Viegas e Rocha, na primeira foto
de Angola, já no Quitexe,
a 6 de Junho de 1974
O dia 25 de Maio de 1974, como hoje, foi um sábado. Saíria eu de casa na madrugada de 27, a segunda-feira seguinte, para o RC4, em Santa Margarida - de onde, a meio da tarde, iríamos para Lisboa e, daqui, voaríamos para Luanda. Saí a 27, mas o resto foi adiado para dois dias depois, a 29.
O sábado de hoje se fazem 39 anos foi tempo de despedidas e de passar pelas propriedades da família.
Dos amigos mais próximos, um a um, tive o abraço do adeus embrulhado em desejos de que tudo corresse bem pelo meu lado e que, por Angola, não demorasse muito tempo. O 25 de Abril tinha sido um mês antes e os ventos revolucionários também chegavam à minha aldeia, pela TV, comas sugestões gritadas nas manifestações de Lisboa. Nomeadamente, a de mais nenhum soldado ir para a guerra colonial. Mas fomos!
Os amigos, nas despedidas, todos me despejavam votos de sorte, muita sorte!!! Eu sentia-me seguro, sereno, tranquilo e bem preparado - física, mental e tecnicamente. Preparado para o ir e voltar.
O país, por esse tempo, vivia greves atrás de greves e, nesse dia,terminou a suspensão da emissão da Rádio Renascença. Lisboa assistiu a mais uma manifestação, do Rossio para S. Bento e daqui para a Estrela. Uma concentração, junto ao Hospital Militar Principal exigia o fim da guerra colonial. Milhares de estudantes do ensino secundário exigiam a revogação dos exames! O Partido Social-Democrata Independente (PSDI) apresentou o seu manifesto e Mário Soares Ministro dos Negócios Estrangeiros), com Almeida Bruno e Jorge Campinos e José Neves, iniciaram a segunda ronda de negociações com a delegação da Guiné-Bissau - formada pelo comandante Pedro Pires, comissário José Araújo, comandantes Umaru Djaló e Lúcio Soares, Gil Fernandes e Júlio Soares.
A Junta de Salvação Nacional anunciou que os desertores e refractários amnistiados teriam de cumprir o serviço militar em condições iguais aos demais cidadãos.
Por Angola, Daniel Chipenda da 3ª. Região Militar do Leste e dirigente da Revolta do Leste, assinou, em nome do MPLA, um acordo de cooperação com a UNITA e a FNLA. Em Lusaca, Holden Roberto (presidente da FNLA) reuniu-se com os presidentes Kenneth Kaunda (Zâmbia) e Mobutu (Zaire) para debater a independência e futuro de Angola.
Foi neste cenário que fui, por cá, fazendo as despedidas e recebendo incentivos e pedidos para escrever.
«Escreve, pá!...», foi, na verdade, a sugestão mais repetida por aqueles e aquelas que, mais próximos ou mais distantes, eram gente da minha horta de amigos e de afectos. Faz hoje 39 anos, andava eu entre os 21 e os 22 (que faria em Novembro).
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