Os presidentes Jonas Malheiro Savimbi (da UNITA), Agostinho Neto (MPLA) e Holden Roberto (FNLA) num momento certamente muito optimista em relação ao processo de independência de Angola |
O jornal «A Província de Angola» editava-se em Luanda, era matutino e, na prática, o único diário que chegava ao Quitexe. Também se publicavam o «Comércio» e o «Diário de Luanda», pelo menos.
Há 45 anos, o «A Província de Angola» foi o primeiro jornal a que tivemos acesso, no Quitexe e já a 12 de Janeiro de 1975, sobre o que se passava no Alvor, entre as Delegações de Portugal e dos três movimentos de libertação de Angola - o MPLA, a FNLA e a UNITA.
Jornal «A Província de Angola» de 11 de Janeiro de 1975, reportando «os caminhos da nova Angola |
«A 200 metros do Hotel Penina não se pode circular. Cães ferozes, comandos, pára-quedistas, polícias, guardas-republicanos, exercem uma vigilância estreita que tem derrotado todas as tentativas de perfuração dos elementos da imprensa.
O almirante Rosa Coutinho esteve esta tarde no Hotel D. João II, onde funciona a sala de imprensa. A personalidade mais em evidência nas negociações, do lado português, é o major Melo Antunes, cuja forte personalidade parece dominar, realmente, (...), isto sem quebra de prestígio para Mário Soares e Almeida Santos.
Os pontos cruciais neste momento das negociações são a constituição do Governo Provisório e a forma de funcionamento do Conselho de Ministros. O funcionamento do dia a dia dos serviços é da competência do respectivo ministro, mas a decisão política das decisões é do Gabinete, funcionando como órgão colegial. Assim se evitam os atritos entre os Movimentos de Libertação, responsabilizando-se colectivamente todos e cada um.
O outro ponto básico que demora mais tempo a resolver é, sem dúvida, o da constituição e comando das Forças Armadas da nova Angola. Savimbi já disse que concorda com um comando unificado, mas salvaguarda a segurança dos seus companheiros de luta. A opinião dos outros dirigentes é igualmente significativa: Exército Unificado no comando, mas salvaguarda dos seus militantes, da sua individualidade de guerrilheiros e de membros dos movimentos.
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A Delegação Portuguesa é assim constituída: Ministro de Estado major melo Antunes, ministro da Coordenação Interterritorial Almeida Santos, ministro dos Negócios Estrangeiros Mário Soares, brigadeiro Silva Cardoso, tenente-coronel Passos Ramos, major Pezarat Correia, Fernando Reino, major Gonçalves da Costa, major José Pimentel, Sá Machado, António Cordeiro, Corucho de Almeida e Rui Machete.
- Delegação do Alto Comissário de Angola: Almirante Rosa Coutinho, conselheiros de Angola Brito de Figueiredo, Amílcar Martins, António Castilho, Salvação Barreto, Edmundo Gonçalves, Sindicato, Américo Silva, José Nunes Pedro, Cardoso e Cunha e Morais Sarmento.
- Delegação do MPLA: dr. Agostinho Neto, dr. Diógenes Boavida, Afonso Van Dúnem «Mbinda», Lúcio Lara, Paulo Jorge, Lopo do Nascimento, Carlos Rocha, Joaquim Kapango, Saydi Mingas, Pascoal Costa, Albertino Almeida, Maria do Carmo Medina, Mateus Van Dúnem, Maria Mambo Café, Rui Carvalho, Rui Moreira, Miguel Whekeni, Armando Ginapo, Jacob Caetano «Monstro Imortal», César Augusto Kiluanji e Filipe Costa.
- Delegação da UNITA: dr. Jonas Savimbi, Jorge Sangumba, Rony da Costa Fernandes, José N´Dele, Marques Karumba, Jorge Valentim, Eliseu Chimbili, Fernando Wilson, Rubon Chitacumbili, Fernando Wilsonm, Rubom Chitacumbi, O. Goundiam, Jean-aul Jouzinho, Waldemar Chindondo, Samuel Lumumba, Francisco Bole-Pole, M. Doringui, Fernando Jambiri, António Vakulukuta e Lucas Tukongelgni».
O Jornal de Angola, citando um despacho da ANI, não fazia referência à Delegação da FNLA, por razões que desconhecemos.
Alberto Ferreira e Rodolfo Tomás, o homem do SPM, fotografados no bar dos praças Quitexe |
Cavaleiros do Norte
com todas as calmas
A Cimeira do Alvor decorria no algarvio Hotel Penina e os Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423, na Angola uíjana, continuavam nas suas expectantes calmas.
Os furriéis milicianos Francisco Bento, José Augusto Monteiro e o José Carlos Fonseca vieram de férias a Portugal e delas não voltou este - que por lá era amanuense, prestando serviço no Comando do Batalhão. Em particular, era responsável pelo Serviço Postal Militar (SPM), com o 1º. cabo Rodolfo Tomaz a viajar quase diariamente (menos à segunda-feira) para Carmona, para levar e trazer correio do Portugal Europeu.
Quantos sonhos transportaram aquelas malas, que se enchiam de aerogramas (os bate-estradas), com apaixonados recados de amor, ou íntimos conselhos de familiares, ou o «diz-que-diz-que» dos amigos. Assim era, naquele tempo.
- Cimeira do Alvor no Jornal
de Angola Ver AQUI
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