Tropa portuguesa com civis recolhidos, na cidade, na parada do BC12, a 1 de Junho
de 1975. José Manuel Cordeiro, de pé (à esquerda, na foto de baixo), seguido de
José Messejana e José A. Neves. Em baixo, Jorge Vicente (falecido em 1997) e CJ Viegas
de 1975. José Manuel Cordeiro, de pé (à esquerda, na foto de baixo), seguido de
José Messejana e José A. Neves. Em baixo, Jorge Vicente (falecido em 1997) e CJ Viegas
Os dias de Carmona, por Junho de 1975, iam passando, sempre em prontidão operacional dos Cavaleiros do Norte, socorrendo tudo o que era de socorrer, acudindo quem era de acudir e muita gente civil foi recolhida e ajudada, apesar dos olhares críticos e comentários desabonatórios de muitos deles.
No verão passado, na sua terra da Bezerra, na Serra de Aire, encontrei-me com o Cordeiro, meu companheiro de PELREC e de PM na cidade de Carmona - com o Marcos e o condutor Breda. Recordámos uma cena da Rua do Comércio onde, junto ao polícia sinaleiro, fomos (como PM´s) insultados por duas senhoras que ali conversavam.
Traidores, cobardes, canalhas são nomes que ainda hoje, 39 anos depois, nos «martelam» a alma. Ouvidos, sem reagirmos, quando, de espírito sacerdotal e partilhante e sabe-se lá com que sacrifício moral e físico, nos dávamos de corpo e alma para garantir a segurança na cidade e dos cidadãos. Foi precisamente no mesmo sítio que, na manhã de 1 de Junho, esse domingo maldito e trágico de 1975, uma dessas senhoras, com uma criança pendurada no colo e mais três ou quatro à beira, no passeio, nos pediu socorro. Não queria acudir-lhe o Marcos, sendo a isso obrigado, bem recordado que estava dos insultos da véspera. E lembro-me bem do marejar de lágrimas da senhora, ajudada a subir para a Berliet, com as crianças consoladas pelos soldados do PELREC.
Ao tempo de 6 de Junho, a cidade já repousava dos trágicos incidentes iniciados na madrugada do dia 1, faziam-se análises e a tropa mantinha-se em guarda, para o desse e viesse. O ministro Kabangu, do Interior, do Governo de Transição e da FNLA, tinha chegado à cidade dois dias antes e para «controlar as tropas do seu partido», segundo noticiava o Diário de Lisboa. Era pormenor que, ao tempo, nem lembro se soubemos. Sabíamos, isso sim, que começava o êxodo das populações - a fugirem da guerra, da morte, das perseguições e das vinganças.
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