CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

1 394 - O soldado que procurava um familiar em Luanda


Bar no Campo Militar do Grafanil (foto de Jorge Oliveira) 

Os últimos dias de Agosto de 1975, em Luanda, foram vividos em grande frenesim, entre a balbúrdia dos cada vez mais dramáticos e repetentes incidentes urbanos e a euforia entusiasmante de quem, como os Cavaleiros do Norte, se via já no seu adro natal.
Havia, porém, sempre casos particulares. O do Neves, por exemplo, soldado do PELREC, que andava triste e amuado. E porquê? Porque, como dele viemos a saber, tinha um familiar (ou um amigo?, não recordo) em Luanda, que ele queria visitar desde que chegara a Angola. Mas não tinha meios. Tinha a direcção, porém, num papel já desmaiado dos suores de 15 meses de Angola e que já mal se lia. Mas lia e o amigo (ou familiar?) vivia na Corimba.
Ora a Corimba era ali, subia-se a Álvaro Ferreira, passava-se o Hospital Maria Pia e descia-se para o Samba e o Corimba. Não conhecíamos a cidade muito bem, mas isso sabíamos. 
A coisa, assim vista, pôs-se simples para mim e para o Neto: «Ó homem, a gente leva-o lá...». E levámos, no carro do Neto, achando-lhe a casa que procurava.
Ficou lá pela manhã, com o nosso compromisso de o levarmos de retorno ao Grafanil! Mas atrasámo-nos, distraídos na noite de Luanda, e atabalhoou-se o Neves, com medo de algum castigo. Soubemos que se precipitou, mesmo, a querer ir a pé até ao Grafanil, que era a uma porrada de quilómetros, uns 14 ou 15!, mas foi "travado" pelo familiar, ou amigo. E finalmente lá o pegámos.
O Neves estava branco na cara e medroso na alma! Que não, que não ia ser castigado, nada!, garantíamos-lhe nós! Que não se preocupasse! Que não tivesse medo! Mas o bom do Neves foi lívido e sem uma palavra até ao Grafanil, onde o alferes Garcia fazia de oficial de dia e lá o descomprometeu. E descansou! 
Para o desafligir, ficámos algum tempo com ele, num dos bares do campo militar, com ele e outros a despejar nocais, ou cucas, ou n´golas - cervejas angolanas, bem fresquinhas e que tantas vezes nos tinham matado dores de alma.
«Mas eu não vou levar uma porrada?!...», perguntava o Neves, repetidamente, aflitivamente, camuflando-se do grupo que parodiava no bar.
«Não, homem!!...», gritava-lhe o Neto, sempre mais expansivo que eu e a azucrinar o juízo do santo do Neves.
«Ele ainda está com medo?....», perguntou o Garcia, a quem fomos dar o «até amanhã». Como lhe dissemos que sim, foi buscá-lo e ficou a conversar com ele pela noite fora. Eram assim feitos, de pormenores e de partilha, diria que de amor!..., os nossos últimos dias de Angola.
- NEVES. José Coutinho das Neves, soldado 
atirador de cavalaria, do PELREC. Suponho 
que vive na zona de Sintra,

1 comentário:

  1. Também eu, assim que aterrámos em Luanda parti em busca de amigos e conhecidos e confesso que não foi tarefa nada fácil.....!
    Mas permite-me que altere a parte final do teu comentário;........
    Foram assim feitos, de pormenores e muita partilha, diria que de amor!.... todos os dias que jornadeámos por Angola!
    Um abraço.
    Carlos Silva

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