Pinheiro de Azevedo, Costa Gomes e António de Spínola
Os dias últimos de Agosto de 1975, em Luanda, foram vividos, pela guarnição do 8423, com a natural ansiedade de quem tinha data marcada para regressar a Portugal: 8 de Setembro. No navio Niassa. Já lá iam 15 meses e os Cavaleiros do Norte eram já o mais antigo batalhão mobilizada da campanha angolana.
O momento político em Portugal era de grande agitação e circulava (também em Angola e no BCAV. 8423) o Documento dos Nove, conhecido a 6 de Agosto e subscrito por Melo Antunes Vasco Lourenço, Canto e Castro, Vítor Crespo, Costa Neves, Melo Antunes, Vítor Alves, Franco Charais, Pezarat Correia e Sousa e Castro - membros do Conselho da Revolução.
O manifesto foi assinado, entre outros, por Ramalho Eanes, Garcia dos Santos, Costa Brás, Salgueiro Maia, Rocha Vieira e Fisher Lopes Pires,com «80% dos oficiais do Exército», apontando outro destino para o governo de Portugal e a saída de Vasco Gonçalves de 1º. Ministro - o que viria a acontecer a 2 de Setembro (entrando o almirante Pinheiro de Azevedo).
Fui dos muitos (quicá todos) militares do BCAV. 8423 que o assinaram, tendo na altura conversado com os companheiros do PELREC, dando-lhes pormenores sobre o que se passava em Portugal e afoitando-os a assinar. Eu recebera, de Alberto Ferreira, a cópia do Jornal Novo de 7 de Agosto, com a publicação do Documento dos Nove.
A 30 de Agosto de 1975, um sábado, almocei com o Albano Resende na ilha de Luanda e, para além de combinarmos o envio de correio que ele, por mim, iria fazer durante os 10 dias da viagem do Niassa (o que viria a não acontecer, pois viemos de avião), falámos detalhadamente sobre a situação em Portugal. A família Resende estava na dúvida sobre o (não) regresso.
Vivo e actuante, na altura, era o MDLP liderado por António Spínola (exilado no Brasil desde 15 de Março), que resignara de PR em Setembro de 1974 e a 18 de Agosto de 1975 escreveu a Costa Gomes, frisando que «o actual rumo político do país é inconciliável com a democracia» e exortava os portugueses para que se «unam ao Movimento Democrático de Libertação de Portugal, que se propõe reconstruir a Pátria».
«O país desagrega-se na anarquia e no caos moral, económico e social. Morre-se nas cidades e aldeias de Portugal, pela liberdade e pela paz dos portugueses», sublinhava Spínola na carta Aberta a Costa Gomes (que o substituira na Presidência da República. E não esquecia Angola: «Em Angola, milhares de portugueses, brancos e mestiços, esperam socorro contra a gressão cobarde daqueles que, além do apoio recebido do exterior, recebem o apoio criminoso do Governo de V. Exª.», acusava António de Spínola.
- Documento dos Nove, AQUI
- Idem, AQUI
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