Albano Resende e sobrinha, Viegas e capitão Domingues (em cima). Notícia do
Diário de Lisboa sobre os incidentes de Luanda, com o avião sul-africano (em baixo)
O problema era mais grave, porém, e dele me lembro bem agora, acordado na memória da conversa com Rebelo Carvalheira: é que se pensou que tivesse sido um ataque de engano, supondo-se que era da TAP o avião e que este levaria Agostinho Neto e dirigentes do MPLA, para Lisboa e a caminho da Bélgica e da Holanda. Agravante: na mesma altura, tinham sido disparados roquetes e morteiros sobre o aeroporto.
Esta, era a Luanda de guerra, atingida num seu ponto nuclear: o aeroporto.
A outra Luanda, a que eu e o Cruz continuávamos a descobrir, era de todo diferente: quente, sensual, ardente, ciosa, oferecida, de neons a brilhar na noite, de apetites que nada tinham a ver com as saladas de sangue que se vertiam pelos chãos vermelhos dos bairros periféricos.
Foi num destes dias que o Resende me levou (e ao Cruz, com o capitão Domingues), ao encontro do conterrâneo Neca, que fizera vida no Úcua e mudara para Luanda, trabalhando num restaurante do centro. Restaurante de casa cheia, em dois pisos, largas dezenas de refeições servidas, onde jantámos em ambiente descontraído e festivo, como se por perto não se desagasalhassem os dramas da guerra e os lutos que enviuvavam as almas e os sonhos.
Já fazíamos malas para Nova Lisboa, Lobito e Benguela, para o sul de Angola que eu mesmo, em Setembro de 1974, já começara a aprender a conhecer.
Férias eram férias! Não eram intervalos de guerra!
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