A minha pequenina aldeia de 721 moradores teve vários combatentes que passaram pelas terras do Uíge, onde se guarneceram os Cavaleiros do Norte. Hoje, fiquei a saber de mais três: o Lito (na foto, à esquerda), o Manuel Horácio e o Manuel Gomes. Porventura, outros estiveram.
O Lito, com o Neca Taipeiro, foram os primeiros a marchar para a «Angola é nossa» que se proclamava em 1961. E para lá partiram, no navio «Moçambique», em Junho desse ano. Nele voltaram, em Novembro de 1963 - depois de 28 meses em que, em batalhões separados, galgaram trilhos e desbravaram matas, combateram cara a cara com o inimigo e tempos atrás de tempos não tiveram colchão para descansar o corpo.
«Levámos tudo às costas, chegávamos e tínhamos de armar o acampamento, depois de dias e noites de operações que nos levavam pelas matas fora», contou-me o Lito, esta tarde, ali na frente da igreja onde fomos baptizados, ele 13 anos antes de mim.
O Lito empolga-se a falar da sua comissão e não deixa de soltar um e outros ais de emoção (e comoção), quando lhe vêm à memória combates e emboscadas, patrulhamentos e operações que o levaram por sítios tão diferentes como o Quitexe, o Piri, Vista Alegre (onde começaram um cemitério militar), Ponte do Dange, Negage, Camabatela (onde dormiu numa igreja) e Zemba. É de Zemba que fala com memória mais detalhada, por lá ter passado as maiores amarguras e medos dos 28 meses de missão. Tempos duros, que fizeram «mais de 25 mortos» à CCAÇ. 192, formada em Tomar e comandada pelo capitão Sentieiro. Era do Batalhão de Caçadores 186, comandado pelo tenente-coronel Pessanha.
O Lito, aos 73 anos, lembra-se do furriel Mata Reis, do seu pelotão, «quase todos alentejanos e algarvios», e não esquece, como poderia?!, «o António da Mourisca», aqui vizinho de Águeda. «Tínhamos um pacto. Se eu morresse lá, ele trazia as minhas coisas. Se morresse ele, trazia eu as dele. Não morreu lá e veio a falecer cá, de doença ruim...». E do soldado 59, «um grande amigo», que era de Figueiró dos Vinhos, mas de quem já não se lembra o nome.
O Lito não sonharia que, sendo um dos dois primeiros conterrâneos (com o Neca) a jornadear no chão do Uíge, viria a ter-me como um dos militares do último batalhão português naquelas terras. Nem eu, até à tarde de hoje!
- LITO. Aníbal Gomes dos Reis, soldado atirador
de infantaria, da CCaç. 192, do BCAÇ. 186.
Aposentado e residente em Ois da Ribeira (Águeda).
NECA TAIPEIRO,
ver AQUI
O Lito, com o Neca Taipeiro, foram os primeiros a marchar para a «Angola é nossa» que se proclamava em 1961. E para lá partiram, no navio «Moçambique», em Junho desse ano. Nele voltaram, em Novembro de 1963 - depois de 28 meses em que, em batalhões separados, galgaram trilhos e desbravaram matas, combateram cara a cara com o inimigo e tempos atrás de tempos não tiveram colchão para descansar o corpo.
«Levámos tudo às costas, chegávamos e tínhamos de armar o acampamento, depois de dias e noites de operações que nos levavam pelas matas fora», contou-me o Lito, esta tarde, ali na frente da igreja onde fomos baptizados, ele 13 anos antes de mim.
O Lito empolga-se a falar da sua comissão e não deixa de soltar um e outros ais de emoção (e comoção), quando lhe vêm à memória combates e emboscadas, patrulhamentos e operações que o levaram por sítios tão diferentes como o Quitexe, o Piri, Vista Alegre (onde começaram um cemitério militar), Ponte do Dange, Negage, Camabatela (onde dormiu numa igreja) e Zemba. É de Zemba que fala com memória mais detalhada, por lá ter passado as maiores amarguras e medos dos 28 meses de missão. Tempos duros, que fizeram «mais de 25 mortos» à CCAÇ. 192, formada em Tomar e comandada pelo capitão Sentieiro. Era do Batalhão de Caçadores 186, comandado pelo tenente-coronel Pessanha.
O Lito, aos 73 anos, lembra-se do furriel Mata Reis, do seu pelotão, «quase todos alentejanos e algarvios», e não esquece, como poderia?!, «o António da Mourisca», aqui vizinho de Águeda. «Tínhamos um pacto. Se eu morresse lá, ele trazia as minhas coisas. Se morresse ele, trazia eu as dele. Não morreu lá e veio a falecer cá, de doença ruim...». E do soldado 59, «um grande amigo», que era de Figueiró dos Vinhos, mas de quem já não se lembra o nome.
O Lito não sonharia que, sendo um dos dois primeiros conterrâneos (com o Neca) a jornadear no chão do Uíge, viria a ter-me como um dos militares do último batalhão português naquelas terras. Nem eu, até à tarde de hoje!
- LITO. Aníbal Gomes dos Reis, soldado atirador
de infantaria, da CCaç. 192, do BCAÇ. 186.
Aposentado e residente em Ois da Ribeira (Águeda).
NECA TAIPEIRO,
ver AQUI
A mesma tropa, a mesma guerra, 13 anos de diferênça na idade...
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