Cavaleiros do Norte da CCS, na pateira, em Águeda, a 12
ANTÓNIO CASAL DA FONSECATexto
Nesta altura do ano, na forja estão inúmeros convívios de ex-combatentes. Inventam-se e reinventam-me formas e fórmulas para se dar novo ânimo a estes encontros, lutando contra todas as adversidades da vida.
É, também, uma luta constante pela preservação das nossas vivências, anualmente seladas com aquele abraço amigo e fraterno, com aquele aperto de mão que respira franqueza, com um olhar cúmplice, por vezes juvenil, que tanto nos diz e algumas vezes comove.
Os ex-combatentes têm, no corpo e na alma, um inesgotável património humano. Um património de que a História não falará, mas que guardamos no nosso íntimo e apenas pode ser “lido” e entendido por quem trilhou os mesmos caminhos e os mesmos perigos, unidos numa jornada que, pela complexidade e permanente incerteza, nos despiu de preconceitos e classes sociais.
Muitos, arrancados das suas aldeias, onde ainda adolescentes lhes cortaram as raízes que eram o suporte da família, encontraram nos camaradas d’armas uma âncora para a sua vida, dando, muitas vezes, dolorosas lições a quem lhes escutava os temores.
Eram horas e noites a fio, ouvindo e entendendo, ou procurando entender, as dores que cada um sentia, como se nossas fossem. E eram tantas as dores, principalmente de alma, que muitos carregavam pelas mais diversas razões, mas principalmente pela saudade dos filhos, privados de acompanhar o seu crescimento.
Principalmente por esta razão, muitas lágrimas foram engolidas e vozes embargadas. Era uma face da guerra que muitas vezes passava despercebida.
Pelo meio, para enxugar as lágrimas, falava-se de amores e das juras destes, abrindo outra vez e mais outra o célebre “bate-estradas”, já gasto de tanta leitura e manuseio. Durante uma semana ou duas, não saía do bolso da farda, como se o amor da sua vida estivesse ali junto de si. Se necessário fosse, iria até para a mata, sentindo-o como amparo.
Muitas das autoras deste “bate-estradas” (o aerograma), são presenças assíduas nos nossos encontros anuais. Não fizeram parte das fileiras, não conhecem uma G-3, mas foram parte muito importante no dia-a-dia e na moral de muitos. De algumas, recordo ainda o nome e a caligrafia, mas também o conteúdo das missivas, cumplicidade que guardo a sete chaves.
Hoje, há histórias de lá que as meninas de então bem conhecem, mas outras há que bem gostariam de conhecer. Mas como sexagenaridade não significa bom senso, é bom que as meninas de então e senhoras de hoje continuem a sentir-se intrigadas, e assim vão, saudavelmente, tirando alguns nabos da púcara!
Confesso-me surpreendido pelo empenho que as “mais que tudo” demonstram nas organizações dos convívios, mas também pela sua participação, de forma sempre muito activa e animada.
“Não estivemos lá, fisicamente, mas entendemos e participamos com orgulho nestes momentos, ao ponto de nos comovermos com a vossa franca e inesgotável amizade…parecem miúdos felizes…todas nós gostamos muito de vocês”, desabafou uma senhora, um dia, bem alto, levada pelo ambiente do convívio.
Continua
ANTÓNIO CASAL DA FONSECA
Fico feliz e sensilizado com estes comentários que a mim também me dizem muito. Obrigado por estas palavras.
ResponderEliminarMonteiro
É só emoção e ao Monteiro puxa-lhe muito ao sentimento...
ResponderEliminarACL