CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

domingo, 16 de outubro de 2016

3 551 - Carta de uma mãe em luto, o Governo de Coligação de Angola

Grupo de furriéis milicianos do BCAV. 8423, no varandim da (sua) casa
do Quitexe: João Aldeagas, António Cruz, Graciano Silva, Nelson
Rocha (de braços cruzados),  Alcides Ricardo (?), José Augusto Mon-
teiro e José Fernando Carvalho. À frente e de lado, José Pires 

Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa, todos
furriéis milicianos: Mário Matos, António
 Guedes e José Melo (de pé), António Carlos
Letras,  José Gomes e António Cruz






O 16 de Outubro de 1974 foi quarta-feira e recebi correio de Portugal, de minha mãe: «Fala-se por cá que vocês vem embora, mas tu não me dizes nada, nunca dizes nada. O filho da Nilzalina e o Dinis da Cidalina já vieram da Guiné e tu...»», apontava e perguntava minha mãe, evidentemente preocupada com o que passava com o filho, por quem, dizia, «rezo todos os dias».
O António (da Nilzalina) e o Dinis eram (são) rapazes do meu ano, mobilizados eles para a Guiné. Outro, era o Custódio, sapador em Angola e colocado no Batalhão de Engenharia de Luanda, com quem me encontrava sempre que ia à capital angolana.
Furriéis milicianos Viegas (CCS) e Carvalho
(3ª. CCAV. 8423) num momento de boa
disposição, No Quitexe e em finais de 1974
«Tu não dizes nada, não sei o que passa contigo...», lamuriava-se minha mãe, ao tempo de luto muito recente pela morte de meu pai, no aerograma que agora releio.
E que lhe poderia contar eu? Que ela percebesse e não a preocupasse?
Pouca coisa, quase nada.
O Uíge por onde jornadeavam os Cavaleiros do Norte continuava expectante, nomeadamente depois do anúncio de cessar-fogo da FNLA. Continuava a «intensa actividade de patrulhamentos, nomeadamente orientados para a obtenção de liberdade de itinerários». A paragem de hostilidades pouco alterou o ritmo operacional do BCAV. 8423. A grande alteração (e convenhamos que não era coisa pouca...) tinha sido o fim das operações na mata - sempre semeadas de perigos, ora nos trilhos tantas vezes ensaguentados das emboscadas, das minas e das armadilhas, ora nas picadas e nos medos das matas cerradas, onde a cada sítio ou momento poderia surgir um ataque. 
Notícia do Diário de Lisboa de 16 de Outubro de
1975, sobre a situação militar em Angola
O dia, em Luanda, ficou assinalada pela chegada de delegações da FNLA (liderada por Endrick Vaal Neto) e do Zaire (por Bula Matamba, conselheiro do presidente Mobutu Sese Seko), para conversações com a Junta Governativa de Angola, principalmente sobre o processo de descolonização e independência e, em particular, sobre a formação de um Governo de Coligação, com «representantes dos vários movimentos de libertação e outras facções políticas».
Precisamente um ano depois, esperava-se a chegada da Comissão de Conciliação da OUA a Carmona, dominada pela FNLA - depois de ter estado em Luanda (controlada pelo MPLA) e Nova Lisboa (pela UNITA). Mantinham-se as diferenças do MPLA relativamente aos dois outros movimentos. 
«Afiguram-se remotas as possibilidade de conciliação», relatava o Diário de Lisboa de 16 de Outubro de 1975. A própria Missão da OUA tal considerava improvável que aceitasse negociar com os dois rivais. E o presidente Agostinho Neto considerava-os «movimentos fantoches, dirigidos do exterior do país».
A 26 dias da independência «trav(av)am-se importantes combates entre os movimentos rivais, nas frente de Luanda, do centro e do sul». Relativamente à capital, «a luta caracteriza-se por uma ofensiva desencadeada pela FNLA na zona do Caxito, decorrendo os combates no triângulo Porto Quitiri/Libomgos e Caxito». No centro, o MPLA «após renhidos combates com tropas da UNITA, libertou a localidade de Quibala, no eixo rodoviário Nova Lisboa/Lobito/Novo Redondo/Luanda, avançando agora sobre Cela, importante centro agrícola de que depende Nova Lisboa».
A norte, a zona dos Cavaleiros do Norte (entre outras do Uíge e do Zaire), «não havia notícias pormenorizadas, sabendo-se apenas que o MPLA avança na zona dos Dembos».
Assim ia a Angola de há 41 anos, a 26 dias do dia maior, o da declaração da independência: 11 de Novembro de 1975!

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