CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

sábado, 24 de dezembro de 2016

3 620 - A noite de consoada do Natal do Quitexe de 1974

Noite de Natal no Quitexe, em 1974. Do canto esquerdo para a direita, os
 furriéis milicianos Rocha (de bigode), Fonseca (a fumar), Viegas, Belo (de
 óculos), Ribeiro e...? Da direita, Monteiro, Cândido Pires (de bigode retorcido),
Machado (de cigarro) e Costa (dos Morteiros, a rir). Entre ele e o Machado,
está o Carlos Lajes, que era o barman do bar dos sargentos



O comandante Almeida e Brito, o soldado Armando
 Silva e os capitães José Paulo Fernandes e António Oliveira,
 de costas, na consoada de Natal de 1974, no Quitexe!
A véspera de Natal de 1974, no Quitexe, começou comigo a pôr braçadeira de serviço e assumir a função de sargento-dia. Nada a que já não estivesse habituado, em dias especiais da nossa jornada uíjana de Angola. Correu bem, o dia todo, sem percalços e por todo ele se foi expectando a ceia de consoada, que foi no refeitório dos praças, para toda a guarnição mas tinha a benção e a arte de cozinha das nossas Amazonas do Norte.
Natal do Quitexe, em 1974. Na fila de trás e à direita, o
 Gaiteiro (o primeiro, de bigode), Serra, de NN (boina no
 ombro) e do Aurélio (Barbeiro). A olhar, de frente e de
bigode, aqui em baixo, o Monteiro (Gasolinas) e a seguir
o Cabrita, o Calçada e o Coelho (sapador)? O sétimo é o
 Florêncio. E os outros, quem ajuda a identificar?
Que surpreenderam!! E de maneira!!!!
Estava tudo às mil maravilhas e não foram poucas as emoções e saudades que ali se «mataram», na frente de tão farta mesa e tão deliciosa ementa.

Ementa europeia
na mesa de Natal

A ementa das compridas mesas foi à moda das nossas casas europeias de família, não teve sequer falta de bacalhau (que foi o óbvio rei da consoada...), nem faltou o polvo e mais outros pratos típicos da época - enchendo de regalos gastronómicos as compridas mesas do refeitório. E, vale a pena lembrar, saciando o apetite devorador dos jovens Cavaleiros do Norte da CCS (a do Quitexe) e da 3ª. CCAV. 8423 (a de Aldeia Viçosa), então na força da sua juventude e ali sendo cúmplices de momentos muito especiais. 

Doces e aletrias, rabanadas, mexidos e sopas, frutos secos, queijos, arroz-doce, leite creme e outros acepipes, tanros outros acepites..., nada faltou na farta mesa do refeitório do Quitexe - onde comungaram, em partilha solidária, cúmplice e amiga, oficias, sargentos e praças das duas companhias, sem distinção..., todos irmãos da noite tão especial como aquela. Que nunca tínhamos vivido foram das nossas lareiras e do conforto e intimidade das nossas famílias.
As bebidas foram para todos os gostos, sem abusos, muiuto embora os bravos e emocionados, diríamos que nostágicos Cavaleiros do Norte não se tenham feito  rogados. E, vamos lá, até um ou outro tenham abusado. Nada de mal ou execessivamente a mais. Ou talvez não!
Os alferes milicianos António Garcia e José Alegria
 Almeida, personagens de um momento muito especial
 da consoada de 1974, no  Quitexe! Atrás, os 1ºs. sar-
gentos João Barata e Joaquim do Aires


Noite de emoções
e lágrimas de saudade

Os alferes milicianos Jaime Ribeiro e António Albano Cruz recordam-se dessa saudosa e sentida noite de Natal de há 42 anos e lembram que «era tanta a quantidade e a variedade» de comidas e de... bebidas, que «alguns até entraram de gatas nas suas casernas e quartos». 
«Acho que isto tudo, esta vivência muito particular, afinal, até nos ajudou a criar a nossa personalidade, a nossa maneira de ser e estar e a ter forças nos momentos difíceis que por lá atravessámos, tanto jeito ou falta nos faziam», comentou o alferes Cruz, estes anos todos depois.

José Alberto Almeida, o alferes miliciano de reabastecimentos, recorda o achar de outro alferes - o António Manuel Garcia, de Operações Especiais (os Rangers) -, recolhido no canto do bar de oficiais, em momento de choradas saudades da família, enquanto no refeitório o «povo» do BCAV. 8423 continuava a festejar a data e fartava a fome das ementas de época, bem regadas a cerveja e também vinho - que vinho houve, sem faltas..., nessa nossa consoada de há 42 anos!!! Vinho e mimos, muitos mimos..., que nos encheram o corpo e o espírito! E parece que foi ontem à noite!!!
Neto, Viegas e Monteiro, três furriéis milicianos da CCS
do  BCAV.  8423. aqui já no Quitexe. Apresentaram-se
 no RC4 na véspera de Natal de 1973. Há 43 anos!

Três «Ranger´s»

da CCS no RC4no RC4

Um ano antes, precisamente um ano antes, a uma segunda-feira de véspera de Natal de 1973, apresentaram-se em Santa Margarida e no RC4, os três futuros furriéis milicianos de Operações Especiais (Rangers) da CCS do BCAV. 8423.
A Ordem de 
Ordem de Serviço do RC4, de 26 de Dezembro de 1973,
 com a apresentação, no RC4, dos futuros furriéis milicia-
nos, Neto, Monteiro e Viegas, do BCAV. 8423
Serviço nº. 301, do RC4, de 26 de Dezembro de 1974, dá conta que a 24 de Dezembro (desse ano), às 11 horas se apresentaram, «vindos do CIOE, por terem sido nomeados para servir no ultramar, com destino às companhias que se indicam, do BCAV. 8423/73/RC4/RMA». E lá estão os nomes: Neto, Monteiro e Viegas, «pagos até 22 de Dezembro e abonados de alimentação até 23 de Dezembro, portadores da relação modelo 9 de fardamento e aumentados ao Regimento e ao BCAV. 8423». Nem mais!
O sargento e oficial de dia ainda brincaram connosco - teríamos de «entrar de serviço às 14 horas», o que significava lá passarmos a noite de Natal. Era o que nos faltava, mas, expedito, o Neto logo sentenciou o nosso destino próximo: «Vamos embora, castigo maior que o de ir para Angola, já não nos pode acontecer».
Saímos do RC4, no SIMCA 1100 dele, chegámos a Águeda e o Monteiro telefonou para Fornos, em Marco de Canaveses, para um irmão o ir buscar ao Porto. Em Águeda, ainda chegou a tempo de apanhar a carreira para a capital do norte e foi passar a noite de Natal a casa.
* Noite de Natal de
1974, ver AQUI

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