CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

segunda-feira, 11 de julho de 2016

3 454 - Aulas Regimentais do Quitexe e mortes em Luanda

Os furriéis Cruz e Viegas na placa ajardinada da avenida do Quitexe, 
em 1974. Atrás, o Bar dos Soldados e a cobertura onde funcionavam 
as Aulas Regimentais dos Cavaleiros do Norte

António Cabrita, há um ano em Cascais, ladeado
por dois antigos «professores»  do Quitexe: os
furriéis Viegas (à esquerda) e Cruz
O dia 11 de Julho de 1974 foi marcado pelos (primeiros?) incidentes de Luanda, provocados pelo aparecimento do cadáver de um taxista, no musseque Rangel. Um taxista branco e degolado! O corpo apresentava sinais de estrangulamento, dentro do táxi, junto da cápsula de uma bala, a carteira e documentos.
A situação provocou uma onda de revolta e grande tensão e raivas, tiros e roubos e a expulsão dos comerciantes brancos.
O livro de leitura da 4ª. classe das Aulas
Regimentais do Quitexe, há
42 anos: «Caminhos Portugueses»
Os tumultos continuaram ao princípio da manhã e à entrada da avenida do Brasil, onde afluíam os negros do bairros e que trabalhavam na  cidade e eram confrontados por grupos de brancos. Estes,  mais tarde e com negros e mestiços, dirigiram-se ao Governo Geral, onde se manifestaram - sendo a manifestação dispersada pela polícia de choque, à vista do Governador Geral, o general Silvino Silvério Marques, que estava na varanda do palácio.
O taxista assassinado era de Bragança e chamava-se António Salgado. 
Os incidentes provocaram três mortos (de africanos) e 27 feridos, 12 deles em estado grave. Ao Governo Geral, pediram protecção. Mas o dia foi sublinhado de outros incidentes, manifestações junto de estações de rádio, comunicados do Governador Geral e do comando das Forças Armadas Portuguesas. Ver AQUI.
Os Cavaleiros do Norte - no Quitexe, e Zalala, e Aldeia Viçosa, e Santa Isabel, onde se aquartelavam as 4 companhias, mais os Destacamentos de Luísa Maria e Liberato, pelo menos estes (podendo algum escapar à memória)... - continuavam a sua missão, cada vez mais conhecedores dos chãos, dos trilhos e das picadas por onde se multiplicavam medos mas também se semeavam confianças e coragem, ganhas e assimiladas nas patrulhas, nas escoltas e nas operações que já tinham desenvolvido nesse pouco mais de um mês de responsabilidade operacional em terras do Uíge.
António Santana Cabrita e Manuel Augusto
da Silva Marques, o Carpinteiro (falecido, de
doença súbita, a 1 de Novembro de 2011,
em Esmoriz, Ovar)
Esquecendo o dia, começaram as aulas regimentais em todas as subunidades. Na CCS, e no Quitexe, com 3 «senhores professores»: os furriéis milicianos Cruz (o nosso «mais velho...»), Viegas e Neto. Nelas, tiveram aproveitamento vários companheiros que precisavam da 4ª. classe (não a tinham) para se orientarem na vida civil, em procura de empregos - a maioria generalizada para motoristas. Precisavam do diploma do ensino primário precisamente para o necessário exame de condução.
Um dos alunos foi o inesquecível António Santana Cabrita, algarvio do Alvor que, por ambição maior (que viria a conseguir), tinha a obtenção da carta de pescador e patrão de pesca. Ainda hoje, já aposentado, se dedica à pesca profissional de mar -mesmo depois de, por opção, ter vendido o seu barco próprio (o Dulce Marina), no qual passou anos de mar.
Valeu-lhe - ao Cabrita e a todos os formandos das aulas regimentais - o «canudo» tirado, que tanto os ajudou pela vida fora.
Valeu a pena!

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