CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

3 513 - O dia do regresso da CCS dos Cavaleiros do Norte!

O PELREC, na saída para mais uma operação. O pelotão passou junto a última noite de Angola - de 7 para 8
de Setembro de 1975, no Campo  Militar do Grafanil, fazendo horas para a viagem aérea de regresso a
Portugal e às suas casas, ao calor e afecto das famílias e dos amigos. Há 41 anos!!!

Viegas, Mosteias e Neto, aqui nas traseiras da messe
de Carmona. Há 41 precisamente anos, no regresso
de Angola, trouxeram à guarda (cada qual) um
militar preso, de Luanda para Lisboa

Madrugada de 8 de Setembro de 1975, instalações do extinto Batalhão de Intendência de Angola, Campo Militar do Grafanil. Os Cavaleiros do Norte da CCS, a maior parte deles, não pregou olho e passou a noite a medir o tempo, ansiosos e expectando a chegada das Berliets que os levariam ao aeroporto internacional de Luanda. Aí iriam eles para Lisboa! Para Portugal, para o chão e o cheiro das suas terras, o calor e o afecto das suas famílias.
Alferes milicianos António Garcia (Operações Especiais,
 os Rangers) e António Albano Cruz (mecânico-auto) na
Fazenda Vamba, arredores do Quitexe
Era o nosso adeus, já muito próximo, a uma terra que caminhava para a independência, se fazia um país novo, mas se regava de sangue dos seus, enlutando almas e famílias, numa guerra cada vez mais trágica, que (não sabíamos, mas...) iria perdurar por muitos anos. Uma guerra de muitos campos de batalha pejados de corpos, uma guerra que esfaceleou e dilacerou vidas, as matou!   
Ainda não eram 6 da manhã, alvorecia África e o sol abriu-se sobre o Campo Militar do Grafanil, quando a ordem de transporte foi dada aos expectantes Cavaleiros do Norte e as viaturas galgaram a estrada de Catete, depois atravessando parte da alta de Luanda, até ao aeroporto - deixando-nos ver, pela última vez, uma metrópole enorme e cosmopolita, já aqui e ali com sinais evidentes de destruição. Já lá estávamos antes das 8 horas. No aeroporto. OE o avião dos TAM que nos traria já tinha aterrado, da viagem da capital do império que se desfazia.
O Neto, o Mosteias e eu (Viegas) fomos chamados pela Polícia Militar (PM), que a cada um entregou um preso algemado, à nossa guarda - para «entregarmos» em Lisboa. Não viria tal a acontecer, pois ninguém apareceu e foram eles à sua vida. Quem eram? O detido à minha guarda, militar já trintão, tinha assassinado outro militar (um superior), ele mo contou na viagem aérea das nossas vidas, sobrevoando os céus de África.
A fortaleza de S. Miguel, a baía,
 a marginal  e a a cidade de Luanda
Hoje, 41 anos depois desse dia de regresso, recupero a última imagem de Luanda, a capital da imensa Angola, espraiada da baía pela colina acima, a fortaleza de S. Miguel, a ilha  e os prédios enormes e as largas e verdejadas avenidas, os mussseques grávidos de gente, o sol avermelhado que beijava a enorme cidade e fazia do mar um espelho gigante. 
Que saudades!
Baía de Luanda, em foto actual (da net)
O voo correu sem problemas e chegámos a Lisboa por volta das 18 horas locais. Cada qual seguiu os caminhos das suas terras e gentes. Quem nos esperava, para nos trazer até Águeda (a mim e ao Neto) era o Benício, motorista da empresa do pai, que fez parar o SIMCA 1100 na zona de Alcoentre - onde comemos bacalhau. Há quanto tempo não comíamos bacalhau!!
Por volta da uma hora da madrugada, era lento o trânsito na então EN1, chegámos a casa do Neto, com a família a abrir-lhe os braços, matando as saudades do filho, do irmão, do amigo que chegava são e salvo, como ao tempo se dizia. Minutos depois, levou-me Benício à minha aldeia - onde, a essa hora, dormia minha mãe o luto da sua recente viuvez e a inquietude de saber um filho na guerra. Mal sabia que estava ele tão próximo. Para evitar choques emocionais, fui acordar minha irmã - a viver numa outra casa... - e foi ela a bater-lhe na janela do quarto.
«Mãe, acorde, está aqui o meu irmão!...».
Luanda, nesse mesmo dia de há 41 anos, acordou sem notícias de «qualquer alteração significativa», como relatava o Diário de Lisboa dessa tarde, reportando «informação telefónica recebida da capital dessa colónia».
«Na própria zona do Caxito, alvo desde há vários dias de violentos confrontos entre as forças da FNLA e do MPLA, não se registaram nas últimas 24 horas quaisquer combates», reportava o jornal vespertino de Lisboa.
Não sabia o que relata o livro «Segredos da Descolonização de Angola», de Alexandra Marques: «No dia 7 de Setembro, a Nona Brigada das FALA, chefiada pelo comandante N´Dozi, atacou o Caxito, onde entrou no dia seguinte, obrigando a FNLA a recuar para as posições detidas em meados de Agosto».
As fotografias aéreas, refere o lvro, «mostravam o ELNA em debandada da Barra do Dande em direcção aos Limbongos, onde se verificaram os combates». O Caxito, depois da da saída do exército da FNLA (o ELNA),  parecia «uma cidade fantasma dos filmes do Oeste...».

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