CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

terça-feira, 30 de abril de 2013

1 655 - Cavaleiros de Santa Isabel no Quitexe de 1974/75

Fernandes, Graciano, militar da FNLA e Neto (atrás), Rocha, Querido e Cardoso, no Quitexe

A foto, obtida nos arredores do Quitexe, em data indeterminada mas garantidamente entre meados de Dezembro de 1974 e finais de Fevereiro de 1975, mostra como, ao tempo, se relacionavam os militares portugueses e os fnla´s, inimigos até às vésperas. Bem!
A imagem é seguramente de um domingo. Basta olhar para o traje civil dos tropas, restando o Graciano de camuflado, eventualmente porque estava de serviço. Está, aliás, de Walter no coldre.  Refrescando a memória, o local era o de uma lagoa ali perto do Quitexe - lagoa do Feitiço, sítio de muita peregrinação turística regional.
O Fernandes, o Graciano, o Querido e o Cardoso eram furriéis milicianos da 3ª. CCAV. 8423, que tinha chegado ao Quitexe a 10 de Dezembro de 1974, oriunda da fazenda Santa Isabel, onde chegara a 11 de Junho do mesmo ano. Foram companheiros da CCS até 2 de Março de 1975, quando n´so fomos para Carmona,a capital da província do Uíge. 
A 26 e 28 de Abril de 1975, foi visitada pelo capitão José Diogo Themudo, o 2º. comandante dos Cavaleiros do Norte - na primeira data acompanhado pelo capitão José Paulo Falcão, o oficial adjunto e de operações.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

1 654 - Cavaleiros do Norte do Quitexe em Santo Tirso

Cavaleiros do Norte da CCS no Encontro de Paredes, a 1 de Junho de 2012
 
Não tarda nada e aí estaremos nós, garbosos sexagenários do Quitexe, a galopar para Santo Tirso - onde se vai realizar o encontro anual dos "CCS´s"  Cavaleiros do Norte. O de 2013!!! É já a 1 de Junho!!!
É o "nosso alferes" Cruz, aquele barbas ali ao lado esquerdo, quem este ano comanda as operações e é certo que não vai faltar nada para que todos nos sintamos em casa, felizes e babadinhos de alegria por nos encontrarmos uma vez mais.
O glorioso (ex-furriel) Machado está a preparar um documento fotográfico que, sabe-se lá quantas, se fartará de matar saudades dos nossos tempos de jovens, e irreverentes, e deliciosamente meios malucos, quando pisámos o chão de Angola e dele fizemos sementeira desta amizade que se multiplicou pelos anos.
Convém, por razões de natureza logística, que a malta vá fazendo a inscrição. Pode ser feita directamente junto do (ex-alferes) engº. Cruz, pelos telefones 966 828 841 e 252 866 865. Não custa nada, pelo fixo até é de borla, e fica o pessoal organizador a saber a quantas anda.
Agora, portanto, começa a ficar na hora de formalizar a inscrição. Nada de deixar passar o tempo!
Inté 1 de Junho, ó malta!!! Vão ver que o mês de Maio vai passar num instate. 

domingo, 28 de abril de 2013

1 653 - Os dois «pilha-galinhas» da enfermaria do Quitexe

Buraquinho e Moreira, nas traseiras da enfermaria do Quitexe (1974). 
Em baixo, Moreira e Buraquinho, 35 aos depois, em Setembro de 2009 (Águeda)


O tempo de tropa não é só de deveres, de saudades, de sofrimento e de impaciências. É também de boas e sadias partidas, entre as gentes das guarnições. Não há um antigo combatente que não tenha uma mão-cheia de histórias para contar.  

Os dois «enfermarias» que aqui recordamos - o inimitável Buraquinho e o discreto Moreira - foram, eles mesmos, protagonistas de algumas e da que hoje aqui é trazida à memória: o roubo de um galo e de uma galinha.
A vítima do «assalto» destes dois verdadeiros «pilha-galinhas», recorda o Buraquinho, foi o civil Reis, que era vizinho da enfermaria e se descuidou de atenções sobre a gulodice dos militares. Ficou sem o galináceo casal. «Eu e o Penafiel andávamos sempre juntos,éramos muito amigos, e ainda hoje. Eu e ele temos muitas histórias para contar. Uma ocasião, roubámos uma galinha e um galo ao sr. Reis, que morava pegado à enfermaria e era o senhorio da casa», recorda Buraquinho. 
O galo e a galinha, como é de imaginar, foram confeccionados rapidamente, não fossem as aves «voar» para outros «pilha-galinhas»... - diz o Buraquinho que foi ao formo de messe de sargentos... -  e comidos na enfermaria,  na arrecadação dos pijamas dos doentes.
Os convidados foram os enfermeiros, os furriéis Lopes (também enfermeiro) e Morais, o alferes Garcia e os cozinheiros da messe de sargentos - que saborearam, cheios de apetite, o produto do trabalho destes dois «pilha-galinhas».
- BRAQUINHO. Alfredo Rodrigo Ferreira Coelho, 1º. cabo analista de 
águas, da CCS do BCAV. 8423.  É empresário de restauração, em Custóias (Matosinhos).
- MOREIRA. Joaquim Ribeiro Moreira, o Penafiel, maqueiro da CCS 
do BCAV. 8423. Reside em Rãs (Penafiel).

sábado, 27 de abril de 2013

1 652 - Os encontros de antigos combatentes


  
Alferes Carvalho e furriéis Brejo, Guedes e Matos, em Aldeia Viçosa


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ANTÓNIO ARTUR GUEDES

A meteorologia parece, finalmente, querer contribuir para o relançamento dos encontros dos ex-combatentes, proporcionando não só o reencontro mas também belos passeios, visitando locais que, de outra forma, julgamos que não pudessem acontecer.
Sabemos que nem sempre nos é possível participar nestes eventos, por motivos de ordem vária: saúde, dificuldade no transporte e, hoje em dia, mais que nunca, a crise que a todos nos atrapalha, pois sempre se faz despesa, não esquecendo que, para além do encontro/convívio, são passeios em família.
E o factor crise implica que, a cada ano que passa, os grupos sejam cada vez mais reduzidos, pois já há alguns anos que as Companhias do nosso Batalhão se reúnem isoladamente, notando-se, progressivamente, uma menor participação.
Há 3/4 anos, quando se realizou o encontro da 2ª. CCAVª, nas Termas de S. Vicente, em Entre-os-Rios, em conversa com o capitão Romeira da Cruz, alertei-o para a necessidade de se repensar a organização dos encontros. Ou seja, voltarmos novamente ao "escalão" Batalhão, para não se correr o risco da sua extinção.
O convívio da 2ª. CCAVª., em Setembro de 2012, em Vila Viçosa, evidenciou esse pormenor de forma mais flagrante. Claro que, aqui, a geografia influenciou, mas já antes se tinham realizado dois encontros em Évora e a participação foi forte.
Sinais dos tempos? Talvez. Mas não há-de ser a crise a destruir a amizade e a estima cimentada ao longo de muitos anos e no meio de tantos sacrifícios.
Assim, julgo ser o momento oportuno para voltarmos a "FORMAR" Batalhão, auto-mobilizando-nos para uma das, ainda, muitas províncias deste país.
E fiquem descansados os "contabilistas falhados" que nos desgovernam, porque lhes não vamos cobrar o que quer que seja, por essa auto-mobilização.
Apenas pedimos que nos respeitem.
Sendo assim, até lá, companheiros.
ANTÓNIO ARTUR GUEDES
(ex-furriel miliciano da 2ª. CCAV. 8423)

sexta-feira, 26 de abril de 2013

1 651 - O adeus português a Aldeia Viçosa, há 38 anos!

Capitães Fernandes  (de mão na boca) e Cruz, com o comandante Bundula (FNLA)

A foto é de 2 de Fevereiro de 1975 mas vem hoje aqui a registo para assinalar os 38 anos da saída da tropa portuguesa de Aldeia Viçosa -a 26 de Abril do mesmo ano!!! A última guarnição foi a da 2ª. CCav. 8423, comandada pelo capitão miliciano Cruz. 
Os Cavaleiros do Norte chegaram a esta subunidade a 10 de Junho de 1974, assumindo quatro dias depois a responsabilidade operacional da sua zona de acção. Por ali estivera antes, e foi substituída, uma companhia do Batalhão de Caçadores 4211.
A 1ª. CCAV., a do capitão Castro Dias, abandonara Vista Alegre e Ponte do Dange dois dias antes (a 24). Para o Songo. A 3ª. CCAV., do capitão Fernandes, continuava no Quitexe, para onde rodara a 10 de Dezembro de 1974, ida de Santa Isabel (onde chegou a 11 de Junho). Íamos já no 11º. mês de comissão, a suspirar pela Europa e do chão e dos cheiros das nossas terras natais.
«Só a partir desta data se completou a remodelação do dispositivo, que se julga ser a última até ao terminar da comissão», lê-se no Livro da Unidade.
Não seria. A 6 de Junho começou a 1ª. CCAV. a rodar para Carmona,. ida do Songo. Operação que se concluiu a 12. A 3ª.. CCAV. abandonaria o Quitexe, definitivamente, a 8 de Julho, numa rodagem que começou a um do mesmo mês. E a 4 de Agosto foi o adeus a Carmona, para Luanda.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

1 650 - O 25 de Abril de 1974 no RC4 de Santa Margarida

Neto, Viegas, Matos e Monteiro, 
há 39 anos, em Abril de Santa Margarida

O 25 de Abril foi há 39 anos e não eram conhecidas ligações do BCAV. 8423 à revolução. Os futuros Cavaleiros do Norte formavam batalhão no RC4, em Santa Margarida, e segundo o Livro da Unidade, o batalhão não tinha sido contactado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), «nem tão pouco alguns, ou alguns dos seus oficiais».

O então tenente Castro Dias (o futuro capitão, comandante da 1ª. CCAV. 8423, de Zalala) confidenciou-nos há dias (no dia 13 de Abril), na almoçarada do Porto, que foram (ele e os outros dois tenentes, Cruz e Fernandes, da 2ª. CCAV. e da 3ª. CCAV.) abordados por um oficial ligado ao movimento (de apelido Pessoa, se bem se lembrava) para saber da sensibilidade do batalhão.  Contacto que passou despercebido, obviamente, à guarnição que se preparava para Angola.Coincidentemente, o dia 25 de Abril de 1974 foi também uma 5ª.-feira (como hoje) e levantei-me cedo, como me era (e é) habitual, para as tarefas de higiene pessoal - que gostava de fazer tranquilamente, sem a balbúrdia e pressa da maioria da malta, que preferia dormir mais uns dez ou quinze minutos. Liguei o transistor e estranhei a programação: só se ouviam marchas militares! Só momentos depois, ouvindo o comunicado do MFA. é que ficou a ter uma ideia do que se passava. Acordei a malta, a correr, todos estremunhados e assarapantados com o que se passava.
Pode imaginara-se a estupefacção e a diversidade de comentários sugeridos, já com alguns de nos a pensar que, embora mobilizados, já não iríamos para Angola.  Foi tranquilamente que pequeno-almoçámos e caminhámos para o Destacamento onde se «hospedava» o BCAV. Mas fomos impedidos na porta d´armas do RC4 e ficámos pelo quartel durante toda a manhã. Só e tarde fomos, tempo, então, em que o comandante Almeida e Brito, com o pessoal  reunido em parada, nos contou o que se passava da parte da tarde.
- CASTRO DIAS. Davide de Oliveira Castro Dias, tenente (futuro capitão) miliciano. 
Professor reformado, residente no Porto. Ao tempo era assistente na Universidade do Porto. 
- MFA. Movimento das Forças Armadas. Comunicado lido pelo locutor Joaquim Furtado, aos microfones do Rádio Clube Português. OuviAQUI.
- TRANSISTOR. Pequeno rádio a pilhas, do tamanho de um maço de tabaco, muito usado na altura - por ser barato e de fácil manuseamento.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

1 649 - O Açoreano, o Vargas, o condutor...

O Vargas, o Ciclista e o Mira Daire, em Vista Alegre, em 1975. O Vargas, no dia  6 de Agosto de 2009, na sua ilha do Pico (Açores) 
O Açoreano, lembram-se?!  Manuel Idalmiro Vargas!!!!, esse mesmo. Olhem aqui para ele (foto de cima), no aquartelamento de Vista Alegre, por onde passou a 1ª. CCAV. 8423. Foi condutor e agora faz vida na sua Ilha do Pico, nos Açores, onde tem um posto de gasolina e armazéns e vende de tudo e mais alguma coisa. A governar a vida!
Vida que, nestes mais de 37 anos que nos separam do regresso de Angola, em Setembro de 1975, já o levou lá de novo, por umas quatro vezes. A negócios.
«O que mais me cativa, por lá, são os irmão angolanos. Sempre defendi que Angola deveria ser uma nação livre e igualmente defendi que Portugal e Angola deveriam ser países irmãos», reconhece ele, AQUI, com «um grande abraço, com muito amor e carinho para os meus irmão angolanos».
O Vargas delicia-se aqui, na foto de cima e de perna traçada, com a boa vida de Vista Alegre. Mas não está só nesta imagem de saudade. Atrás, vêem-se mais dois condutores: o Silva (à esquerda) e o Almeida (à direita, quase de costas).
- VARGAS. Manuel Idalmiro Vargas, soldado condutor  
da 1ª. CCAV. 8423, empresário na ilha do Pico, de onde é natural.
- SILVA. Joaquim Carlos da Costa e Silva, conhecido por Ciclista, soldado 
condutor, da 1ª. CCAV. 8423. 
- ALMEIDA. Manuel da Conceição Almeida, o Mira Daire, 
soldado condutor, da 1ª. CCAV. 8423. 

terça-feira, 23 de abril de 2013

1 648 - Os homens das transmissões de Zalala

Lago e Raposo (em cima), Coelho, Hélio, Lourenço, Aires e Carlitos, os homens das transmissões de Zalala - com o furriel João Dias

As transmissões eram fundamentais. Fosse em Zalala, onde jornadearam este 7 jovens Cavaleiros do Norte; ou por todo o norte de Angola, por cujo chão galgaram tantos militares das campanhas que por lá os levaram, de 1961 a 1975. Por mim posso falar, de uma operação de três dias, na qual ficámos sem comunicações ao segundo, vedadas pela densidade da mata de perigos em que, trilho  trilho, palmilhámos quilómetros atrás de quilómetros. O que não sofremos: isolados, angustiados, sem podermos pedir apoio, que felizmente nunca precisámos.
Zalala, que era «a mais rude escola de guerra», teve por lá uma equipa eficaz, liderada pelo furriel miliciano João Dias. Gente sem um medo e sem uma falha, sempre que comunicar foi preciso. Estes homens também calçaram as botas de guerra e suaram camuflados pelas picadas e trilhos do chão uíjano fora. 
É justo recordar os seus nomes:
- LOURENÇO. Ângelo Pereira Lourenço, 1º. cabo operador-cripto.
- HÉLIO. Hélio Rocha da Cunha, 1º. cabo rádio telegrafista.
- LAGO: António Henriques Nunes Lago, soldado rádio-telegrafista.
- COELHO. Fernando Jesus da Costa Coelho, soldado rádio-telegrafista.
- CARLITOS. Carlos Alberto dos Santos Costa, soldado transmissões de infantaria.
- RAPOSO. Rogério Silvestre Raposo, soldado de transmissões de infantaria.
- AIRES. José Pereira da da Costa Aires, soldado de transmissões de infantaria.
O grupo incluía ainda, pelo menos, os 1ºs. cabos Abel José Lopes Felicíssímo (operador cripto) e Jorge Manueld a Silva(rádio-telegrafista) e o soldado José António Gomes de Almeida (transmissões). 

segunda-feira, 22 de abril de 2013

1 647 - A mudança dos «zalalas» para o Songo

Entrada do Songo e ruína do antigo quartel português. Ainda se vê o escudo, ao lado da palmeira. Fotos de Carlos Ferreira, em Dezembro de 2012

O capitão José Diogo Themudo (foto) foi ao Songo no dia 21 de Abril de 1975, ontem se fizeram 38 anos. Para visitar o aquartelamento militar português, no qual se iria instalar a 1ª. CCAV. 8423. O oficial Cavaleiro do Norte exercia as funções de 2º. comandante desde o mês anterior e foi conhecer as instalações. Ao tempo, ultimava-se a última rotação da Companhia de Zalala - que daqui saíra (de 21) a 24 de Novembro de 1974, para Vista Alegre e Ponte do Dange. E eram diários os contactos dos comandos militares portugueses com os dos movimentos de libertação - FNLA (o mais forte no Uíge), MPLA e (menos) a UNITA. As reuniões do Estado Maior eram à quartas-feira e verificava-se «uma boa aceitação das medidas militares tomadas», o que, concluiu o Livro da Unidades, «tem sido origem do clima de paz que se vive no distrito» - aqui, seguramente, querendo dizer-se Província do Uíge.
A 1ª. CCAV. 8423, ainda em Vista Alegre, tinha sido visitada pelo 2º. comandante (capitão José Diogo Themudo) a 18 de Abril (neste caso, com o alferes Cruz, responsável pelo parque-auto), certamente para preparar a logística do transporte de pessoal e equipamentos. Lá voltaram a 24 de Abril - o dia da saída para o Songo.

domingo, 21 de abril de 2013

1 646 - O Rebelo das transmissões de Aldeia Viçosa

Rebelo, Martins, Mourato e Matos em Aldeia Viçosa (1974)

Faz tempo que (re)procurava o Rebelo, que foi furriel miliciano de transmissões, na 2ª. Companhia de Cavalaria 8423, a do capitão José Manuel Cruz, em Aldeia Viçosa. 
O Rebelo era discreto, não muito dado às folias e gracejos da nossa juvenilidade de então - mancebos que éramos, de sangue na guelra e sempre dispostos a todas e mais algumas irreverências e brejeirices.
O Rebelo era circunspecto, de serenos gestos e calma acção. Nada lhe acelerava ou elevava a voz -  a não ser quando se lhe falava de caça. Aí, o Rebelo quase se excedia.
Se comparado comigo, era de muito mais fino trato e esmero intelectual. Era de falas elegantes, poucas e serenas, sem mais um ai que o ai que a conversa precisasse. Conheci-o melhor, nos tempos de Santa Margarida, na formação do batalhão: sempre sem uma falha no relacionamento com os companheiros que, como ele e com ele, tinham guia de marcha para a guerra colonial. Para Angola!
Aos idos anos 90, contactei-o para  os nossos encontros e falámos sobre a nossa jornada africana. De que ele, o Rebelo das transmissões, não gosta muito de falar. E, por via disso, não falámos para além do trivial. Direito dele. E meu. É tesoureiro da Câmara Municipal de Guimarães, sua casa de trabalho de sempre.
«Está bem, de saúde e de disposição», garantiu-me o irmão José - mais novo 13 meses e que também chegou a estar mobilizado, sem, porém, chegar a galgar os céus para a jornada africana.
- REBELO. António Augusto Faria Novas Rebelo, furriel 
miliciano de transmissões. Natural e residente em 
S. Torcato, Guimarães - onde é tesoureiro da Câmara Municipal.

sábado, 20 de abril de 2013

1 645 - O Cavaleiro do Norte que deu armas ao MPLA - 2


Fortaleza de S. Pedro da Barra, onde Carlos Ferreira esteve detido (1975)

(...) O «cavaleiro» Ferreira tinha armas no 
Grafanil, tinha de as entregar, mas era 
preciso um transporte (cont. de ontem).

Luanda fervia de emoções e o cheiro de pólvora e dos combates «embriagava» as gentes que, aos milhões, queriam fugir da guerra e da morte que por lá semeavam lutos. Muitos lutos. E o Ferreira com as armas, para entregar.
A situação era muito agitada e o Morris muito velho e aparentemente abandonado, apareceu ali mesmo a jeito, como solução para transportar as armas. Só que nem Carlos Ferreira e muito menos os seus dois companheiros alguma vez pensaram que era (já) roubado.
A prisão complicou tudo e Ferreira assumiu todas as culpas. Os dois companheiros da aventura nem sequer suspeitavam da razão porque queria o carro. Nunca os quis comprometer, era uma questão de honra. Preso e com algumas armas guardadas no gira-disco e na caixa, por entregar.
Uma semana depois de estar na prisão militar, um fortim na entrada da baía de Luanda, Carlos Ferreira já tinha grande liberdade de movimentos e tornou-se íntimo de um civil, também preso, numa das muitas «macas« de Luanda. Tinha um Land Rover, que lhe emprestou e com o qual conseguiu ir buscar o móvel do gira-discos e entregar 8 Starlings ao MPLA.
Anos passados, viria a encontrá-lo em Lisboa.
Luanda desse tempo, já depois do regresso dos Cavaleiros do Norte, esteve cercada e sem tréguas que pacificassem MPLA e FNLA. No Caxito, Santos e Castro chegou a estar com mercenários,ex-comandos, exército zairense e FNLA´s. Ao combates ensaguentaram a cidade. Carlos Ferreira, embora preso, assistiu a um comício de Fidel Castro e à chegada de tropas cubana, à saída definitiva da tropa portuguesa e à independência de Angola.
Nesta conjuntura, compreende-se que ninguém estivesse preocupado com ele, e outros, na prisão. O comandante desta, aliás, achava que a detenção era um absurdo e Carlos Ferreira, na prática, só lá ia dormir e comer, pois já não havia comida em Luanda. Nunca pensou é que, chegado a Portugal, seria detido e enviado para Custóias.
Fui na altura, convidado para ficar no MPLA, e... quase aceitou, mas voltou a Portugal, onde tudo fervia na caldeira revolucionária do tempo. A
 vida talhou-o para outros combates políticos e militância activa, que o levou à Brigadas Revolucionárias. Mas isso são outras histórias. FIM

sexta-feira, 19 de abril de 2013

1 644 - O Cavaleiro do Norte que deu armas ao MPLA - 1

Carlos Ferreira, em Luanda, mês de Agosto de 1975.
Atrás, um cartaz com Jonas Malheiro Savimbi, líder  da UNITA

Carlos Ferreira faz vida por Maputo, onde está ligado à área de segurança. Há cerca de 38 anos, em Luanda, entregou armas ao MPLA. Foram 8 Starlings, do pequeno arsenal que levou de um fortim do pequeno destacamento militar que, pelo verão de 1975, se desactivava, entre Carmona e Songo. Mais 8 Starlking e 4 G3 semi-automáticas. Levou este material para Luanda, para entregar ao MPLA.
Carlos Ferreira nasceu em Albergaria-a-Velha, estudou em Águeda (fomos contemporâneos na «velha» EICA), politizou-se nos últimos anos de Marcelo Caetano e assumiu ir para Angola, para conhecer a guerra por dentro. Foi Cavaleiro do Norte, de Zalala.
Quando foi para Angola, tinha já alguns contactos com o PCP, no Porto.  Mas só após ter chegado a Portugal é que integrou as Brigadas Revolucionárias do PRP. Disto ninguém sabia, nem os seus companheiros. E muito menos os que, com ele, «roubaram» o velho Morris que os levou à prisão da fortaleza de Luanda. E ao julgamento dele, já em Tomar, depois de passar pelas celas de Custóias.
Carlos Ferreira assume, recuado no tempo de 1974 e 1975, como «um operário politicamente consciente, um fiel simpatizante do MPLA». E, por via disso, «um inimigo ferrenho do FNLA».
Mudaram-se as «armas e as bagagens» de Zalala para Vista Alegre e para o Songo, depois. E para Carmona, em cuja estrada ficava o destacamento português, com um fortim, que agora, depois de modificado, é um quartel de artilharia do exército de Angola.
Carlos Ferreira, confessadamente homem de ódio visceral ao FNLA, não pensou outra coisa: ajudar o MPLA. Arranjar armas. E estava na hora!
O fortim estava a recolher armamento disperso e dos civis, na altura. Estava cheio e Carlos Ferreira tinha muita movimentação área de material de guerra.Agiu conseguiu 12 pistolas metralhadoras Starling e 4 G3 semi-automáticas - que levou para Luanda, para entregar ao MPLA.
E como?
As armas, teve-as escondidas no móvel grande gira-discos, parte delas. Outra parte, noutro sítio que já não lembra, provavelmente numa caixa de madeira.Assim foram para Luanda, onde importava entregá-las ao MPLA.
O «cavaleiro» Ferreira tinha-as no Grafanil, tinha de as entregar, mas era preciso um transporte. 
Continua amanhã

quinta-feira, 18 de abril de 2013

1 643 - O Cavaleiro do Norte que ficou preso em Luanda


Fortaleza de Luanda, onde o Ferreira (foto de baixo) esteve preso em Setembro de 1975

O Carlos Ferreira jornadeou pela mítica Zalala, passou por Vista Alegre e Carmona, até que, a 3 de Agosto de 1975, chegou a Luanda, em voo de DC6 e com toda a sua 1ª. CAV. 8423, que se aquartelou no Grafanil. Era 1º. cabo mecânico de armamento ligeiro.
Os dias de Luanda, por esse tempo, eram grávidos de violência, de sangue e mortes espalhadas pela cidade, de gente que morria e fugia, de dramas e tragédias - muitas ainda esquecidas e escondidas.
O Ferreira, e dois zalalas, num desses dias, resolveram ir à cidade e vai de pegar num velho carro, um Morris, abandonado perto do Grafanil, ali mesmo à mão de pegar e andar. Pegaram e andaram, pela cidade dentro, à boleia da irreverência de quem não teme e não recua. 
Pararam numa loja, perto da baixa, e, azar dos azares, apareceu o dono do carro, que por espantosa coincidência, morava por cima e trazia a polícia.
Nada a fazer. Foram presos: o Carlos Ferreira e dois companheiros. Os três acusados do  roubo do velho Morris, que supunham ser carro abandonado perto do Grafanil, como por Luanda se viam aos milhares e milhares, deixados pelos donos, na sua fuga para a Europa, para Lisboa.
Acusados de roubo, foram levados presos para a fortaleza. «Assumi tudo, dei-me por único culpado e os outros dois foram embora, para a companhia e depois para Lisboa», disse-nos o Carlos Ferreira.
O capitão Castro Dias, que comandava a companhia de Zalala, interessou-se pelo caso, diligenciou para que fosse solto e, sábado passado, quando desta história se falou, enfatizou «a atitude nobre do Ferreira», que, frisou, «assumiu tudo, isenatndo os companheiros de quaisquer culpas». 
«Foi um gesto que nunca mais esqueci…», disse o agora aposentado do ensino, dirigente sindical no Porto e ao tempo capitão miliciano da jornada angolana dos Cavaleiros do Norte. «E de uma nobreza – acrescentou - que muitas vezes tenho apontado como exemplo».
A história continuou, em Luanda, com Ferreira encarcerado e nas mãos de um oficial de justiça que lhe complicou a vida quanto quis. De regresso a Portugal, esteve preso em Custóias - onde o visitaram Castro Dias, Rodrigues e outros.
Foi julgado em Tomar e absolvido.
- FERRREIRA. Carlos Alberto Pereira Tavares 
Ferreira, 1º. cabo mecânico de armamento ligeiro. 
Natural de Albergaria e residente o Maputo (Moçambique).
- AMANHÃ: O Cavaleiro do Norte que deu armas ao MPLA.

a Z

quarta-feira, 17 de abril de 2013

1 642 - O 2º. sargento enfermeiro Eira

Eira, Esgueira e Serra, a 1 de Junho de 2012

A meados de Março de 1975, chegou a  Aldeia Viçosa o 2º. sargento miliciano Eira, enfermeiro, na altura com 31 para 32 anos. Fazia a sua terceira comissão africana, a segunda em terras de Angola. Com os Cavaleiros do Norte ficou até ao final da jornada angolana. E é companheiro habitual dos encontros da CCS.
O então furriel enfermeiro Eira cumpriu a primeira comissão militar em Moçambique, entre os idos anos de 1966 e 1968, no norte, zona de Niassa. Voltado à então metrópole, seguiu a tropa como voluntário e, em 1971, partiu para a primeira comissão em Angola. A Angola voltou em 1975 e, finda a jornada africana, prosseguiu carreira militar mas, tempo depois, entrou para a Escola Prática de Polícia, em Torres Novas. «Era um desejo antigo e por lá estive 20 anos, como agente, sempre na escola...», contou-nos, há dias. 
Está aposentado e no princípio deste ano foi alvo de uma operação à próstata. «Correu bem, estou em boa recuperação...», disse-nos, tranquilo quanto ao seu futuro e quanto à saúde.
Futuro que, no casos dos Eira´s, passa pelos dois filhos, ambos enfermeiros... civis. Um, na Suíça, outro em Vila Real. 
- EIRA. Manuel Alcides da Costa Eira, 2º. sargento 
miliciano enfermeiro, da 2ª. CCAV. 8423, em Aldeia 
Viçosa. Aposentado da PSP, reside em Vila Real.


terça-feira, 16 de abril de 2013

1 641 - O alferes médico Honório e o furriel Vitor Guedes



O dia de hoje é de emoções duplas para os Cavaleiros do Norte. Por um lado, o alferes médico Honório Campos faz 69 anos. Parabéns!! Por outro, passam-se 15 anos sobre a morte do furriel miliciano Guedes. Saudades e memória!!
O alferes Honório Campos (foto à esquerda) serviu o Batalhão de Cavalaria 8423, principalmente na 2ª. Companhia (Aldeia Viçosa) e na 3ª. (em Santa Isabel), com «elevada competência profissional», justificando «merecido louvor». A carreira  médica foi feita na área da dermatologia e, por ironia do destino, teve consultório em Águeda (a minha cidade), sem que alguma vez nos cruzássemos. Apenas dele soube (e falámos) a 16 de Julho de 2011. Em Angola, no Quitexe, o dr. Honório Campos acumulou funções militares com as de Delegado de Saúde, apoiando «toda a população civil, sem olhar a horas de trabalho», como se lê no louvor do comandante Almeida e Brito, acrescentando-lhe «dedicação integral a todos os casos vividos». No decorrer do grave conflito armado entre a FNLA e o MPLA (em Junho de 1975) teve de «actuar quase sozinho, perante elevado número de feridos muito graves, patenteando elevada isenção» e manifestando «a sua capacidade técnica e humana, em actividade digna de realce».
O Guedes (foto de baixo) foi furriel miliciano atirador de cavalaria e jornadeou por Santa Isabel e depois pelo Quitexe e Carmona. Pouco sei dele, apenas que vivia na área de Lisboa e que faleceu faz hoje 15 anos - a 16 de Abril de 1998.

Era um militar sereno, cumpridor, discreto e bom companheiro.
- CAMPOS. António Honório de Campos, alferes miliciano médico. Seguiu carreira de dermatologista, chegando a assistente graduado do Hospital Infante D. Pedro, em Aveiro - cidade onde ainda tem consultório privado. Aposentado desde Outubro de 2006.
- GUEDES. Vitor Mateus Ribeiro Guedes, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel. Residia na área de Lisboa e faleceu a 16 de Abril de 1998, vítima de doença.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

1 640 - Incidentes em Carmona e reforço do Batalhão

Grupo de militares do pelotão de sapadores do BCAv. 8423, prontos para uma patrulha

Os primeiros dias de Abril de 1975 foram tempo de incidentes graves em Carmona, opondo militares armados da FNLA e do MPLA. «Os incidentes de Luanda e Salazar vieram de ressaca até Carmona, dando origem a que houvesse que fazer intervenção a conflitos diversos», lê-se no livro da unidade.
O Cruz e eu andávamos a laurear o queijo por Angola fora, em férias, e os nossos companheiros em serviço viam-se da cor da abelha, para «obstar a tais inconvenientes», o mais perigoso deles a 13 de Abril, «aquando de uma acção de fogo» entre militares dos partidos.
A situação obrigou à pronta intervenção de um grupo de combate da 2ª. CCAV., comandado pelo alferes Meneses Alves,  que, segundo leio no louvor que por isso  lhe foi atribuído, «actuou de forma rápida, decidida e enérgica, não deixando dúvidas quanto à determinação do pequeno grupo que comandava». Deteve dois dos elementos em confronto e, de imediato, fez «abortar a manifestação».
A situação levou os comandos militares portugueses a «reforçar temporariamente o BCAV., para cumprir uma intensa actividade de patrulhamentos mistos».
A 14 de Abril, ontem se passaram 14 anos, chegou um grupo de combate da Companhia de Caçadores 5015. A 15 para 16, um da 3ª. CCAV. 8423», a do capitão José Manuel Fernandes. 
 - MENESES. Manuel Meneses Alves, alferes miliciano atirador de cavalaria, da 2ª. CCAV. 8423, a que chegou em Fevereiro de 1975, ido do Batalhão de Caçadores 4519/73, que estivera em Cabinda e Luanda, em 1974/75, e fora desmobilizado. Acabei de falar com ele, recupera de um problema de saúde, reside em Leiria e prometeu enviar-me foto.

domingo, 14 de abril de 2013

1 639 - As confissões e emoções do Mota Viana...

O Mota Viana foi garboso Cavaleiro do Norte, um dia «apanhado» pelo rigor disciplinar de Almeida e Brito que, sabendo-o filho de oficial do exército (o capitão Viana), não lhe tolerou uma falta de boina na cabeça e o atirou para outras bandas. «Conhecia o meu pai e disse-me que, como furriel miliciano, tinha de dar o exemplo aos praças...», disse o ex-zalala.
Foi em Outubro de 1974 e o Mota Viana, que jornadeava por Zalala mas ao tempo comissionava no Quitexe, foi despachado para Sanza Pombo, depois para Luanda e finalmente para o sulista Luvoé. Mas ficou-lhe, na alma, a marca zalaliana de Cavaleiro do Norte.
Mota Viana não esquece Zalala e, mais de 39 anos depois, no ambiente íntimo de um encontro portuense, ontem, desprendeu as emoções para dizer do seu «orgulho de ter sido» Cavaleiro do Norte. 
Primeiro, porque o capitão Castro Dias «quis que eu ficasse», mesmo depois do castigo, arriscando ele mesmo ser penalizado. Esta partilha solidária do seu comandante directo, sensibilizou-o e marcou-o, só que ele mesmo entendeu que «não devia ficar». 
«Não ia permitir que se arriscasse por mim», disse-nos ontem, recordando esses tempos de Outubro de 1974.
Depois, porque ele mesmo, Mota Viana,  sempre se sentiu amarrado às gentes de Zalala, militares e civis, que o convidavam para «todas as festas». Finalmente, porque, na hora da sua despedida, «até os soldados negros choraram».
«Isto tudo, marcou-me, nunca posso esquecer...», disse o Mota Viana, emocionado, com a voz a fugir-lhe para o embargo, desfiando as suas memórias e saudades de Zalala e do Quitexe. «De si, capitão Castro Dias, eu nunca me posso esquecer, foi meu amigo e solidário comigo!...», sublinhou Mota Viana, na tarde portuense que juntou uma «novena» de Cavaleiros do Norte. 
«Foram pessoas e momentos que me marcaram», concluiu o garboso militar  
- MOTA VIANA. Fernando Manuel Mota Viana, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV. 8423. Estava no Quitexe quando foi «apanhado» sem boina na cabeça, pelo comandante Almeida e Brito, que lhe aplicou 15 dias de prisão disciplinar agravada (Ordem de Serviço nº 97), depois agravada para 20 dias, pelo Comando de Sector do Uíge (OE 112); e 30 dias, pelo comando da Zona Militar Norte (OE 154). É de Braga, onde reside e trabalha nas artes gráficas.

sábado, 13 de abril de 2013

1 638 - Cavaleiros do Norte na invicta cidade do Porto

Castro Dias e António A. Cruz (em cima), Matos, 
Viegas, Queirós e Rodrigues (de pé), Mota Viana, Barreto e Pinto
A invicta cidade capital do Norte, o Porto, foi hoje, por meia dúzia de horas, a capital dos Cavaleiros do Norte: 9 magníficos sexagenários em confraternização íntima e grávida de saudades. E com ementa recheada de apetites e muitas nostalgias mortas num filme que nos fez recuar no tempo. A 1974 e 1975.
Quem se juntou, de cima para baixo na escala hierárquica desse tempo, foram Castro Dias (que oficialou como capitão miliciano e comandante da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala), António Albano Cruz (alferes miliciano das mecânicas, da CCS e o oficial de dia na madrugada de 1 de Junho de 1975 - a dos graves e trágicos incidentes de Carmona) e, ainda dos zalalas, os furriéis Barreto, Rodrigues, Queirós, Mota Viana e Pinto. Furriéis, ex-furriéis melhor dizendo, ainda o CCS Viegas e o Matos, da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa.
Quero acreditar que, na longa conversa,  não ficou um nome por lembrar daqueles que, ao tempo da nossa jornada africana, por lá amadureceram a idade e somaram afectos. Que se multiplicam até hoje, 38 para 39 anos depois.
Uma primeira coisa lembrou logo Castro Dias: a relação criada, em Zalala, com a comunidade civil branca. Os tempos, por razões que nada tem a  ver com os Cavaleiros do Norte, eram de frieza. Coisas do passado imediato e nada de intimidades entre a tropa e os rimagas. Castro Dias, que na bagagem social e cultural levava a experiência de assistente da Universidade do Porto, torneou a frieza institucional, quebrou o gelo e levou o herdeiro Ricardo Magalhães ao Quitexe, em cumprimentos a Almeida e Brito, o comandante. Tudo correu melhor, daí em diante. Era a primeira grande afirmação da «cavalaria» do 8423 nas terras do Uíge.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

1 637 - O Victor Costa de Zalala «aquartelado» em Queluz

Barreto, Queiroz e Victor Costa (de pé), 
Rodrigues, Louro, Barata e Manuel Dias, furriéis de Zalala

O Victor Costa foi meu companheiro da recruta, na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém - no segundo turno de 1973. Jurámos bandeira a 10 de Junho desse ano e, seguindo caminhos diferentes, achámo-nos em Santa Margarida, no período de formação  do batalhão: ele, na 1ª. CCAV. 8423, eu na CCS. A jornada africana do Uíge angolano levou-nos para locais próximos: eu, no Quitexe! Ele, na mítica Zalala.
Faz tempo que o procurávamos, sabendo-o a viver pela zona de Lisboa. Vimo-nos, pela última vez, no Encontro do Batalhão, no Barracão (Leiria), em Junho de 1996. O tempo voa. Hoje, inesperadamente, “caiu-me” no telemóvel. «Apanhou» o blogue e até, vejam lá, achou a «festa» dos seus 61 anos!
O Victor Costa vive em Queluz, à espera da reforma e depois de uma vida que o levou pelas áreas da electricidade, com negócios ao tempo ligados à construção do Centro Cultural de Belém e à EXPO 98.
A vida andou e mudou e, depois, trabalhou nas áreas da imobiliária e da segurança. A esta, dedicou os seus últimos 10 anos de trabalho.
“A vida é assim, sempre a lutar, tem de ser...”, disse-me hoje, em longa conversa telefónica, acasalada de muitas d e muitas das peripécias que nos fizeram amadurecer por terras de Angola. “Tem de ser!...”, repetiu-se.
O marejar de nomes trouxe-nos à memória um tal de Castro Dias, o Queirós, o Pinto, o Rodrigues, o Mota Viana, o Barreto, tudo gente de Zalala com quem amanhã, se Deus quiser, vamos “aquartelar” no Porto, com o (ex-alferes) Cruz da CCS, para desenferrujar a língua e as memórias sobre a nossa epopeica jornada africana e, muito naturalmente, degustar do melhor que houver lá pelo sítio para onde está marcada a “recruta”.
O Victor Costa, que é debutante destas coisas da net - “comecei  há pouco tempo a descobrir estas tecnologias de comunicação, ou seja sou um nabo ainda...”, considerou ele -, lembrou e reevocou um amigo que já partiu desta vida: o Jorge Barata.
“Eh pá, como é possível?!! Sabes de que é que foi?!...”, perguntou-me, de nó apertado na garganta.
Lembrei  ao Victor Costa as circunstâncias do passamento do Barata e, com a saudade quem se quer bem, aqui venho deixar este retrato de vida, a real, aos 12 dias de Abril de 2013.

- COSTA. Victor Moreira Gomes da Costa, furriel miliciano 

atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala. 
Pré-reformado, vive em Queluz.
Ver AQUI
A morte do Barata, AQUI

quinta-feira, 11 de abril de 2013

1 636 - Louvor ao 1º. cabo Carlos Ferreira...

Picada para Zalala, a 15 de Dezembro de 2012, por Carlos Ferreira. Carlos Ferreira, em 1975, em Vista Alegre (em baixo)


A ordem de serviço nº. 162 publicou um louvor ao 1º. cabo Ferreira, mecânico de armas ligeiras, porque, e citamos, «como encarregado da arrecadação de material de guerra da sua subunidade e ao mesmo tempo prestando serviço da sua especialidade técnica, sempre demonstrou o maior zelo, dedicação e esforço»
A proposta do louvor foi do capitão miliciano Castro Dias, comandante da 1ª. BCAV. 8423, a de Zalala (e depois Vista Alegre, Songo e Carmona), que ainda lhe sublinhou «o desempenho das suas funções, garantindo, com a sua lealdade, a melhor colaboração ao seu comandante de Companhia».
Carlos Ferreira vem a ser o fotógrafo de serviço em terras do Uíge, autor das dezenas de fotos que temos publicado neste blogue. É dele, obviamente, a apropriada legendagem da foto de cima: «Aldeia na picada para Zalala, que não existia no nosso tempo. Este tipo de aldeias foram criadas a partir de angolanos que regressaram do Congo, para onde tinham fugido. Ao longe, pode ver-se uma escola nova, de boa construção e no mato».  
- FERREIRA. Carlos Alberto Pereira Tavares Ferreira, 1º. cabo mecânico de armas ligeiras, da 1ª. CCAV. 8423. Natural de Albergaria-a-Velha e residente no Maputo, antiga Lourenço Marques (Moçambique).
  

quarta-feira, 10 de abril de 2013

1 635 - O 3º. Congresso da Oposição Democrática de Aveiro

Congresso (3º.) da Oposição Democrática,
realizado em Aveiro, de 4 a 8 de Abril de 1973


O 3º. Congresso da Oposição Democrática realizou-se em Aveiro, de 4 a 8 de Abril de 1973, com um amigo pessoal na comissão executiva - o Mário Rodrigues (foto ao lado). Amigo da minha idade, era estudante universitário e ao tempo com currículo político que o tinha levado, já, à cadeia de Caxias. A verdura da idade fez dele um agitador social e à memória ressaltam-me as campanhas sindicais na área da metalurgia que, pelo fim de 1972, desencadeou por terras de Águeda. As que o levaram à cadeia. O Mário, contra a guerra colonial e contra tudo o que tivesse a ver com a Primavera Marcelista, sabendo-me em vésperas de ir para a tropa, aliciou-me para ir ao congresso. E lá fui eu, de comboio, ao princípio da tarde de sábado, dia 7 de Abril de há 40 anos, e até à estação de Aveiro, depois a pé até ao Cinema Avenida (foto de baixo) e com o Mário a ciceronear-me pelos meandros do Congresso. 
Gostei de ver e voltei ao outro dia, que era domingo e logo no comboio da manhã, porque ia haver a romagem ao cemitério, que o Governador Civil tinha proibido. Tratava-se de uma evocação de Mário Sacramento e, face à previsível confrontação com a polícia, nada mais apetecível, para a irreverência da nossa idade, que olhar coisas destas, bem de perto. Por volta das 10 e meia da manhã, os congressistas saíram do Cinema Avenida (foto de cima) e marcharam pela avenida Lourenço Peixinho. Mas foram interrompidos pela polícia, antes de chegarem à ponte-praça.
«Em apenas 4 minutos, a força policial em duas levas de 40 unidades, cada, atingiram o cortejo», releio da imprensa da época.
Os congressistas puseram-se a andar e eu, petrificado, nunca mais vi o Mário. Só depois do meu regresso de Angola. Fui eu dias depois para Santarém e seguiu ele outras vidas. Mas sempre amigos e confidentes.
- MÁRIO. Mário Bastos Rodrigues, estudante universitário de Direito. Foi membro da comissão executiva do 3º. Congresso da Oposição Democrática e candidato nas eleições de 28 de Outubro de 1973 - para a então Assembeia Nacional. Jornalista do Expresso, faleceu nos anos 90, vítima de doença.

terça-feira, 9 de abril de 2013

1 634 - Encontros de combatentes da guerra colonial - 2 (fim)

Os Cavaleiros do Norte da CCS em Ferreira do Zêzere, a
 29 de Maio de 2010 (em cima). Em baixo, António Casal da Fonseca


ANTÓNIO CASAL DA F0NSECA
Texto  

(...)
Por muito que as curvas e contra-curvas da vida nos atraiçoem, que outras prioridades prementes nos aflijam e depauperem o nosso estado físico ou emocional, desde que nos mantenhamos de pé, continuará a existir em nós um estranho fôlego que nos alimenta o corpo e a alma.
Os encontros anuais de antigos combatentes da guerra colonial são um hino à nossa juventude, a tudo o que de bom e mau acarretou para nós, num período tão especial da nossa vida.
São, também, um hino às meninas de então, que hoje são o nosso suporte de vida, embora por vezes não o reconheçamos, e orgulhosamente nos acompanham, algumas fazendo questão de ter filhos e netos no evento. É bom sentir que a família está presente, adoça-nos e retempera-nos.
Sinto, também, que é um hino aos nossos pais que, alimentados pelo amor, mantinham viva a esperança de que a guerra terminasse antes de ver os filhos nas fileiras. Hoje, já pais e avós, temos a noção do sofrimento por que passaram, das noites não dormidas e das lágrimas caladas.
Os encontros de ex-combatentes são um misto de sentimentos muito profundos, de coisas que não se explicam mas, e porque, nos ultrapassam. Como, por exemplo, chorar a morte de um camarada 39 anos depois! Que sentimento nos invadirá passados tantos anos?!
Algo de muito forte se passou naquele período da nossa vida, mas que os nossos 21/22 anos não nos deixaram ter a percepção certa.
Os encontros dos ex-combatentes são verdadeiros hinos, mas também uma luta constante pelo respeito pela nossa vida e pela nossa História!!
ANTÓNIO CASAL DA FONSECA
1º. cabo de transmissões da CCS
BCAÇ. 3879, no Quitexe