Comando de Sector em Carmona (1975), onde se
aquartelou a 1ª. CCAV. 8423. A bandeira de Portugal hasteada (no destaque)
Aos seis dias de Junho de 1975, a 1ª. CCAV. do BCAV. 8423 rodou do Songo para Carmona e instalou-se no Comando de Sector. Era o terceiro pouso da jornada angolana dos comandados do capitão Castro Dias - que começaram em Zalala e passaram por Vista Alegre, com destacamento na Ponte do Dange.
Ao tempo, e com os ânimos muito mais serenados desde a madrugada de 1 de Junho (o domingo anterior, quando rebentaram os incidentes de Carmona, entre a FNLA e o MPLA) «era imperioso obter um efectivo que permitisse acorrer a situações semelhantes às vividas na primeira semana do mês», assim se lê no Livro da Unidade.
Desse 1 de Junho de 1975 (o mais dramático de toda a nossa jornada angolana!), vem-me à memória o correio de minha mãe, das vésperas, anunciando-se a festa de Nossa Senhora de Fátima, na nossa aldeia de Ois da Ribeira, abrilhantada pela Banda de Casal de Álvaro, aqui vizinha. E a procissão das velas, na noite de sábado, 31 de Maio - que eu fiz de serviço, em patrulha na cidade, a noite quase inteira! Imagine-se, entre e durante estes momentos festivos da aldeia, o que se vivia por Carmona, onde se carregaram lutos de morte e muito sangue amortalhou gente que defendia o seu metro de terra e de vida, numa luta fratricida - que já não era com a potência colonizadora, era entre irmãos.
Angola, a esse tempo - e tal recordando agora, com a serenidade dos 37 anos que se passaram! - era um vulcão aberto, a sangrar; era um ódio que desembainhava espadas e fazia explodir morteiros de sangue, onde homens se crivavam de balas; onde havia guerra a valer, a queimar a pele e a alma, a estilhaçar a carne!! Onde as armas não eram cravos vermelhos, nem os guerrilheiros pombas brancas de paz e de amor. Não eram santos, nem meninos de coro, nem depunham armas para fazer política e dar as mãos a irmãos. Entrincheiravam-se e disparavam contra quem disparava. Era assim, ninguém sabia quem dava o primeiro tiro, ou o segundo, quem despoletava a primeira granada, quem lançava o primeiro morteiro, quem era inimigo de quem!
Os Cavaleiros do Norte, no imenso Uíge de 1975, sentiram as dores de quem sofre o respirar de estilhaços e os fumos das granadas, o rebentar dos obuses e os silvos das rajadas que espalharam sangue e morte na terra de Carmona. Não se barricaram nas paliçadas do medo, mas foram para a rua: carregaram crianças, mulheres e homens, civis que não queriam morrer. Salvaram vidas e bens, galgando as ruas da cidade, sem nunca deporem as armas ou deixarem falecer a coragem, carregando as pessoas nas Berliets, para fazerem a paz, semearem esperança, querendo levar a cartilha do amor a quem se cansava e matava de tantos ódios, de tantos anos!
A 1ª. CCAV. chegou a Carmona a 6 de Junho de 1975. Juntaram-se aos outros Cavaleiros do Norte que, nesses primeiros dias do mês, foram homens de coragem, no meio de lutos, de medos, de ódios e de morte!
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