alfredo Coelho (o Buraquinho), que
 (não) venceu a S. Silvestre do Quitexe, de 1974
 para 1975. Na foto, com o maqueíro Joaquim
 Moreira (o Penafiel), um dos seus «cúmplices»
(com o 1º. cabo Gomes) da falsa corrida 

A (não) S. Silvestre
do Alfredo Buraquinho

A corrida da S. Silvestre teve partida na Estrada do Café, para Carmona, onde se cortava para a picada de Zalala. Seguia para o Quitexe e virava  no Bar do Rocha para a avenida. A meta estava instalada em frente à messe de oficiais.
Resolveu o 1º. cabo Alfredo Coelho (o Buraquinho) fazer das dele. E fazer o quê? Ele mesmo conta: «Como os enfermeiros tinham de acompanhar a corrida, combinei com o Gomes e Moreira (o Penafiel) que quando a corrida começasse, eu isolar-me-ia e entraria na ambulância, sem que fosse detetado».
Assim foi e ninguém deu por nada. As noites de África, como sabemos, são muito cerradas e a chuva «ajudou». Ao momento oportuno, o Buraquinho saltou da ambulância e começou a correr. «Íamos a passar próximo da casa do administrador, onde estava este e vários oficiais a verem a corrida, e, ao verem-me, entusiasmaram-me, gritando «força, Buraquinho, és o primeiro!!!...».
Era, mas não era e... fez-se justiça: «Cometi um erro, ao virar para a avenida, deveria ser na rua do Rocha e eu cortei antes», explicou ele, agora e lembrando que «cheguei à meta em primeiro, até fui vitoriado pelo capitão Oliveira, por eu ser da CCS, como ele, mas quando chegou o segundo classificado, este foi naturalmente o primeiro, o vencedor». Era o Grácio, mais conhecido por Spínola, da 3ª. CCAV. 8423 mas ao tempo já no Quitexe. 
«Denunciou a minha chegada forjada e, pronto, foi declarado vencedor, como tinha de ser», recorda o Alfredo Buraquinho, a sorrir-se desta sua «notável» proeza atlética de há precisamente 46 anos. 


quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

5 292 - O dia da véspera do último dia de 1974 pelas terras uíjanas de Angola!

Cavaleiros do Norte do Parque Auto. Atrás, NN, Canhoto, Miguel (NN (mecânico), Gaiteiro
  NN, Picote (de mãos nas ancas e a sorrir), Agostinho Teixeira (pintor), NN (mais trás),  
Serra (mãos no cinto), Pereira (mecânico),  1º. sargento Aires (de óculos), alferes Cruz 
(de branco), Celestino (condutor), furriel Morais (de óculos), NN e NN (condutores)  
e Vicente. À frente, Domingos Teixeira (estofador), Marques (o Carpinteiro, falecido a 1 de
 Novembro de 2011), Madaleno (atirador, de tronco nu) e  Esgueira. Quem identifica os NN?


 José António Nascimento, furriel Cavaleiro do 
Norte de Zalala, mas aqui já em Vista Alegre
A 30 de Dezembro de 1974, há 46 anos e lá pelo Quitexe, por Aldeia Viçosa e Vista Alegre/Ponte do Dange, terras uíjanas por onde jornadeavam os Cavaleiros do Norte, preparava-se a corrida de S. Silvestre.
A actividade fecharia o ano da sede do batalhão, em ambiente desportivo e no âmbito do plano de acção psicológica. 
Os outros aquartelamentos, outras actividades de lazer festa teriam. E tiverem.
Quanto ao dia a dia, ia igual e sem problemas. A grande novidade do de 30 de Dezembro desse já distante 1974, tinha a ver com a data (anunciada) da realização da Cimeira dos três movimentos de libertação com o Governo de Portugal: 10 de Janeiro de 1975 «algures, em Portugal». Até lá, disse Jonas Savimbi em Lusaka, UNITA, MPLA e FNLA «realizarão uma cimeira para concordarem numa plataforma comum, para apresentarem nas conversações com o Governo Português». Isto, numa altura em que, segundo as agências noticiosas France Press e a Reuters, se registavam «progressos recentes na melhoria das relações entre os três movimentos de libertação angolanos, através da assinatura de acordos».
Notícia do Diário de Lisboa de há 41 anos,
sobre a Cimeira dos movimentos angolanos
com Portugal
Observadores internacionais, em Lusaka e citados pelo Diário de Lisboa, afirmaram que «essa cimeira apresenta-se como uma gigantesca evolução no caminho do entendimento dos três movimentos, para se encontrar a adequada solução angolana de independência»
«O nosso objectivo é ter em Angola um Governo de Transição antes do fim de Janeiro e a independência dentro de 9 a 12 meses», afirmou Jonas Savimbi, o presidente da UNITA- enquanto o Diário de Lisboa escrevia que «foi dado um passo em frente pela solução do problema de Angola, o maior território colonial português em África».

Octávio Botelho
sargento-ajudante
Octávio Botelho, sargento
ajudante, 84 anos nos Açores

O sargento-ajudante Octávio Botelho, antecessor dos Cavaleiros do Norte por terras do Uíge angolano, festeja 84 anos a 31 de Dezembro de 2019.
Combatente do Batalhão de Artilharia 786, entre 1965 e 1967 - unidade com companhias no Quitexe,no Liberato, em Santa Isabel e em Zalala - Octávio Botelho cumpriu três comissões em Angola, antes, a de 1965 a 1967 (uma) e a de 1970 a 1972 (a segunda).
Natural do Faial da Terra, nos Açores, pré-aposentou-se em 1990 e aposentou-se em 1996, tendo já colaborado com este blogue dos Cavaleiros do Norte.
Vive agora na Ribeira Grande, ilha de S. Miguel, com a saúde «não muito boa», ele nos disse, mas claramente à altura dos próximos desafios, os dos próximos anos. Para ele, vai o nosso abraço de parabéns!

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

5 291 - Calma no Uíge dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423 nos dias finais de 1974 !


Cavaleiros do Norte na entrada do bar e messe de sargentos do Quitexe, em 1975. Atrás,
furriéis Costa e Cardoso (de garrafa na mão), 1º. cabo Almeida, soldado Lages e furriel
Flora. Ao meio, furriéis, Cruz (de óculos), NN (tapado), Costa, Armindo Reino (a festejar
 68 anos) e Carvalho. Mais à frente, Bento e Fonseca (ambos de bigode). À frente, Grenha Lopes e Nelson Rocha

 

 
O 1º. cabo Gabriel Mendes, o sapador, que hoje 
festeja 68 anos na Covilhã. Aqui, na parada do BC12, 
em Carmona (1975)

Os últimos dias de 1974, pelas bandas do Uíge onde os Cavaleiros do Norte faziam a sua jornada angolana de África, foram vividos tranquilamente.
Passado o natal mais quente das nossas vidas, continuavam os serviços de ordem e, na área da acção psicológica, continuavam animados «despiques» futebolísticos, entre pelotões e subunidades. Tinha acabado o Ciclo de Cinema (de 4 a 18 de Dezembro) e preparava-se a mítica Corrida de S. Silvestre.
Os movimentos emancipalistas, porém e a exemplo do que acontecia por todo o território, «procuravam estender a sua acção e, com o decorrer do mês, apareceram secretarias no Quitexe em Vista Alegre». E começou a verificar-se, também, «uma aproximação dos referidos movimentos. nomeadamente aos povos já há tempo fixados», cm refere o livro «História da Unidade», sublinhando «a sua maioria com incidência da FNLA, mas também, nalguns casos do MPLA».
Problema era, antecipava o mesmo «História da Unidade», «a reserva latente entre os dois movimentos, já que na área predomina a FNLA», muito embora e por então «não se tenham ainda verificado actos que possam preocupar as suas actividades»
A confiança era palavra de ordem!
Armindo Reino
em 2019
A. Reino
em 1974/75

Reino, furriel de Santa
Isabel, 69 anos no Sabugal !

O furriel miliciano Armindo Henroques Reino, da 3ª. CCAV. 8423, festeja 69 anos a 28 de Dezembro de 2020.
Especialista de Operações Especiais (os Rangers) dos Cavaleiros do Norte da Fazenda Santa Isabel, tem a particularidade de ter dois dias de anos: o da data de nascimento (28 de Dezembro de 1951) e a do registo (1 de Janeiro de 1952). Festeja, pois, a dobrar!
Regressou a Portugal no dia 11 de Setembro de 1975 e fez carreira profissional na GN. Já aposentado, morando na Aldeia do Bispo, no Sabugal, a sua terra natal. Para onde vai o nosso abraço de parabéns!

Gabriel Mendes em 2020

Gabriel, o sapador, 68
anos na Covilhã !
 
Gabriel Alves Mendes foi 1º. cabo da CCS do BCAV. 8423 e está hoje em festa, dia 29 de Dezembro de 2020: comemora 68 anos!
Sapador de especialidade militar, na vila do Quitexe e na cidade de Carmona, integrou o pelotão comandado pelo alferes miliciano Jaime Ribeiro e regressou a Portugal no dia 8 de Setembro de 1975, fixando-se em Cortes do Meio, freguesia que é a sua natal terra da Covilhã, na serra da Estela. Esteve muitos anos emigrado em França e, agora já aposentado, voltou aos bons ares natais.
Para lá e para ele vai o nosso abraço de parabéns! 
Joaquim Grave
em 1974/1975
(foto ao lado)
e em 2019
(em cima)


Grave de Aldeia Viçosa,
68 anos no Montijo !

O soldado Joaquim Augusto Margalha Grave, da 2ª. CCAV. 8423, festeja 68 anos a 29 de Dezembro de 2020.
Mecânico auto-rodas de especialidade militar, foi Cavaleiro do Norte de Aldeia Viçosa e de Carmona, tendo regressado a Portugal no dia 10 de Setembro de 1975, no final da sua comissão por terras do Uíge angolano. Regressou ao Calvário, no município de Redondo, a sua terra natal - em pleno Alentejo, no distrito de Évoa.
Mora agora na Praceta Aldegalega, na cidade do Montijo, distrito de Setúbal, para onde vai o nosso abraço de parabéns!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

5 290 - As vésperas da S. Silvestre! O diferendo MPLA/Facção Chipenda!

Avenida do Quitexe (ou Rua de Baixo), na saída para Camabatela. À esquerda, assinalado pela seta,
 está o espaço onde era a porta d´armas do BCAV. 8423. A esquina era do edifício do Comando e
 onde ficava o gabinete do comandante Almeida e Brito. Foto de 24 de Setembro de 2019
Porta d´armas do quartel do BCAV. 8423, no Quitexe, 
em 1974 e com entrada a avenida. Vêem-se as bombas 
de gasolina, o refeitório (à direita) e as oficina-auto 
(cobertura ao centro). Já nada disto existe!
BCAV. 8423

Há 46 anos, os dias de 1974 caminhavam para o fim e, já no sétimo mês da jornada africana do Uíge angolano, estava, pelo Quitexe, semeada grande expectativa sobre a corrida de S. Silvestre, para que se preparavam alguns Cavaleiros do
Os alferes milicianos João Leite, Jaime
Ribeiro e António Garcia
Norte, os mais afoitos a dar à perna.
A iniciativa do gabinete de acção psicológica do BCAV. 8423 - ao tempo, da responsabilidade do alferes miliciano José Leonel Pinto de Aragão Hermida - teve boa aceitação e, por lá, segredavam-se duelos atléticos entre os os mais capazes dos Cavaleiros do Norte da CCS e da 3ª. CCAV. 8423 - que desde o dia 10 de Dezembro estava aquartelada no Quitexe, rodada da Fazenda Santa Isabel. E também os garbosos combatentes do Pelotão de Morteiros 4281, o do alferes miliciano João Leite, que desde o dia 20 desse Dezembro de há 46 anos faziam já a rotação para Carmona! Que concluiriam apenas em Janeiro de 1975.
Os despiques que se anunciavam não mudaram nada a relação entre os «competidores» que se iriam rivalizar. Tudo se vivia numa... boa. E desportiva! Competitiva mas saudável, como mandam as «regras» do bom desporto.
Notícia do Diário de Lisboa de 28 de Dezem-
bro de 1974. Há precisamente 45 anos!


O MPLA e a Facção
de Daniel Chipenda 

Mais complexas iam as relações do MPLA com a Facção Chipenda. 
Esta, faz hoje 46 anos e em Paris, fazia questão de denunciar o acordo de Agostinho Neto (MPLA) com Jonas Savimbi (UNITA), dias antes assumido no Luso. Luís Azevedo, seu encarregado de negócios, falava na capital francesa e lembrava que Neto tinha sido expulso do MPLA. É uma história complicada, para aqui ser contada em pormenor.
Luís Azevedo, em Paris e citado pela France Press, «censurava o papel desempenhado por Rosa Coutinho para a conclusão desse acordo».
Rosa Coutinho que, por essa altura, era alvo de mensagens de regozijo, pela sua nomeação como Alto Comissário de Angola - mensagens que chegavam ao Governo Geral, em Luanda. Mensagens que, e cito o Diário de Lisboa de 28 de Dezembro de 1974, também «repudi(av)m a abertura do escritório da Facção de Daniel Chipenda».
Nota curiosa do dia tem a ver com o facto de Angola, ao tempo, estar a fornecer 1/3 do petróleo que Portugal precisava. O Boletim da Direcção Geral dos Combustíveis de Novembro de 1974 dava conta disso e punha Portugal na lista dos mais altos dos preço da gasolina super: exactamente 12$50 o litro - qualquer coisa como 2,09 euros, a preços de hoje e segundo o conversor da Pordata. A segunda mais cara da Europa. Mais cara, só na Grécia: 13$61.  O mais baixo custo, era na Irlanda (6$56). Na vizinha Espanha, um litro custava 10$50. 


Barros de Zalala, 68
anos em Coimbra !

O 1º. cabo Barros, da 1ª. CCAV. 8423, a de  Zalala festeja 68 anos a 29 de Dezembro de 2020.
Rui António Ferreira Barros foi atirador de Cavalaria do grupo de combate comandado pelo alferes miliciano Carlos João Sampaio, com os furriéis milicianos Eusébio Martins, Mota Viana (depois João Rito) e Plácido Queirós.
Regressou a Portugal no dia 9 de Setembro de 1975, julgamos que a Coimbra - pois o seu nome não consta da lista de embarque dos Cavaleiros do Norte de Zalala. Desconhecemos as razões mas, para onde quer que esteja, para ele vão os nossos parabéns!

domingo, 27 de dezembro de 2020

5 289 - A COVID19 na vida dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423 !

Os alferes milicianos João Machado e Carvalho
de Sousa e o 1º. sargento Fernando Norte, da 2ª.
CCAV. 8423, em Aldeia Viçosa (1974/1975) 


Os tempos de Natal foram de contactos mais próximos da Família dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423 e também de notícias menos agradáveis: 2 companheiros da jornada africana do Uíge angolano foram vítimas do COVID 19 - o alferes Machado e o 1º. cabo Pagaimo. A acrescentar ao 1º. cabo Tomás, já aqui falado.
«Isto não é para brincadeiras. Estive 10 dias entubado e em coma», disse-nos João Francisco Pereira Machado, que foi oficial miliciano e comandante interino da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa.
A saga covídica começou nos primeiros dias de Dezembro, quando, na sua casa da Amadora, começou a «sentir falta de ar e a ficar meio tonto». Ao que viu, a esposa chamou uma ambulância e 
foi transportado para o Hospital Amadora/Sintra.
Em boa hora. A que o salvou.
Alferes João Machado
em Angola (1974/1975)

Andei entre cá e lá!... 
Foi um chapadão enorme!

O alferes Machado olha para trás e para o valor da vida.
«Não me lembro de nada, só de acordar do coma e ver muita água e muitas cenas da minha vida a passarem-me na frente, uma espécie de revisão da história da minha vida, coisas antigas», disse-nos João Machado, consciente do «susto que pregou à família».
«Fui desta para melhor e voltei a esta vida, andei entre cá e lá, a coisa dividiu-se...», sublinhou-nos, ironizando com a situação e explicando que «quando acordei, menos de 24 depois já estava quase normal», mas com perda de peso e massa muscular. Mas «a falar bem e com memória».
Os músculos é que «foram à vida», disse-nos, a sorrir, mas os 10 dias de coma e ventilação não derrubaram o épico Cavaleiro do Norte de Aldeia Viçosa, que agora está nos cuidados continuados do Montijo, com sessões diárias de fisioterapia. Para recuperação.
A alta é esperada lá para 17 de Janeiro de 2021, «se tudo correr bem», como Machado espera, confiante e com conselhos para a malta: «Acautelem-se, previnam-se, quando menos se espera, temos de ficar amarrados à cama do hospital, entubados e frágeis».
«Levei um chapadão enorme, que me ia derrubando», comentou o João Machado.
Os 1ºs cabos Tomás e Pais
com o soldado Silva (1974)

Os 1ºs. cabos Tomás
e Pagaimo !

O alferes Machado não tem a menor ideia de onde (ou de quem) «herdou» o vírus - até porque é cidadão precavido. A família próxima está assintomática e sem problemas. Tudo de bom para aí, caro João Machado!
O 1º. cabo Celestino de Jesus Pagaimo, do Pelotão de Morteiros 4281, também já enfrentou a pandemia, 
Os 1ºs. cabos Valdemar e
Pagaimo no Quitexe (1974)
que supõe ter «apanhado» num centro comercial de Coimbra, onde foi às compras.
«Tive de ir duas vezes às urgências, não tive internamento e tive alta mas confinado à residência», explicou-nos o Pagaimo, que mora em Montemor-o-Velho. Já livre «desta».
O 1º. cabo Rodolfo Hernâni Tavares Tomás continua confinado em Lousada. «Fui atacado pelo vírus, mas estou assintomático», disse-nos ele, já depois de «estar ausente de quarentena» e também com conselhos para os Cavaleiros do Norte:
«Testei positivo, mas já passou, depois da adequada medicação»,  disse o Rodolfo Tomás, que, entretanto com a mulher com pneumonia, também  há anos anda aos «pontapés» à Parkinson que lhe alterou radicalmente a vida e a dos seus mais próximos. Força, pá!

Tudo de bom e rápido para os três!!!

sábado, 26 de dezembro de 2020

5 288 - Comandante em Carmona e, um ano depois, comandante do Polícia Militar!

Consoada de Natal no Quitexe de 1974. Atrás, Gaiteiro, Serra, 1º. cabo Malheiro, Aurélio
(Barbeiro) 1º. cano Mendes (de óculos), Miguel, NN, NN. 1º. cabo Breda e... Em primeiro
 plano e de bigode, o 1º. cabo Monteiro (Gasolinas), Cabrita, Calçada, Gonçalves, NN , NN e
Florêncio. À frente, quem serão estes 4 Cavaleiros do Norte? Que se lembra dos nomes?

Natal de 1974, no Quitexe, a mesa de honra: furriel
 Reino, comandante Almeida e Brito, Mendes (clarim) e
capitães José Paulo Falcão e António Oliveira (de costas)

O comandante Almeida e Brito deslocou-se a Carmona no dia 26 de Dezembro de 1974, há 46 anos, ao Comando de Sector do Uíge (CSU) e à Zona Militar Norte (ZMN) «em retribuição da mensagem de Natal do Exmo. Comandante do Sector do Uíge», como reporta o livro «História da Unidade».
Foi esta:

«Festa da família, época em que é mais viva a saudade dos parentes e amigos, não é ainda para nós que neste Natal de 1974 terminará a velada de armas iniciada há 14 anos em Angola.
Fique-nos a consolação de encontrar no seio do Exército uma segunda família, a mesma camaradagem diária de combatente para combatente, comungando os mesmos princípios, vivendo os mesmos bons e maus momentos.
Fique-nos a certeza de estar a cumprir uma alta missão, ajudando a construir em paz um novo país de expressão portuguesa.
Nesta quadra, em que em todo o mundo se deseja PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA VONTADE, juntemos os nossos esforços para que em ANGOLA se consiga essa paz e, indiferentes a ofensas e calúnias, com a consciência tranquila, prossigamos confiantes e serenos até ao fim, para que possamos dizer. com satisfação e orgulho, MISSÃO CUMPRIDA.
Na impossibilidade de o fazer pessoalmente, com esta saudação a todos os Oficiais, Sargentos e Praças do Sector, envio os meus votos de Boas Festas e Feliz Natal».
A mensagem tinha sido conhecida dias antes do Natal, por todos os Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423.
Notícia de há 45 anos, do Diário de Lisboa,
sobre a situação militar da já independente
Angola, dividida em três frentes

Carmona e o Uíge
fora das notícias

Um ano depois, 26 de Dezembro de 1975 e com Angola já independente, reportava o Diário de Lisboa, citando a ANOP, a Reuter e a France Press, que «a guerra civil parece ter parado nas principais frentes de combate, embora as forças rivais tenham como objectivo avanços em pelo menos duas regiões»
O MPLA controlava Luanda e a faixa central de Angola e esperava entrar no norte - o território da FNLA. A UNITA «visa conseguir um grande avanço no interior oriental». A FNLA tinha o quartel general em Ambriz e estava «a conter o avanço do MPLA para norte de Luanda». Mas o comandante Juju, do MPLA, afirmava que «tomar o Ambriz era questão de dias», embora fontes militares americanas «dignas de crédito», segundo o DL, garantissem que «as tropas do MPLA não tinham efectuados avanços ao norte de Luanda, em direcção a Ambriz».
Carmona e o Uíge, a «capital» da FNLA, ao tempo dos Cavaleiros do Norte, estava fora dos círculos noticiosos. Nada aparecia na imprensa, que «matasse» a nossa curiosidade de ex-combatentes.

Notícia do Diário de Lisboa de 26 
de Dezembro de 1975, sobre a posse
 do tenente-
coronel Almeida e Brito
como comandante da PM

Almeida e Brito comandante
do Regimento de Polícia Militar

O tempo de há 45 anos e por Lisboa, foi tempo de ser noticiada a nomeação do tenente-coronel Almeida e Brito como comandante do Regimento de Polícia Militar. 
Carlos José Saraiva de Lima Almeida e Brito tinha sido o nosso comandante na nossa jornada africana do Uíge angolano. Duranta os 15 meses em que, sem medos, participámos no processo de descolonização de Angola.
O segundo comandante da PM era o major José Luís Jordão Ornelas Monteiro, que foi 2º. comandante do BCAV. 8423 em Santa Margarida e, nas vésperas do embarque, «desviado» para a Guiné. O comando do RPM incluía também os majores Ayala Botto, Rúben e Mamede.
Carlos Mendes

Mendes, 1º. cabo da CCS,
68 anos em Abrantes !

O 1º. cabo Carlos Alberto Serra Mendes, da CCS do BCAV. 8423, festeja 68 anos a 26 de Dezembro de 2019.
Bate-chapas de especialidade militar, foi Cavaleiro do Norte do Parque-Auto comandado pelo alferes miliciano António Albano Cruz e regressou a Portugal no dia 8 de Setembro de 1975, no final da sua jornada africana do norte de Angola. Fixou-se no Pátio Joaquim Pedro, em Abrantes. 
Sabemos que mora(rá) no Bairro Catroga e Gaio, da freguesia de S. Vicente, também em Abrantes, para onde vai o nosso abraço de parabéns!  
Fazenda Zalala

Martins de Zalala
faleceu há 15 anos !

O soldado Martins, atirador de Cavalaria da 1ª. CCAV. 8423, faleceu há 16 anos.
Fernando Martins, era este o seu nome completo, foi Cavaleiro do Norte de Zalala, «a mais rude escola de guerra», e jornadeou também por Vista Alegre/Ponte do Dange, Songo e Carmona, tendo regressado a Portugal no dia 9 de Setembro de 1975,  ao lugar de Ermida, no município da Sertã. 
O que sabemos dele, por informação do furriel João Custódio Dias (TRMS), é que faleceu em Coimbra, a 26 de Dezembro de 2004. Hoje se passam 16 anos!|
Hoje o recordamos com saudade! RIP!!!


sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

5 287 - O Natal de 1974 dos Cavaleiros do Norte de Aldeia Vista e Vista Alegre

O comandante do BCAV. 8423 jantou em Aldeia Viçosa, na 2ª. CCAV. 8423, no Dia de Natal
de 1974. Da esquerda para a direita, capitão José Manuel Cruz, tenente-coronel Almeida
e Brito e alferes milicianos João Francisco e Jorge Capela
O grupo de transmissões da 1ª. CCAV. 8423, a de
Zalala, mas aqui em Vista Alegre: 1º. cabo Hélio,
Coelho (falecido em 2000), Almeida (de pé), Aires, 
Aires, 1º. cabo Lourenço, Costa (já falecido), Lago
e furriel miliciano João Dias


O comandante Carlos Almeida e Brito, chegado de férias europeias, participou na consoada natalícia do Quitexe e no Dia de Natal de 1974 deslocou-se Vista Alegre e Aldeia Viçosa, onde, respectivamente,  se aquartelavam a 3ª. CCAV. 8423 (a de Zalala) e a 2ª. CCAV. 8423.
Em qualquer dos lados, com palavras de incentivo e encorajamento ao pessoal das respectivas guarnições. 
«Fique-nos a certeza de estarmos a cumprir uma alta missão, ajudando a construir, em paz, um novo país de expressão portuguesa», disse Almeida e Brito, citando a mensagem do Comando do Sector do Uíge, na consoada quitexana de 24 de Dezembro de 1974.
A deslocação do dia 25, uma quarta-feira, envolveu refeição de Natal na 1ª. CCAV. 8423, a do capitão Davide Castro Dias, «tendo almoçado em Vista Alegre e visitado Ponte do Dange», onde peregrinou o espírito missionário da nossa jornada africana de Angola. 
Ao fim, da tarde e já no regresso ao Quitexe, consoou em Aldeia Viçosa, onde estava aquartelada a 2ª. CCAV. 8423, a do capitão José Manuel Cruz.
O ambiente e afectos, em ambos os lados, não foi muito diferente da véspera, no Quitexe, pois era uma época muito especial, muito sensível nos nossos corações, todos nós saudosos das tradições das nossas terras. Dos afectos e dos sabores gastronómicos das lareiras e cozinhas das nossas famílias.
Os furriéis milicianos Grenha Lopes e
Viegas (atrás), Fernandes e Ribeira, no
dia de Natal de 1974, no Quitexe

O Dia de Natal
no Quitexe

O Dia de Natal de há 46 anos, por mim e saído de sargento-dia na formatura das 8 horas da manhã, passei-o ao banho rápido e ao «mata-bicho» no bar e messe de sargentos - onde não falhavam os serviço sempre atentos do cozinheiro Duarte, do auxiliar Rebelo e também do barista Lajes. 
A noite tinha sido tranquila, com distribuição de bagaço (e brandy?) pelo pessoal de reforço, na ronda da meia noite. O que, com grande gosto nosso, os surpreendeu e... valorizou. Sentiram-se mais acarinhados e apoiados, acredito!
Feito o banho e saboreado o «mata-bicho» foi tempo, de minha parte, para um saltinho à Igreja da Mãe de Deus, onde o padre Albino Capela celebrou a mensagem do Menino nascido!
Voltei ao quarto e, até à hora do almoço, reli o o meu correio de Natal, recebido a montes, nos dias anteriores: de minha mãe, irmãs e cunhados, de familiares e amigos, de tanta gente. As palavras eram as de circunstância, no geral, mas apeteceu-me hoje, 46 anos depois, ressaboeará-las uma a uma, recapitulando as emoções deste dia tão especial da nossa formação católica e humana - e que foi vivido longe das neves e frios natais, em terras de África e de calor. Lá longe, tudo era vivido de forma muito especial.
Era vida de um jovem combatente de há 46 anos!
Cavaleiros do Norte de Santa Isabel:
Castelo e Cabecinha (de pé), Romão,  
Raúl Ferreira e Diamantino Tobias, 
que hoje festeja 68 anos em Leiria

Tobias e António de Santa Isabel
festejam 68 anos em Dia de Natal !

Os Cavaleiros do Norte António e Tobias, ambos da 3ª. CCAV. 8423, a da Fazenda Santa Isabel, festejam 68 anos no dia de Natal de 2020.
António Joaquim da Silva António foi soldado atirador de Cavalaria e regressou a Portugal no dia 11 de Setembro de 1975, a Alfragide, no município de Oeiras. Mora agora no Pragal, em Almada.
Diamantino Rodrigues Tobias também foi soldado atirador de Cavalaria e no mesmo dia regressou a Pernelhas, lugar da freguesia de Parceiros, em Leiria, onde ainda reside.
Ambos passaram também pela vila do Quitexe e cidade de Carmona, na sua jornada africana do Uíge angolano e sempre sob o comado do capitão miliciano José Manuel Fernandes! 
Parabéns para ambos!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

5 286 - A noite de consoada de 1974 dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423!

O Natal de 1974, no Quitexe. Sentados e de frente, o capitão Fernandes,  furriel Reino,
o comandante 
Almeida e Brito Armando Silva, capitães Falcão e Oliveira e tenente
Mora. A olhar de frente e 
bigode, o alferes Hermida, Graciete Hermida, Margarida
Cruz,  alferes Cruz e esposa do tenente Mora. De costas, sargento  
ajudante 
Machado (a fumar), neto  e filha do capitão Oliveira, NN e esposas do capitão 
Oliveira e tenente Mora

Natal de 1974 no Quitexe. De frente, os furriéis
milicianos Rocha (de bigode), Fonseca (a fumar), Viegas (a
rir), Belo (de óculos). Ribeiro e (???), À direita, Monteiro,
Cândido Pires, Machado (a fumar) e Costa (a sorrir). De pé,
o soldado Lajes, do bar de sargentos


A noite 24 de Dezembro de 1974, foi de consoada natalícia no Batalhão de Cavalaria 8423 - os Cavaleiros do Norte. 
Houve festa, assim, nos aquartelamentos o Quitexe (com a CCS e a 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel), em Aldeia Viçosa (2ª. CCAV. 8423) e em Vista Alegre (3ª. CCAV. 8423, ida de Zalala).
«Realizou-se a tradicional consoada, com a presença de todo o pessoal da CCS e da 3ª. CCAV., bem assim das 

Natal de 1974 em Vista Alegre (3ª. CCAV. 
8423). Quem os sabe identificar?
famílias», frisa o livro «História da Unidade».

As esposas dos oficiais, com a filha do capitão Oliveira e (se me lembro bem) a Irmã Augusta (irmã do padre Albino Capela) esmeraram-se na preparação da ementa natalícia e, recorda o alferes Cruz, «penso que estavam representados todos os sabores de todos os cantos do país, desde o Algarve a Trás-os-Montes», obviamente para agradar as paladares diferentes dos Cavaleiros do Norte, oriundos um pouco de todos os cantos do país, muitos deles (e por isso mesmo) com diferentes costumes hábitos, sabores e costumes natalícios.
O comandante Almeida e Brito já tinha chegado de férias, de Lisboa, e participou no evento -na mesa de honra e ladeado pelos capitães José Paulo Fernandes, José Paulo Falcão e António Oliveira e os mais novos sargentos (o furriel Armindo Reino) e praças (Armando Silva), ambos da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel e, ao tempo, já aquartelada no Quitexe.
O bacalhau foi rei da consoada, mas também não faltou o polvo e outros pratos típicos da época - enchendo as compridas mesas do refeitório. Dos doces e para além da aletria, rabanadas, mexidos e sopas secas, ainda veio o queijo, o arroz-doce, o leite creme e outros. Quanto a bebidas, havia para todos os gostos e os bravos e nostálgicos Cavaleiros do Norte não se fizeram rogados.

Natal de 1974 em Natal de 1974 em Aldeia 
Viçosa (3ª. CCAC. 8423): furriéis milicianos Matos e 
Mourato (tapado), 1º. sargento Fernando Norte e, à 
frente, furriel miliciano Carlos Letras

De gatas até às
casernas e gatas 

O alferes Jaime Ribeiro, comandante do Pelotão de Sapadores e à conversa com o alferes Cruz, recordou-lhe que «era tanta a quantidade e a variedade» que alguns dos bravos militares do BCAV. 8423 «até entraram de gatas nas suas casernas e quartos».
«Acho que isto - disse o alferes António Albano Cruz - nos ajudou a criar a nossa personalidade, a a nossa maneira se ser e estar e a forças com que agora, nos momentos difíceis que atravessamos, tanto jeito ou falta nos faz».
As guarnições de Aldeia Viçosa (segunda foto) e Vista Alegre também não «jejuaram» nesta agora saudosa e então quente Noite de Natal, repetindo pratos e prazeres das boca. A noite, de verdade, era memorável e nas memórias dos Cavaleiros do Norte ficou. Desde há 46 anos!