CAVALEIROS DO NORTE!! Batalhão de Cavalaria 8423, última guarnição militar portuguesa nas terras uíjanas de Quitexe, Zalala, Aldeia Viçosa, Santa Isabel, Vista Alegre, Ponte do Dange, Songo e Carmona! Em Angola, anos de 1974 e 1975!

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

1 842 - Governo de Transição de Angola, visto do Quitexe...

Holden Roberto (FNLA), Agostinho Neto (MPLA) e Jonas Savimbi (UNITA), os líderes 
dos movimentos angolanos (em cima). Notícia sobre o Governo de Transição de Angola (em baixo)


A fechar o mês de Agosto de 1974, vale a pena lembrar que chegou aos Cavaleiros do Norte o furriel miliciano atirador José Carlos Évora Soares, direitinho para a 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala. De Aldeia Viçosa, porém, desertaram 5 elementos dos grupos de mesclagem, todos da 2ª. CCAV. 8423. Pertenciam ao RI20, de Luanda.
E o processo de descolonização, como é que ia? Agostinho Neto, a 31 de Outubro desse 1974 e em Dar-es-Salaan, anunciou a disponibilidade do MPLA para, já em Novembro, formar o Governo de Transição, com a FNLA. «Uma frente unida» que não incluía a UNITA, liderada por Jonas Savimbi e que não era reconhecida pela OUA e pelos dois movimentos.
O Daily News, órgão oficial do Governo da Tanzânia, nesse mesmo dia 31 de Outubro, publicava um ataque a Daniel Chipenda. Chipenda que, em Kinshasa, dissera dias antes, em conferência de imprensa, que o MPLA de Agostinho Neto não tinha autoridade para concluir um acordo de cessar-fogo com os portugueses. Que «só tinha autoridade para se representar a si próprio»
O Daily News, sobre Chipenda, escrevia que «não passa de um homem traiçoeiro e ambicioso, que procura impedir a maré de libertação que está a subir cada vez mais em Angola». «Já deveria há muito ter sido expulso do MPLA, se não fossem as raras qualidades de moderação do dr. Neto», escrevia o jornal.
O dia 8 de Novembro foi apontado por Agostinho Neto como o da instalação, em Luanda, de um escritório do MPLA.
- OUA. Organização de Unidade Africana.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

1 841 - Contra-subversão no Quitexe e comício pró-MPLA em Lisboa

Clube do Quitexe (em cima) e título da notícia do comício de apoio ao 
MPLA, a 29 de Outubro de 1974, no Pavilhão dos Desportos de Lisboa (em baixo).

A Comissão Local de Contra-Subversão (CLCS) do Quitexe reuniu a 30 de Outubro de 1974, tal como a 3 e 16 do mesmo mês. «Usuais reuniões», chama-lhe o Livro da Unidade. Os Cavaleiros do Norte, ao tempo, cumpriam obrigações operacionais no aquartelamento e em patrulhas nos principais itinerários do sub-sector, de forma a garantir o tráfego rodoviário e a segurança de pessoas e bens. Não sem alguns incidentes. 
Ao nível da acção psicológica, rodou-se um filme em todas as subunidades do BCAV. 8423 - entre 10 e 23 de Outubro -, que culminou, a 29, «em actividade virada para as populações, com a sua projecção no Quitexe», na sala do Clube da vila (foto). 
A imprensa portuguesa de 30 de Outubro desse mesmo ano de 1974 deu atenção ao comício de apoio ao MPLA e o Diário de Lisboa titulou que «o imperialismo tenta desesperadamente perpetuar a exploração do nosso povo» - o povo angolano.
O comício realizou-se no Pavilhão dos Desportos, organizado pela Casa de Angola, e foi ouvida uma mensagem de Agostinho Neto e críticas ao que os oradores consideraram «repressão violenta da PM e da PSP a manifestações pacíficas», os exércitos secretos da FRA e ENSINA, «a soldo dos colonialistas»,  também à «falta de medidas repressivas contra elementos da PIDE/DGS», ou o acordos apadrinhados por Mobutu, com a UNITA e Daniel Chipenda, em Lisboa chamados de «traidores e fantoches» - tudo, entre outras coisas, para «criar um clima de confusão política e isolar o MPLA». Assim se disse no comício.
Mobutu, presidente do Zaire, foi considerado «fiel guarda dos interesses colonialistas» e não foram poupadas a FUA (outra «organização colonialista») e a FLEC, considerada um dos «movimentos fantoches e neo-colonialistas».
- FRA. Frente de Resistência Angolana (ou de Angola).
- FUA. Frente de Unidade Angolana.
- FLEC. Frente de Libertação do Enclave de Cabinda. 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

1 840 - 6 FNLA´S apresentaram-se às autoridades do Quitexe

O Matos e o Chitas, da 2ª. CCAV. 8423, ladeando o Aldeagas, da 1ª. CCAV. 8423, ainda em Santa Margarida. Em baixo, o título jornalístico que fala da acusação da FNLA à Junta Governativa

Quitexe, 29 de Outubro de 1974. É terça-feira, como hoje, e o sol vermelho de Angola já se pôs sobre a noite uíjana. Passa meia hora das 17 quando «pela primeira vez, um grupo de 6 elementos armados da FNLA» se apresentou ao comandante do BCAV. 8423 e às autoridades administrativas da vila.
O grupo era liderado pelo sub-comandante João Alves e disse-se pertencer ao «quartel» de Aldeia. Queria «esclarecer actividades na serra do Quibinda», que julgava serem das NT. Facilmente se concluiu, segundo leio no Livro da Unidade, «ser de elementos estranhos, que procuram, certamente, criar um clima de desconfiança local, entre a FNLA e as NT»
Foi uma coincidência, evidentemente, mas nesse mesmo dia, a FNLA, a partir de Kinshasa, acusou o governo português de favorecer o MPLA. Holden Roberto, o presidente, em comunicado divulgado na capital do Zaire, «denunciou, vigorosamente, as manobras de certos membros influentes da Junta Governamental de Luanda, que consistem em encorajar, através da rádio e dos jornais, a campanha política de difamação e de descrédito de um movimento contra os outros e a ameaçar oficialmente qualquer órgão de imprensa que se disponha a difundir informações sobre a FNLA».
O documento da FNLA denunciou também «a violação dos acordos concluídos a 11 de Outubro, em Kinshasa» e apelou para «o sentido de responsabilidade das autoridades de Lisboa, para que se acabe o mais depressa possível com o equívoco que leva a Junta de Luanda a apresentar-se como interlocutor para os movimentos de libertação em matéria de descolonização de Angola e a favorecer certos movimentos, em detrimento de outros». Claramente, a FNLA denunciava, e citamos, o «tratamento preferencial dado ao MPLA» pela Junta presidida pelo almirante Rosa Coutinho.
A memória, refrescada por correio e notas desse tempo, faz-me lembrar que me tinha achado com o Matos, no domingo anterior (dia 27), numa saltada rápida a Aldeia Viçosa, onde ele se aquartelava na 2ª. CCAV. 8423. O Matos era (é) amigo aqui de Anadia. Companheiro, até hoje!!!, e que mostro na foto de 1974, onde está com os alentejanos Aldeagas e Chitas. Um abraço para eles!
- MATOS. Mário Augusto da Silva Matos, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 2ª. CCAV. 8423. Mora em Anadia e trabalha em Águeda.
- ALDEAGAS. João Matias Mota Aldeagas, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 1ª. CCAV. 8423. Empresário agrícola em Estremoz
- CHITAS. António Milheiros Courinha Chitas, furriel miliciano atirador de cavalaria, da 2ª. CCAV. 8423. Natural de Cabeção (Mora), está a trabalhar em Angola.
- NT. Nossas tropas.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

1 839 - A conjura das forças reaccionárias de Angola



Junta Governativa de Angola, em 1974: Capitão de mar e guerra Leonel Cardoso, brigadeiro Altino de Magalhães, almirante Rosa Coutinho, coronel piloto aviador Silva Cardoso e major Emílio da Silva (em cima). Em baixo, título das declarações de Rosa Coutinho 

A 28 de Outubro de 1974, iniciou-se, voluntariamente, o desarmamento das milícias da área do Quitexe, sem incidentes, o que não aconteceu por outras bandas bem próximas. A 26, recordemos, tinha-se realizado uma decisiva reunião com os regedores, sensibilizando-os para «a necessidade de entregarem o armamento». Os milicianos.

No mesmo dia 28, realizou-se uma reunião de comandos no Comando de Sector do Uíge, em Carmona, repetindo as de 4, 21, 25, 26 e 28, em «contactos operacionais». Preparava-se a remodelação do dispositivo militar do Uíge, que iria ficar reduzido aos Cavaleiros do Norte e pouco mais - as companhias aquarteladas no Negage e Sanza Pombo, não sei se outras. Não me lembro.
Rosa Coutinho, presidente da Junta Governativa, anunciava em Luanda, entretanto e nesse mesmo dia 28, que «gorou-se uma conjura para um golpe separatista do tipo rodesiano». Era o que o famoso almirante vermelho dizia ao jornal «A Província de Angola» - o actual Jornal de Angola. Acrescentava e explicava que a conspiração estava «ligada às forças reaccionárias que, em Lisboa, tentaram um golpe no mês passado, durante os acontecimentos que levaram à renuncia do general António Spínola, da Presidência da República».
E quem eram os conspiradores?
Rosa Coutinho indicou, «entre outras pessoas detidas», três dirigentes e o secretário geral do Partido Democrata-Cristão de Angola (António Navarro), que considerou «responsáveis pela recepção de uma remessa de armas que deviam ser descarregadas no território». Outro conjurado, ainda segundo Rosa Coutinho, era Ruy Correia de Freitas, do próprio jornal «A Província de Angola» e que, na altura da entrevista, supostamente estaria na África do Sul.
«Alguns dos cabecilhas da conjura conseguiram fugir», afirmou, faz hoje 39 anos, o presidente da Junta Governativa de Angola. 
  

domingo, 27 de outubro de 2013

1 838 - Rotação do dispositivo militar dos Cavaleiros do Norte

Leonel Cardoso no discurso de 10 de Novembro de 1975, véspera da independência de Angola. Era alto-comissário e, em Outubro de 1974, o nº. 2 da Junta Governativa presidida por Rosa Coutinho (em cima). Estandarte da CCAÇ. 4145/72 (em baixo) 


A remodelação do dispositivo militar da sub-sector onde operavam os Cavaleiros do Norte foi anunciada a 25 de Outubro de 1974. 
A Companhia de Caçadores 4145/72 (bandeira, na imagem) regressaria a Luanda e à sua unidade mobilizadora, o RI20, a partir de 20 e até de 25 Novembro. Deixava Vista Alegre, para onde iria (e foi) a 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala.
 A CCAÇ. 209, abandonaria o Liberato a 8 de Novembro, assim encerrando a presença da autoridade militar portuguesa naquela fazenda. Regressava a Nova Lisboa e à sua unidade mobilizadora, o RI21.
Ainda neste quadro, para além da rotação da 1ª. CCAV. 8423 para Vista Alegre (e Ponte do Dange), passou a saber-se que a 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel, rodaria para o Quitexe - o que veio a acontecer a 10 de Dezembro.
Enquanto isso, o comodoro Leonel Cardoso, nº. 2 da Junta de Governativa de Angola, deu uma entrevista ao jornal "O Comércio», de Luanda, a 26 de Outubro de 1974, logo depois do acordo de cessar-fogo com o MPLA, afirmando, por exemplo, que «agora que os movimentos têm a possibilidade de fazer a sua mobilização política das massas, concerteza que essas massas, até aqui apolíticas, começam a aderir a este ou aquele partido».
«Isto - sublinhou Leonel Cardoso - é que vai definir o futuro. É a mesma coisa que as eleições na Inglaterra, cada facção política democraticamente faz a sua escolha».
Já existiam, porém, diferenças entre os movimentos que se transformavam em partidos.
«Estamos a estudar o problema da UNITA, pois existem graves acusações sobre o seu presidente, feitas até por militares», disse Agostinho Neto, presidente do MPLA, sem dizer quais mas garantindo, noutra perspectiva, que «não haverá represálias contra os europeus residentes em Angola».
«Não pode é - disse Agostinho Neto - é continuar a viver no país um grupo de privilegiados, como até aqui». Precisa, sublinhou o presidente do MPLA, de «verificar-se maior justiça em todos os sectores».
- LEONEL CARDOSO. Comodoro e nº. 2 da Junta Governativa 
de Angola, entre 24 de Julho e 29 de Novembro de 1974. 
Já almirante, foi o último Alto Comissário e Governador Geral de 
Angola, de 26 de Agosto a 10 de Novembro de 1975.

sábado, 26 de outubro de 2013

1 837 - Milícias e frente comum para independência de Angola

Regedores da área do Quitexe (foto da net)

Quitexe: a parada da CCS do BCAV. 8423 (1974/75)


A 26 de Outubro de 1974, há precisamente 45 anos e no Quitexe, realizou-se uma reunião com todos os regedores, as quais, segundo o Livro da Unidade, «foi feito ver a necessidade de entregarem o armamento das milícias», - que começara a processar-se 5 dias antes (a 21), mas «não teve boa aceitação, por parte dos povos», nomeadamente das áreas do Quitexe e Vista Alegre.
Os regedores eram uma autoridade local, que dispunha de milícias, formadas por homens válidos, alguns dos quais tinham cumprido serviço militar e estavam armados com espingardas de repetição. Funcionavam  como organização de alerta e auto-defesa das aldeias (sanzalas) e não custa compreender os seus receios em entregar as armas: ficavam indefesos ante os próximos senhores do poder, que eles tinham combatido, sob a  bandeira de Portugal.
Notícia do Diário de Lisboa
O desarmamento, mesmo assim (e depois de algumas dúvidas e pequenos incidentes), começou voluntariamente, a partir de 28 de Outubro de 1974.
O mesmo dia, em Luanda, foi tempo para Agostinho Neto declarar ao jornal «O Comércio» que «temos feio esforços para a unidade e acredito que chegaremos ao momento em que todos nos uniremos uma frente comum para a independência do nosso país».
O nosso desejo é sempre de colaborar com todas as forças patrióticas», acrescentou Agostinho Neto, negando, todavia, ter-se encontrado com Jonas Savimbi, presidente da UNITA E dele não tinha a melhor opinião.
«Estamos a estudar o problema da UNITA, pois existem graves acusações sobre o seu presidente, feitas até por militares», disse Agostinho Neto, sem dizer quais mas garantindo, noutra perspectiva, que «não haverá represálias contra os europeus residentes em Angola».
«Não pode é - disse Agostinho Neto - é continuar a viver no país um grupo de privilegiados, como até aqui». Precisa, sublinhou o presidente do MPLA, de «verificar-se maior justiça em todos os sectores».
O sargento enfermeiro Manuel Eira, com
uma fotografia de militar na mão

Eira, sargento enfermeiro, 
76 anos em Vila Real !

O então 2º. sargento Eira, que foi Cavaleiro do Norte da 2ª. CCAV. 8423, festeja 70 anos a 26 de Outubro de 2013.
Manuel Alcides da Costa Eira apresentou-se em Aldeia Viçosa já em Abril de 1975. Cumprira, como furriel miliciano, a sua primeira comissão em Moçambique, de 1965 a 1968! Voltou a África, mas a Angola, em 1971, cumprindo a segunda comissão! E a Angola voltou,em 1975, para a 2ª. CCAV. 8423. Por brevíssimos dias em Aldeia Viçosa, até que, a 26 de Abril de 1975, a companhia rodou para Carmona. Aqui, no BC12, inventariou a farmácia do aquartelamento e com a 2ª. CCAV. viajou para Luanda, a 4 de Agosto, integrando a épica coluna militar desses dificílimos dias.
Já em Portugal, entrou para a Escola Prática de Polícia, em Torres Novas, onde, sempre como enfermeiro, esteve durante mais de 20  anos, até à reforma - agora morando em Vila Real. Está hoje em festa de anos. Parabéns!
  

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

1 836 - O Manuel Dias, furriel miliciano mecânico de Zalala...

Manuel Dinis Dias, furriel miliciano mecânico-auto da mítica e heróica 
Zalala, ao tempo de 1975, em Angola (foto de cima), e mais recentemente (em baixo) 



O Dias foi furriel mecânico da mítica Zalala, «a mais dura escola de guerra», por onde aquartelou a 1ª. CCAV. 8423, a do capitão miliciano Castro Dias. Faleceu em Lisboa, a 20 de Outubro de 2011, vítima de doença. 
Já por aqui falámos dele, com a saudade e a paixão de quem acompanheirou em momentos significativos da jornada africana que nos levou à terra uíjana de Angola. Hoje, editamos uma foto recente, do Dias que partiu há dois anos e em dor deixou Júlia, paixão da sua vida, e Ana Filipa, a filha desse amor de sempre!
O Dias «furrielou» por Zalala, depois por Vista Alegre, Songo e Carmona, antes de Luanda e do regresso a Lisboa, em Setembro de 1975. Pela capital do (antigo) império, fez vida como mecânico. Tem raízes familiares em Oliveira do Hospital, mas foi por lá (por Lisboa) que viveu e desenvolveu a sua arte de mecânico. Até um destes dias, amigo!
Recuando ao tempo de 1974, há 39 anos - ele, Cavaleiro do Norte de Zalala, e eu na CCS do Quitexe -, decorria o processo de descolonização de Angola e é de lembrar o anúncio da preparação, em Lisboa e para o dia 29 de Outubro, de uma manifestação a favor do MPLA, promovida por angolanos residentes e apoiantes do movimento de Agostinho Neto, no Pavilhão dos Desportos.
A linguagem é a típica da época: «Apelamos ao povo português e a todas as forças progressistas e anti-colonialistas a solidarizarem-se em mais uma iniciativa em prol da independência completa e imediata de Angola»
A Casa de Angola, base operacional da organização, anunciava que iriam ser tratados temas como, e citamos, «o processo de descolonização, as manobras do imperialismo, porque o MPLA é o legítimo representante do povo angolano».
- DIAS. Manuel Dinis Dias, furriel miliciano mecânico-auto, da 
1ª. CCAV. 8423. Natural de Oliveira do Hospital, residia e trabalhava 
em Lisboa, onde faleceu, vítima de doença, a 20 de Outubro de 2011.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

1 835 - Ida a Aldeia Viçosa e aviso de Daniel Chipenda

Aquartelamento de Aldeia Viçosa, fotografado pelo Carlos Ferreira, em Dezembro 
de 2012. Em baixo, o (furriel) Mário Matos,  de Anadia, junto a placa da estrada do café

O comandante Almeida e Brito e oficiais da CCS do BCAV. 8423 deslocaram-se a Aldeia Viçosa, no dia 24 de Outubro de 1974. O objectivo era, a exemplo de outras deslocações a outras sub-unidades, «estabelecer contactos operacionais». Preparava-se, ao tempo, a remodelação do dispositivo militar e, obviamente, importava diligenciar tarefas e delinear missões. 
Aldeia Viçosa aquartelava a 2ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano José Manuel Cruz, e de lá, e mais íntimos de mim, eram os furriéis Matos e Letras. Este, desde o curso de Operações Especiais (Ranger´s) de Lamego, tal qual o (alferes miliciano) Machado. O Matos (na foto), meu vizinho de Anadia (ainda hoje) e contemporâneo da Escola Prática de Cavalaria e das longas viagens de Santa Margarida, no SIMCA 1100 do Francisco Neto.   
E quanto ao Governo de Transição de Angola? Agostinho Neto, após o acordo aqui ontem falado, admitia formar governo com a UNITA e a FNLA e afirmou que os militantes do MPLA iriam passar da luta armada para a luta política. Mas o dissonante Daniel Chipenda, em Kinshasa, dava conta da sua não concordância com a assinatura do acordo com os portugueses. Liderava uma facção do MPLA e argumentava que Agostinho Neto não podia falarem nome de todo o movimento (partido).
Chipenda, que tinha sido futebolista da Académica de Coimbra e do Benfica, avisava o governo português: «O cessar-fogo aceite por Agostinho Neto só será respeitado pelas forças que o reconhecem como chefe». Muitas águas se iriam passar sob a ponte da independência que se pretendia construir em alicerces de paz!



- CHIPENDA. Daniel Chipenda nasceu no Lobito, a 15 de Maio de 1931, e faleceu em Cascais, a 28 de Fevereiro de 1996. Integrou o MPLA e destacou-se como comandante da Frente Leste, antes de criar a Revolta de Leste, uma facção do MPLA. Posteriormente junta-se à FNLA, de onde sai para, de novo, integrar o MPLA; sai novamente em Julho de 1992. Daniel Chipenda era da etnia ovimbundo. Ver em http://pt.wikipedia.org/wiki/Daniel_Chipenda

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

1 834 - O cessar-fogo com o MPLA...

Palácio do Governo, em Luanda, em foto do final da governação portuguesa. Ainda 
se vê a bandeira nacional (em cima). Notícia sobre o Governo de Transição (em baixo)

Luanda, 23 de Outubro de 1974. A imprensa dá conta do encontro da Delegação Portuguesa com a do MPLA, na véspera, a 60 quilómetros do Lucasse, no distrito do Moxico, que tornou oficial o cessar-fogo. 
O comodoro Leonel Cardoso, líder da delegação portuguesa, sublinhou a importância das negociações, que considerou «um passo largo para a paz em Angola».
Agostinho Neto, presidente do MPLA, considerou que «os conflitos, os males, as diferenças que nos opõem, podem terminar, através do diálogo honesto e construtivo».
Ao tempo, a FNLA e UNITA já tinham assinado o acordo de cessar-fogo com as autoridades portuguesas e estas negociações com o MPLA, concretizadas, anteviam a formação de uma frente comum, através da qual, com o Governo de Lisboa, se prepararia a formação de um Governo de Transição de Angola.
Vale a pena recordar a formação das duas históricas delegações. A portuguesa, liderada pelo comodoro Leonel Cardoso, nº. 2 da Junta Governativa, com os Secretários de Estado Peres do Amaral e António Augusto de Almeida, os majores Emídio Silva e Pezarat Correia (do Movimento das Forças Armadas) e o governador do Moxico e comandante da Zona Militar Leste (brigadeiro Ferreira de Macedo). A do MPLA, por Agostinho Neto, o presidente, com Lúcio Lara, Iko Carreira, Carlos Rocha, Ludy, Pedro Tonha, Jacob Caetano, João Van-Dunem e Aristides Van-Dunem (do comité central), comandante Bolingo, Rui Sá e Francisco Paiva (comissários políticos).
Pelo Quitexe, entretanto e na tranquilidade (expectante) da nossa jornada africana, continuavam os serviços habituais e, recordemos, decorria o processo de desarmamento dos milícias. Com algumas dificuldades, é certo, mas com segurança e sem incidentes especiais. A grande esperança da guarnição tinha a ver com a anunciada formação do Governo de Transição, em Novembro seguinte. Seria um passo largo para o final da comissão. Assim se pensou, mas assim não seria, como o futuro veio a mostrar.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

1 833 - Desarmamento dos milicianos das sanzalas

Uma sanzala de Angola (em cima) e Jonas Savimbi, presidente da UNITA (em baixo)


O desarmamento dos milícias começou a 21 de Outubro de 1974 e a tarefa teve os seus quês, já que os ditos não o aceitaram de boa catadura e, como se lê no Livro da Unidade, «não teve boa aceitação, por parte dos povo, nomeadamente nos postos sede», do Quitexe e Aldeia Viçosa. E nem por isso era assim tão importantes: «Salvo honrosas excepções, não tiveram actuações de vulto em defesa dos seus aldeamentos», lê-se no Livro da Unidade.
Ainda assim, o facto de estarem armados, eram, nas sanzalas, «a melhor defesa às acções de depradação e exigência do IN». Compreende-se por que não queriam ser desarmados. Poderiam, digo eu, ser alvo de acções de vingança por parte do IN, embora também se soubesse que muitos deles «vivem em contacto permanente» com a FNLA.
Isto era lá pelos lados do Quitexe. Em Luanda, sabia-se, através da revista Semana Ilustrada, que a UNITA só participaria na Junta Governativa de Angola, caso participassem, também, o MPLA e a FNLA. «Como os outros movimentos não aceitaram participar, o actual Governo de Transição não tem  elementos dos movimentos libertadores», declarou Jonas Savimbi, na entrevista concedida à revista de Luanda.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

1 832 - O António de hoje e o cessar-fogo do MPLA

Albino Ferreira, Viegas, Neto, António e 
Florêncio, 5 «PELREC´s em Ferreira do Zêzere. 
Notícia de um encontro de Rosa Coutinho com Agostinho Neto

Um homem vai na santa paz dos deuses, a navegar no Danúbio e a conversar sobre o dia-a-dia, quando toca o telefone. Auto-desculpando-me com o roaming, tenho a tentação de não atender, mas atendo à segunda. É o António, o António a dar-me troco de uma conversa do dia dos seus 61 anos e, naturalmente, sem imaginar para onde está a falar.
O António - Francisco Fernando Maria António de seu nome, e que nome!!!... - foi soldado atirador do PELREC e daqueles que não virava a cara a perigos, ou serviços, ou patrulhas, ou escoltas, ou operações! Sempre pronto! Voltado às raízes natais, fez vida como motorista de longo curso,andou pelas estranjas de onde calahou e recolheu às estradas de Portugal, em exclusivo, já no final da carreira. Reformou-se há dois anos, «já farto de andar com a roda na mão". A roda, aqui, é o volante do camião!
A operação ao coração, em 2010, apressou-lhe a decisão. O pacemaker estabilizou-o, mas «mais vale não abusar». Isto, são coisas que se falaram hoje. Há 39 anos, andávamos a jornadear pelo Quitexe e a imprensa anunciava um encontro de Rosa Coutinho, presidente da Junta de Governativa de Angola, com Agostinho Neto, o presidente do MPLA, no interior de Angola
Notícias dos dias seguintes, porém, dão conta que, afinal, Neto se fez representar, assim como Rosa Coutinho, substituído pelo comodoro Leonel Gomes Cardoso, o nº. 2 da Junta Governativa. 
O Jornal A Província de Angola noticiava que «um dos tópicos das conversações será o anúncio oficial do cessar-fogo», da parte do MPLA.


domingo, 20 de outubro de 2013

1 831 - Dias do Quitexe vistos de Viena de Áustria

Neto e Viegas, à chegada (ou a meio) de mais uma escolta. A nota do verso refere que é de 17 de Outubro de 1974, data que coincide com a ida à Fazenda  Santa Isabel, a da 3ª. CCAV. 8423 (foto de cima). Em baixo, o restaurante Griechenbeisl, em Viena de Áustria, e a Lagoa do Feitiço, nos arredores do Quitexe 



Os dias, por aqui, vão frescos e molhados, de corpo bem agasalhado, não vá a constipação ou alguma gripe atrapalhar estes dias de rota da digressão pela Europa Central. Hoje, por Bratislava, capital da Eslováquia, tivemos 4 graus, céu nublado e uns pinguitos de chuva (muito poucos) a molharem a roupa quente. Foi assim ao princípio da manhã, mas logo abriu o sol e, navegado o Danúbio e galgada a eclusa, deslumbrámos os olhos com a monumentalidade histórica de Viena - a capital da Áustria
O almoço no restaurante Griechenbeisl foi um regalo, mas, se querem saber, já me faltam os cheiros e os sabores de Portugal. E o que tem isto a ver com o Quitexe, com o Uíge da nossa jornada angolana de África? Nada. 
Se quisesse comparar, não poderia haver comparação - como ontem fiz com Bratislava. O que de repente me ocorre é a lagoa do Feitiço, nos arredores do Quitexe e fui, daqui, «pescar» uma imagem do blogue para a repetir. Ela aí está. Mas o que é a lagoa do Feitiço ao pé do Danúbio? Ou até o rio Loge, que banha as terras uíjanas?
Busco mais, enquanto esfria a noite de Viena e faço tempo para arruar uma saída. Acho notícias das vésperas quitexanas, ao tempo lá chegadas:
- Dia 15: O MFA de Angola ratificou o cessar-fogo com a FNLA. A Casa de Angola em Lisboa contestou «a orquestração insidiosa» contra o MPLA e «a criação de partidos fantoches e oportunistas», também a manutenção da «estrutura colonial-fascista» da PIDE/DGS e da OPDVCA e a «intensa propaganda desenvolvida pela imprensa ultra-reacionária» a favor da FNLA e da UNITA.
- Dia 16: Militantes do MPLA e moradores dos musseques ocuparam a Câmara Municipal de Luanda, exigindo o saneamento do presidente Lemos Pereira.
- Dia 17: O Partido Cristão Democrata de Angola escreveu ao general comandante-chefe das Forças Armadas de Angola.
Foi isto há 39 anos! Vejam lá como o tempo passa!

sábado, 19 de outubro de 2013

1 830 - Cavaleiro do Norte na eslovaca Bratislava

A estrada do café, no Quitexe, em 2006, com o restaurante 
Rocha, à direita. Foto de Jorge Oliveira. Em baixo, Bratislava, capital da Eslováquia, em 2013




Ei, Cavaleiros do Norte: escrevo de Bratislava, do hotel onde repouso o corpo, por uma horinha e antes da saída para o CSarda, restaurante onde saciarei a fome nascida do farto passeio pela zona histórica, visita ao Presporacike, almoço no Ufo, passagem pelo castelo e audição de congressistas. Estou curioso, pois está prometida ementa «surpresa» e animação para depois.
Olho a cidade, do alto deste andar que me faz chegar mais prócimo do céu escuro da noite, e espreito o Danúbio e o ar nocturno de uma urbe com história de séculos. Comparo Brastislava ao Quitexe. 
Não há, obviamente, qualquer comparação.
O Quitexe, a angolana vila-mártir de 61, tinha duas ruas principais, mais meia dúzia delas que se interligavam. Cabia (cabe) num cantinho desta capital da Eslováquia, que nem é muito grande mas tem história de séculos - na fronteira com a Hungria e a Áustria, a pouco mais de 60 quilómetros de Viena, de onde cheguei ontem. 
Não chega a ter meio milhão de habitantes e tenho-me sentido em casa: ouço falar Português por quase todo o lado! Um contacto telefónico, assegurou-me que lá por casa vai tudo bem. Vou, então, para o CSarda!
Vou, mas não sem lembrar que, há 39 anos, pela área de intervenção dos Cavaleiros do Norte, continuava o êxodo dos trabalhadores do sul (os contratados para a apanha do café). Portugal, a partir de Lisboa, pedia à ONU para alargar a assistência a Angola (e Moçambique), no delicado processo de descolonização, e uma delegação da FNLA preparava-se para ser recebida em Luanda, pelas autoridades militares portuguesas! 
Desculpem lá, tendo de ir!!!

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

1 829 - Pilhagens no Quitexe e FNLA em Luanda

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O Quitexe. À esquerda, as casernas do PELREC (a primeira) e dos sapadores. 
O edifício do comando é o que fica na esquina da avenida. Vê-se, à sua esquerda, a porta d´armas, jáligeiramente diferente no tempo dos 
Cavaleiros do Norte. Em baixo, a notícia da instalação da FNLA em Luanda

A 18 de Outubro de 1974, há registo de «pilhagens aos utentes dos itinerários, especialmente no troço compreendido entre o Quitexe e Aldeia Viçosa». Pilhagens da FNLA, como acentua o Livro da Unidade, que releio (através de extractos deste blog), a partir de um hotel de Viena de Áustria.
Há 39 anos, pisando a terra vermelha do Uíge angolano, com estreia de viagem de  avião a 29 para 30 de Maio anterior (quando viajámos de Lisboa para Luanda), estava obviamente longe de imaginar que aqui estaria hoje, num 11º. andar, quase colado ao céu, a reviver tempos dos Cavaleiros do Norte. E por lá, pelo Quitexe, quando se «procurava contrariar esta acção de banditismo com o lançamento de patrulhamentos inopinados», não poderia imaginar (longe disso) os voos que me levaram já a dezenas de países. Ao tempo, o que nos preocupava era o comportamento dos homens da FNLA que, e de novo cito o LU, «à aproximação das NT, se furta ao contacto» - razão por que «consequentemente não se evita a acção já realizada ou a realizar, pois a presença das NT não é, e não pode ser, contínua». 
A FNLA era a mesma que, no mesmo dia, anunciava que se ia instalar na capital de Angola. Era, como se lê no recorte do jornal de faz hoje 39 anos, «o primeiro dos três movimentos emancipalistas de Angola a abrir escritório em Luanda». Sonhava-se, então, com a formação de «uma frente unida entre a FNLA, o MPLA e a UNITA». Não viria a ser assim, como se sabe!

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

1 828 - Dias do Quitexe e a descolonização de Angola

Capa do jornal A Província de Angola, com a notícia da chegada de Rosa Coutinho a Luanda. Notícia do Diário de Lisboa de 17 de Outubro de 1974, sobre as conversações para a independência de Angola

Rosa Coutinho, presidente da Junta Governativa de Angola, chegou a Luanda no dia 24 de Julho de 1974 e, entre muitas outras coisas que por lá (des)fez, a 16 de Outubro desse mesmo ano recebeu uma embaixada da República do Zaire que, depois das negociações de Kinshasa, se fazia acompanhar de dirigentes da FNLA, para «acelerar o processo de descolonização de Angola».
Os zairotas eram liderados por Bela Matwamba, genro de Mobuto Sese Seko (o presidente), e a comitiva da FNLA por Hendik Vaal Neto - portador de uma mensagem de Holden Roberto. Mostrou-se, a FNLA, disposta a encetar negociações com o MPLA e a UNITA, no sentido de criarem «uma frente comum», objectivo que era dificultado, ao tempo, pelas dissidências internas do movimento de Agostinho Neto.
Luanda, nesse mesmo tempo, era cenário de incidentes com «quadrilhas não identificadas» que operavam nas imediações da cidade e que levaram mesmo à «suspensão de carreiras nocturnas de autocarros».
E pelo Quitexe, terra-sede dos  Cavaleiros do Norte?
O comandante Almeida e Brito visitou Santa Isabel, onde aquartelava a 3ª. CCAV. 8423, a do capitão José Paulo Fernandes, acompanhado de oficiais da CCS. A 13, estivera no Destacamento da Fazenda Luísa Maria e a 24 deslocar-se-ia a Aldeia Viçosa, onde estava a 2ª. CCAV., a do capitão miliciano José Manuel Cruz. Sempre com oficiais da CCS e, muito provavelmente, escoltado pelo PELREC.
- NOTA: Já desde ontem, e por alguns dias, vou 
estar fora do país. Procurarei não faltar a este «dever» 
diário, se as circunstância o permitirem. Como, aliás, 
já por quase uma dezena de vezes fiz nestes quatro 
anos e meio de vida do blogue. A ver vamos!  * CV

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

1 827 - Governo de Coligação e a contra-subversão no Quitexe

Avenida do Quitexe, em Janeiro de 2012. À direita, nota-se a messe de oficiais, a cobertura em branco e em bico. Imediatamente  antes, em arcos, a casa dos furriéis. Em baixo, a notícia da formação de um Governo Angolano de Coligação

Aos idos dias que passavam nos meados de Outubro de 1974, andavam os Cavaleiros do Norte preocupados com as pilhagens na estrada do café e outros itinerários do Uíge e, por Luanda, era dada conta de chegada de Endrick Val Neto, da FNLA, para conversações com a Junta Governativa de Angola. E confirmava-se, às zero horas, o seu (da FNLA) anunciado cessar fogo - o que, aliado, ao da UNITA (a 14 de Julho) e a cessação de hostilidades por parte do MPLA (dado como certo no mesmo mês), levava a imprensa a concluir que «na prática, a guerra acabou em Angola». 
Sobre o Governo de Coligação, a 16 de Outubro de 1974 confiava-se que «deverá funcionar até à realização das eleições constituintes» e o presidente da Junta Governativa  trocou largas impressões com quadros da UNITA, que tinham concluído estudos superiores de Ciência Política, na Suíça. E eram, esperados mais 150 quadros políticos, formados em universidades europeias.
O Governo de Coligação deveria ser constituído por membros dos três movimentos de libertação (MPLA, FNLA e UNITA) e «outras facções políticas».
Duas notas salientes do dia:
1 - Cerca de 2 200 angolanos fugiram para o Botswana, tornando-se cidadãos deste país.
2 - A Inspecção de Crédito e Seguros de Angola anunciou que não eram aceites mais pedidos de transferências. Eram já milhares os não despachados e não se previa que o problema fosse resolvido ao final do mês.
E pelo Quitexe? 
Há precisamente 39 anos, a 16 de Outubro de 1974, reuniu a Comissão de Luta Contra a Subversão - a CLCS.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

1 826 - O cessar fogo da FNLA, há 39 anos...

A FNLA anunciou o cessar fogo a 14 de Outubro de 1974. O presidente Holden Roberto 
falou no Zaire. Na foto de baixo, a 9 de Novembro de 1975, está com o coronel Santos Castro 

A 14 de Outubro de 1974, a FNLA anunciou em Kinshasa, no Zaire, o cessar fogo em Angola. «Queremos construir uma Angola livre e próspera, com todos os seus filhos, seja qual for a cor da sua pele», disse o presidente Holden Robert, lamentando que o MPLA se debatesse com «dissidências e questões puramente burocráticos e administrativos».
O cessar fogo era anunciado para o dia seguinte, dia 15 de Outubro de 1974 (hoje se passam 39 anos), depois das negociações da semana anterior, entre uma delegação do Governo Português e o  movimento de libertação liderado por HJolden Roberto, suscitadas pelo presidente Mobutu, do Zaire.
A notícia, obviamente, chegou ao Quitexe e o Livro da Unidade faz-lhe referência, lembrando que «já havia sido obtida uma plataforma de entendimento que levava à paragem de hostilidades entre as NT e a FNLA». O que, porém, precisa o LU, «em nada mudou a vida operacional que se conduzia», principalmente caracterizada por «intensa actividade de patrulhamentos, nomeadamente orientados para a obtenção de liberdade dos itinerários».  

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

1 825 - Ataque e dois civis europeus mortos

A 14 de Outubro de 1974, dois civis europeus forma mortos no limite nordeste da zona de acção (o subsector) do BCAV. 8423, entre as fazendas Alegria II e Ana Maria. «Um grupo IN realizou uma emboscada a uma viatura civil, com êxito de sua parte, pois que houve dois mortos», lê no Livro da Unidade. 
A foto que publicamos indica, escrito por mim, que se trata de «uma das vítimas da baixa do Mungage, perto do Quitexe, em zona operacional do Batalhão», indicando o dia 16 de Outubro. Ora a baixa do Mungage ficava no outro extremo geográfico, para os lados da picada de Zalala. Ser o caso de terem sido duas situações de emboscada? 
O Livro da Unidade dá conta que, sobre este caso, que «terá sido uma acção esporádica, poderá mesmo ser um ajuste de contas». Mas o facto, acrescentava, «é que foi mais uma acção que veio por de sobreaviso para a possibilidade de desrespeito a ordem recebida». Por outras palavras, mais valia prevenir que remediar.
Em Luanda, um comunicado do Comando Militar Português informava que «em Setembro, não se registaram incidentes atribuíveis à UNITA ou ao MPLA». E, sobre a FNLA, referia que «a partir de meados daquele mês, tem vindo  a promover uma campanha pacífica no norte, estabelecendo contactos com as populações locais, segundo informações recebidas do distrito do Uíge e de Carmona». Uíge era onde se localiza(va) o Quitexe. Carmona fica(va) a 40 quilómetros.
Assim ia a vida dos Cavaleiros do Norte, há 39 anos!

domingo, 13 de outubro de 2013

1 824 - Ida ao Destacamento de Luísa Maria, há 39 anos!!!

Hipólito e Viegas (atrás), Caixarias, Silvestre (?) e Francisco. Militares do 
PELREC na Fazenda Luísa Maria, no dia 13 de Outubro de 1074 - há 39 anos

Há precisamente 39 anos, dia 13 de Outubro de 1974, também era domingo e o PELREC foi em missão à Fazenda Luísa Maria, onde estava um destacamento militar, ao tempo guarnecido por um pelotão da 2ª. CCAV. 8423.
A visita do comandante Almeida e Brito era de natureza oficial, de cortesia, e certamente para analisar e esclarecer ao situação política (e militar) decorrente do 25 de Abril - que, a brincar a brincar, já ia em quase meio ano! Por lá almoçámos, talvez grão de bico e bacalhau (se a memória não falha) e as inevitáveis CUCA´s, a popular cerveja angolana que nos matava  a sede e afogava saudades.
Terá sido neste domingo, no regresso ao Quitexe, que assistimos à perseguição de uma pacaça a um homem, que fugia desalmado, a quanta força davam as pernas, e acabou por «safar-se» andando à volta de uma árvore, na qual marrava o animal, até que foi abatido pela tropa e o perseguido se pendurou no tronco, como que por artes mágicas. E que boa carne deu a pacaça! Bons bifes, boas peças cozidas ou assadas, nalguns casos parecidas com rojões (parecesse-se lá com o que parecesse), passadas à faca e ao lume da cozinha do Quitexe.  
E o que será feito deste quinteto de «pelrec´s»? Eu, por aqui ando a blogar, vivendo e trabalhando em Águeda. O Hipólito está em França, emigrado e a trabalhar na construção civil. Falamos de quando em vez e aguarda os dias da reforma. O Caixarias aposentou-se e vive em Sarge (Torres Vedras). O Silvestre vive além-Tejo, na zona de Almada, no Feijó. O Francisco, também já reformado, mora na Marinha Grande, onde estive com ele em Agosto.
Ver AQUI
E AQUI

sábado, 12 de outubro de 2013

1 823 - O futebol do Quitexe e a descolonização

Futebol no Quitexe, equipa da CCS. Em cima, Grácio, Gomes, Miguel Teixeira, Botelho (Cubilhas), Miguel (furriel paraquedista), Gaiteiro (?) e Soares. Em baixo, Miguel (condutor?), furriel Mosteias, furriel Lopes,  Esmoriz (enfermeiro), furriel Monteiro e Teixeira (estofador) 




Outubro de 1974, entre escoltas e segurança de itinerários, serviços de rotina e desejo de regressar sempre a medrar, foi também tempo de futebol no Quitexe - com renhidas partidas entre civis e e militares e, nestes, entre especialidades e sub-unidades.   
Há, na verdade, memória de vários encontros entre as companhias do BCAV. 8423, mas sem qualquer registo de resultados e muito menos fotográficos.
A outro nível, a 8 de Outubro, registam-se várias declarações de políticos angolanos.
Agostinho Neto, do MPLA, declara que «o futuro de Angola será decidido pelo povo angolano e não pela minoria branca». Também do MPLA, Saidy Mingas comentou que «devido as potencialidades económicas de Angola, nomeadamente aos seus recursos petrolíferos, existem pressões imperialistas que se opõem à independência».
Mangali K. Tuka, da FNLA, considerou que o programa de descolonização proposto para Angola é «muito ambíguo».
Entretanto, em Kinshasa, capital do Zaire, reuniu o Governo Português (com uma delegação chefiada pelo general Fontes Pereira de Melo) e o FNLA, sob os auspícios do presidente Mobutu. 
A notícia é do Diário de Lisboa de 12 de Outubro de 1974, que citamos, e  acrescentava continuarem «contactos com o MPLA e os movimentos africanos do interior de Angola», admitindo para breve um reunião em Lisboa, com representantes dos partidos e movimentos angolanos, em moldes diferentes dos realizados pelo general Spínola, que um mês antes se demitira da Presidência da República - substituído por Costa Gomes.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

1 822 - O Eusébio de Zalala em Belmonte

Pinto, Eusébio, Mota Viana e Rodrigues (atrás), Dias Queirós e Barreto (foto 
de cima). Rodrigues, Eusébio, Barata e Queirós em Zalala, 1974 (em baixo)

Os meus amigos estão a ver estes rapazes aqui ao lado esquerdo? E aqueles penteados, estranhos mas actualíssimos, aos modos de hoje? São quatro quatro Cavaleiros do Norte de Zalala, da épica Zalala, a mais dura escola de guerra! Em 1974!
A imagem de baixo, muito mais recente, é de Junho de 2012 e mostra três dos «zalalas» da daqui do lado, mais quatro: o Pinto, o Mota Viana, o João Dias e o Barreto. Tudo gente maior e que, por esses dias de há 16 meses se passearam por Belmonte, para acharem o Eusébio. O Barata, Jorge António Eanes Barata, infelizmente, já se partiu desta vida, foi o funeral dele faz hoje precisamente 16 anos. Em Alcains.
Saudades, Barata!!
O Eusébio telefonou-me há dias, quando esperava pelo filho que andava nas vindimas. Foi operado há três semanas e cortaram-lhe o dedo mendinho do pé direito. Por problemas de diabetes e má circulação. Os mesmos que, faz tempo, levaram a que lhe amputassem a perna esquerda.
O Eusébio falou-me deste problemas, que o afligem e lhe doem, com espantosa tranquilidade. «Calhou-me isto, não vou fazer mais nada a não ser cuidar de mim!», disse-me ele, soltando até uma gargalhada. E explicou que a mulher «lá se vai aguentando com os axes dela» e os filhos procuram emprego. A vida está assim!
O projecto que tinha (tem) para os filhos terem uma loja de petiscos e artesanato, anda emperrado na burocracia pública. Mas o Eusébio é confiante: «Quem esperou 7 meses, pode esperar mais mais tempo».
O importante é arrumar o futuro dos filhos e, nisso, o Eusébio é pai-galinha. «São nossos, temos de os ajudar», disse ele, ao telefone, recordando Zalala e o Quitexe, o Uíge das nossas saudades.