CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

terça-feira, 12 de abril de 2016

3 364 - Marisco na Caála, comunicados em Luanda e morte no Luso!

O furriel Viegas de férias em Nova Lisboa, há 41 anos. Aqui, com a madrinha 
Isolina, ao tempo já viúva do padrinho (de baptismo) Arménio Tavares

O clâ Viegas (parte), em Nova Lisboa. Manuel e
esposa Ondina são os primeiros à esquerda. O
«patriarca» Joaquim está de fato e gravata, ao lado do
militar. Mercedes, a  esposa, estám à direita, segurando
uma neta. O tempo de férias militares foi tempo de
apetitosas visitas familiares

A 12 de Abril de 1975, um sábado e depois de uma manhã no jardim zoológico e de um salto ao bairro de Santo António - a convite de Orlando Rino, agora em Rio Grande, no Brasil... -, fomos ao miradouro da Senhora do Monte, perto da Caála, e fizemos refeição por ali perto, farta e bem regada, com marisco chegado do Lobito e num pic-nic preparado pela Cecília e marido - o Rafael. Um grande luxo, para os tempos de então!!! Férias eram férias e Nova Lisboa, a bela Nova Lisboa!!!, oferecia-nos bem-estar, qualidade vida 
O furriel Viegas no miradouro da Senhora do Monte,
perto de Caála e numa estrutura a 40 metros de altura.
A cidade de Nova Lisboa fica(va) ao fundo
e segurança.
O que não acontecia tanto por Luanda, onde embora «restabelecida a calma», noticiada pelo Diário de Lisboa desse dia, dirigentes do MPLA e da FNLA continuavam a trocar acusações, cada qual responsabilizando a outra parte pelos incidentes dos dias e semanas anteriores. Também mo Luso, no leste angolano, se tinham registado «incidentes graves na terça-feira». dia 8, e que nos tinham passado despercebido, «empoeirados» nos de Luanda e coincidentes com nossa viagem (minha e do Cruz) de Luanda para Nova Lisboa.
«Está restabelecida a calma no Luso (...), onde se deram incidentes graves (...), envolvendo forças do MPLA e da FNLA, que duraram cerca de 12 horas», anunciou um comunicado do Alto Comissário, sublinhando que «os incidentes originaram muitos prejuízos materiais de certa monta nalguns edifícios da cidade» e que «morreu um civil e houve vários militares e civis feridos».
O Diário de Lisboa de 12 de Abril
de 1975 noticiou o fim dos incidentes em
Luanda e o registou incidentes
no Luso, no leste de Angola
O absurdo, digo eu..., é que o dia 8 foi o dia do acordo do cessar fogo, estabelecido pelos Estados Maiores dos três movimentos. 
Por Carmona, através do telefone civil da messe de sargentos (antiga de oficiais) do Bairro Montanha Pinto), sabíamos nós (eu e o Cruz) da calma local, embora temperada dos já habituais incidentes entre MPLA e FNLA, ambos a quererem marcar terreno no chão uíjano - onde, recordemos, o movimento de Holden Roberto tinha larga predominância.
A noite foi de jantar em casa do primo Manuel Viegas, onde a mulher Ondina nos presenteou com comida daqui (da nossa aldeia), embora com alguns condimentos angolanos - o que resultou numa apetecível refeição, acompanhada de vinho tinto (o Teobar). Falámos do futuro e o meu «conselho» foi no sentido de se prepararem para o regresso a Portugal. Mas por Nova Lisboa ninguém acreditava que a luta fratricida do norte e do leste, de Luanda e de outras cidades, alguma vez chegasse ao planalto huambano.
«A nossa terra é aqui!!!... Ficamos!!!...», por várias vezes exclamou Manuel, indiferente à recomendação do jovem militar de 22 anos, filho de seu primo e procurador, meu pai! A noite e a viagem de regresso ao Hotel Bimbe (onde nos levou) foi de memórias da nossa aldeia e das nossas gentes! «E fulano? E beltrano?!...», perguntava ele, matando as saudades com as respostas que lhe oferecia à sua curiosidade. Há 41 anos!

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