CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

6 976 - Memórias de 4 de Novembro de 1974, o dia do encontro do PELREC com combatentes da FNLA!


Cavaleiros do Norte do PELREC do BCAV. 8423 com guerrilheiros da FNLA no histórico encontro de 4 de Novembro
de 1974. Há 48 anos!!! De pé, dois FNLA´s, o 1º. cabo Jorge Salgueiro (TRMS), um FNLA, José Rebelo (auxiliar de cozinha) e furriel José Pires (TRMS). Em baixo, ladeados por dois guerrilheiros da FNLA, o soldado Aurélio (Barbeiro)
e o furriel Viegas (de Operações Especiais, os Rangers)

 


O furriel Viegas no Dambi Angola, a 24 de Setembro de 2019
e 45 anos depois do histórico encontro dos Cavaleiros do
Norte do PELREC da CCS do BCAV. 8423 com guerrilheiros
da FNLA. Aldeia «deslocalizada» em relação a 1974!

A 4 de Novembro de 1974, há 48 anos, fez-se história na jornada africana dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423: foi o dia do primeiro encontro, directo e físico, olhos nos olhos, com guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional de Angola (ELN), o braço armado da FNLA do presidente Holden Roberto - a antiga UPA. 
Encontro na sanzala do Dambi Angola, entre o Quitexe e Aldeia Viçosa.
A 3 de Novembro de 1974, na véspera, o PELREC recebeu uma ordem de operação muito especial: sair às 4 da madrugada do outro dia para um possível contacto
com guerrilheiros do FNLA. 
Quem sabia dessas coisas era, naturalmente, o Gabinete de Operações, do capitão José Paulo Falcão - que tinha os seus contactos, que eu não sei contar. Disse eu ao furriel José Pires, o de Transmissões e de Bragança e que andava «mortinho» para participar numa operação.
«Queres ir amanhã?!», perguntei-lhe eu, provocador e entre duas Cuca´s, calmamente bebericadas no bar da messe de sargentos do Quitexe.
«P´ra onde?...», interrogou ele, ansioso e curioso. 
«Depois sabes...! Depois sabes!... Queres ir, ou não?!», disse eu, fechando-me em copas e a «brincalhar» com o ansioso Pires de Bragança. 
Eu não lhe podia dizer para onde íamos mas acrescentei-lhe: «Se quiseres ir, tens de ter autorização do capitão Falcão». Acabei por ser eu a fazer o pedido e lá foi o furriel Pires, o das transmissões. Havia outro Pires, o sapador, do Montijo.

Os furriéis milicianos Viegas e Pires
(de TRMS) no histórico encontro
 da sanzala Dambi Angola, há
rigorosamente 48 anos

Chegámos à sanzala,
num adro imenso !


O objectivo era a aldeia (sanzala) do Dambi Angola, na Mata do Quipemba, entre Quitexe e Aldeia Viçosa. 
Lá chegámos, ao abrir do dia, ansiosos e de nervos e medos à flor da pele e da alma. 
Poupando palavras, e galgando a perigosa picada uíjana, pelo caminho passámos incólumes numa vigia dos «turras» (um deles apontando-nos uma arma, de cima de uma árvore). 
Cairia, a tiro nosso, caso esboçasse qualquer gesto agressivo. Não sobrem dúvidas!
O Breda, condutor-auto da primeira viatura, suava frio de ansiedades, e tremia, ao passar debaixo da árvore, conduzindo o «unimog» em que eu próprio seguia. Chegámos à sanzala, num adro imenso, e os «unimogs» pararam em posições de segurança. Em prevenção da vida de cada um de nós!
Olhámos, era eu o comandante da força, e não tive medo. Se eles lá estavam, com eles falaríamos. Era ao que íamos. Levávamos grades de cerveja e maços de tabaco, aconselhados pela Acção Psicológica. Faltava «descobrir» o inimigo, misturado e escondido entre as gentes da sanzala - crianças, adultos e idosos, todos misturados. Saltei do unimog, sem tirar as divisas do camuflado. Provocador, digamos: 
«Sou o furriel Ranger!...»
Manias!! Nem falar!!! E avancei, passo a passo, de mãos tensas, caídas nas ancas, a direita segurando a G3. 
«Posso levar um tiro..., morro aqui!..., aqui mesmo!...», sentia eu, expectante e regado de suores frios. Do cinturão, penduravam-se granadas defensivas, prontas a estourar. A G3, de resto, estava armada com o dilagrama, para o que desse e viesse e seria letal, mortalíssimo; dilagrama que eu dispararia, em qualquer caso. Um passo meu, em frente, era um passo atrás dos populares do Dambi Angola, misturados de guerrilheiros da FNLA, como viemos a confirmar. 
«Boa tarde, somos amigos, vamos falar...», gritei eu, embora de bons modos e tenso, convidando-os a conversa. Eram essas as instruções. E voltei a falar bem alto, mais um passo e outro, em frente! Confesso que meio a medo. 

O Viegas no Dambi Angola
a 25 de Setembro de 2019

Os «turras» angolanos e
o jantar de camarão!

Confraternizámos fartamente nesse dia que se atirou para a tarde. Tarde em que o grupo de combatentes da FNLA soube, pela nossa voz, que tinha havido uma revolução em Lisboa - sete meses antes. 
Beberam os «fnla´s» cerveja da que levávamos, depois de nós próprios bebermos - ante a desconfança deles. Fumaram os «CT» depois de alguns de nós. E tirámos fotografias. 
Dizia o Pires, no regresso: 
«Estes é que são os turras?!». 
Eram. Eu (Viegas), era tratado por Veigas. Senti-me amedrontado! Eh, pá... afinal eles sabiam quem eu era. 
Guardo do Pires, o seu desabafo no jantar de camarão e cerveja à farta, que ele pagou nessa noite, no restaurante do Rocha, no Quitexe. Mais ou menos isto: 
«Como é que saltaste do Unimog, com aquela calma?!!!... Já sabias que eles eram turras?!»
É evidente que, ao momento, ele não sabia disso. E nas várias vezes que falámos sobre este momento, nestes 47 anos que entretanto se passaram, sempre nos divertimos com a história. Que poderia ter sido uma tragédia!!! Não foi, se calhar, porque fomos todos, começando por mim, levianamente e generosamente irresponsáveis, embora cumpridores da missão de que estávamos incumbidos. Algum tempo depois, no Quitexe, disse-me um dos angolanos desse princípio de tarde de 4 de Novembro de 1974: 
«Nós espensou c´os furrié ias matá a gente...»
Eu sei que nunca matei ninguém! 
Os homens do FNLA que nesse dia «achámos» estavam armados de armas de fabrico checo e chinês, com uma bala na câmara e mais meia dúzia delas num saco de plástico pendurado na cinta, feita de um cordão improvisado de arbustos secos. Há 48 anos!


Soares de Aldeia Viçosa,
António Soares
70 anos em Gondomar !

O soldado Joaquim da Rocha Soares, da 2ª. CCAV. 8423, a do capitão miliciano José Manuel Cruz, festeja 70 anos a 4 de Novembro de 2022.

Atirador de Cavalaria de especialidade militar, foi  Cavaleiro do Norte de Aldeia Viçosa, e também passou por Carmona e pelo BC12. Regressou a Portugal no dia 10 de Setembro de 1975, no final da sua comissão de serviço por aquelas terras do norte de Angola, pelo Uíge profundo, e fixou-se em Valbom, no concelho de Gondomar, de onde é originário. 
Sabemos que por lá continua a viver (agora na Rua Miguel Bombarda) e para lá vai o nosso abraço de parabéns!
a ara nascer!
Aurélio Parracho e o
furriel João Dias (TRMS)

Parracho de Zalala, 70 anos
em Figueiró dos Vinhos!


O soldado Aurélio Patrício Parracho, da 1ª. CCAV. 8423, a da mítica Fazenda Maria João, a de Zalala e do capitão miliciano Davide Castro Dias, está amanhã em festa, 4 de Novembro de 2022, dia em que comemora 70 anos de vida!
Cavaleiro do Norte atirador de Cavalaria de especialidade militar, integrou o 4º. Grupo de Combate, comandado pelo alferes miliciano Lais dos Santos - com os furriéis Plácido Queirós e os já falecidos Jorge Barata e Américo Rodrigues. Também passou por Vista Alegre/Ponte do dange, Songo e Carmona.
Regressou a Portugal a 9 de Setembro de 1975, no final da sua jornada angolana e à sua terra da Praia de Pedrogão, da freguesia de Coimbrão, em Leiria. É participante dos encontros anuais dos «zalalas» e mora em Figueiró dos Vinhos, para onde, e para le vai o nosso abraço de parabéns!

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