CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

3 321 - A morte do 1º. cabo Santos, apontador de morteiros de Zalala!


Cavaleiros do Norte de Zalala. Nada mais nada menos que 8 furriéis milicianos: 
Américo Rodrigues, Jorge Barata e José Louro (atiradores), José António 
Nascimento (vagomestre), Eusébio Martins (atirador, falecido a 26/04/2014), Manuel 
Dinis Dias (mecânico, falecido a 20/10/2011) Victor Velez e Victor Costa (atiradores)

Manuel Gonçalves dos Santos,
1º. cabo apontador de morteiros
da 1ª. CCAV. 8423. Faleceu a 29
de Fevereiro de 2012, hoje se
completam 4 anos
O ano de 1975 não foi bissexto, não teve, pois, o dia 29 de Fevereiro. Foi um dia a menos no nosso caminho para Carmona, depois para Luanda e para Portugal e os nossos chãos natalícios. Seria um sábado, que foi 1 de Março desse ano, véspera da rotação para o BC12.
A data, 37 anos depois e já em 2012, está associada ao falecimento de um Cavaleiro do Norte da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala: Manuel Gonçalves dos Santos. 
Vítima de doença, em Ega, a sua terra natal, no município de Condeixa-a-Nova. Era 1º. cabo apontador de morteiros e, na sequência de um acidente, foi evacuado para o Hospital do Negage, depois para Luanda e para Portugal - muito provavelmente antes do regresso do Batalhão (em Setembro de 1975).
Socorri-me da memória e dos bons ofícios do (furriel miliciano TRMS) João Dias para lembrar o 1º. cabo Manuel Gonçalves Santos. Foi vítima do referido acidente, em dia indeterminado mas seguramente entre 21 de Dezembro de 1974 e 24 de Abril de 1975 - datas das saídas dos Cavaleiros do Norte da 1ª. CCAV. 8423, respectivamente de Zalala para Vista Alegre/Ponte do Dange e daqui para o Songo.
Um grupo, recordou o furriel João Dias, saiu para a caça e capotou o UNIMOG em que seguia. O 1º. cabo Santos ficou debaixo da viatura e, devido ao difícil posicionamento, levou tempo até que foi retirado e evacuado.
Nada mais conseguimos apurar, a não ser que era o associado nº. 6967 da Associação de Deficientes das Forças Armadas, o que permite concluir que terá regressado com mazelas físicas. Recordamo-lo com saudade, neste dia em que se passam 4 anos da sua morte. RIP!

domingo, 28 de fevereiro de 2016

3 320 - Anos na Maria Lázaro e partidos em Portugal



Francisco Neto (que hoje faz 64 anos), Viegas e Monteiro, três furriéis 
milicianos de Operações Especiais (Rangers) do PELREC da CCS dos 
Cavaleiros do Norte, no Quitexe, em 1974



Cavaleiros do Norte no Encontro de
Águeda, a 9 de Setembro de 1995. Em cima,
o furriel miliciano António Artur Guedes,
esposa e filho. E em baixo, quem são estes
dois companheiros?


O dia 28 de Fevereiro de 1975 acordou quente no Quitexe, sem grandes alterações ao habitual das últimas semanas. No Quitexe, em Aldeia Viçosa e Vista Alegre/Ponde do Dange, por onde jornadeavam os Cavaleiros do Norte.
O comandante Almeida e Brito uma vez mais foi a reunião de trabalho na ZMN, em Carmona, ultimando a rotação da CS e da 2ª. CCAV. 8423 para o BC12. Os serviços de ordem continuavam e levedava o entusiasmo da partida para a capital da província uíjana, para o BC12 - onde iríamos ocupar as instalações na estrada para o Songo. Confirmava-se, assim, a remodelação do dispositivo militar que se murmurava desde mo princípio do ano - que indicava que o BCAV. 8423 «iria sediar-se em Carmona», dado que, conforme se lê no Livro da Unidade, «o BC12, que desde 1961 guarnecera a capital do Uíge, iria ser extinto».
O dia foi também, mais pessoalmente falando, o do 23º. aniversário do furriel miliciano Francisco Neto - que comemorámos com ementa da mão de Maria do Lázaro - a cozinheira e mulher de vida de Pacheco, dono do restaurante do mesmo nome, mesmo em frente à Casa dos Furriéis e Messe de Oficiais.
Era sexta-feira, partiríamos no domingo seguinte e a festa de anos do Francisco Neto foi assim como que, também, a da nossa despedida da saudosa vila do Quitexe. Fem regada e melhor comida, já que D. Maria do Lázaro (que suponho ser de ascendência cabo-verdeana) tinha mãos de fada para a cozinha.
Em Portugal, registavam-se mas dois partidos políticos, para concorrerem á eleições constituintes: o Partido da Unidade Popular (PUP) e a Frente Socialistas Popular (FSP). Já íamos em 14 e até se anunciava o 15º.: o LCI (Liga Comunista Internacionalista). 
Só 7 viriam a eleger deputados: PS (115), PPD, actual PSD (81), PCP (30), CDS (16), MDP/CDE (5), UDP, agora integrado no Bloco de Esquerda  (1) e a Associação Para a Defesa dos Interesses de Macau, a ADIM (1).
Além destes, concorreram o Movimento da Esquerda Socialista (MES), Frente Socialista Popular (FSP), Frente Eleitoral Comunista/Marxista Leninista (FEC/ML), Partido Popular Monárquico (PPM), Liga Comunista Internacionalista (LCI), Centro Democrático de Macau (CDM) e o Partido de Unidade Popular (PUP). Alguns deles desapareceram do mapa político português.
- Anos do furriel Neto.
Ver AQUI

sábado, 27 de fevereiro de 2016

3 319 - Intensa politização no Uíge e greves no porto do Lobito

Cavaleiros do Norte na Fazenda Santa Isabel. Da esquerda para a direita, 
alferes Carlos Silva e Jaime Ribeiro, capitão José Paulo Fernandes,  comandante 
Almeida e Brito, um civil, capitão José Paulo Falcão (?) e alferes Augusto Rodrigues

O furriel António Chitas, de barbas e na
imagem de baixo, e família no encontro de 9 de
Setembro de 1995, em Águeda. Quem é o
Cavaleiro do Norte da foto de cima?

A 27 de Fevereiro de 1975, o comandante Almeida e Brito voltou a reunir na ZMN, em Carmona, ultimando os preparativos da rotação da CCS e da 2ª. CCAV. 8423 para o BC12. 
Era quinta-feira e o Quitexe e Aldeia Viçosa faziam contas aos dias que faltavam para 2 de Março, o da partida para a capital do Uíge. Mantinha-se a rotina: serviços de escala, visitas a fazendas e povos e «aprendizagem» no relacionamento com os movimentos - até porque a ZA dos Cavaleiros do Norte, principalmente influenciada pela FNLA e muito menos pelo MPLA (da UNITA pouco se ouvia falar...), era «zona de intensa politização» desses movimentos emancipalistas, que ao tempo faziam o seu caminho de transformação em partidos políticos.
Tal, refere o Livro da Unidade, «forçosamente virá a trazer-nos responsabilidades, honrosas por um lado mas extremamente difíceis e complexas, por outro» - já parecendo clara, ao tempo, a incapacidade de se entenderem minimamente.
Notícia do Diário de Lisboa de 27 de
Fevereiro de 1975, sobre as greves
do porto do Lobito
Na véspera (a 26), soube-se pelos jornais da reacção do MPLA às greves no porto do Lobito, que definiu como «manobra divisionista destinada a criar o caos». Do ponto de vista do movimento presidido por Agostinho Neto, a responsabilidade era de «um grupo de provocadores ligados à UNITA» e a greve, acrescentava, esteve na «origem dos incidentes verificados recentemente no porto do Lobito».
«Quem esta interessado em fomentar as greves?», perguntava o MPLA, apelando à «vigilância dos trabalhadores contra as manipulações dos inimigos do povo» e acrescentando que «não é com certeza o povo o beneficiado, nem ele pretende não trabalhar». 
«Fomentar uma greve para as actividades do porto é trair os interesses do povo», concluía o MPLA. Há 41 anos!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

3 318 - Para Carmona, para o BC 12, rápida e imediatamente...

Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa; os furriéis 
milicianos António Artur Guedes, José Gomes, Amorim Martins, António 
Carlos Letras e Jesuíno Pinto. À frente, dois praças não identificados. Quem são?

O BC12, em Carmona, a saída da cidade,
na estrada para o Songo

O comandante Almeida e Brito voltou a reunir em Carmona, a 26 de Fevereiro de 1975 e na ZMN, e ficou definitivamente definida a rotação do Batalhão de Cavalaria 8423. Da qual, de resto, já se vinha a falar, a ... murmurar. 
«Situação que só se definiu em 26 de Fevereiro, agora com a pressa de uma rápida e imediata mudança para o aquartelamento do BC 12, em extinção, o que só se conseguirá vir a realizar a 2 de Março», relata o Livro da Unidade.
As reuniões de trabalho sobre esta medida vinha a realizar-se de há vários dias  (19, 20 e 25, agora a de 26 e ainda as de 27 e 28 de Fevereiro) e foi definitivamente posta de parte a hipótese de os Cavaleiros do Norte irem para Luanda - onde eram desejados pela Região  Militar de Angola (RMA).
Os militares da CCS receberam a confirmação com satisfação - que, de resto, era extensiva a todo o Batalhão de Cavalaria 8423. Tratava-se, na prática, de mais um passo no tempo de comissão, que dia a dia íamos riscando no calendário.
Por essa altura recebi correio de Luanda, do meu amigo Alberto Ferreira, cano especialista da Força Aérea e companheiro das noites da boa vida: «Isto está uma m..., ninguém sabe no que isto vai dar, cá para mim ninguém se entende,  o Governo de Transição e os movimentos, vemos por aí malta armada por todos os cantos. Até miúdos, pá....».
Ainda pelo Quitexe, nem imaginávamos em que tranquilidade vivíamos. Que sabia? Ir para Carmona até seria a melhor solução.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

3 317 - Cavaleiros do Norte prepararam mudança para Carmona

Futebol no Quitexe. De pé, Grácio, José Gomes, Miguel Teixeira, 
Botelho, Miguel (páraquedista), Gaiteiro e Soares. Em baixo, Teixeira 
(pintor), Mosteias, Lopes, NN, José Monteiro e  Domingos Teixeira (estofador)

O 1º. sargento José Luzia no bar dos
sargentos do Quitexe, ladeado pelos furriéis
milicianos Monteiro e Viegas, todos da CCS

A 25 de Fevereiro de 1975, o comandante Almeida e Brito voltou a reunir na Zona Militar Norte (ZMN, para «ultimar os aspectos de rendição do BC12», a unidade e aquartelamento que os Cavaleiros do Norte iam substituir e ocupar na cidade de Carmona - a capital do Uíge. 
O encontro de trabalho 
O 1º. sargento Fernando Norte,
da 2ª. CCAV. 8423, a de
Aldeia Viçosa
seguia-se a dois (de 19 e 20) e ainda se sucederiam mais três (a 26, 27 e 28 desse mês de Fevereiro de há 41 anos). Ao mesmo tempo, «foram estabelecidos inúmeros contactos entre a CCS e a 2ª. CCAV. 8423, com o BC12», já que, como se lê no Livro da Unidade, «serão estas duas unidades que rodarão para Carmona». A CCS comandada pelo capitão SGE António Martins de Oliveira, a 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa pelo capitão miliciano José Manuel Cruz. Estes contactos, porém, terão tido aprofundada colaboração dos dois 1º. sargentos das respectivas Companhias - José Claudino Luzia e Fernando Norte.
Tudo se aprontava, pois, para a rotação para a capital do Uíge! Tão esperada e desejada! No Quitexe, continuaria a 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel, comandada pelo capitão miliciano José Paulo Fernandes. Em Vista Alegre e Ponte do Dange, a 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala, comandada pelo capitão miliciano Davide Castro Dias. Porém, e segundo o Livro da Unidade, «a aguardar a possibilidade de rodar para o Songo».


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

3 316 - Férias em 1974 e dias de espera em 1975, para Carmona


Cavaleiros do Norte no Quitexe, em Dezembro de 1974 - todos furriéis 
milicianos. Atrás, João Cardoso, José Fernando Carvalho, Francisco 
Bento, Luís Costa (?, dos Morteiros)e António Fernandes. À frente, Nelson 
Rocha, Viegas, Norberto Morais, José Pires, José Carlos Fonseca e 
António Flora. Mais à frente, Delmiro Ribeiro

João Aldeagas e José Louro (tapado pela
flor), dois furriéis milicianos de Zalala, a
9 de Setembro de 1995, no encontro de Águeda 


A expectativa sobre a nossa rotação para Carmona (actual cidade do Uíge) era cada vez maior, nas não nos chegavam notícias definitivas - sabendo-se, porém, que já era seguro que não iríamos para Luanda (onde nos desejava a Região Militar de Angola), mas para o BC12, em Carmona.
A 24 de Fevereiro de 1975, a FNLA comprometeu-se a libertar um dirigente do MPLA, detido no decorrer dos incidentes na cidade de Dalatando (então Salazar), assim como, segundo o Diário de Lisboa, «a levantar os controlos do acesso a Dalatando». 
Dalatando (ou a Salazar do tempo colonial) era uma cidade relativamente perto do Quitexe e um dos destinos dos passeios militares que ao tempo de realizavam, nomeadamente ao fim de semana. Assim como a Malange, Cacuso e às Quedas do Duque de Bragança. Ficava a uns 200 quilómetros, distância que, em termos de Angola e em estradas de asfalto, como era o caso, era como ir ali e vir.
A véspera (dia 23 e domingo) tinha sido de futebol, em Portugal. O Benfica recebeu e venceu (2-0) o SC de Espinho e o Sporting foi vencer (2-1) a fato, enquanto o FC Porto perdeu (0-2) em Guimarães. Outros resultados: Boavista-Cuf, 6-1; Leixões.Oriental, 2-1; U. Tomar-Belenenses, 0-1; Atlético-Olhanense, 1-0; V. Setúbal-Académico, 2-0. Este Académico é a actual Académica da Coimbra. 
Os relatos era avidamente escutados no Uíge angolano, pelas guarnições militares (e mesmo pelos civis) e Benfica liderava a prova, com 38 pontos, seguido do Sporting (35), FC Porto (32), Guimarães (31), Boavista (29) e Belenenses (24), Farense (23), Leixões (22), Setúbal (21) e Atlético (20), CUF (19), U. Tomar (18), Oriental(15), Académico/a (14), SC Espinho (13) e Olhanense (12). Ao tempo, a vitória valia 2 pontos e um o empate.
Francisco Miranda, atirador do
PELREC e vencedor da Volta a
Portugal em Bicicleta de 1980
Um ano antes, os futuros 
 Cavaleiros do Norte gozavam férias, depois da instrução especial da Escola de Recrutas, no Destacamento do RC4, em Santa Margarida. Já todos os praças sabiam da mobilização para Angola (a melhor que os poderia acontecer, entre ir para lá, para Moçambique e muito menos para  Guiné). E assim foi! Um atirador do PELREC não foi, o Francisco Miranda - que fez troca com outro militar.Viria a notabilizar-se com ciclista profissional e, em 1980, vencedor da Volta a Portugal em Bicicleta, ao serviço do Lousa - somando as camisolas verde (classificação por pontos) e branca (combinado) à amarela. Em Voltas, ganhou 3 etapas e o currículo inclui dois títulos nacionais de rampa (pelo Sporting e Bombarralense) e um Grande Prémio JN.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

3 315 - Incidentes em Salazar e precauções no Quitexe!

Grupo de Cavaleiros do Norte da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala. Atrás, o quinto é o 1º. cabo Gigante (de 
cor e um excelente electricista), furriel Plácido Queirós, NN, furriel Eusébio Martins (falecido a 16 de Abril de 
2014, em Belmonte e de doença), António Pedro Coelho (atirador), NN e NN (de cor) e, o último, o Carlos 
Alberto da Costa Santos (o Plateia, que vive em Pataias). Em baixo, Adélio Jacinto Correia da Silva, o PM (vive 
em Pataias), José Pereira da Costa Aires, de transmissões (Baixa da Banheira), José Baptista Santos, atirador 
e impedido da cantina ( Monte da Caparica), NN (de cor) José Azevedo Moura, clarim e impedido da 
messe de oficiais (Quinta do Conde), NN e N (de cor) e José Borges Martins, atirador.
Quem ajuda 
identificar os outros companheiros da jornada africana do Uíge angolano?

Cavaleiros do Norte da 1ª. CCAV. 8423, a de
Zalala, no encontro de Águeda, a 9 de Setembro
de 1995: furriel Plácido Queirós, capitão Castro Dias,
NN e furriel Mota Viana. Quem é NN, o
companheiro vestido de azul?

A noite angolana de 23 de Fevereiro de 1975, um domingo, foi de mais mortos em Angola, nomeadamente em Salazar (actual Dalatando), onde «elementos do MPLA cercaram e dispararam sobre a delegação da FNLA, gritando slogans «Abaixo a FNLA imperialista!». Morreram dois civis: um branco e um negro. E registaram-se dois feridos.
Salazar (ou Dalatando) não era assim tão longe do Quitexe - uns 200 quilómetros, mais dez menos dez... - e a situação suscitou algumas preocupações entre a guarnição dos Cavaleiros do Norte. Por lá, pela nossa Zona de Acção (ZA), decorria «uma intensa politização dos movimentos emancipalistas», cada qual, naturalmente, querendo impôr-se junto da população. A FNLA era, segundo o Livro da Unidade, o movimento predominante, sendo «a área do Quitexe é quase na íntegra da FNLA», enquanto nas áreas de Aldeia Viçosa (onde estava a 2ª. CCAV. 8423) e Vista Alegre (a 1ª. CCAV., a de Zalala) se verificava «uma mesclagem deste movimento com o MPLA, o que tem dado azo a  situações de atrito entre eles».
Ora, registando-se incidentes como os de Dalatando, tão perto do Quitexe!, não era dispicienda a expectativa de se poderem repetir na nossa ZA. Por lá, as Forças Armadas Portuguesas anunciaram «medidas firmes para evitar a repetição destes incidentes». Tínhamos de estar em alerta permanente. De resto, já aconteciam noutras zonas da imensa Angola. Em Nova Lisboa, por exemplo, onde se combateram forças da Facção Chipenda e do MPLA, com um morto.
Os Cavaleiros do Norte, assim, mantendo o seu pano de visitas a fazendas e povos, apertaram as regras de segurança na vila quitexana. Não fosse o diabo tecê-las!!!
Ao mesmo tempo, o MPLA reagia à integração da Facção Chipenda na FNLA. «As forças imerialistas ao servio do sr. Daniel Chipenda não eram o resultado de uma revolta e muito menos constituíam uma dissidência no seio do MPLA. Pelo contrário, provam-no os factos agora conhecidos, constituíram sempre um corpo estranho imposto pelo imperialismo no seio do movimento, para criar a confusão política e praticar actos de diversão  militar», referia um comunicado do MPLA, concluindo que «o pedido de protecção à FNLA vem confirmar e clarificar a actuação deste agente imperialista no seio e contra o MPLA».
- NOTA: Identificações do furriel miliciano João 
Dias (TRMS), com  a indicação de que era pessoal 
do 2º. pelotão/grupo de combate, comandado 
pelo alferes Carlos João Sampaio.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

3 314 - Escola de Recrutas do RC4 e a Revolta do Leste/Chipenda

Os futuros furriéis milicianos Neto, Viegas, Matos (da 2ª. CCAV. 8423) 
Monteiro, no RC4, em Santa Margarida, há 42 anos...

Cavaleiros do Norte no Encontro de 9 de
Setembro de 1995, em Águeda. Quem são eles?
Quem os pode identificar?

Há precisamente 42 anos, a 22 de Fevereiro de 1974, terminaram em Santa Margarida os exercícios finais da Escola de Recrutas (ER) do Batalhão de Cavalaria 8423 - os futuros Cavaleiro do Norte (de Angola). Era sexta-feira e o pessoal, após esta «primeira parte da chamada instrução especial», na já nossa «tão conhecida Mata do Soares», como se lembra no Livro da Unidade, foi dispensado para «um ligeiro interregno» - forma de dizer que tivemos uma semana de férias. Até 4 de Março, quando «começaram a efectuar a sua apresentação os  especialistas que haviam de completar os efectivos do batalhão».
Um ano depois e já no 9º. mês de comissão em Angola, faziam-se malas no Quitexe (na CCS) para a iminente rotação para Carmona e para o BC12, prevista para 2 de Março.  Mas a grande, grande notícia... - que, de algum modo, poderias ter influência na  vida dos Cavaleiros do Norte - era a da integração da Facção Chipenda na FNLA. 
Notícia do Diário de Lisboa de 22 de
Fevereiro de 1975, sobre a integração da
Facção Chipenda na FNLA
O próprio Daniel Chipenda, que tinha sido oficialmente expulso do MPLA, falando em Kinshasa, deu conta que «a partir de hoje colocamos as nossas tropas sob o alto comando do Estado Maior General da FNLA, com a condição de os nossos oficiais continuarem a comandar as nossas unidades». Unidades que envolveriam cerca de 3000 homens armados. 
O MPLA, na mesma data, reagiu em comunicado, anunciando que os comandantes Kactchukutchuku, Ácido, Luhele e Muhongo Nabanca, todas da Facção Chipenda (ou Revolta do Leste, como também era conhecida) se tinham rendido às FAPLA. Até aí, citava o MPLA, estavam «integrados nas tropas imperialistas de Daniel Chipenda» e tinham-se rendido na área do Cazonzo.
«Estão em processo de integração nas FAPLA», acrescentava o comunicado do MPLA, concluindo que estas rendições se seguiam às dos comandantes Mafuta, Cow-Boy, Pela Virianga e Bala Direita, que já tinham acontecido em Janeiro (de 1975).
Daniel Chipenda, após esta rendição, passou a ser o representante da FNLA no Governo de Transição de Angola. Voltou ao MPLA em 1992 e foi embaixador de Angola no Cairo (Egipto). Faleceu em Cascais, aos 65 anos, a 28 de Fevereiro de 1996. 

domingo, 21 de fevereiro de 2016

3 313 - Cavaleiros para Carmona e a independência de Angola

Os alferes milicianos António Manuel Garcia (Rangers) e António Albano
Cruz (mecânico), na Fazenda Vamba, zona de acção dos Cavaleiros do Norte

O furriel José Monteiro e a esposa Nani,
no encontro de Águeda, a 9 de Setembro de 1995



Os dias de Fevereiro de 1975, há 41 anos, iam correndo, já estávamos a 20, e o comandante Almeida e Brito voltou a reunir em Carmona, na Zona Militar Norte (ZMN) e para continuar a preparar a rotação dos Cavaleiros do Norte. Ia ser extinto o BC12, baluarte militar defensivo da cidade, desde 1961, e para lá iriam a CCS e a 2ª. CCAV. 8423.
A 3ª. CCAV. 8423, do capitão José Paulo Fernandes, a da Fazenda Santa Isabel, continuaria aquartelada no Quitexe e a 1ª. CCAV. 8423, a do capitão miliciano Davide Castro Dias, continuaria em Vista Alegre e Ponte do Dange, aguardando «oportunidade de rotação para o Songo».
A mudança, não correspondendo à expectativa maior da guarnição (que era, muito naturalmente, a de voltar a Portugal e aos seus chãos natais) agradava, mesmo assim. Era mais um passo para o regresso, a ida para uma cidade e para o que atraía e oferecia.
O Diário de Lisboa de 20 de Fevereiro
de 1976 anunciava o reconhecimento
de Angola
Um ano depois, já em Portugal e com a independência angolana desde 11 de Novembro de 1975, estava iminente o seu reconhecimento, por Portugal. O Conselho de Revolução (CR) reuniu a 20 de Fevereiro de 1975 e o capitão Sousa e Castro e o comandante Victor Crespo, seus membros admitiam-o como «muito possível para hoje».
«É evidente que a República Popular de Angola é um facto consumado. E se efectivamente os interesses, sobretudo os dos retornados, não são defendidos na situação actual, poderão eventualmente ser defendidos numa situação diferente», disse Sousa e Castro, confirmando, sobre o reconhecimento português, que «o Conselho da Revolução já havia chegado a um consenso», embora não confirmasse se era favorável, ou não!
Mais de três meses depois da proclamação de Agostinho Neto e do MPLA (já não falando das da FNLA e da UNITA), Portugal tardava em reconhecer a independência da sua ex-colónia.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

3 312 - Amazona Ana Viegas é Mestrada em Ciências do Sono

Óscar Dias (presidente do júri), Teresa Paiva (orientadora), mestrada Ana 
Isabel Viegas e as juradas Marta Gonçalves e Carla Bentes, no final da 
defesa do trabalho, na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

A mestrada Ana Isabel Viegas, ladeada
pelos babados pais, depois da tese ontem
defendida na Faculdade de Medicina da
Universidade de Lisboa
Hoje, o blogue Cavaleiros do Norte abre uma excepção, para falar não da jornada africana mas do mestrado de Ana Isabel Viegas em Ciências do Sono, com a tese «Descrição de uma população narcoplética portuguesa», ontem defendida na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Com 19 valores!
O estudo de «uma doença rara», com definiu a doutora Marta Gonçalves, a principal arguente do júri, implicou mais de 4 rigorosos anos de trabalho e investigação, que levaram a uma tese de «grande honestidade científica, que queria realçar», como sublinhou a mesma jurada, acrescentando que «está bem estruturada, bem elaborada e bem escrita».  
A doutora Carla Bentes, também jurada, definiu o trabalho como «uma grande, grande tese...» e de Ana Isabel Viegas comentou que «estou cheia, cheia de inveja...», sugerindo-lhe que «tem de continuar este trabalho na doença do sono e tornar a narcoplésia mais conhecida». 
Óscar Dias, presidente do júri, felicitou a Mestre de Ciências do Sono, na específica área da narcoplésia: «Aprendi muito consigo, felicito-a pela clareza e rigor deste estudo genético. Está de parabéns. A nossa Faculdade ficou hoje mais rica!... Os meus parabéns!».
A professora Teresa Paiva, orientadora do mestrado de Ana Isabel Viegas, desta disse que «fez uma enorme evolução e atingiu maturidade científica que torna obrigatório chegar a projectos  mais altos, ao doutoramento», sugerindo-lhe a candidatura. 
O júri, depois da tese defendida em hora e meia, reuniu e atribuiu 19 valores a Ana Isabel Loureiro Viegas, Amazona do Norte da CCS (com participação em alguns encontros), filha do furriel Viegas.
Cá por casa, ficámos todos felizes e orgulhosos!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

3 311 - Comandante em Carmona, a rendição do BC12!


Cavaleiros do Norte da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel: os furriéis 
milicianos José Lino (mecânico), Agostinho Belo (vagomestre) e António Luís 
Gordo (atirador de cavalaria)

António Chitas (de barbas) e Mário Matos (de
bigode), dois furriéis milicianos da 2ª. CCV. 8423, a
de Aldeia Viçosa. Quem é o Cavaleiros do Norte da
esquerda? E quem é o que está entre Chitas e Matos?

O comandante Almeida e Brito esteve na ZMN a 19 de Fevereiro de 1975, para «ultimar os aspectos da rendição do BC12». Este tipo de reuniões de trabalho repetiu-se a 20, 25, 26, 27 e 28 - o que, na prática, antecipava a rotação dos Cavaleiros do Norte para a cidade de Carmona. Já não era para Luanda, o que nos desgostava por um lado e agradava por outro. Neste caso, porque era pacífica a situação no Uíge; naquele, porque a capital fervilhava de pequenos e grandes incidentes e não era raro surgirem  notícias de mortos e de muitos feridos.
O então tenente-coronel (e futuro general) Carlos José Saraiva de Lima Almeida e Brito, normalmente, era acompanhado do capitão José Paulo Falcão - o oficial adjunto e de operações (que, de resto, já interinamente comandara o BCAV. 8423) - e estas reuniões de trabalho analisavam os pormenores processuais da rendição de pessoal do BC12.
Por Luanda, a propósito, é que as coisas continuavam pouco pacíficas. O Diário de Lisboa de 18 de Fevereiro dava conta de os industriais pesqueiros «uma maior repressão à banditagem que campeia no porto pesqueiro de Luanda, o que está a provocar grandes prejuízos à indústria e a prejudicar o abastecimento de pescado à capital».
A 19, hoje se fazem 41 anos, Agostinho Neto presidente do MPLA e depois de uma visita a Cabinda, partia para Brazazaville e Ponta Negra, onde iria conferenciar com dirigentes da República do Congo. No enclave e durante um comício, recordou aos guerrilheiros do MPLA «o internacionalismo da luta travada, que fez das vitórias alcançadas por eles vitórias dos povos das outras ex-colónias portuguesas, visto serem os mesmos objectivos os que se pretendem alcançar e o mesmo inimigo a combater».
Citou o povo português, que «conseguiu expulsar o fascismo e o colonialismo» e que o povo de Angola «tendo-lhe sido reconhecido o direito à independência, não tem contradições especiais com o povo português».

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

3 310 - Escola de Recrutas, há 42 anos, dos Cavaleiros do Norte

Cavaleiros do Norte da CCS no encontro de Águeda, a 9 de Setembro de 
1995: o 1º. cabo escriturário José Lopes Esteves (de Viseu) e o Aurélio 
Júnior (Barbeiro) atirador de Cavalaria do PELREC


Cavaleiros na Escola de Recrutas, há 42 anos: um
rádio-telegrafista, o alferes Lains dos Santos e
os furriéis Plácido Queirós e Américo Rodrigues
Recuando no tempo, a 18 de Fevereiro de 1974 - já lá vão 42 anos!!!... -, os então futuros Cavaleiros do Norte iniciaram «os exercícios finais da Escola de Recrutas», na que o Livro da Unidade refere como «tão conhecida Mata do Soares», nos arredores de Santa Margarida.
O (nosso) Batalhão de Cavalaria 8423 estava aquartelado no Destacamento do Regimento de Cavalaria 4 (RC4), onde os primeiros contactos formais enquanto unidade e para os quadros operacionais tinham acontecido a 8 de Janeiro - seguindo-se, gradualmente, a apresentação dos especialistas. «Completou-se, desse modo, a primeira parte da chamada instrução especial», refere o Livro de Unidade.
Um ano depois, já em Angola e no Uíge, continuava a expectativa sobre a rotação do batalhão: para Carmona ou para Luanda? Aqui, a esse dia 17 de Fevereiro de 1975, a FNLA exigia do Governo de Transição, segundo leio no Diário de Lisboa, «a dissolução imediata das chamadas comissões populares de bairro», afectas ao MPLA, garantindo que «continuará a rejeitar todo e qualquer acto susceptível de provocar uma guerra fratricida» e, por outro lado, que «não permitirá a instalação de um clima de insegurança e de anarquia no país».
Notícia do Diário de Lisboa de 18 de
Fevereiro de 1975, sobre as Comissões
Populares de Bairro do MPLA
Continuava a questão Chipenda e o MPLA, através de Lúcio Lara, chefe da delegação de Luanda acusou este dissidente de «se vender aos interesses estrangeiros» e de «lançar a instabilidade no nosso país». O dirigente do movimento de Agostinho Neto considerou também que «os elementos da Facção Chipenda são veteranos de guerra contra o colonialismo português» e exortou-os a «lutar patrioticamente por uma Angola melhor, mas sem armas ou pelo menos sem armas que ameacem o nosso povo».
Os partidários de Daniel Chipenda tinham sido expulsos de Luanda na 5ª-feira anterior (dia 13 de Fevereiro), pelas forças do MPLA que, como reportava o Diário de Lisboa do dia 18, «invadiram os escritórios que ocupavam na capital». Mortos, foram 20 e muitos feridos!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

3 309 - Visitas a fazendas e povos! UNITA, FNLA e Chipenda!!!

Três Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa: os 
furriéis milicianos Amorim Martins (mecânico), Abel Mourato 
(vagomestre) e Mário Matos (atirador de Cavalaria)


O 1º. cabo condutor António Breda e
o 1º. sargento Gualdino (do Comando do
Sector), no Encontro de Águeda, a
9 de Setembro de 1995
O presidente da FNLA afirmou há precisamente 41 anos, que «as dissidências registadas no MPLA deixaram de ser um problema de ordem interna para se transformarem num problema nacional». Holden Roberto, a 17 de Fevereiro de 1975, falava em Abidjan, capital da Costa do Marfim - onde conferenciou com o presidente Félix Houphouet-Boigny -, e anunciou ir pessoalmente «efectuar diligências» no sentido de o problema «ser resolvido de forma fraterna, portanto através do diálogo», não precisou, porém, que dinâmicas iria concretizar.
Ao mesmo tempo, em Luanda, a UNITA, pela voz do secretário geral Miguel Nzau Puna, afirmou «não pôr objecções à adesão do grupo chefiado por Daniel Chipenda à UNITA ou à FNLA». O grupo de Chipenda, recordemos, tinha ido expulso das suas instalações de Luanda, dias antes, por, recordava o Diário de Lisboa, «um ataque desencadeado pelo MPLA».
Estas notícias chegavam com algum atraso ao Uíge, nem sempre com pormenores suficientes para um bom entendimento da situação e normalmente pela imprensa que, tanto quanto me lembro, não era de todo imparcial.
As guarnições do Quitexe (onde aquartelavam a CCS e a 3ª. CCAV. 8423), de Aldeia Viçosa (2ª. CCAV. 8423) e Vista Alegre/Ponte do Dange (1ª. CCAV. 8423) mantinha o seu quadro operacional relativamente reduzido, todavia, segundo o Livro da Unidade, «com muitas visitas a fazendas e povos», o que, sublinha este histórico documento, «levava a percorrer a rede estradal á nossa responsabilidade com elevada frequência». Íamos, por esse tempo de Fevereiro de 1975, no 9º. mês de comissão e cada vez mais expectantes quanto ao regresso a casa. Quando seria? Quando? Sabemos agora que só em Setembro desse mesmo ano, após 15 meses de mobilização.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

3 308 - Futebol em onda média! O João Lino de Santa Isabel!

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João Lino em terras uíjanas de Santa Isabel: o terceiro, a contar da esquerda, 
no quarteto; o da direita, na foto da direita. Faria hoje 64 e faleceu há quase 33 
anos. Era soldado atirador de Cavalaria da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel. 
Quem reconhece os restantes Cavaleiros do Norte? 

Os furriéis Pires (com o filho Fernando, de óculos, 
à sua direita) e Neto (de gravata e camisa 
avermelhadas e bigode) e sua esposa Ni, na foto 
de cima (a 115) e de frente. Na de baixo (114) e 
também de frente, da direita para a esquerda, 
1º. sargento Luzia e o 1º. cabo Florindo. Todos 
em Águeda, a 9 de Setembro de 1995

A tarde de 16 de Fevereiro de 1975, um domingo, foi tempo, lá pelo Uíge angolano, de colar os ouvidos aos transistores para ouvir o relato do FC do Porto-Benfica - que os encarnados venceram (3-0), com golos de Victor Martins, Moínhos e Toni. 
O clube da Luz, à 22ª. jornada (de 30) e no tempo de dois pontos por vitória, continuava na frente do campeonato, com 36 - seguido do Sporting (34) e do FCP (32). Os relatos chegavam-nos através da onda média da Emissora Nacional (a actual RDP) e eram religiosa e avidamente escutados na guarnição, naturalmente dividida em paixão pelos três clubes maiores - os de então e de hoje: Benfica, FC Porto e Sporting. Seguiam-se, na classificação, Guimarães (29 pontos), Boavista (27), Farense (23) e Belenenses (22), Leixões (20), Setúbal, CUF (19), Atlético e União de Tomar (18), Oriental (15), Académico(a) (14), Sp. Espinho (13) e Olhanense (12).
O dia foi também de anos (os 23!) do soldado atirador de Cavalaria João Lino Oliveira da Silva, da 3ª. CCAV. 8423, a de Zalala mas ao tempo já aquartelada no Quitexe - desde 10 de Dezembro de 1974, com a CCS. 
João Lino Oliveira da Silva,
Cavaleiro do Norte de
Santa Isabel, soldado atirador
de Cavalaria, em tempo da  jornada
africana do Uíge Angolano, na
3ª. CCAV. 8423
João Lino, cumprida a sua (e nossa) jornada africana do Uíge Angolano, regressou à sua terra natal de Torre do Bispo, em S. Vicente de Paul (Santarém) e fez vida como trabalhador de uma empresa de tubos de PVC (a Ipetex - Sociedade de Indústrias Pesadas Têxteis, em Vila Chão de Ourique, perto do Cartaxo). Compunha o rendimento familiar numa oficina (própria) de reparação de motorizadas e ainda «acudia» a outros pequenos oficiais desta área. Tragicamente, a 14 de Março de 1983 - três meses após o seu casamento... -, foi atropelado por um camião, quando seguia na sua motorizada, em S. Pedro (Portela das Padeiras), no cruzamento de Santarém para Rio Maior. O camião passou-lhe por cima e teve morte imediata.
«Era um bom homem, um amigo!...», recordou, agora, o sobrinho Pedro Silva, que ao tempo tinha 11 anos e dele tem «muito boas recordações».
Aqui o lembramos hoje, quando faria 64 anos, evocando o Cavaleiro do Norte sempre humilde, gentil e disponível, que soube honrar a farda e a bandeira (Portuguesa) que o levaram ao país (Angola) que nascia e onde orgulhosamente ele (como todos nós) cumpriu(imos) um dever de honra! Com garbo e sem mácula!
Até um destes dias, João Lino!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

3 307 - Cavaleiros em passeio, Chipenda, MPLA e UNITA

Grupo de Cavaleiros do Norte de Zalala, já em Vista Alegre e Ponte do Dange, 
em turismo para as Quedas do Duque de Bragança. De pé,  Almiro Maciel, 
furriel João Dias,  alferes José Lains Santos, furriel Évora Soares (já falecido, 
em Odivelas) Carlos Carvalho e Famalicão. Em baixo, Carlos Costa 
(transmissões) e Fernando Silva (condutor), ambos já falecidos


Furriéis milicianos da 3ª, CCAV. 8423: João
Cardoso e Delmiro Ribeiro (à esquerda), Delmiro
Ribeiro e Luís Capitão  (falecido, por
doença, a 5 de Janeiro de 2010), no encontro de
 Águeda,  9 de Setembro de 1995


A 15 de Fevereiro de 1975, um sábado, os Cavaleiros do Norte da 1ª, CCAV. 8423 - a de Zalala, mas ao tempo já em Vista Alegre e Ponte do Dange - preparavam mais uma viagem turística às Quedas do Duque de Bragança.
Eram tempos pacíficos os que se viviam no Uíge angolano e as guarnições do Batalhão de Cavalaria 8423, cumprindo rigorosamente os seus serviços de ordem, expectavam sobre o seu futuro próximo (quando vamos embora?...) e iam riscando dias no calendário.
O mesmo não acontecia por Luanda, onde, na sequência dos incidentes do dia 13 - o ataque do MPLA às delegações da Facção Chipenda -, forças militares mistas, formadas pelo Exército Português, MPLA, FNLA e UNITA continuavam a ocupar as instalações do Grupo de Daniel Chipenda.
Notícia do Diário de Lisboa sobre a viagem
de Agostinho Neto a Cabinda, há 41 anos.
O Hospital de S. Paulo, por outro lado, estava à guarda da FNLA e da UNITA e onde, segundo o Diário de Lisboa, se «encontra(va)m os feridos, entre eles 7 partidários de Chipenda» - de quem não se sabia o paradeiro, admitindo o DL que «teria já abandonado Angola». Daniel Chipenda, recordemos, tinha sido expulso do MPLA, depois de ter «disputado a chefia do MPLA ao presidente Agostinho Neto». Tinha, entretanto, entrado em Angola, pela fronteira leste, um mês antes e com «cerca de 3000 homens armados».
Um informador militar português, entretanto, desmentiu que a facção Chipenda tivesse atacado um hospital do MPLA. no Luso - como ontem aqui falámos, sob reserva. O Conselho de Defesa de Angola, por sua vez, criticou «a actuação do MPLA, face à neutralização da Facção Chipenda»..
O dia foi também tempo de Agostinho Neto viajar para Cabinda, onde iria presidir a um comício do MPLA. Em Paris, Wilson Santos, chefe da Delegação da UNITA em Luanda e membro do Comité Central, declarou que o seu movimento «quer edificar um sociedade socialista para Angola, para a Angola independente, de acordo com a história e com as realidades do país».

domingo, 14 de fevereiro de 2016

3 306 - Passeios às Quedas Duque de Bragança e conflito MPLA/Chipenda

O mês de Fevereiro de 1975 foi tempo de excursões às famosas Quedas 
do Duque de Bragança. A imagem mostra um grupo da 3ª. CCAV. 8423, 
incluindo o alferes Carlos Silva (assinalado a amarelo)


O furriel José Pires, de Transmissões, em
passeio turístico nas Quedas do Duque de
Bragança,em Fevereiro de 1975


O tempo de jornada africana do Uíge angolano foi, também, tempo de passeios turísticos. promovidos pelo oficial de Acção Psicológica - o alferes António Garcia, que substituíra o alferes José Leonel Hermida, que saiu do BCAV. 8423.
(...) foi possível ao BCAV. pensar em realizar passeios de fim-de-semana para alguns dos seus militares, nomeadamente a Malange, aproveitando ainda para mostrar Duque de Bragança, Cacuso e, em alguns casos, Salazar», reporta o Livro de Unidade. 
Duque de Bragança era (é) terra das famosas Quedas do Duque de Bragança (conhecidas por Quedas de Kalandula, desde a independência de Angola) e foi visita de sucessivas «excursões» de berliets militares dos Cavaleiros do Norte.  iniciativa «foi do maior agrado», como reata o Livro da Unidade, e de tal forma que «teve extensão a todas as subunidades, servindo de molde a outras unidades da ZMN».
As quedas de Kalandula ficam no rio Lucala, o mais importante afluente do Kuanza, e a 420 quilómetros de Luanda. Têm 410 metros e 105 de altura, sendo as segundas maiores de África.
Titulo do Diário de Lisboa, sobre os
incidentes MPLA/Facção Chipenda de
13 de Fevereiro de 1975
Iam tranquilas as coisas pelo Uíge, mas sangrentas por Luanda, onde morreram pelo menos 20 pessoas e muitas ficaram feridas nos combates entre ao MPLA e a Facção Chipenda - depois de, na madrugada do dia 13, as FAPLA terem cercado a Delegação dos dissidentes. Aparentemente, não seria para atacar mas para, segundo o Diário de Lisboa, «levar o Governo de Transição a tomar medidas adequadas para neutralizar a Facção Chipenda».
O Governo de Transição, porém, e em comunicado oficial, fala de «ataque (das FAPLA, do MPLA) às instalações do grupo armado de Chipenda em vários locais da cidade» e que «destas acções resultaram baixas para ambas as partes, cujo número não é ainda possível fixar-se». E resolveu «através de inquérito, estabelecer as responsabilidades e tomar as medidas que se impõem, para a solução deste conflito».
As tropas portuguesas,,reportava o Diário de Lisboa, «guardam agora as instalações semi-destruídas da Facção Chipenda e a vida regressou à normalidade».
O mesmo DL relatava nesse 14 de Fevereiro de 1975 que «elementos da Facção Chipenda atacaram um hospital do MPLA e mataram 5 enfermeiros, mas não foi possível ter confirmação oficial deste incidente». 

sábado, 13 de fevereiro de 2016

3 305 - Comando do Sector e politização do povo angolano

A Zona Militar Norte e Comando de Sector do Uíge, em Carmona. 
Reconhece-se a bandeira portuguesa hasteada e o sentinela de serviço

Raúl Caixarias, atirador do PERLREC e que
amanhã festeja 64 anos. Com a mulher Alzira e o
filho, no encontro de Águeda, a 9 de Setembro de 1995


O dia 13 de Fevereiro de 1975 foi tempo útil dede decisões sobre a extinção do Comando do Sector do Uíge (CSU), pelo que, segundo o Livro da Unidade, o (nosso) Batalhão de Cavalaria 84233 «passou nessa data à dependência directa da ZMN» - a Zona Militar Norte, também instalada na cidade de Carmona - capital do Uíge.
Os Cavaleiros do Norte continuavam expectantes sobre o seu futuro próximo, com o (seu) BCAV. 8432 «pretendido pela Região Militar de Angola e pela ZMN». Na espera e o mais serenamente que lhes era possível, continuavam aquartelados no Quitexe (a CCS e a 3ª. CCAV., vinda da Fazenda Santa Isabel), em Aldeia Viçosa (2ª. CCAV. e Vista Alegre, com um Destacamento na Ponte do Dange (a 1ª. CCAV., que tinha jornadeado em Zalala).
A ZMN e CSU dos portugueses é agora
Órgão de Justiça Militar dos angolanos
Os movimentos independentistas, agora na sua fase de formação como partidos (na verdadeira acepção), continuavam a sua actividade de politização dos povos, procurando atraí-los para as suas ideias. Agostinho Neto, em Luanda, afirmava o seu MPLA como «vencedor, depois de uma luta heróica de 14 anos». E, por isso, acrescentou, «não vamos consentir que o povo seja de novo oprimido». Disse também que o MPLA estava «a trabalhar no sentido da reintegração dos elementos que compõem a chamada Revolta Activa» - Gentil Viana e os irmãos Joaquim e Mário Pinto de Andrade -, mas, segundo o Diário de Lisboa, «atacou frontalmente e presença no país do Grupo Chipenda», que, segundo disse, «dispondo de uma força armada pode ser um a fonte de conflitos armados». 
O presidente Agostinho Neto falava na sua primeira conferência de imprensa, depois da sua chegada a Luanda, e frisou que «o povo angolano, depois de 14 anos de luta, não vai consentir mais nenhuma opressão».
«Para nós, com o povo no poder é que pode haver democracia. Se assim não for, será como no tempo do colonialismo», sublinhou o presidente do MPLA (e futuro Presidente de Angola), acrescentando que «só com o povo no poder é que pode haver democracia».
Notícia do Diário de Lisboa de 13 de Fevereiro de
1975, com afirmações de Agostinho Neto,
presidente do MPLA
A Luanda regressou nesse dia 13 de Fevereiro de há 41 anos, o director do jornal A Província de Angola, que se publicava na capital - o actual Jornal de Angola. Rui Correia de Freitas, dele se trata, regressava da África do Sul, país onde, segundo o Diário de Lisboa, se refugiara em Outubro de 1974, «ao ser avisado que estava iminente a sua prisão, à ordem do presidente da anterior Junta Governativa, o almirante Rosa Coutinho».
Jonas Savimbi, presidente da UNITA, por sua vez, alertou para «indícios de contrabando ilegal de armas e divisas, através da fronteira do sudoeste africano». Falando numa conferência de imprensa, referiu-se «a elementos políticos da Namíbia, activos na propaganda junto das populações do sul de Angola».