Trata-se de um edifício colonial, muito bem conservado e do tempo dos Cavaleirosdo Norte do BCAV. 8423
A baía de Luanda vista da fortaleza em imagem de há um ano (2019) |
Redescobrindo Angola, 44 anos depois... (1)
- Militar português dos tempos da descolonização foi rever os sítios onde, há 44 para 45 anos, nascia um País novo (Angola), num tempo de guerra fratricida, entre irmãos que combatiam pela independência
O cheiro de Luanda já me enche a alma quando, fora do aeroporto, faço memória do 30 de Maio de há 45 anos e ali pousei, então de farda vestida para servir as Forças Armadas Portuguesas na construção do País novo que ia nascer. Estava em Angola, em jornada de saudade e, ainda no avião da TAP, olhando a baía luandina, já redescobrira os aromas desta terra enorme, já reachara os seus cheiros, a sua grandeza.
O meu caminho era para o Uíge, por onde, em 1974/75, fiz a minha jornada Angolana de África e esperam-me o Mário Ribeiro e o João Nogueira - que iriam ser companheiros de um tempo de 18 dias a galgar o chão angolano e a reencontrar sítios onde, com orgulho, com garbo, muitos militares portugueses arriscaram a vida para garantir o processo de descolonização.
«Furriel Viegas?!», perguntou-me, ao lado, um angolano, o engenheiro Eugénio Silva, que fez vida na prospecção de petróleos e que nos trágicos primeiros 6 dias de Junho de 1975 morava em Carmona, a actual cidade do Uíge, e foi um dos milhares de cidadãos uíjanos que a tropa portuguesa recolheu nas ruas da cidade e refugiou no quartel, salvando-os da matança que foram os dramáticos combates que regaram a cidade de sangue e de mortes.
«Acolheram várias famílias no quartel, incluindo a minha, famílias que não se sentiam em segurança, após os conflitos iniciados na madrugada de 1 de Junho de 1975. Todas foram servidas pelas tropas, com as três refeições diárias! No nosso caso, estivemos lá 14 dias, mas, antes de nós, muitas famílias por lá passaram e já estavam em Luanda! Todas foram muito bem tratadas!», escreveu e repetia Eugénio Silva, angolano de Camabatela, ao tempo morador em Carmona.
Deixei-me abraçar por aquele então jovem estudante, que não se cansou de repetir, no aeroporto e depois na sua casa de família: «Este homem salvou-nos a vida».
Este homem, o surpreendido e emocionado antigo furriel, entendam-o como o colectivo dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423, os últimos militares portugueses do Uíge angolano, para onde ia eu, agora - recordando terras de várias guarnições: Ponte do Dange, Vista Alegre, Aldeia Viçosa e o saudoso Quitexe, depois Carmona, mas também Santa Isabel, Zalala, Luísa Maria, o Songo.
Mário Ribeiro, engº. Eugénio Silva e os Cavaleiros do Norte Viegas (furriel da CCS) e Nogueira (condutor do Liberato), a21 de Setembro de 2019, no aeroporto de Luanda |
A Luanda de ontem,
a Luanda de hoje!
Luanda, a cosmopolita Luanda que conheci há 45 anos, tem a sua baía ainda mais bela, com a imensa restinga cheia de gente, jovens a bombalearem o corpo, passeando-os meios despidos nas areias e águas da praia e a viverem os prazeres de um domingo bem encalorado, olhando a baía e o mar; e homens de negócios, famílias inteiras, gente despida de qualquer preconceito, sem importar o estatuto social ou a cor de pele, ou a etnia, toda a gente nivelada em todos os sentidos.
Procuro, mas já não acho a mítica Portugália, a Paris Versailles, o Amazonas, nem os Florestas e o Polo Norte - locais de culto da tropa colonial. Estão ocupadas com outros serviços, ou foram demolidos (o Polo Norte) numa cidade em bulício permanente e que se agigantou para os lados de Viana (onde prosperam muitos empresários portugueses), para o Kilamba e Talatona - cidades satélites, modernas, onde se respira confiança e segurança. E para a Corimba, a Praia do Bispo, por aí fora, até quase à Barra do Quanza ou ao Cacuaco.
Resiste o Mutamba, são coloniais os edifícios dos Correios e da Polícia, o Porto de Luanda continua aberto ao mundo, o Estádio dos Coqueiros (onde treinavam os zambianos do Green Eagles, para a «champions» africana, com o 1º. de Agosto, passando os angolanos) e fui espreitar a Fortaleza - histórico palco das bravas lutas com os invasores holandeses e mandada construir por Paulo Dias de Novais, a primeira estrutura militar defensiva construída em Angola, nos idos anos de 1575.
As estátuas deheróis portugueses
A Fortaleza de S. Miguel de Luanda, assim se chamou, foi transformada em Museu de Angola (em 1939), em 1961 voltou a assumir funções militares (nela se instalando o Comando das Forças Militares Portuguesas) e, após a Independência, em 1978, passou a albergar o Museu das Forças Armadas Angolanas.
Foi lá que achámos, com grande surpresa, as estátuas de D. Afonso Henriques, de Diogo Cão e de Paulo Dias de Novais. Assim os angolanos guardam a sua própria História. Dias depois, já no Huambo (a antiga Nova Lisboa) viria a encontrar a de Norton de Matos - num jardim ao lado da praça principal, a que chamam Jardim da Cultura e debaixo dos olhos do Palácio do Governador Provincial.
- Reportagem publicada no jornal «Sol», de 01/02/2020. Continua)
Mário Araújo |
AAraújo de A. Viçosa, 69
anos em Santo Tirso !
O operador-cripto Mário Novais de Carvalho Araújo, 1º. cabo da 2ª. CCAV. 8423, festeja 69 anos a 23 de Setembro de 2020.
Cavaleiro do Norte do BCAV. 8423 e do comando do capitão miliciano José Manuel Cruz, em Aldeia Viçosa, residia em Santo Tirso e lá voltou a 10 de Setembro de 1975, no final da sua comissão militar em Angola. Lá continua a viver, agora na Sampaio de Carvalho, e para lá e para ele vai o nosso abraço de parabéns!
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