CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

quinta-feira, 23 de junho de 2022

5 842 - O cão que morde o soldado em calções, assistido por um sodado «parteiro»!...


A Rua de Cima (a Estrada do Café), do Quitexe, em
1972 e no tempo do 1º. cabo Casal da Fonseca
Casal da Fonseca
(TEXTO)


António Casal da Fonseca foi 1º. cabo TRMS da CCS do BCAÇ. 3879 e jornadeou pelo Quitexe entre 1972/73.
Hoje, evocando os tempos da sua jornada africana pelo uíjano Quitexe do norte de Angola, vem aqui falar desse tempo inesquecível, de pessoas aparelhadas na sua alma e de factos que a memória faz em história.
Lembremos, então:
«Se havia coisa que me causava apreensão nas ruas do Quitexe, era ver cães vadios a deambular. Alguns mais pareciam radiografias e, aí, passava da apreensão à revolta! 
Há pessoas que não gostam de cães mas eu sou completamente doido por eles! 
Admito até algum exagero, mas não consigo evitar este apego e o meu que o «diga»! 
E cá vou «transportar-me» para a Rua de Cima, a angolana Estrada do Café que liga Luanda a Carmona, e ali mesmo à frente do bar «A Geladinha do Quitexe», de Dona Carlota e sr. Vitorino. 
Para trás, tinha deixado o Topete, onde me tinha saciado com umas cervejas na companhia do Alvarito que, melhor que eu, dava uns pontapés na bola. 
Eu, futebolista falhado no Leiria e Marrazes e ele excelente avançado no Marinhense. 
Alvarito e Casal
do BCAÇ. 3879

A mordidela de cão e o
«bota-abaixo das calças»!

Naquele dia, ele estava radiante e tinha razões de sobra. Afinal, o Quitexe nem era aquele fim de mundo de que tanto se falava! Ali, naquela pequena vila, alguém o foi contratar para jogar no Recreativo de Uíje! 
Finalmente, iria pôr à prova todos os seus dotes de exímio avançado/goleador! Aproveito o cumprimento do Sr. Guedes, vizinho do Topete, que,  avistando três cães, encetou conversa sobre eles. Queixava-se do perigo que representavam e, sorrindo, lá me foi avisando que não respeitavam fardas para satisfazerem os seus instintos. 
Finda a conversa, não folguei mais de um minuto, até sentir os dentes bem afiados num membro inferior, impacto que quase me tombou! Fiquei aterrorizado, não tanto pela dor mas pelo sangue que, em segundos, já pintava o alcatrão de vermelho! Aquilo não era normal e ainda por cima protegido com o camuflado! 
Ainda retenho a imagem de uma miudita, filha de um comerciante, penso que seria Barata, fugir apavorada para a loja e aos gritos. Ainda bem que o amigo Alvarito já não estava comigo, porque só ia complicar! Tinha aqueles problemas com o sangue…«adormecia» e dizia que era de família! 
Um indivíduo dirigiu-se a mim e, com voz segura, disse-me: «Puxe depressa as calças e tanto me faz se é para cima ou para baixo!...». 
Olá… então, mas como é que é…?! Mas quem é este gajo com este paleio?! Vendo que eu não estaria muito por aqueles ajustes, cerrou os punhos e gritou: 
«Porr…está a olhar para onde? Está com medo de quê, sou o enfermeiro Simões do Quitexe …!»
Não hesitei e num ápice fiquei em parcos preparos. Ele tinha acabado de prestar os seus préstimos a uma senhora doente e foi o chamado anjo caído das alturas. Mais tarde, vim a saber da sua polivalência e dos serviços requisitados como parteiro, vindo a destacar-se profissionalmente em Viseu, no pós-75. 
José Morais e Esmeralda Corga

Olhe,  D. Esmeralda, 
aquele soldado de calções!

Ao tempo e apesar das dores, eu já não estava tão preocupado com o ferimento que até passara para segundo plano! O que me preocupava, isso sim e muito, era a falta de indumentária! Bonito serviço, meia dúzia de negros a apontarem-me o dedo com risos trocistas e eu, ali imobilizado, a soltar de vez em quando um esgar de dor ao ritmo dos curativos! 
O cão tinha sido certeiro, ao apontar para uma veia importante, o que causou toda aquela angústia! Passados todos estes  anos, ainda guardo «orgulhosamente» a sua imagem de marca! Como se não bastasse o sofrimento, ainda fui chamado ao capitão (já esperava…), para justificar a minha presença naquele local, àquela hora. Mas como é que a notícia lhe chegara ao ouvido? Eu sei muito bem quem lha transmitiu mas vou guardar segredo, não é melhor amigo …?! 
Ainda bem que concordas comigo! Claro que a humilhação a que me sujeitei na rua foi omitida, não soubesse eu bem o que teria de aguentar por dois anos... no mínimo! Como muita gente civil branca soube do ataque canino e me questionavam sobre a gravidade, passei a andar de calções para que todos matassem a curiosidade. Pensando bem, não houve moçoila que, ao passear aos fins-de-semana na rua de cima, não pusesse os olhos na minha figura, segredando e sorrindo! 
Como me sentia importante! 
Seriam movidas apenas pela tal curiosidade? Talvez, mas nos meus 22 anos confesso ter sentido um certo gozo com tantos olhares! Houve quem, por gracejo, contasse as marcas para ver bem com quantos dentes tinha sido acariciado! Porque alguém se lembrou de propagar que eu teria protegido a ainda criança do ataque do cão, notei passar a ser o centro das atenções e estar a receber a simpatia de alguns civis, agradecidos pelo meu acto de «bravura*! 
À minha passagem, ouvia dizer meio entre-dentes mas com sentido de admiração: «Olhe, Dona Esmeralda, foi aquele soldado … ali aquele…, de calções». Afinal, nós podemos ser heróis em qualquer parte do mundo! Imagine-se, até na rua da pacata e bonita Vila do Quitexe! 
A. CASAL FONSECA 
Marrazes (Leiria) 
Furriel Nelson
Rocha (TRMS)


Rocha, furriel da CCS,
70 anos em Valadares !

O furriel miliciano Rocha, Cavaleiro do Norte da da CCS do BCAV. 8423, festeja 70 anos a 23 de Junho de 2022. Hoje e cheio de saúde e bom humor!
Especialista de transmissões, Nelson dos Remédios da Silva Rocha - é este o seu nome completo - j
ornadeou pelo Quitexe, onde chegou a 6 de Junho de 1974, e depois pela cidade de Carmona (para onde rodou a 2 de Março de 1975).
Natural de Vila Nova de Gaia, regressou a Portugal no dia 8 de Setembro de 1975 e fez carreira profissional como técnico de vendas - agora já aposentado e nunca falhando um encontro dos Cavaleiros do Norte da CCS.
Mora em Valadares, Vila Nova de Gaia, e para l e para ele vão os nossos parabéns pelos 70 anos que festeja!!! Um grande abraço!!!
Augusto Hipólito
1º. cabo

Hipólito, 1º. cabo do PELREC,
70 anos em terras de França !

O 1º. cabo Augusto de Sousa Hipólito, do PELREC da CCS do BCAV. 8423, festeja 70 anos a 23 de Junho de 2021. Precisamente hoje!
Natural de Vinhais, município de Trás-os-Montes, de lá saiu ainda bem novo - com a família e à procura de vida melhor: Ao tempo da incorporação militar,  morava na Azinhaga da Flamenga, em Marvila, na cidade de Lisboa E lá regressou a 8 de Setembro de 1975, quando terminou a sua (e nossa) jornada africana de Angola, por terras do Uíge.
Há muitos anos emigrado em França e agora já aposentado, reside em Reims, onde trabalhou na área da construção civil. Parabéns para ele!




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