3 515 - O regresso da 2ª. CCAV. 8423, Cavaleiros de Aldeia Viçosa

Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423, os Cavaleiros do Norte de Aldeia
Viçosa. À esquerda, de pé, reconhece-se o furriel miliciano Mário Matos,
de mão na boca. Em baixo, com alguns combatentes do recrutamento 
local. Quem ajuda a identificar estes antigos combatentes? 

Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa,
todos oficiais milicianos: alferes Domingos Carvalho,
tenente José Manuel Cruz (comandante), António
Albano Cruz (da CCS) e João Carlos Periquito, todos de pé.
Em baixo, o alferes Jorge Manuel Capela

O dia 10 de Setembro de 1975 foi o do regresso da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa, comandada pelo capitão miliciano José Manuel Cruz. Em novo voo dos TAM, o terceiro de Luanda para Lisboa - depois da CCS (no dia 8) e da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala (a 9).

O (à altura) antigo aquartelamento do Batalhão de Intendência de Angola (BIA), no campo Militar do Grafanil, foi o pouso da última noite. Como fora de todo o BCAV. 8423, desde 4 de Agosto.

Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa, todos furriéis
milicianos da 1ª. CCAV. 8423: António Augusto
Rebelo, António Artur Guedes, Amorim António
Martins, Mário Augusto Matos, Jesuíno Pinto e
João António Brejo

«Muitos militares fizeram fogueiras para queimar pertences que não queriam trazer e, no meio dessa confusão, algo terá rebentado com o calor e houve um estilhaço que atingiu a face do soldado Santos», recorda o (então) furriel Guedes.
Santos era atirador de Cavalaria e o incidente não foi (felizmente) impedimento para que regressasse à sua terra de Peniche, onde o esperava o mar para novas companhas. Era pescador.

Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423: António Artur
Guedes e José Fernando Melo, ladeando Jorge António
Barata (da 1ª. CCAV. 8423), falecido a 10 de Outubro
 de 1997, de doença e em Alcains

A noite passou com o pessoal concentrado e expectante. «Do pouco tempo que dormi, fi-lo vestido e embrulhado num lençol, por causa dos mosquitos», lembra António Artur Guedes. 
O que nunca mais chegava era a hora do arranque para o aeroporto, de o avião levantar voo e pousar em Lisboa. Chegou com o dia a abrir, eram 6 horas, e os Cavaleiros do Norte seguiram em camionetas para a sua última viagem em solo angolano. 
«Ao longo do percurso, cantávamos «E viva a Espanha», canção que estava muito em moda por aquele tempo», diz o agora sargento-mor aposentado das Brigadas de Trânsito da GNR e produtor agrícola e bovino em terras de Salvaterra de Magos.

O dia 10 de Setembro foi quarta-feira e, em Luanda, o MPLA anunciou «o desmantelamento das forças da FNLA na frente do rio Dande, na zona do Caxito, e o avanço das FAPLA em direcção ao norte». O Estado Maior General do movimento de Agostinho Neto fez saber que «as forças do ELNA se encontram agora encurraladas a norte do Caxito, entre as Mabubas e Sassa» - e onde tinha feito 12 prisioneiros.

A 2ª. CCAV. 8423 vai confraternizar
em Guimarães, a 24 de Setembro de 2016 

O MPLA, por essa altura, controlava 12 das 15 províncias de Angola. As excepções eram as do Bié e Huambo (da UNITA) e Zaire e o «nosso» Uíge (onde reinava a FNLA). FNLA que, nessa altura, tinha em Ambriz a sua maior concentração de tropas, segundo relatava o Diário de Lisboa, acrescentando que a localidade funcionava como «terminal à ponte aérea para Kinshasa, no Zaire, utilizado para o transporte de grandes quantidades de material de guerra e de soldados». Entre estes, reportava o DL, «muitos mercenários brancos, muitos deles de origem portuguesa, enquanto entre o material bélico se denuncia equipamento fornecido por potências ocidentais, além do próprio Zaire».
Ia assim o processo de independência de Angola, há 41 anos, dia do regresso dos Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423. Que, dia 24 de Setembro deste ano de 2016, se vão reunir em confraternização marcada para Guimarães.