CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

sexta-feira, 22 de junho de 2012

1 325 - O pó de que somos feitos e voltaremos a ser...




Cruzamento da RIMAGA, na Avenida de Portugal, em Carmona. Em destaque, o «plinto» do polícia sinaleiro, que se punha no centro da avenida


A formação do (que seria) futuro exército de Angola, no caso de Carmona integrando elementos da FNLA e da UNITA, pois o MPLA tinha sido «corrido» do Uíge, levou à simultânea constituição de Estados Maiores Unificados, quer no CTC, quer no BCAV., esperado-se «encontrar em tais elementos uma colaboração que permita levar a bom termo o processo em curso».
Os Cavaleiros do Norte - e cito do Livro da Unidade - estavam «verdadeiramente imbuídos do sentido de grandeza próprio do consciente desinteressado e leal desejo de cumprir a missão que está sendo imposta pelo processo de descolonização». Estar, estavam. Não há dúvidas. Viviam-se é momentos muito conturbados e o rescaldo dos incidentes dos primeiros dias de Junho de 1975 continuava a perseguir a tranquilidade que se desejava, para construir a paz.
Escrevia eu, com data de 21 de Junho de 1975, em notas pessoais que agora reli:
«Há corações e almas em arrepios, passeia-se na cidade e sente-se o cheiro e o peso da morte, que alguns homens parecem carregar nas mochilas ensaguentadas, parecem disparar sobre tudo o que mexe, sem olhar a cor do alvo, o tamanho da criatura, sem nojo do luto que semeiam. Hoje, perto do sinaleiro da Rimaga, um grupo de soldados foi alvo de chacota, de escárnio e agressões verbais. Resistiram enquanto puderam à tentação da resposta, sangrando-lhes os nervos de raiva, mas serenando-se. Estes soldados, que não são deste chão e já não são desta guerra, foram uns heróis. Não porque foram mais rápidos no gatilho, e na rajada, derrubando um inimigo que não têm, nem querem ter. Não porque foram cobardes, porque não reagiram a quem os quis humilhar, emboscando-lhe a honra e o garbo de militares! Não foram heróis por outra coisa que não fosse o seu sentido de missão. Foram heróis que não vão ter medalhas, mas são construtores do alicerce que se abre na construção do país novo».
Reli e emociono-me. O grupo que chegou e interveio, evitando um confronto que poderia ser trágico, era formado por homens do PELREC: o Garcia (alferes que comandava), eu, o Francisco, o Madaleno, o Vicente, o Soares, o Pinto, o Hipólito, o Almeida, o Caixarias e outros, que ao tempoa já me apagou da memória. Também o condutor Gaiteiro, o enfermeiro Florindo, o transmissões Moreira.
O Garcia, o Vicente, o Leal, o Almeida, pelo menos estes quatro companheiros já partiram. Não os levou a guerra de Angola, levou-os um sopro do pó de que somos feitos e voltaremos a ser!

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