Furriéis milicianos da 2ª. CCAV. 8423, em 2014: Jesuíno Pinto (falecido, de doença, a 3 de Maio de 2017,
em Parada de Gatim), Freitas Ferreira (que há 45 anos sofreu acidente de viação militar, em Angola),
José Gomes e António Artur Guedes
Cavaleiros do Norte de Aldeia Viçosa: 1º. cabo José Beato, Oliveira, 1º. cabo António Ferreira, Aniano Tomás, Sa- muel Oliveira (o condutor do Unimog acidente da há 45 anos), Almeida e Adelino Couto |
Freitas Ferreira no Hospital Militar de Luanda em 1974 |
Segunda-feira, primeiro dia de Julho de 1974. Por escala, cabia ao
meu pe-
lotão, nesse dia, a tarefa
principal da companhia: a de manter a
segurança de circulação de viaturas na Estrada do café, a via que liga(va) Luanda a Carmona, que
distavam cerca de 300 kms., escoltando as
colunas automóveis provenientes de e para a capital, diariamente de segunda a
sexta-feira.
Sete e trinta da manhã.
Os 3 Unimogs cruzam a porta de
armas. O primeiro, passa os veículos que, na berma da estrada, já aguardam a
partida, levanta a barreira que impede a circulação sem escolta militar e a
coluna inicia a sua marcha.
O terceiro veículo militar põe termo à coluna,
cerra a barreira, quem chegar depois terá que ficar até ao dia seguinte.
O destino é o entreposta comercial do Piri, a cerca de 120 kms, onde outra companhia escoltará a coluna até à vila do Caxito, situada a
cerca de 65 kms. de Luanda, a partir da qual a circulação já é livre. A viagem de ida é, por norma, mais fácil e rápida pois, salvo
uma ou outra viatura carregada de café ou produtos da região, a esmagadora
maioria vai vazia.
O dia estava bom, não havia chuva, nem cacimbo, nem nevoeiro, o
piso, em razoável estado, estava seco. Cerca de 3 horas depois, estamos no Piri, fazemos uma paragem
para reabastecer as viaturas e deixar os motores arrefecer. Quando chega a
coluna proveniente do Caxito, iniciámos a viagem de regresso.
A zona do acidente do pelotão comandado pelo furriel miliciano Freitas Ferreira, a 1 de Julho de 1974! Há 45 anos! |
Samuel Oliveira em 2017/2018 |
Condutor Samuel não
engrenou a velocidade
Partimos pelas 11 horas e, meia dúzia de quilómetros
adiante, na zona da Fazenda Maria Fernanda, num troço de estrada bastante
sinuoso, ao aproximar-se de uma curva à direita, o Samuel, motorista da
viatura, não conseguiu engrenar a velocidade para reduzir a velocidade, e esta
seguiu em frente, embatendo no morro em terra.
Eu ia a olhar para a direita, na direcção da mata, e, por isso, só me apercebi do morro, que mais me pareceu uma enorme
montanha, já nos últimos instantes antes do embate, atirando-me contra o
tabliet e partindo-me de imediato a clavícula esquerda.
A viatura regressou à estrada e antes de se precipitar por
uma íngreme ravina, deixou espalhados no asfalto os 8 companheiros que seguiam
nos bancos traseiros, misturados com as granadas de morteiro que, por «simpatia», se mantiveram insensíveis à dor dos acidentados.
A lembrança que tenho, depois, foi de sentir a viatura aos
saltos, derrubando os cafeeiros que surgiam pela frente. Deviam ser 11,15 horas.
Despertei com um vento fresco originado pela velocidade do Unimog que nos transportava para a vila de Quibaxe, onde estava estacionado um Pelotão de Apoio Directo - o PAD. Meio atordoado, olhei para a perna esquerda, que estava dobrada, e vi um garrote na coxa para estancar o sangue de um buraco (na perna), do qual havia desaparecido a carne e se via a tíbia e procurei aperceber-me onde estava
e o que tinha acontecido, mas voltei a «adormecer».
A Ordem de Serviço nº. 119, de 2 de Novembro de 1974 e do BCAV. 8423, com a saída do furriel Freitas Ferreira da 2ª. CCAV. 8423 para o QG da RMA, em Luanda |
Evacuação para o Hospital
Militar de Luanda
Voltei à realidade à chegada a Quibaxe, onde o médico nos
observou, fez os primeiros dia-
gnósticos e requisitou as duas velhinhas am-
bulâncias para evacuar os 8 mais maltratados do acidente para o Hospital Militar de Luanda.
gnósticos e requisitou as duas velhinhas am-
bulâncias para evacuar os 8 mais maltratados do acidente para o Hospital Militar de Luanda.
A viagem foi longa,
umas vezes a dormitar, outras vezes interrompido pelo Samuel que, amiúde, me
perguntava como estava, decerto com receio que eu já não falas-
se. Eram 18,30 horas quando, pelo vidro da janela da ambulância, que ia semi-
cerrado, verifiquei que passávamos o portão do Hospital Militar de Luanda. Mais de 7 horas após o acidente, íamos ter assistência. Se fosse de morrer…
se. Eram 18,30 horas quando, pelo vidro da janela da ambulância, que ia semi-
cerrado, verifiquei que passávamos o portão do Hospital Militar de Luanda. Mais de 7 horas após o acidente, íamos ter assistência. Se fosse de morrer…
Lá passei 75 dias, na enfermaria de sargentos e, no meio de
grandes sofrimen-
tos de militares, eu, em comparação com eles, não tinha nada. O que era a minha maleita ao lado do sargento piloto de helicóptero, todo queimado, que ficava na cama ao lado e não me deixava dormir com o sofrimento e dores.
tos de militares, eu, em comparação com eles, não tinha nada. O que era a minha maleita ao lado do sargento piloto de helicóptero, todo queimado, que ficava na cama ao lado e não me deixava dormir com o sofrimento e dores.
Mas isso serão contas de outro rosário…
JM FREITAS FERREIRA
- NOTA: Depoimento pessoal e escrito do furriel miliciano José Maria
de Freitas Ferreira, da 2ª. CCAV. 843, sobre o acidente de Unimog, há 45 anos.
Foi reclassificado em amanuense e, a 01/11/1974, saiu de Aldeia Viçosa para o
Quartel General, em Luanda, onde foi colocado na 1ª. Repartição e concluiu a
sua jornada africana de Angola. Ver a Ordem de Serviço nº. 119 (acima).
Título e subtítulos da responsabilidade do blog «Cavaleiros do Norte»
de Freitas Ferreira, da 2ª. CCAV. 843, sobre o acidente de Unimog, há 45 anos.
Foi reclassificado em amanuense e, a 01/11/1974, saiu de Aldeia Viçosa para o
Quartel General, em Luanda, onde foi colocado na 1ª. Repartição e concluiu a
sua jornada africana de Angola. Ver a Ordem de Serviço nº. 119 (acima).
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