CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

quinta-feira, 2 de junho de 2022

5 821 - O dia 2 de Junho da Carmona de 1975: combates sangrentos e recolha de civis!

Alguns dos primeiros refugiados de Carmona e no BC12. O engº. Luís Silva foi um
deles e lembra-se que por lá chegaram a passar mais de 1000 famílias

O Hospital de Carmona, para onde eram transportados
os feridos dos combates de Carmona, nos trágicos
primeiros dias de Junho de 1975. Há 47 anos!


A imprensa de Lisboa do dia 2 de Junho de 1975, hoje se fazem 47 anos, dava conta dos combates em Carmona - iniciados na véspera, domingo, e de que ontem aqui lembrámos. 
O vespertino «Diário de Lisboa» chamava à primeira página o título «Combates em Carmona» e noticiava que «graves incidentes estalaram ontem em Carmona, entre as tropas do MPLA e da FNLA, obrigando à intervenção, até agora sem êxito, de uma equipa militar mista, composta por forças integradas dos três movimentos de libertação».
Não foi bem assim. 
Não foi nada assim, aliás.
Quem na verdade interveio - e sem qualquer pretensioso auto-elogio, que de nossa parte nunca viria ao  caso... -  foram os Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423 e de forma corajosa, sem recuar ante quaisquer perigos, sem hesitar e avançando ao som da mortífera metralha que «alastrou» a cidade, salvando milhares de vidas - evacuando civis, principalmente idosos, mulheres, jovens e crianças para o BC12.
E também militares feridos de ambos os movimentos.
As forças mistas, segundo lemos no livro «História da Unidade» e disso bem nos lembramos (até porque delas fomos monitores), só depois tiveram a sua 1ª. Companhia, instruída pelos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423 e integrando «elementos da FNLA e da UNITA», já que o MPLA foi expulso do Uíge, na sequência destes trágicos dias.
Mário Ribeiro, engº. Eugénio Silva, furriel Viegas,
o condutor Nogueira do Liberato e familiar de ES
a 22 de Setembro de 2019 no aeroporto de Luanda 

Mais de 1000 famílias 
protegidas no BC12.

Uma das tarefas das NT foi proteger a população civil e, por isso, «foi dada entrada no quartel um milhar de refugiados» - lê-se no livro «História da Unidade». 
Terão sido bem mais.
Um civil protegido, foi um então jovem estudante, mais tarde quadro superior da Sonangol e agora já aposentado, o engº. Eugénio Silva. 
«Nunca esquecerei aquele fatídico dia 1 de Junho de 1975, em Carmona! Eu nunca tinha estado em tal situação e fiquei bastante surpreendido. Vocês protegeram a vida a muitos civis, que nada tinham a ver com aquilo, e não só», recordou ele, em mensagem  enviada para o Encontro dos Cavaleiros do Norte da CCS, a 30 de Maio de 2015, em Mortágua.
Hoje mesmo, 2 de Junho de 2022, nos renovou mensagem: «Vocês, militares, protegeram mais de 1000 famílias no BC12. Todos nós tínhamos sempre o pequeno almoço, almoço e jantar», escreveu o então jovem estudante de Carmona, acrescentando que «eu nunca vou esquecer-me disso».
Alferes Garcia e furriel Viegas, do PELREC da
CCS. O pelotão foi dos primeiros a sair do BC12
para a cidade de Carmona, na madrugada de 1
de Junho de 1975. um domingo de há 47 anos!

Combates sangrentos e recolha de civis!

O dia 2 de Junho de 1975, na verdade, foi de violentos combates em Carmona,  envolvendo toda a guarnição portuguesa em defesa de pessoas e bens. 
Aos operacionais (e não eram muitos...) couberam, naturalmente, os pontos mais sensíveis: aeroporto, hospital, Banco de Angola, aquartelamentos e edifícios públicos, comunicações, redes de água, abastecimento e electricidade. E a segurança  ma cidade, a dramática operação de recolha da população civil, indefesa e fragilizada, que pedia proteção e era recolhida nas ruas, às portas de suas casas, e levada para o BC12. E dos feridos, fossem civis ou elementos das forças em confronto, para o ocupadíssimo hospital da cidade.
O dia, na verdade, foi de combates sangrentos e nalguns casos quase corpo a corpo, entre os combatentes da FNLA (o Exército de Libertação Nacional de Angola, o ELNA) e as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (as FAPLA, do MPLA). Nunca ninguém saberá quantas mortes aconteceram nestes dramáticos dias de Carmona. 
Nunca poderão ser contados quantos sacrifícios e actos de coragem protagonizaram os Cavaleiros do Norte! 
Quantos deles arriscaram a vida para, sem recuar, salvarem vidas da cidade!
Os não atiradores ocuparam também posições de defesa do BC12 e de alguns importantes outros pontos da cidade.
Abel Mourato em 2020

Abel Mourato e Mário Matos, 
furriéis milicianos da 2ª.
CCAV. 8423, em 1974/1975

Furriel Abel Mourato
faleceu há 2 anos !

O furriel miliciano Mourato, da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa, faleceu a 2 de Junho de 2020, vítima de doença e em Vila Viçosa.
Abel Maria Ribeiro Mourato foi vagomestre e partiu para Angola a 4 de Junho de 1974, de lá regressando a 10 de Setembro de 1975. Por lá foi
grande e bom companheiro da nossa jornada e, cá, foi funcionário público da administração fiscal.
Residia em Vila Viçosa e já aposentado, começou a queixar-se de dores na cervical e de artroses, o que o fez entrar em ciclo depressivo. A 27 de Maio de 2020, entrou em internamento hospitalar, tendo-lhe sido diagnosticados problemas de tensão alta, dificuldades de oxigenação e uma embolia pulmonar.
Casado em segundas núpcias com Manuela, era pai de Marta, de 19 anos. E de Nuno Miguel, de 42 e do primeiro casamento. Até um destes dias, amigo Mourato! Não te esquecemos por cá! RIP!!!

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