Hotel Astória, em Coimbra. Mesmo aqui em frente,
o carro do Neto foi levantado pela multidão,
eufórica e em manifestação
A 26 de Abril de 1974, depois de dispensados para mais um fim de semana, abalámos no SIMCA 1100 do Neto, de Santa Margarida e via Tramagal e Abrantes, por aí fora, por Condeixa e Coimbra, até Águeda. Passada a ponte, realizava-se na baixa de Coimbra uma grande manifestação popular, de apoio á revolução, que literalmente interrompeu o trânsito - julgo não errar, dizendo que por horas. Eram milhares e milhares de pessoas.
A bicha automóvel vinha do alto de Santa Clara, na antiga EN1 (muito antes da actual ponte Europa), e se passar a cidade já era normalmente um martírio, naquele dia foi bem mais complicado, quase a passo e... parado. A euforia popular enchia a estrada e, depois do longo tempo de passagem da ponte, mesmo em frente ao Hotel Astória, alguém da multidão reparou que dentro do SIMCA 1100 iam militares e, ó minha gente, o carro do Neto, connosco lá dentro, foi levantado em peso e levado no ar talvez mais de um metro.
A euforia e deslumbramento populares eram infindáveis (e incontáveis), com vivas e palavras de ordem, cartazes, slogans, cantares e vivas à tropa!
Já em Águeda, e deixando-me o Neto na estação do caminho de ferro, senti-me apalpado de emoções e corado de elogios à tropa, tantas eram as palavras e os gritos de ordem das dezenas de pessoas que ali aguardavam o comboio, para Aveiro ou Sernada, Espinho ou Viseu.
«Vocês, já não vão para a guerra!!!...», dizia aquela boa e humilde gente, deslumbrada e feliz do dia que se vivia, ao outro da revolução. E cansada de ver partir os filhos, irmãos, namorados e maridos. Já se sabe que fomos!
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